Chamas Azuis escrita por Caramelo


Capítulo 6
Deixe-me Ir


Notas iniciais do capítulo

Oi, como estão meus leitores? Eu já estava com saudade de vocês.

Eu voltei com mais um capitulo fresquinho de Chamas Azuis.
Espero que gostem meus amores.

Agora fiquem com mais uma vez com nossa guerreira...



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I

Encaro o teto cinzento, manchado de tons escarlate pelas luzes das poucas velas que restaram no quarto, sem dizer nada, apenas pensando sobre tudo que está acontecendo em minha vida... Sobre todas as reviravoltas que antecederam este momento. Há poucos dias, eu era ninguém. Fui largada e esquecida neste lugar para que apodrecesse e morresse, para que não fosse mais um estorvo para minha família. Fui humilhada, espancada e torturada por acharem que sou louca. Estava apenas aguardando o dia em que finalmente sucumbiria a toda dor que sentia e abraçaria a morte como uma amiga, porém este dia nunca chegou.

Parte mim queria por fim a tudo, mas não podia, não conseguia. Ainda existia uma outra parte que lutava com todas as forças para que continuasse de pé, uma parte que não deixava que eu me entregasse. E foi ela que me manteve viva por todos estes anos... Foi por causa desta pequena parte que ainda estou aqui.

Quando Eleonor foi internada neste hospício, eu vi nela a mesma força que eu tinha, a mesma luta interior que eu sofria e, apesar de nunca termos ao menos conversado, eu sentia uma ligação, algo que não podia explicar em palavras. Isto pode ter sido apenas coisa da minha cabeça, talvez uma forma desesperada de acreditar que não estava só, mas era isso que eu sentia e, para mim, era o bastante. Porém, com o passar dos anos, ela foi perdendo essa força e se entregando cada vez mais à loucura. Eu já assisti a tantos outros sofrendo nas mãos dos "enfermeiros" do S&K que não podia suportar ver outro inocente ser morto por eles.

Então, quando Eleonor surtou, eu não podia apenas testemunhar aquela cena como se não me importasse... E este foi o estopim para todos os incidentes que se sucederam. Fico pensando o que teria acontecido se eu apenas tivesse ignorado Eleonor... Se eu não tivesse fugido da ala médica naquele momento para encontrar ela morta no chão frio do S&K... Será que eu estaria aqui neste momento? Teria sofrido tudo que sofri? Não sei dizer...

Em questão de horas tudo ao meu redor virou de cabeça para baixo e fui me perdendo cada vez mais nesta teia de situações. Cada coisa que fiz, cada decisão que tomei, me levou até este momento, até este quarto, até estas três pessoas... Mas, principalmente, até o momento de minha fuga.

As sombras no tetos movimentam-se continuamente, de um lado para o outro, passeando pelo quarto. Refletindo os movimentos das três pessoas que ziguezagueiam pelo chão. Ao observa-los percebi uma certa sincronia em suas ações, uma união. Eles parecem se comunicar sem dizer uma única palavra... A principio parecia apenas que seguiam um plano, mas, com o passar do tempo, compreendi eu era muito mais que isso.

Gostaria de saber quem eles são e porque estão aqui... Mas tudo que me disseram é que estão aqui para me salvar. Isso não faz sentido. Por que três completos estranhos arriscariam suas vidas só para me tirar deste lugar? Esta pergunta não sai da minha cabeça. Quero respostas! Quero que eles me digam exatamente o que está acontecendo, mas, por hora, vou apenas obedecê-los, pois são minha melhor chance de sair deste lugar.

II

— Está tudo pronto? - pergunta Camélia enquanto fecha o baú velho aos pés da cama.

Os garotos apenas acenam com a cabeça. Agora, ambos vestem uniformes de enfermeiros: uma camisa de botões branca coberta por um casaco comprido no mesmo tom acompanhado de uma calça preta e sapatos de couro de segunda mão. Há algumas manchas avermelhadas em alguns pontos da roupa, típicas de qualquer outro enfermeiro deste lugar. Neste momento, eles se parecem perfeitamente com os funcionários daqui e isto me incomoda.

Não lembro-me muito bem de quando trocaram de roupa e não faço a menor ideia de onde as conseguiram... Presumo que tenha sido durante o tempo em que estava desacordada, pois, depois de explicar-me brevemente alguns detalhes de como pretendem me tirar daqui, Camélia me fez voltar a descansar. Não sei a quanto tempo estou aqui, mas não deve ter passado de algumas horas, pois, caso contrário, já poderiam ser ouvidos passos do lado de fora de quarto.

