Faça um Desejo escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 4
Capítulo 4




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O celular tocou com o despertador e Regina acordou assustada, sentando-se de imediato. Onde estava? Olhou ao redor, era noite e estava em seu quarto, sobre a própria cama, sozinha. Pegou o aparelho telefônico, agora era saber “quando" estava. Havia se passado um dia e mais algumas horas, tempo que suspeitava ter estado dormindo, o que fazia sentido depois de vinte e quatro horas acordada. Suspirou, ao menos estava viva. Levantou-se da cama e se dirigiu para o banheiro, tirando o pijama e se inspecionando diante do espelho. Nenhuma marca aparente, nada de dor também, mas isto queria dizer pouco no ramo da magia. Debaixo da água quente do chuveiro, tentava se lembrar, mas vinha apenas o vazio das memórias, totalmente apagadas. Queria mesmo se lembrar? Valeria a pena? Não, talvez fosse melhor assim e enterrar seja lá o que tivesse acontecido.

Esta resolução acompanhou os dias que se seguiram ao trato com Zelena. A Rainha não contou para ninguém sobre o acordo e ela própria não gostava de se pegar pensando sobre o assunto. Aparentemente não houvera consequências, seja lá o que a irmã desequilibrada fizera, permaneceu isolado naquele espaço de tempo, então não havia problemas em omitir. Neste espaço de tempo, a morena parecia mais tranquila, ou ao menos mais segura de suas resoluções, visto que havia um problema a menos em sua interminável lista.

— Regina, precisamos conversar - a porta do escritório se abriu e Robin foi direto passando.

Não era um hábito que a Rainha aprovasse, muito pelo contrário, mas era um que jamais havia repreendido, pelo que se arrependia bastante atualmente. Fechou a agenda em que fazia anotações e voltou sua atenção para o caçador:

— Aconteceu alguma coisa?

— Zelena… - Ele começava a falar, ficava desconfortável em trazer o assunto, ao que colocava as mãos nos bolsos e mexia de forma automática. - Ela está dificultando para que eu possa ver o bebê.

— Isto é problema seu e dela, não? - A frieza vinha junto com as palavras.

— Ela é sua irmã, achei que pudesse…

— Achou errado - o interrompeu. - O filho é seu e foi você quem viveu meses com ela. Eu não vou me meter nisso mais do que já me meti.

Não desejava dar qualquer continuidade ao diálogo, ao que se levantou de sua cadeira e se colocou a andar em direção a porta. Imediatamente Robin tocou-a de forma delicada no braço, uma forma de pedir para que ela parasse, mas a Rainha reagiu como se nem ao menos sentisse, ao que abriu a passagem em um convite para que o homem se retirasse. Ele também não argumentou mais, deixando a sala. Quando a porta se fechou e Regina foi procurar conforto no fundo de um copo de uísque, percebeu que doera bem menos do que esperava.

Seu celular apitou com uma mensagem enviada por Emma, convidando para tomar café na Granny’s, ao que respondeu com uma contra-proposta para tequila no Rabbit Hole. Demorou alguns minutos até que a loira dissesse que estava com os pais e Hook o que, na opinião de Regina, era querer cortar os pulsos. Decidiu continuar no trabalho, o que significaria mais anotações, livros e bebida, se não fosse por Henry também mandar uma mensagem pedindo que ela não demorasse. Sem energias para negar, acabou aceitando.

Minutos depois, a Rainha chegava à lanchonete, nenhuma vontade de fazer nada, mas continuando a existir pela pura força do hábito. O lugar estava cheio, ao que a família não conseguia a habitual mesa redonda, a única em que cabiam todos. Desta forma, Emma, Mary e Henry estavam numa mesa para quatro pessoas, ao que Regina pegou o último lugar.

— Achei que não fosse vir! - Mary comentou para a madrasta. - Como vão as coisas no serviço?

— Caóticas - a Prefeita respondeu. - Dr. Whale está tendo problemas no hospital, parece que há um surto de virose na cidade.

— Que tipo de virose? - Emma perguntou.

— Ele não me passou detalhes, mas descreveu intensas dores de cabeça - Regina falou, ao que deu de ombros.

— Médicos falam que tudo é virose - a loira pontuou sem grandes preocupações.

— Eu não sei, só sei que o diploma de Whale foi criado por mim, então não confiaria plenamente nas habilidades dele.

Mary estava pronta para dar uma opinião em favor do médico quando David se aproximou com dois milk-shakes, ao que ela preferiu não comentar, visto que o marido se sentira muito incomodado por ela ter saído com o médico durante a Maldição.

