Sakura cumpriu sua promessa. Durante duas semanas foi a aluna perfeita. Fazia todas as tarefas, não discordava de nada, nem de ninguém. Se falassem algo que a desagradava, ela ignorava, até mesmo quando quem a incomodava era a filha da Bela Adormecida, Karin, a garota realmente sabia como irritar alguém, mas Sakura nem dava bola, era como se nem tivesse escutado realmente.

Mas Ino percebia o que estava realmente acontecendo: Sakura, guardando tudo para si daquele jeito estava virando uma bomba relógio e na hora que explodisse... Não queria nem imaginar, ainda mais agora que tinha acesso à sua magia.

A filha da Rainha Má estava no refeitório, almoçava sozinha. Os garotos estavam no quarto e Sakura... estava com Karui provavelmente, tinha sido assim desde que começaram as aulas de Treinamento de Heróis, agora com a turma sendo mista.

Sempre que podia a Filha da Princesa e o Sapo estava com elas, mais precisamente com Sakura, pedindo ajuda nas aulas e dicas de como melhorar, mas Karui ignorava Ino completamente. As outras garotas da turma da professora Rin lhe ignoravam se não fosse para falar de cabelos, roupa ou maquiagem, não confiavam em si por vir da Ilha; e garotas como Karui lhe ignoravam justamente por parecer com as princesas que já não davam bola para si. E agora até mesmo Sakura lhe escondia alguma coisa e Ino sabia disso, conhecia a amiga perfeitamente. Como se precisasse de mais um motivo para se sentir jogada de lado.

Céus, como era difícil encontrar seu lugar no mundo!

Suspirou mais uma vez mexendo em seu prato para lá e para cá.

— Sem fome? – uma voz conhecida soou ao seu lado.

— Oi Sai – Ino se virou para ele e lhe deu um mínimo sorriso.

— Está tão triste – observou ele sentando na cadeira do outro lado da mesa, de frente para ela. – Tem algo em que eu posso te ajudar? – perguntou ansioso.

— Duvido muito – a filha da Rainha Má negou. – Mas obrigada, você é muito gentil – agradeceu.

Comeram em silêncio por um tempo.

Um grupo de garotas passou por eles rindo de alguma coisa e Ino prestou atenção nelas sentindo um pouco de inveja, devia ser bom rir daquele jeito sem preocupação, sem ter um peso nas costas, sem ter de sofrer julgamentos o tempo inteiro por apenas ser quem é, sem ter uma missão horrível para cumprir.

— Por favor – Sai pegou na mão dela e Ino sentiu um calor gostoso percorrer seu corpo. – Fala comigo, não gosto de te ver assim tão triste.

— Não estou triste – e para provar lançou seu melhor sorriso para ele.

— As pessoas que sorriem assim por fora são as que mais sofrem por dentro – apontou ele não acreditando nela.

Ino se sentiu tocada e seus olhos lacrimejaram.

— Eu... só... não sei... o que fazer – tentou aos poucos.

— Não sabe o que fazer em relação a que? – perguntou ele delicadamente.

— Tudo! – Ino não sabia nem por onde começar a contar. – Pensei que as pessoas já confiariam em mim a essa altura, mas não, ainda sou a garota que veio da Ilha. Não me leve a mal, eu amo a minha mãe e o meu pai, mas eu só queria que as pessoas dissessem meu nome quando me vissem e não que sou filha da Rainha Má – despejou de uma vez. – E ainda tem a Sakura, ela... – não sabia como explicar sem expor a amiga de maneira negativa. – Ela tem se mantido afastada, está escondendo alguma coisa e eu sei que alguma hora ela vai explodir – desabafou –  estou muito preocupada com ela – suspirou por fim.

Sai analisou cada palavra dela, Ino realmente precisava desabafar, precisava que alguém lhe oferecesse palavras de conforto.

— Quero que fique claro que para mim não importa quem são seus pais, você é Ino, uma garota linda e inteligente, que preferiu ter aulas de Princesologia ao invés de Treinamento de Heróis e sei que você é forte, mais forte do que qualquer um aqui pensa e... - "a garota por quem estou apaixonado" completou apenas em pensamentos. – Você diz que parece que a Sakura vai explodir por guardar as coisas para ela, mas para mim, parece que você também precisa de uma explosão.

