Faça um Desejo escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 3
Capítulo 3




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— Eu aceito.

As palavras de Regina flutuaram no ar gélido da noite, acompanhadas de um largo sorriso da Bruxa Má do Oeste. Zelena então simplesmente jogou para a irmã o coração que estivera o tempo todo entre os seus dedos, fazendo-o de uma forma indelicada, porém certeira para que, com sua destreza avançada, a morena pudesse pegá-lo no ar sem causar danos.

— Estamos então acertadas. Não esqueça do nosso trato - a ruiva reiterou. - Estou voltando para a minha casa. Minha parte já está cumprida.

Foi a vez da mais velha sumir na escuridão, deixando para trás apenas um leve rastro de fumaça verde e mágica, até não restar mais nada. Regina ainda observava o ponto do qual a irmã havia desaparecido, como se esperasse por um retorno, por uma armadilha, mas nada veio. De fato, realmente parecia ser apenas aquilo, uma estratégia para lhe roubar um dia da vida. Um arrepio ruim percorreu a sua espinha, algo como um mau pressentimento, mas não era o momento de se preocupar com isso, havia coisas mais importantes a fazer.

A Rainha então se dirigiu para casa, deixando o cemitério para trás e surgindo diante de sua mansão, cujas luzes internas estavam acesas e ela podia ver movimento do lado de dentro. Passando da porta, notava que as pessoas se reuniam na sala. Lily sentada no sofá, quieta como um manequim, Malévola ao lado da filha, Emma andado nervosa de um lado para o outro, checando o celular, enquanto Henry a olhava como se pedisse para parar. Robin aguardava encostado na lareira, a cabeça baixa, um aspecto triste, até que ergueu o olhar e mirou diretamente a morena que acabava de entrar na casa.

— Regina! - Ele a chamou, fazendo todos virarem as cabeças enquanto ia em direção a ela, tocando-a nas mãos.

O coração dela disparou, uma onda forte de adrenalina, mas que tão logo veio, também veio a dor, as lembranças, seu objetivo. Se desvencilhou com um sorriso forçado, tentando não parecer rude, mas apenas focada, preocupada com outras coisas que considerava mais importantes. Se voltou para Lilith, sentando do outro lado desta, ao que perguntou:

— Como ela está?

— Não falou ou fez mais nada desde que você saiu - Malévola respondeu.

Emma interveio sem esperar por mais nada:

— Este é o coração dela? - Olhava o órgão brilhante entre os dedos da outra.

— Sim - Regina respondeu sem querer entrar em muitos detalhes.

Desta forma, a Rainha segurou o coração de uma maneira firme e o pressionou contra o peito da filha, usando a sua magia para que o órgão pudesse penetrar e se assentar no local a que pertencia. Durou apenas um instante e Lily inspirava com força antes mesmo de Regina afastar a mão vazia. A jovem tossiu, reagindo um pouco assustada, confusa, como se estivesse reprimindo reações havia tempo demais e agora sentisse todas de uma só vez. Malévola não esperou e logo a envolvia em um forte abraço.

— Está tudo bem, você está de volta.

Esta cena, ter Lilith de volta a salvo, ver Malévola feliz em estar mais uma vez com a filha, era o suficiente para Regina saber no fundo de sua alma que, não importasse o preço que teria que pagar na troca com Zelena, havia valido a pena e até pagaria de novo. Emma sorriu, passando um braço ao redor de Henry, conseguia bem se ver naquela situação, ainda mais que o filho já fora sequestrado. Apertava um pouco demais, o que fazia Henry se afastar e ir para o lado da mãe morena, tocando-a no ombro, uma forma de solidariedade, pois Mal parava de abraçar Lily, mas a irmã parecia só reconhecer de verdade a existência da mãe dragoa.

Tudo parecia estar devidamente resolvido, ou ao menos dentro dos conformes, porém, havia um pequeno detalhe.

— O que Zelena queria com você? - Robin finalmente quebrou o silêncio para perguntar, sua real preocupação era com Regina.

A Rainha pareceu claramente incomodada com aquela lembrança, ainda mais que as outras pessoas ali pareciam ter se esquecido, ou ao menos não temporariamente não trariam o assunto a tona. A morena se ajeitou no sofá, ao que inspirou fundo e deixou a coluna ereta, uma pose digna da realeza, sua postura para tratar de situações incômodas:

— Minha irmã queria que eu a deixasse voltar para a fazenda, nada de mais. Eu deixei. Zelena está lá, com o bebê, você pode visitá-la, acredito - o final veio em um ácido acréscimo, deixando os seus lábios antes mesmo que Regina pudesse refletir e parar.