— Sobre o que estão falando? - Ele perguntou pousando uma bebida diante da esposa e outra da filha.

— Parece que há uma virose pela cidade - Mary foi quem respondeu. - Tome cuidado.

— Foi Whale quem diagnosticou? Eu não me preocuparia - ele disse rindo. Tocou no ombro de Regina e então perguntou. - Quer que eu traga algo? Ruby está bem ocupada hoje e eu e Hook estamos sentados no balcão.

— Um café, por favor - a Rainha respondeu.

— Café? - Henry estranhou. - Nós pedimos pizza!

— Vinho então - ela mudou de ideia.

— Vinho presta com pizza? - Emma perguntava agora.

— Qualquer coisa presta com pizza - o filho respondeu.

Regina revirou os olhos, ao que se voltou para David:

— Traga suco de laranja, aí esses dois me deixam em paz.

O homem se afastou enquanto Emma e Henry davam risada da situação. Era agradável ver a morena tendo senso de humor mais uma vez, ou ao menos se permitindo aproveitar o momento em família. O pensamento fez Emma afundar o rosto no copo de milk-shake. Regina realmente fazia parte daquela família, que acontecia de também ser a sua.

A noite seguiu tranquila, divertida, até leve. Era uma boa forma de distração do trabalho e, mais ainda, lembrava a todos ali dos tempos recentes de calmaria, que sempre eram muito apreciados pela raridade. Regina olhou no relógio e já era hora de ir. Henry teria aula no dia seguinte, o que significava que não poderiam ficar fora até tarde. Com a sua cota da conta paga, ia deixando a lanchonete com o filho, porém foi interceptada com um toque em seu braço logo após passar a porta.

— Regina - Hook a chamava -, será que poderíamos conversar?

Henry olhava para a mãe sem entender muito bem aquilo, esperando por alguma indicação, ao que a Rainha falou para ele:

— Me espere no carro, ok?

Tão logo o rapaz obedeceu e os dois adultos se viam sozinhos entre as mesas que davam para a rua, a mulher cruzou os braços, desde já impaciente:

— Aconteceu alguma coisa?

Mas ele parecia hesitante em falar. Hook apertava os dedos de sua única mão, ao que logo em seguida passava pelos cabelos. O olhar ia para todos os lados, menos para os olhos da morena, o que começava a deixá-la irritada:

— Ora, vamos, você já pegou minha mãe, está dormindo com a outra mãe de meu filho, não é possível haver ainda algum segredo entre nós!

— Emma tem andado estranha - ele disparou logo de uma vez.

Foi tão inesperado que Regina pestanejou algumas vezes depois de escutar, sem acreditar no que ouvia. Então sorriu, depois começou a rir. Como ele continuava muito sério, a morena não demorou muito e parou:

— Oh… - Parecia se dar conta que fora inoportuna. - Deve ser sério então - mas continuava a ser irônica. 

— Ela é sua amiga, eu imaginei se ela teria dito algo - finalmente chegava ao ponto, ainda que ofendido, se humilhando pela ajuda sem atacar a mulher de volta.

— Guyliner, eu não sei que amizade você pensa que temos, mas eu não sou sua amiga, eu sou amiga de Emma - a Rainha foi bastante sincera, até demais. - E não, não há nada de errado com ela, ou com vocês, ela continua a fazer aquela cara de cachorro sempre que vocês estão juntos. Então relaxe, Emma tem colhões e, se fosse alguma coisa, ela já teria te dito.

Não se interessando por escutar mais, Regina acenou e deu as costas, rumando para o próprio carro. Em verdade, o tempo poderia passar o quanto fosse, ser obrigada a permitir que o pirata virasse padrasto de seu filho, poderia até mesmo perdoar, mas nada disso a faria esquecer a tortura a qual o homem fora conivente. Havia um traço de ranço que jamais seria superado, nem mesmo por Emma. Pensando nela, não respondera com sinceridade, mas apenas o que Hook queria ouvir. A verdade era que há algum tempo evitava prestar atenção em casais, não era algo que lhe fazia bem, ainda mais em se tratando desses dois. Emma era tão carinhosa, protetora… O que ela via naquele esquisito, stalker? Não, não devia pensar nisso, mesmo sabendo que a loira era boa demais para ele, para qualquer um. Suspirou e foi dirigir.

Cerca de duas semanas se passaram e o problema com a virose se tornava pior. Regina foi chamada no hospital para se encontrar com o médico responsável, nem Whale parecia ter respostas aceitáveis:

— Dez por cento da população está se queixando de dores de cabeça e apagões na memória - o doutor explicou. - Cada vez mais atendemos pessoas e, por mais que eu faça testes, todos os resultados saem iguais! - E entregava a ela um pequeno ponte de relatórios.