Ino absorveu cada palavra dele. Ele era tão atencioso, não podia negar que estava gostando dele, gostando do Filho da Branca de Neve! Céus, sua mãe lhe mataria se soubesse. Queria chorar, mas só chorava na frente de uma única pessoa e como Sai lhe disse: precisava explodir, assim como Sakura também precisava, só não sabia como faria isso exatamente.

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Sasuke estava preocupado com Sakura.

Ainda se lembrava do que o professor Gai lhe dissera, da raiva e da escuridão que a cercava e que ele poderia ajudar, mas ajudar como?

Fazia duas semanas que a observava agir superficialmente, não parecia aquela garota cheia de atrevimento e sem medo de dizer o que pensava que conhecia. Mas ele via pelos olhos dela como pareciam sem vida. Tentou falar com ela em diversas ocasiões e não faltaram oportunidades, mas algo ou alguém sempre lhes interrompia, parecia o destino lhe dizendo que daquela vez não era ele quem poderia ajudar.

A viu indo para o ginásio onde teriam aula de Treinamento de Heróis, algumas das outras meninas também estavam com ela.

Não resistiu em chamá-la.

— Sakura! – ele viu ela endireitar os ombros antes de se virar como um escudo invisível, e lá estava a mesma expressão de duas semanas, sorriso forçado, olhos comprimidos, postura altiva, de quem diz eu pareço bem por fora, então não se atreva a me dizer que não é o mesmo que estou sentindo por dentro.

— Sasuke – ela lhe devolveu o cumprimento e se virou.

— Espere – ele a impediu segurando-a pela mão, estava gelada, parecia comunicar o que estava acontecendo dentro dela: gelo. – Será que a gente pode conversar? – suplicou.

— Não pode ser depois da aula? Vamos nos atrasar – nenhuma mudança na expressão dela.

Viu o professor Kakashi andando em direção a eles.

— Tudo bem – se deu por vencido, mas ainda daria um jeito de falar com ela depois.

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Ino foi para a aula de Princesologia, qual não foi sua surpresa ao ver o professor Obito no lugar da professora Rin.

— O que está fazendo aqui? Cadê a professora Rin? – foi Karin quem manifestou sua pergunta.

Ino viu Matsuri sentada na carteira atrás dela e acenou, mas Matsuri olhou para Karin e esta lhe lançou um sorriso irônico. Piscou surpresa, então era por isso que nem mesmo Matsuri estava falando com ela, já estava desconfiada à algum tempo, mas agora tinha certeza: Karin estava colocando todas as garotas contra si.

Bem, não todas exatamente.

Sentou na carteira de sempre, ao lado da irmã de Neji, o nome dela era Hinata se Ino não estivesse enganada, ela tinha cabelos longos como os do irmão, mas sempre os deixava preso, usava óculos e, como sempre, estava lendo algum livro.

— A professora Rin teve uma emergência e me pediu para dar a aula de hoje no lugar dela – o professor respondeu enquanto se levantava e entregava duas folhas, uma em branco e a outra virada para o verso. – Quero ver apenas lápis, borracha e caneta em cima da mesa. É prova surpresa – várias meninas ofegaram indignadas.

— Isso não é justo, não tínhamos prova nenhuma marcada para o dia de hoje – foi Karin quem reclamou novamente.

— Sim, é por isso que se chama prova surpresa – debochou ele.

Ino se surpreendeu, o professor parecia mais amargo do que o de costume.

— Podem começar.

Ino virou a folha. Eram 10 perguntas sobre as aulas que tiveram. Começou a responder calmamente, havia estudado tudo então não tinha que se preocupar.

Algum tempo depois ouviu Hinata ao seu lado organizar suas coisas e se levantar, entregando a prova para o professor e logo saindo da sala.

De tão preocupada que estava com Sakura tinha até se esquecido da filha mais nova da Rapunzel, Hanabi. "Calma Ino, uma coisa de cada vez" mentalizou.