Camélia caminha até Jared e Carter e lhes entrega dois pares de luvas de couro em tom de areia complementadas por outra coisa que não sei bem o que é... Parece algo como um bracelete de couro, há muitas fivelas em volta do aparato e algo como uma bainha embutida nela. Os observo curiosamente prendendo o aparato no pulso e logo depois ocultando-o debaixo das mangas do casaco.

— Certo - continua a enfermeira -, precisamos nos apressar, daqui a trinta minutos os outros enfermeiros começarão a se levantar para preparar o almoço... Jane - Camélia caminha até onde estou e se abaixa para ficar no mesmo nível da cama enquanto coloca uma de suas mãos em minha cabeça -, está se sentindo melhor?

Apenas aceno com a cabeça sem pensar muito. Ainda me sinto um pouco tonta e tenho a sensação de que posso vomitar a qualquer segundo, mas pelo menos a dor de cabeça dissipou-se. Sinto como se fosse desmaiar cada vez que me mexo e as dores dos ferimentos persistem em alguns pontos do meu corpo, porém não posso dizer nada disso a ela, pois não quero arruinar minhas chances de escapar deste inferno. Tento esconder ao máximo possível o quanto enferma estou.

— Consegue se sentar? - pergunta Carter aproximando-se de nós duas.

Antes que eu responda, ambos se apressam para me fazer levantar. Sento-me devagar na cama e luto contra a vontade de deitar novamente. A principio tudo começa a girar ao meu redor e sinto a bile subir pela minha garganta, porém, depois de alguns segundos, tudo se estabiliza e consigo segurar o vomito antes que suje a cama. Respiro fundo para me acalmar enquanto a acidez em minha garganta diminui aos poucos.

— Estou bem... - respondo um pouco tremula.

— Você é uma péssima mentirosa, sabia? - Ela esboça um sorriso fraco tentando me animar. - Ainda está ardendo em febre... Isso só dificulta as coisas.

— Aqueles enfermeiros ferraram muito com ela... - Jared comenta enquanto coloca um anel em seu dedo. - Não me admira que ela esteja desse jeito.

— Seja um pouco mais educado - pede Carter.

— Devemos mudar o plano? - Jared pergunta à Camélia, assumindo imediatamente um tom mais sério.

— Não - responde a enfermeira de forma decidida se afastando de mim e caminhando até porta -, já é muito tarde para isso. Vamos fazer de qualquer jeito.

Camélia espia cuidadosamente o corredor silencioso do lado de fora do quarto.

—Não podemos esperar mais - afirma ela -, Jared, pegue a garota e vá até a ala médica, Carter e eu o encontraremos lá em uma hora.

— Tem que ser eu? - Jared questiona um pouco incomodado.

— Sabe que sim - responde Camélia cansada.

— Entendo - o garoto se dá por vencido.

Camélia faz sinal para que Carter a siga, porém, antes que a enfermeira consiga sair, Jared segura seu braço impedindo-a. Ambos encaram-se por um instante sem dizer nada. Os olhos verdes dela brilham enquanto desafiam os azuis e intensos do homem a sua frente. Eles parecem trocar mil palavras com apenas um olhar...

Observo aquela cena quase que hipnotizada. Eles parecem um casal de um quadro pintado cuidadosamente à mão. Gostaria de saber o que estão dizendo implicitamente um ao outro.

— Não pense em coisas desnecessárias - diz Camélia por fim, quebrando o silencio. - Nos vemos em uma hora, certo, Jab?

Jared apenas acena com a cabeça, porém seu olhar ainda é bastante rígido.

— Não se preocupe... - A enfermeira completa hesitantemente enquanto o garoto solta seu braço.

III

Jared me carrega pelos corredores desertos do S&K com extremo cuidado para não fazer barulho. Uma de suas mãos segura minhas pernas enquanto a outra apoia as minhas costas. Sinto uma leve dor nos lugares onde ele toca, porém não digo nada. Já é humilhação demais ter que ser carregada por alguém... Apoio minha cabeça em seu ombro esquerdo e escondo meu rosto para que ele não possa ver minha expressão envergonhada.

Sinto minhas bochechas arderem e creio que meu rosto deve estar completamente vermelho. Eu não queria ter que depender dele, na verdade, de ninguém e sinto ódio de mim mesma por não conseguir andar sozinha. Eu não queria ter que ser tocada por ele... Me sinto tão... Estranha.

Enquanto passamos na frente das portas dos outros quartos, ouço alguns passos atrás delas e instintivamente me encolho contra o peito do rapaz. Agarro o tecido levemente áspero do casaco de Jared. Tenho medo que alguém abra alguma porta e nos veja... Ele, ao contrário de mim, parece tranquilo, como se essa possibilidade não passasse pela sua cabeça.