O homem não pareceu se incomodar, mas o ambiente se tornou pesado, ao que a Rainha se ergueu do sofá e foi para a cozinha, a desculpa de ir preparar uma taça de vinho para si. Parada diante do balcão estava, pousando a garrafa na pedra, quando sentiu uma mão firme, forte, tocando no seu braço. Virou-se de imediato e Robin estava ali, tão perto, incomodamente perto.

— Me deixe te ajudar a lidar com Zelena - ele disse. - Ela também é problema meu.

— Ela é minha irmã, sempre será um problema meu - Regina falou de forma defensiva, deslizando para o lado de forma a se afastar, mas ele foi atrás, ao que ela o olhou já com uma pontada de raiva, de rancor. - Eu não fui sua primeira opção.

— Eu não sabia - ele argumentou. - Se eu soubesse…

— Não importa se soubesse, eu não fui sua primeira opção - suas palavras saíam o mais firme que conseguia. - Não vou ficar com alguém que me trata como a amante e ainda me vê como prêmio de consolação. Sou melhor do que isso.

Aquela frase era a mesma que dissera para Emma e sabia que ela também merecia ouvir, merecia se amar e ser amada de verdade, muito mais do que aquele homem era capaz de oferecer. Robin deu um passo para trás e abaixou a cabeça, aparentava estar pensativo, talvez arrependido, Regina não saberia, pois ia em direção à sala e o deixava para trás, ao que Malévola e Lilith vinham em sua direção. A feiticeira disse:

— Muito obrigada por tudo.

Olhou-a de uma forma penetrante e então abraçou a Rainha, ao que sussurrou em seu ouvido. Quando se afastaram, Regina a mirou de volta com um sorriso fraco, mas carregado de bastante carinho. Comentou apenas:

— Está tudo sob controle. Eu juro.

— Bom mesmo que esteja - e a dragoa reparava mais além, na direção da cozinha, antes de se voltar mais uma vez para a Rainha. - Me avise se precisar de qualquer coisa.

— Avisarei sim, obrigada.

Com um passar delicado de dedos, as duas se despediram. Lilith acenou ainda um pouco distante da mãe morena, sem ser capaz de agradecer pelo que havia feito, mas esboçando um sorriso, o que, para Regina, já significava bastante. As duas dragoas foram então embora e, quando a Rainha retornou para a cozinha, Robin também já havia deixado a casa pela porta dos fundos, o que a deixava em sentimentos conflitantes, mas, majoritariamente, aliviada.

Colocou as duas mãos sobre o balcão e só aí percebeu que tremia. O que estava fazendo com a sua vida? Cortando sua alma em pedaços e distribuindo para tentar salvar todo mundo, satisfazer todo mundo. Ninguém pensava como ela estava? Como ela se sentia?

— Henry foi para a cama - a voz de Emma veio de suas costas, mas ela não reagiu, o que levou a loira a insistir. - Regina? - Podia perceber que algo não estava certo. - Está tudo bem?

Só então a Rainha se virou, cruzando os braços diante do peito, os punhos cerrados e escondidos junto ao corpo para que não demonstrassem que estava a beira de um colapso de nervos. Inspirou fundo e só então, com um mínimo de controle de si própria, respondeu:

— Certo, obrigada.

Não falaria sobre si, reduzindo o diálogo ao primeiro tópico, pois Henry era do interesse de ambas. A estratégia não passou despercebida por Emma, que foi chegando cada vez mais perto, até se encostar de forma displicente no balcão central da cozinha, um tanto perto da dona da casa. A Salvadora então insistiu:

— Tem certeza? Eu sei que estava conversando com Robin. Não posso ajudar muito, mas eu posso ouvir, sabe? - Tentava fazer algo pela outra.

Regina deixou escapar um riso desdenhoso, aquela era uma situação irônica e o mal em seu coração tendia a aflorar em tais momentos. Foi preciso dizer para si mesma muitas vezes que Emma não tinha culpa, que estava apenas sendo uma boa amiga, para que se visse em condições adequadas de falar:

— Eu sei resolver a situação, pode deixar comigo.

Mas não foi uma resposta suficiente para a loira, que se tornava mais ousada, além de dar um passo à frente:

— Não! Não, você claramente não está sabendo resolver, ou não estaria com essa cara!