Terminou a prova e entregou para o professor, havia sido a segunda a terminar. Pegou suas coisas e saiu da sala pensando no que ia fazer, ainda faltava meia hora para a próxima aula.

"Mas me parece que você também precisa explodir" lembrou das palavras de Sai e não pensou duas vezes em ir até o ginásio para a aula de Treinamento de Heróis.
Enquanto andava apressada encontrou com Hinata no caminho.

— Oi – Ino a cumprimentou e teve uma ideia. – Você é a Hinata, certo? – a garota assentiu. – O que você vai fazer agora? – perguntou.

— Eu... estava... indo... até a biblioteca – abaixou a cabeça envergonhada e Ino podia reparar como ela batia um dedo no outro.

“Ela é tímida!" exclamou em pensamento achando fofo.

— Eu estava indo até o ginásio ver o pessoal, quer vir comigo? 

— Eu... não... sei – ela ainda estava com vergonha. – A gente não pode – 

— Quem disse que não?! – Então Ino a puxou consigo.

Entraram no ginásio e viram todos os alunos repetirem movimentos consecutivos. Percebeu o professor olhando para as duas, então Ino lhe lançou um sorriso e o professor deu de ombros apontando para a arquibancada. Puxou mais uma vez Hinata consigo. Ela ainda estava com as bochechas vermelhas.

Alguns minutos depois o professor se ausentou e Ino decidiu ir até Shikamaru e Kiba que se jogaram no chão assim que o professor saiu.

— Vem comigo – puxou a pobre menina novamente que internamente se perguntava o que estava fazendo ali se não era seu lugar.

Ino observou Sakura, ela continuava com os movimentos passados pelo professor, parecia mais implacável e bruta do que nunca.

Era ali que Sakura soltava um pouco da raiva de si.

— Oi – cumprimentou os dois.

— E aí? – respondeu um Kiba cansado e suado. 

Shikamaru estava jogado no chão e se quer se mexeu, mas o viu olhar para Hinata, que ainda estava com as bochechas coradas.

— Essa é a Hinata – apresentou ela –, minha colega de classe em Princesologia.

— Oi – ela disse tímida. – Sou filha da Rapunzel.

— Ah, você é bem parecida com Neji – Kiba comentou pondo uma mão no queixo.

Isso fez com que virassem para o irmão da garota e pegaram ele olhando para eles, ele parecia com raiva.

— É melhor eu ir – disse Hinata se afastando logo após os dizeres.

— Espere – Ino tentou impedi-la, mas já era tarde, ela era rápida.

Suspirou se virando para os amigos e voltando a observar Sakura.

— Como ela está? 

— Na mesma – respondeu Shikamaru.

— Eu estou com medo – desabafou Ino. – Sakura está guardando tudo para ela e isso vai fazer ela explodir qualquer hora.

— Mas isso já aconteceu antes – falou Kiba.

— É, só que antes ela não tinha magia – apontou.

Viram Neji se aproximar dela.

— Isso não vai prestar – Shikamaru até se sentou.

— Os dois não se dão bem – Kiba levantou preocupado.

Ele disse alguma coisa para ela e foi então que Ino percebeu Sakura havia chegado no limite: ela ia explodir.

A filha da Rainha Má não pensou duas vezes e pegou as espadas de Shikamaru e Kiba jogadas no chão e correu para cima de Sakura.

— O que está fazendo Ino? – a filha da Malévola perguntou irritada quando a filha da Rainha Má lhe atacou.

Ino nada respondeu, apenas continuou atacando Sakura com as duas espadas, o que era um alívio, era muito bom bater com tanta força daquele jeito, liberando toda a raiva que sentia, sua explosão.

Sakura não estava muito diferente, parecia descarregar todo ódio que vinha se acumulando nas últimas duas semanas.

Ino tinha certeza agora: Sakura estava guardando algo que estava a consumindo por dentro.

Em dado momento as duas se afastaram e pararam respirando ofegantes tentando recuperar o fôlego, Ino então viu Sakura estalar os dedos e sentiu algo lhe cobrir o corpo.

Arregalou os olhos não acreditando que Sakura estava usando magia em si.

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