Será que eles sabem sobre Grizelda? Pois eu não disse isso a eles... E quanto a Eleonor? Ela ainda está por ai, em algum lugar. Tenho certeza disso! Posso sentir. Há muitas coisas que ainda não disse a eles e, sinceramente, não estou com a mínima vontade dizer. Se eles querem omitir coisas, nada mais justo que eu faça o mesmo. Além disso, ainda não tenho certeza se posso confiar neles.

Não demora muito para que saiamos do corredor dos quartos e cheguemos a uma pequena encruzilhada de mais corredores. Nunca passei por estes lugares antes, presumo que fique muito longe da ala onde se encontram as celas dos pacientes/prisioneiros.

Sou tirada de meus devaneios de repente, pois vozes começam a ecoar vindas do corredor de trás. Presumo que os enfermeiros estejam saindo de seus quartos... Jared apressa o passo e entra em outro corredor qualquer, escondendo-se em uma esquina.

— Temos... - começo, porém sou silenciada por ele.

— Apenas fique quieta - ele sussurra em meu ouvido.

Hesitantemente, eu o obedeço e rezo completamente muda para qualquer divindade que possa me ouvir para que não sejamos pegos. As vozes se aproximam cada vez mais de onde estamos. Seguro ainda mais forte o colarinho do casaco enquanto Jared escora-se na parede e fica o mais imóvel possível. Então a primeira silhueta surge a alguns poucos metros de nós. Prendo a respiração aguardando pelo pior... Porém, nada acontece. O enfermeiro que passa quase que ao nosso lado, apenas segue reto pelo corredor a sua frente sem nem ao menos olhar para nós.

Fico completamente imóvel, apenas observando todos passarem como se nem ao menos existíssemos. Um após o outro, os enfermeiros meramente caminham em linha reta, seguindo seu caminho e desparecendo no final do corredor.

Volto meu olhar para cima, encarando o rosto de Jared, buscando por alguma preocupação, porém, tudo que vejo, é seu olhar intenso voltado exatamente para onde os enfermeiros passam. Seus olhos azuis não vacilam nem por um segundo. Acredito que tudo ao redor pode começar a queimar a qualquer instante somente com este olhar. Por um momento, sinto como se, de algum jeito, Jared esteja evitando que os enfermeiros sejam capazes de nos ver apenas com seu fitar de olhos. Mas isso não seria possível... Porém, se não é isso, porque não estamos sendo vistos?

Vejo o maxilar de Jared se enrijecendo à medida que mais enfermeiros passam por nos e suas têmporas começam a suar. Ele parece estar fazendo muito esforço... Seus olhos nem ao menos piscam. Ele apenas escara a pequena horda se afastando corredor adentro.

Assim que todos estão a uma distancia segura de nós, Jared solta o ar que eu nem sabia que estava prendendo. Ele parece esgotado, porém mantém a pose de durão sem se deixar abater. Quero perguntar a ele como isto aconteceu, mas não agora. Primeiro, temos que sair daqui antes que mais enfermeiros resolvam sair de seus quartos.

Passamos por mais corredores ao longo do caminho e nos deparamos com alguns poucos enfermeiros, porém conseguimos evita-los com facilidade. Não demorou muito para que chegássemos à ala médica sem mais incidentes.

Jared coloca-me rapidamente sobre a primeira cama que vê. Meus olhos tentam absorver o máximo possível de informações em apenas um segundo. A ala está completamente vazia como de costume, pois este lugar só é ocupado depois do "almoço" e este, ainda vai demorar um pouco. Apenas eu e Jared estamos aqui e duvido que outra pessoa venha para cá a esse horário, então sinto-me mais tranquila.

Encaro as janelas de vidro embaçado tentando enxergar o que há lá fora, porém é inútil. A única coisa que vejo é a luz fraca do sol que atravessa o vidro iluminando alguns poucos pontos da ala. Fico imaginando como será quando sair daqui... Sentir o sol em minha pele, a grama sob meus pés...

Desvio meu olhar instintivamente para Jared que senta-se na borda da cama onde estou. Escoro-me contra a cabeceira para não ter que deitar novamente quando minha cabeça volta a girar. Fico apenas observando-o em silencio. Seus olhos ainda parecem se destacar, mesmo na tênue escuridão da ala que esta iluminada apenas pela luz natural que emana das janelas.

— Pretende ficar me encarando por quanto tempo? - ele pergunta ainda sem olhar para mim.

