Faça um Desejo escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 2
Capítulo 2




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Os dias se passavam, hora após hora, repetitivos, maçantes, dolorosamente iguais. Regina acordava, ia para a Prefeitura, tirava o intervalo de almoço para ir até o hospital, procurava saber de Zelena, porém não chegava a ver a irmã, depois voltava para terminar o trabalho, saindo apenas em tempo de pegar Henry na escola e fazer o jantar.

Era mesmo um alívio quando havia uma mudança, qualquer que fosse, geralmente marcada pelas companhias para a refeição. Henry, sempre tão atencioso, chamava por vezes Emma, Mary e David para o jantar, ou apenas a loira, ou ela e Hook. Quando tinha mais sucesso com o seu poder de persuasão, conseguia chamar Lilith, mas a moça ainda se sentia bastante desconfortável e ou arranjava algo melhor para fazer, como sair voando pela cidade a noite em sua forma draconiana, ou só ia se fosse acompanhada da outra mãe. Em verdade, a situação toda ainda era nova para os quatro ali, mas tentavam se adaptar, especialmente Henry, que estava gostando da ideia de ter uma irmã mais velha. Lily era boa com ele, quando acabavam de comer, iam jogar no PlayStation ou ver algum filme com excesso de violência explícita. Regina e Malévola ficavam muitas vezes sozinhas, mas sequer tocavam naquele assunto. A garota era o pequeno milagre das duas e manteriam as coisas assim.

A Rainha estava tirando a mesa, depois das visitas irem embora, limpando tudo enquanto Henry lavava os pratos, quando escutou uma explosão ao longe. Correu para a janela, havia um incêndio vindo da floresta da cidade.

— Mãe! - O filho a chamou saindo da cozinha com as mãos ainda molhadas.

— Ligue para sua mãe, diga que me encontre lá - Regina falou sem pensar duas vezes.

Usando sua magia, a morena desapareceu de dentro de sua casa e surgiu na estrada entre as árvores, não muito distante do ponto em que escutara a explosão. Ela viu, mesmo que de longe, no centro da clareira, em meio ao acampamento pertencente aos Merry Men, o imenso dragão negro de muitos chifres.

— Lily! - A Rainha gritou de longe, avançando sem se importar com as chamas.

Flechas voavam, espadas eram brandidas, cordas e muito fogo e gritos. Regina parou diante de Robin Hood e disse elevando a voz:

— Faça-os parar! Estão assustando ela!

Mas ele fazia uma expressão confusa:

— Assustando ela?! Ela quem invadiu o acampamento e começou a queimar tudo! Estamos tentando contê-la para que não machuque ninguém!

Lilith soltava um intenso rugido, que fazia até mesmo o sangue de Regina gelar. Alguma coisa ali era estranha. Emma estacionou o fusca amarelo próximo e veio correndo na direção da Prefeita tão logo a viu:

— Regina! O que está havendo?

— É Lily, parece que ela está fora de controle.

Tão logo foi dada a resposta pela morena, um jato de chamas voou na direção dos três, ao que Robin puxou as mulheres para que se abaixassem. Emma também estranhava o comportamento da amiga:

— Temos que dar um jeito nisso. Como se para um dragão?

A resposta veio em forma de uma nuvem veloz. As trevas caíram do céu em um par de grandes asas, pousando sobre Lilith com o corpo de um segundo dragão, muito maior e mais ameaçador, mas que até Emma já conhecia. Com uma pata sobre o pescoço, Malévola imobilizava a filha sem dificuldades, ainda que esta se debatesse bastante para tentar se soltar. Uma névoa escura cobriu as duas criaturas e, no lugar em que estiveram, apareciam suas formas humanas, Lily já devidamente amarrada, conduzida pela mãe.

— Que diabos está havendo aqui?! - Malévola perguntou impaciente, seu olhar fixo em Robin como se fosse atacá-lo na jugular a qualquer instante.

— Ela chegou e começou a queimar tudo! - Ele respondeu em igual tom.

Antes que começassem mais uma briga, Regina já se colocava entre os dois:

— Hey! Hey! Parem já com isso! - E olhava bem de um para o outro, repreendendo a ambos.

