Send escrita por wldorfgilmore


Capítulo 9
Capítulo 9




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Elisabeta entregou-se a Darcy na cachoeira. Elisabeta entregou-se a Darcy no banho. Elisabeta entregava-se a Darcy todos os dias antes de dormir. Eram fantasias e desejos urgentes. Eram seus pensamentos mais comuns desde o último escrito de Darcy. E não foi diferente quando a última correspondência chegou.

Havia aprendido a se tocar. E a habilidade fez com que descobrisse pontos que despertavam sensações ainda mais fugazes em seu corpo. Nunca havia tido essa rotina, tampouco imaginava ter, mas não havia opção quando Darcy aparecia como um intruso em suas ilusões.

Culpado. Certamente o acusaria de toda aquela gana de senti-lo.

Estava extasiada. Sorriu ao ler pela segunda vez a carta de Darcy depois de saciar-se com sua própria imaginação. Mas logo se recriminou ao constatar a tola apaixonada que havia se tornado: perguntaria a ele qual antídoto era eficaz para eliminar o desejo que crescia e crescia e crescia e não havia mais capacidade de esticar-se para os lados. Elisabeta Benedito era, de fato, uma amante piegas sem ao menos ter um olhar do seu objeto de admiração.

Seus devaneios foram interrompidos por a algazarra que vinha do andar de baixo. Era véspera de Natal e sua época preferida do ano. Mas, por incrível que pareça, aquela carta parecia tê-la tirado de seu contentamento natural com a ocasião, transformando-a em um período ainda mais especial. Elisabeta guardava todas as datas das correspondências de Darcy. E, com a coincidência em suas mãos, aquilo parecia mais um presente de seu bom velhinho.

Por mais uma vez, dedicou-se a absorver melhor as palavras, como fazia por tantas e tantas vezes em suas leituras repetidas, mas a compreensão de uma das frases fez com que seu coração errasse as batidas. Eu não posso mais deixar de agradecer por a existência de um contrato que nos faz um só. Um contrato. Um contrato que unia Elisabeta a Darcy para sempre.

Era comum pensar no contrato em seu dia-a-dia, ainda mais quando a vontade era de rasgá-lo ou jogá-lo em alguma fogueira, para que suas linhas se perdessem definitivamente. Mas, lendo aquela frase, sentia que não pensara mais no contrato ou em Darcy na posição de seu marido. Ele só parecia alguém normal a quem ela desejava profundamente ao seu lado. O casamento havia perdido o significado pesado quando os sentimentos que explodiam em seu peito e transformaram-se na ânsia por tê-lo.

Queria rir, dera-se conta, finalmente, que se casaria de fato com aquela letra arredondada que apresentara um caminho para seu futuro. Darcy não era apenas fruto de sua imaginação. E, caindo em si, aquela realidade parecia muito melhor do que qualquer projeção sua.

Vale do Café, Dezembro de 1910.

Darcy, meu futuro marido,

Você me transformou em uma alma sedenta por o seu toque. Eu lhe sinto pelas manhãs, nas tardes e quando o dia se transforma na nossa escuridão enluarada. É quase como respirar a projeção do seu toque em mim.

Projeção. Essa palavra me deixou em órbita por algum tempo.

Sabia que, só hoje, eu caí em mim que de fato o objeto de minha imaginação não era só uma fantasia do que poderia ser e não era? Você é real e esse detalhe havia me passado despercebido. Você não é o homem sem rosto que habita meu sonho, você não é só algumas cartas que escrevem tudo que eu quero ler e escutar e, principalmente, sentir. É tão doido e ao mesmo tempo fascinante essa descoberta. Não me ache louca, só parecia distante demais esse amor todo que me fez viajar a outros planetas - esses que achei que jamais exploraria. Eu deveria ter me beliscado antes. A sensação de realidade é melhor que meus hologramas de você.

Sua carta chegou na véspera de Natal, sabia? Não sei se foi programado ou não, ou se o destino a fez se tornar mais especial. Mas a véspera de Natal é minha época preferida, mais que o Natal em si. Eu gosto da expectativa do que está por vir. Acho que por isso eu gosto de você.

Desde que meu coração resolveu enxergar você, costumo te associar a ansiedade de um passeio por dias programados ou a espera por o meu prato preferido no jantar. Como um presente antes de ser aberto ou o percurso de uma corrida antes de ser encerrada. Você é meu momento de êxtase, o período entre a adrenalina e a satisfação.

Mas fico feliz que a realidade tenha voltado a minha percepção. Minhas palavras já não suportam mais estes papéis, eu quero que minha voz seja ouvida por você. Eu quero te ver.