— Não demonstram nada? - A Rainha perguntou passando as páginas e checando alguns dos nomes.

— Absolutamente nada! Eles estão perfeitamente sadios, isto não tem como, não pode ser uma simples virose! - Ele falava indignado.

Regina passava os documentos, via nomes comuns, como Archie, Ruby, Kathryn, até Hook, mas foi ao ver o nome de Robin que decidiu parar de olhar, se voltando mais uma vez para o médico:

— Por mais que eu deteste, vou ter que concordar, isto está muito estranho.

Tendo escutado o bastante, a Rainha deixou aquele local tenebroso, seguindo para a delegacia da cidade. Havia um plano estranho em sua mente e apenas uma pessoa que poderia ajudá-la.

Entrou na sala principal da estação e lá estava Emma, sozinha, comendo rosquinhas e assistindo vídeos no YouTube. Regina a olhou de longe, reprovando a atitude, ao que foi entrando no recinto e já pigarreando bem alto:

— Pelo visto, o dinheiro dos contribuintes está sendo bem gasto. Onde está todo mundo?

— Hook está na patrulha, meu pai foi para o hospital com a tal virose - a loira respondeu de volta, apenas travando a tela do celular. Exibiu a caixa de doces para a Rainha: - Está servida? Aproveite que estamos só nós duas aqui.

— Não, obrigada - torceu o nariz para aquela quantidade absurda de açúcar. - Mas há algo que eu quero de você.

A frase deixou Emma bastante tensa, ao que se levantou da cadeira, limpando as mãos na calça jeans e já ficando com o semblante bem sério:

— O que foi? Aconteceu alguma coisa?

Tratando de ter bastante cuidado, a morena media as palavras de acordo com as informações que recebera há pouco:

— Eu acho que não estamos lidando com uma virose, e sim com magia.

— Como assim?

— Pense bem: dores de cabeça, perda de memória, isso não parece uma doença, nem Whale conseguiu descobrir nada até agora. Isto é tão fora do padrão, quase como se…

E a frase ficou entalada em sua garganta. Como pudera ser tão burra!

— Quase como se o que? - A outra a instigava a continuar a falar.

Mas Regina não respondeu. Uma dor forte atingiu sua cabeça, tão forte que perdeu o equilíbrio por um instante e precisou se segurar na mesa. Imediatamente Emma veio em seu socorro, agarrando-a com força nos dois braços até ajudar para que se sentasse. A loira a chamava, mas não era como se ouvisse, pois sua mente sentia como se estivesse sendo partia ao meio com um machado.

Levou alguns minutos, ou segundos, dependendo da perspectiva, até que a luz das mãos de Emma cessassem e, junto com ela, a dor.

— Regina! - A Salvadora chamou. - Você está bem?

— Melhor - a Rainha falou ainda um pouco desnorteada, massageando as têmporas. - Obrigada, foi realmente útil.

— De nada - Emma ficava bastante satisfeita com o próprio desempenho. - Você acha que deve estar com a virose?

— É o que eu estava tentando te dizer, isto não é uma doença, é um Maldição de Memória. Alguém aqui tem algo que quer esconder.

E quanto mais a memória fosse ativada e lutasse para retornar, entrasse em conflito para quebrar a maldição, mais dor iria causar, pois era certamente uma magia já lançada para ser agressiva.

— Mas quem seria tão forte para lançar algo assim? - A loira perguntou. - E quem teria tanto motivo?

Havia realmente uma pessoa, alguém movido por uma vontade tão forte que seria capaz de qualquer coisa para alcançar um objetivo. Fora realmente idiota por não ter pensado nisso antes, por ter acreditado que não haveria mais rixas ou consequências, ter achado que viveriam em paz.

— Zelena - Regina respondeu.

Tão logo dissera o nome, eis que a dor surgiu mais uma vez. O mundo ao seu redor ficou preto, a Rainha ficou inconsciente, sendo imediatamente amparada por Emma antes que atingisse o chão. A loira chamava, gritava, entrando em desespero. Sua magia não era mais suficiente, não para fazer a outra reagir. Estava saindo de controle e então a única coisa que conseguiu pensar era o caminho lógico que teria tomado em sua, agora muito distante, vida comum em Boston. Carregou Regina nos braços e usou os seus poderes mágicos para desaparecer de dentro da delegacia, ressurgindo no hall de entrada do hospital da cidade. Imediatamente falou:

— Ajuda! Alguém me ajude! A Prefeita desmaiou!


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