Já Emma, tomava uma postura um tanto diferente, reparando em Lily, que estava bastante quieta:

— Você está bem? - E tocava no ombro da amiga. Mas a outra não respondia. - Hey, vocês três, acho que vão querer ver isso.

Regina então chegou mais perto da filha, levantando o rosto dela para que pudesse olhar em seus olhos, ao que a moça começou a falar:

— Nada mal, achei que fosse ser capaz sem a ajuda da lagartixa voadora, mas, pelo visto, continua fraca, irmãzinha.

Aquela poderia ser a voz de Lilith, mas certamente não eram da moça as palavras. A Rainha fez um som de desgosto, de raiva antes de comentar:

— Zelena. Onde está o coração dela?

A voz de Lily saiu como uma risada. Era claro que Regina percebera, a única e mais simples explicação possível para a filha ter atacado sem motivo, invadido exatamente o acampamento de Robin Hood. Seria o tipo de coisa que a Bruxa Má do Oeste gostaria de usar para provocar o caos e atingir a irmã em mais de uma maneira.

— Me encontre no cemitério, diante da cripta da família - Zelena proferiu pelo fantoche. - Venha, mas sem suas amiguinhas, certo? Vamos ter um momento só você e eu e, quem sabe, eu te devolva o coração dela. Tenho um acordo que você vai achar interessante.

— E por que eu confiaria em você? - A outra já perguntava desconfiada.

Então veio um grito. A garota levava as mãos ao peito como tomada de uma sensação excruciante de dor. Subitamente, cessou. Lilith estava como num estado de transe, quieta, provavelmente obedecendo alguma ordem enviada pela outra para que não expressasse reação e, dessa forma, deixasse Regina sob uma pressão ainda maior para ceder. A Rainha olhou nervosa para a filha e depois respirou fundo, mirando Emma:

— Você cuida das coisas aqui, certo?

A Salvadora nem argumentou, apenas balançou a cabeça de forma positiva. Embora fosse do seu feitio se opor e insistir em ir junto com a morena, não tinha a intenção de se meter na relação que já era bastante conturbada. Foi Malévola quem se manifestou, bastante revoltada:

— Aonde você pensa que vai? Essa mulher é louca, está te levando para uma armadilha!

— Você acha que eu não sei? - Regina ficava nervosa. - Mas eu não vou arriscar. Se ela está mesmo disposta a machucar Lily, eu vou atrás e eu vou recuperar o coração.

A Rainha dava as costas já para sair dali, mas Robin a segurava pelo braço e puxava para dizer:

— Eu vou com você.

Mas ela não parecia receber muito bem, pois olhava para a mão que a prendia e se desvencilhava como se isso a machucasse, falando com uma voz triste:

— Vocês escutaram, eu vou sozinha.

Com essas palavras finais, Regina desapareceu no ar, deixando os outros para trás. Ela surgia de novo no cemitério, um lugar frio e pouco iluminado na noite. Olhava para os lados, ao que encontrava, diante da entrada de seu cofre, os cabelos vermelhos reluzentes sob a lua:

— Foi rápida - Zelena a provocava. - Se importa mesmo.

— Me entregue o coração - a morena era bem direta.

— Não vai nem perguntar como eu o consegui? - Continuava. - Dragões são meio idiotas, especialmente os filhotes, sem a mãe… Bem… - Ela queria ferir com as palavras e as escolhia bem. - Não é como se você fosse realmente mãe dela, não é? Você nem sabia que ela existia, Malévola omitiu a existência de Lilith o tempo todo e tudo para que? Para que você não usasse o coração do bebê para lançar a Maldição das Trevas! Você é mesmo a mãe da década.

Regina deu um passo a frente, fechando o punho e apertando os dedos, se segurando para não dar um murro na irmã ou lançar um feitiço. O nervosismo não passou despercebido por Zelena, que deu um passo para trás e tirou o coração brilhante de seu bolso, exibindo-o diante de si, quase como um escudo para que não fosse atacada.

— Não se atreva! - Ela sabia muito bem como fazer cada movimento naquele jogo. - E também não vai querer machucar o meu bebê, o bebê de Robin - e pegava na própria barriga, cada vez maior.