Feliz minha data preferida! Feliz Natal! Feliz você e eu!

PS: a magia do natal pediu pra eu dizer que eu te amo, meu amor.

Além de Camilo ter que ficar atento para não esbarrar com ninguém que passava por ele, também precisou guiar o caminhar do Darcy pelas ruas de Londres. Darcy não tirava os olhos daquela carta e já irritava o amigo, que precisava puxá-lo para o lado quando Darcy parecia não se importar em trombar com outras pessoas.

— Preste atenção, meu amigo! - disse Camilo após pedir desculpa a terceira pessoa que Darcy esbarrou.

— Camilo, ela disse que me ama. Ela disse que me ama também! - Darcy estava eufórico, já havia recebido a carta há algumas horas e não foi capaz de largá-la de suas mãos.

— Pois eu já ouvi isso algumas tantas vezes. - revirou os olhos.

— Mas ela disse que me ama e quer me ver. E nós vamos no casar. E eu preciso apressar isso. Eu vou falar com meu pai e…

Darcy calou-se ao ser interrompido pelo amigo.

— Darcy, você precisa ponderar.

— O que? - respondeu, olhando para o amigo e entrando no restaurante que estavam indo.

— Você sempre foi uma pessoa sensata. Mas parece não mais raciocinar depois que Elisabeta Benedito apareceu na sua vida.

— Ela é minha mulher.

— Você não a conhece, Darcy. - pontuou, após sentar-se a mesa ao lado de Darcy. - E se não gostar do que ela é?

— Eu amo Elisabeta. - respondeu, firme.

— Você ama essas cartas, você ama essa escrita. - continuou, estudando o amigo.

— O que quer dizer com isso?

— E se não gostar dela, bom… - Camilo olhou de forma sugestiva para Darcy. - fisicamente.

— Por Deus, Camilo. Se não há nada de bom para dizer, simplesmente não reproduza suas ideias. - bradou Darcy, encarando Camilo com severidade.

— Darcy, estou sendo honesto. Você está encantado com Elisabeta e nunca viu seu rosto. Essa ideia de seu pai de só mostrá-la para você quando se casarem parece balela.

— Ele alega que temos personalidades diferentes e de fato temos. Meu pai nunca arriscaria o contrato. Ele precisa da comunhão total de bens. - explicou. - Agora vejo como bobagem.

— Claro que vê. Foi fisgado por uma mulher que você nunca viu o rosto.

— Não preciso ver o rosto de Elisabeta para me encantar por sua personalidade, Camilo. Não dizem por aí que o amor é cego? Eu sou a prova viva que esse ditado é verdade. - Darcy suspirou. - Eu vejo Elisabeta como um sentimento, como uma sensação. É uma admiração genuína que se formou sem eu menos perceber.

Camilo riu com a cara de bobo do amigo.

— Ponto para Elisabeta! Essa mulher transformou o grande Darcy Williamson em um tolo apaixonado.

Londres, Janeiro de 1911.

Amor da minha vida,

Eu tenho certeza que se alguém lesse a nossa primeira carta, obviamente desconfiaria que não somos os mesmos que escrevem um para o outro hoje em dia. Me lembro bem que, no nosso primeiro diálogo, nos questionamos como nos chamaríamos. Será que meu inconsciente já te chamava de meu amor?

Hoje meu amigo me questionou sobre a sua aparência, sabia? Ele me perguntou se meu amor ou desejo resistiria ao que encontraria por trás dessas cartas. E é incrível que em momento algum me parece lógica as suas constatações. Eu me apaixonei por a sua forma de ordenar as palavras, por suas opiniões advindas de sua personalidade e por as sensações que você me fez sentir sem ao menos me tocar. Sua companhia é a minha melhor amiga, Elisabeta. E eu quero logo essa companhia entre os meus braços.

Por isso, nesse ano que se inicia, eu te desejo o melhor ano do mundo, Elisabeta. Feliz 1911, feliz ano do nosso casamento, feliz nós!

Você foi a primeira imagem que me veio quando o meu ano virou. Você foi o meu primeiro pedido para a estrela cadente que não passou, mas que eu idealizei. Rezo para ela atender o meu desejo mesmo escondida.

Mas, se a bendita estrelinha não atender às minhas preces de apressar o nosso encontro. Eu mesmo o faço. Prometi que logo falarei com meu pai, vou acelerar o nosso casamento, Elisabeta Williamson.

Eu te quero minha. Eu te quero minha agora.

PS: Eu te amo.

 


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