A principio assusto-me com a interpelação repentina, porém recomponho-me rapidamente. Há tantas coisas que gostaria de perguntar a ele... Quem são eles? De onde vêm? Por que estão me ajudando? E, principalmente, o que aconteceu há pouco com os enfermeiros? Porém, tudo que sai dos meus lábios neste momento é:

— Só estava me perguntando se iria acender os castiçais...

Ouço uma risada fraca, porém divertida.

— Poderia chamar atenção, então é melhor deixa-los do jeito que estão - responde ele.

Ficamos em silencio por um pouco mais de tempo. Sinceramente, preferia que tivesse sido Camélia a me trazer para cá ou, até mesmo, Carter. Eles pareciam mais diligentes. Não sei muito bem o que pensar sobre Jared, ele é uma pessoa estranha... Bom, todos eles são bastante invulgares, mas esse homem é o mais de todos. Só no curto período em que ficamos juntos vi diversas faces dele. Ele tem o dom de alternar rapidamente do divertido para o sério e, a cada nova expressão que vejo, sinto que quero ver ainda mais. E é exatamente isto que mais me incomoda.

— Agora chega - ele suspira exausto enquanto volta seu olhar para mim -, será que pode parar de me encarar? É irritante!

— Desculpe... - respondo baixo e, pela primeira vez, desviando o olhar para mirar qualquer outro canto do quarto. - Sei que não queria ter que me carregar até aqui... Mas acredite, eu também não estou feliz com isto.

Sinto seu olhar intenso analisando-me e luto para não encara-lo novamente.

— Você parecia bem feliz quando a levei para cama ontem à noite - ele debocha.

Sinto meu rosto enrubescer quase que imediatamente. Volto a encara-lo de forma indignada e, por um segundo, esqueço toda a dor e tontura que estava sentindo há pouco.

— Eu estava desmaiada, nem ao menos sabia que estava sendo carregada - respondo -, além disso, pare de zombar de mim, não nos conhecemos bem para me tratar com tanta displicência.

— Está envergonhada agora? - ele ri e isto só me deixa ainda mais irritada. - Deveria ter pensado nisso antes de vomitar em cima de mim.

— Eu fiz isso? - pergunto lembrando-me do pequeno episódio de delírios que tive durante a noite. Jared apenas acena com a cabeça. - Sinto muito... - digo ficando mais envergonhada que irritada desta vez.

— Eu já estou acostumado com isso - ele dá de ombros.

Voltamos a ficar em silencio depois disso. Esta é a primeira conversa de verdade que tenho em anos... De certa forma, devo admitir que sentia falta disso; de falar com alguém desta forma, de poder rir inocentemente ou ficar irritada com algum comentário zombeteiro; de sentir-me envergonhada por algo que fiz ou disse... Apesar de não gostar de Jared, me sinto bem pelo simples fato de ele falar comigo assim como fala com Camélia e Carter, mas é claro que não direi isso a ele.

Volto a encara-lo enquanto esperamos o tempo passar. Ele parece não se importar mais com isso ou finge muito bem. Presumo que seus pensamentos estejam em outro lugar agora, pois, a cada segundo que passa, ele parece ainda mais preocupado...

— Você preferia ter ido com Camélia, não é? - pergunto hesitantemente.

— Quem? - ele pergunta confuso.

— Camélia - digo um pouco mais baixo -, eu vi como se olharam antes de se separarem...

— Camélia... - Jared repete o nome em tom irônico. - Digamos que sim... Mas não pelos motivos que você está pensado.

— Não entendi - respondo, porém não espero uma explicação.

— É claro que não - ele ri. - Não entenderia, é complicado.

Penso em dizer outra coisa, mas as palavras fogem de minha mente quando vejo seu olhar. Ele parece triste, apesar do sorriso irônico desenhado em seus lábios. Posso não entender o que se passa dentro de sua cabeça, porém já vi tantos sorrisos falsos ocultando semblantes dolorosos que não é difícil reconhecer um. Por essa razão, apenas fico em silêncio.

— Como você está se sentindo? - Ele pergunta depois de um tempo.

— Bem, eu acho... - respondo, sem muita certeza. Eu estou bem, se comparada à noite, mas ainda me sinto péssima.

Jared, não satisfeito com minha resposta, se aproxima de mim e coloca sua mão esquerda em minha testa. Eu recuo, porém sou impedida pela cabeceira da cama que machuca minhas costas. Solto um gemido de dor. Jared apenas me encara enquanto afasta seu toque gelado.

— Sua febre ainda não baixou - É tudo o que ele diz, sinto que há mais coisas que ele que gostaria de dizer.