Era necessário um auto-controle que nem a Rainha sabia que seria capaz, porém a visão do órgão pulsante diante de si e a memória do que aquilo era capaz faziam com que se contivesse. Respirou fundo e perguntou quase entredentes:

— O que você quer?

— Primeiro, eu não quero mais voltar para aquela cela - a ruiva respondeu. - Aquele lugar fede e não estava me fazendo bem, ou ao bebê, passar o dia todo sentada e entediada. Grávidas precisam de exercícios, não que você algum dia vá saber disso.

Zelena não perdia a chance de alfinetar, ao que a Rainha cruzava os braços cheia de ódio. A mais velha então continuou:

— Não foi fácil escapar, mas você sabe, coiotes são capazes de arrancar a própria pata quando ficam presos em armadilhas.

— Vá direto ao ponto - a outra insistiu.

— Você não tem graça - ela queria prolongar o momento e não gostava da falta de interesse. - Pois bem, eu proponho uma troca, algo justo.

— Difícil escutar as palavras “troca" e “justo" na mesma frase e ainda acreditar - interferiu, já acostumada com os acordos firmados por Gold.

— Não, mas este aqui será equivalente. Veja, eu vou te devolver o coração da sua querida filha, aquela que você acabou de ter de volta, e, de bônus, ainda vou te deixar em paz. Vou retornar para a minha casa na fazenda, ter o meu bebê, e deixar você e aquele ladrãozinho livres para ter o seu final feliz ou sei lá o que vocês querem agora um do outro.

A proposta parecia atraente, até boa demais, a se julgar com base em tudo que já havia passado para se ver livre da ruiva. Regina ergueu uma sobrancelha, nada tão bom viria de graça, ou então aquela era realmente uma armadilha:

— E qual é a contrapartida?

Zelena sorriu ao dizer:

— Sempre tão cética. Parece até que não confia em mim.

— E você já me deu motivos do contrário? - A enfrentava.

— Dessa vez pretendo manter a minha palavra. Vamos nos ater estritamente aos termos do acordo. Eu só quero viver com o meu bebê e deixar tudo isso daqui para trás.

As palavras até pareciam sinceras, o que, de uma forma estranha, quase tocou Regina. Mas não era para tanto, ao que lembrava de todas as coisas ruins que a irmã lhe fizera ao olhar para a barriga proeminente. Pigarreou:

— Continue. O que tenho que trocar?

E a outra não hesitou em responder:

— Um dia de sua vida.

Foi automático para Regina rir com aquela frase:

— Você está louca! Eu já vi esse filme. Você vai me pedir um dia, um dia que eu não lembre, vai tomar o dia que eu nasci e vai fazer com que todos se esqueçam de mim. Pois tente novamente, eu não vou cair nessa.

A ruiva revirou os olhos e disse com desdém:

— Você acha mesmo que eu seria tão previsível? Não sou idiota, mas eu sei o custo do que estou oferecendo e o que preciso pedir para que se torne equivalente - ao menos isso significava também que havia passado bastante tempo com Gold para aprender. Respirou fundo e tornou a explicar. - Eu quero um dia futuro, que você ainda não viveu. Você vai me dar vinte e quatro horas, de meio-dia até meio-dia, período em que eu vou ter controle de sua vida. Também vou ficar com as suas memórias desse dia.

Regina escutou atentamente, o que não significava que estava feliz:

— Para você poder me torturar a vontade?

— Você não vai saber, não é? - Zelena provocou. - Ou melhor, saber vai, durante, mas depois não vai lembrar de nada. Então não faz diferença.

Esta era a pegadinha então. A Rainha mordeu o interior do lábio, o termo raiva não seria suficiente para descrever o que sentia neste momento, nenhuma palavra o seria além de “impotente”. Sabia que era um risco, um imenso risco, confiar a sua mente, o seu corpo àquela mulher. Não esperava menos do que uma lenta e longa sessão de tortura. Valeria a troca? Lily era sua filha, devia isso a ela e também a Malévola, depois que fora por conta da sua Maldição das Trevas que acabara por afastar a dragoa do ovo. Lembrou de Greg e Tamara. Suas mãos tremiam com o pensamento nos dois dias de eletrochoques. Fechou os dedos de novo em punhos.

— E então? - A ruiva a cobrava. - Qual a sua resposta?


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