— Que cara? - A Rainha se tornava agressiva. - Vamos, me diga que cara eu estou?

Isto fazia Emma recuar um pouco em sua abordagem, mas nem por isso deixava de responder à pergunta:

— De infeliz! Você tem uma família linda, gente que se importa com você, não deveria se deixar incomodar pelo que um homem…

Mais uma vez o riso de desdém, com o qual Regina a interrompeu:

— Então você acha que é isso? Acha que estou assim apenas por causa de macho?

— Eu sei que você tem um histórico de não lidar bem com um coração partido - a Salvadora lançou a carta “Daniel”.

Regina parou, um tanto sem reação depois de ter o argumento esfregado em sua cara, devia mesmo estar parecendo patética se o seu passado precisava ser trazido à tona daquela forma. Descruzou os braços e pegou a taça de vinho atrás de si, tomando um longo gole, não como se pudesse relaxar, mas como se aquela conversa estivesse incômoda o suficiente para apenas desejar que a outra fosse embora. Talvez Emma tenha percebido, pois deu mais um passo à frente, até que ficaram próximas, quando a Rainha a olhou bem nos olhos e disse:

— Meu final feliz não é um homem, é finalmente me sentir em casa no mundo.

— E o que te impede de sentir assim?

A Salvadora perguntou, ao que timidamente levantava a mão e a pousava no braço da outra, uma forma de tentar transferir conforto e confiança. Sentia o tecido da manga da camisa que a Rainha usava, mas também um leve calor que vinha de sua pele, acompanhado de um suave formigar. Seria a falta de hábito em terem contato, ou talvez magia percorrendo entre ambas? De qualquer forma, não soltaria. O silêncio foi se prolongando e Emma ficava nervosa se estava indo longe demais, até que Regina começou a falar:

— Zelena tem sido difícil, muito complicado de ter uma vida normal com uma irmã como ela. Mas nem só ela. Robin, o que ele fez… - Era difícil falar. - Ainda não consigo processar. E Lilith… - A voz embargava. - Eu tento tanto, tanto que ela me perdoe de lançar a Maldição, que me perdoe de tirar a chance de ter uma família…

Subitamente não havia mais palavras, apenas dor, lágrimas que desciam pelo rosto e, para a surpresa absoluta da Rainha, foi daí que veio algo bom. Quando se deu conta, Emma estava passando os braços ao redor de seu corpo, apertando-a junto a si, num gesto que transmitia mais do que carinho, era suporte, solidariedade e o desejo de ajudar. Algo lhe dizia, enquanto afundava o rosto naqueles cabelos loiros, que tudo ficaria bem, pois talvez este fosse o grande efeito que os Salvadores produziam nas pessoas: Davam esperanças.

Fora bom colocar tais sentimentos para fora, havia dado novas energias que Regina precisava para aguentar os dias que se seguiram.

Estivera em uma visita, havia deixado o escritório para fazer uma vistoria na estação de luz e, quando retornou para a sua sala na prefeitura, em pleno horário de almoço, lá estava Zelena. A ruiva estava bem a vontade, sentada na mesa da irmã enquanto segurava um porta-retrato em mãos.

— Sabe, eu sempre invejei pessoas que vinham de famílias felizes - a ruiva comentou colocando a foto de Henry de volta no lugar.

— Não me surpreende - a Rainha respondeu olhando com clara desaprovação o gesto da irmã. - O que faz sentada no meu lugar? Saia daí.

Zelena revirou os olhos e realmente se levantou da cadeira, indo em direção à morena e estendendo a mão para ela. O gesto era explícito o suficiente para Regina entender do que aquilo se tratava, mas não a impedia de acender um certo receio, ao que olhava da mão aos olhos verdes da outra.

— Ora, vamos, já fizemos o nosso acerto, não vai dar pra trás agora, vai?

Era mais do que uma provocação, era um desafio, algo que a Rainha jamais poderia tolerar. Não, ela enfrentaria o que tivesse que ser, pelo tempo que tivesse que ser, tendo em sua mente a lembrança de Lilith no momento em que devolvera o coração, sabendo que a filha estava fora de perigo e que a irmã a deixaria em paz.

— Vinte e quatro horas, certo? - Regina confirmou.

— Sim. Suas próximas vinte e quatro horas me pertencem - Zelena confirmou.

Com os termos reiterados, a morena pegou na mão da irmã e as duas desapareceram do escritório sem deixar qualquer rastro.


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Notas finais do capítulo

E aí?? Que farei?! Não esqueçam de deixar comentários!



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