— Não se preocupe - digo forçando um sorriso -, já passei por coisas piores que uma simples febre e alguns machucados... Vou aguentar.

— Não tenho duvida disso... - ele responde com outro sorriso forçado. - Eu só... Não entendo como eles podem machucar tanto alguém e ainda sim não sentir nenhum remorso.

— As pessoas são assim...

— Não, não são. Não há pessoas neste lugar, apenas demônios que um dia ousaram se chamar de humanos... Eles não valem nada. - Observo com atenção seu olhar genuinamente frustrado, sua mandíbula rígida e seus punhos cerrados e tento imaginar o que aconteceu com ele para ele falar desta maneira... Sinto que ele não está falando apenas dos enfermeiros do S&K, há algo em seu tom de voz que indica algo mais profundo que isso.

Abro meus lábios para dizer qualquer coisa, porém ele se levanta abruptamente antes que eu tenha chance. Ele caminha até uma das janelas embaçadas e encara o vidro sem dizer uma palavra. Fico apenas o observando, tentando inutilmente entendê-lo.

Desvio meu olhar, voltando a mirar apenas a cama em que estou, porém vejo algo que não estava ali antes. Exatamente no lugar em que Jared estava sentado, há um papel velho e dobrado em varias partes de modo que fique do tamanho de um bolço. Estico minha mão para pega-lo com cuidado para não fazer movimentos bruscos, pois ainda sinto dor ao me mover.

Assim que o tenho em minhas mãos, penso se deveria ou não ver o que há nele e hesito por um instante, porém a curiosidade vence qualquer bom senso que restasse em mim. Desdobro o papel com cuidado e, assim que vejo seu conteúdo, congelo no mesmo instante.

— O que você está fazendo com a minha ficha? - pergunto ainda sem tirar os olhos do papel.

— Sua... - ouço Jared dizer ao longe.

— Minha ficha! - Desta vez direciono meu olhar para o garoto perplexo que me encara com uma expressão quase que em pânico. - O que está fazendo com ela?

— Bem... - ele hesita - Nós a usamos para chegar até você... A roubamos da sala de arquivos do Sword&Katherine.

— Como? - questiono. - Vocês disseram que vieram aqui para me tirar deste lugar... Mas se roubaram isso apenas depois que chegaram aqui, vocês não tinham como saber da minha existência... Agora, parando para pensar... Como sabiam quem eu era e como me encontrar? Como sabiam que eu estava aqui?

— Na hora certa nós dire...

— Eu decido quando é a hora certa - interrompo-o - e eu quero respostas, agora.

Jared apenas me encara sem dizer uma palavra, acho que pela primeira vez desde que nos encontramos, ele não tem nada a dizer.

Isso não faz sentido... Eles me disseram que estão no S&K para me salvar, porém como eles sabiam quem eu era, como encontrar minha ficha...? Só existem duas pessoas no mundo que há fora dos portões do S&K que sabem minha existência e duvido muito que me queiram fora daqui... Então como eles conseguiram chegar até mim?

A menos que...

— Vocês não estão aqui por mim, não é? - digo e, no mesmo instante, um barulho ensurdecedor ecoa por todos os cantos do S&K. Sinto a cama tremer e pequenos pedaços soltos de reboco começam a cair do teto cinzento da ala médica sujando tudo que há embaixo.

— O que foi isso? - pergunto com a respiração pesada.

Eu não entendo mais nada do que está acontecendo. Tudo ao meu redor começa a rodar novamente e o enjoo volta ainda pior do que antes. Vejo a imagem embaçada de Jared caminhando rapidamente até mim e me segurando antes que desmaie outra vez.

— Me escuta - ele diz enquanto afasta algumas mechas de cabelo da frente de meus olhos. - Eu sei que você não está bem, mas precisa ficar acordada! Precisamos que você esteja consciente para que nosso plano funcione... Por favor, eu prometo que vou explicar tudo assim que isso acabar. Só... Confie em nós.

Sinto suas mãos pressionando minhas costas, porém a dor parece quase não existir enquanto encaro seus olhos... A hipnose causada por eles me prende e me faz querer acreditar no que ele diz. Jared tem algo que o faz tão curioso, algo que não sei explicar. Sinto que quero confiar nestas palavras, mas... Tudo em mim grita para que eu não o escute.

Eu não sei o que fazer...


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Notas finais do capítulo

Esse foi mais um capitulo, espero que tenham gostado. Deixem um comentário se quiser ♥.

Já estou com o esboço dos próximos dois capítulos prontos, porém ainda falta escrevê-los apropriadamente, então pretendo postá-los em breve.

Até o próximo capitulo.



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