Send escrita por wldorfgilmore


Capítulo 3
Capítulo 3




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“Londres, Junho de 1910.

Querida Esposa Elisabeta Benedito.

Não se preocupe com o meu bem estar, eu tomei todo o cuidado do mundo ao interpretar a sua frase. E com um prazer enorme irei ignorá-la. Não desejo ter uma primeira impressão de minha futura – ou melhor, atual - esposa de maneira errônea. Portanto, esforço-me para não toma-la por uma sem classe.

E, se me permite um conselho, guarde suas esperanças para algo que possa ser possível o alcance. É de uma demanda energética grande demais o desejo de não me conhecer, tendo em vista que isso é a conjuração de um fato: nós iremos nos conhecer, nós iremos nos casar e, se me permite o atrevimento, os nossos filhos virão ao mundo de maneira convencional.

Vejo que é um tanto arredia. Será um enorme prazer domá-la.

PS: estimada esposa, a opção de responder ou não a carta é inteiramente minha, não levo teu almejar como uma ordem, tampouco me intimida.

PS2: aguardo ansiosamente a sua próxima carta, pelo que já descobri acerca de sua personalidade, eu tenho absolutamente certeza que irá me responder.

PS3: bom, eis que temos um assunto. Check!

O sangue de Elisabeta borbulhava em suas veias como uma solução química prestes a explodir. A vitima da explosão tinha nome e sobrenome.

— QUEM ESSE TRASTE PENSA QUE É? – com certeza o grito de Elisabeta foi ouvido por toda a mansão Benedito.

— Não, não, não. Isso não pode ser. Estão me pregando uma peça.

Elisabeta andava de um lado pro outro no quarto. Suas passadas eram tão duras e fortes que mais pareciam sapateado sobre o piso. Respirava fundo, passando as mãos nos cabelos.

— Arghhh! – grunia. – Não!

A carta, que havia jogado ao chão quando acabou a última linha, foi resgatada por suas próprias mãos só para passar por os seus olhos novamente.

— “Ignorá-la.” “FILHOS DE MANEIRA CONVENCIONAL?” Esse paspalho me toma como uma qualquer! Que homem ousa mandar isso para uma dama?

Ao negar com a cabeça por diversas vezes, continuava a monologar, inquieta:

— Eu não sou um animal para ser domado! Esse... Esse... Argh... É um ogro. Ele sim é um invertebrado!

Elisabeta havia perdido os seus pensamentos no momento do ponto final. A cabeça quente, em conjunto com a mente inquieta e barulhenta da raiva havia tomado conta do seu corpo.

Já era noite quando o conteúdo chegou as suas mãos. Estava se arrumando apressadamente antes de começar a ler, já que a qualquer momento um dos pretendentes de suas irmãs chegaria a mansão de seus pais. Elisabeta já havia esquecido o ocorrido das cartas, afinal de conta, havia deixado claro a sua posição em relação ao casamento e acreditava piamente que Darcy Williamson havia entendido o recado. Que homem casaria com uma mulher que não tinha a intenção de casar-se com ele? E tinha consciência que suas intenções foram bem desenhadas em letras caligrafas no papel.

Mas, diante do texto em suas mãos, sabia que o problema não era a falta de interpretação, experiências ou influência de terceiros: o homem a qual fora prometida era um aproveitador barato! E se divertira com a sua resposta. Isso era completamente inaceitável.

“Temos um assunto.”— Lera novamente, a risada da boca de Elisabeta saia esganiçada por conta da sua fúria interior. – Eu não vou respondê-lo. Não gastarei minhas palavras com um individuo como esse.

Elisabeta jogou novamente a carta no chão, dessa vez amassando o conteúdo.

— Não terás o gosto de me ver escrever novamente para você, Darcy Williamson. – sentenciou e voltou-se ao espelho que havia a sua frente. Elisabeta encarava sua própria expressão. O rosto fechado denunciava seu humor de forma clara.

— Elisabeta. – Mariana batia na porta da irmã. – Brandão chegou! – Nem o sorriso no rosto de Mariana fez Elisabeta mudar suas feições. – Ora, o que foi?

— Nada. – Elisabeta encarou a carta no chão. – Não é nada.

— Porque essa cara? – continuou.

— Não é nada. Vamos!

Elisabeta puxou Mariana pelo braço e saiu de seu quarto. Mas, conforme atravessavam o corredor, a ansiedade tomava conta de seu corpo. Um passo, dois passos, mais cinco passos e a vontade de gritar tudo que queria para um nome especifico crescia dentro de sim. Um, dois, mais um, dois.

— Mariana, vai na frente! Preciso fazer uma coisa antes!

— Ahn? – Mariana encarou a irmã, confusa, mas antes de dialogar qualquer frase de dúvida, Elisabeta já havia virado o corredor em uma correria nada habitual.

“Vale do Café, Julho de 1910.

Querido Energúmeno ou Aproveitador Barato,

Eu já achei a forma perfeita de lhe chamar. O problema é que o senhor se configura em tantos adjetivos que acho injusto escolher apenas um para nomeá-lo. Mas aviso que estes são só alguns exemplos, pois a lista ainda se estende. E eu, sinceramente, desconfio que outros ainda virão. Já se encontra ansioso?

Agora respondendo a sua tentativa de... bom... desafiar-me. Tenho algumas observações:

Em primeiro lugar, fique tranquilo! O seu bem estar não está no leque de minhas preocupações. Mas há um porém em minha lista: o fato de você ter todo este desespero para o casamento por não conseguir encontrar uma donzela que sinta algo minimamente bom por você.

Imagino o motivo para isso e não as julgo! Com as suas palavras, vejo que tens uma dificuldade enorme em lidar com o sexo oposto. Como envia a uma dama que pretende domá-la? Se quiser, posso lhe dar algumas aulas de como conquistar uma mulher que realmente esteja interessada em você. Sou uma alma bondosa, adoro ajudar os desafortunados.

Como somos adeptos a conselhos, lhe darei um: insistes em que meu desejo é apenas um sonho distante, posso lhe informar que o seu também não é muito viável. Para a geração de filhos, teria que haver o toque. E, meu querido contrato – opa, novo apelido – isso está totalmente fora de cogitação.

PS: não tentei lhe intimidar. Sentiu-se intimidado?

PS2: vejo que estava ansioso por a minha resposta, espero que esteja satisfeito!

PS3: eis que a cartada final é minha.  

Se Elisabeta Benedito esperava que Darcy Williamson ficasse ofendido com a carta que lhe enviou. E ele sabia que ela realmente esperava. O sonho da moça havia destruído por as gargalhadas que Darcy ecoava por o seu escritório. A cada linha lida ou paragrafo que se acabava, o som era mais forte no local.

Aquela mulher era inacreditável! Darcy colocou os pés sobre a mesa do escritório, em uma pose relaxada enquanto lia pela quarta vez a caligrafia da moça.

— Elisabeta espumou de raiva ao ler a minha carta. Bingo! – ele sorria. – Você não é melhor que eu com as palavras, Benedito.

Darcy pegou a primeira carta de Elisabeta que havia guardado na gaveta de sua mesa de escritório. Olhou para as duas. E era nítida a diferença de humores que elas representavam. Na primeira, a menina parecia superior a tudo e certa de suas convicções. Na segunda, era a clara a tentativa forçada de ficar por cima naquela situação depois de um estado de fúria. Mesmo sem saber nada sobre a aparência da moça, conseguia visualizar uma projeção de seu rosto raivoso.

Sorriu. Estava esperando a próxima carta e admitia que se surpreendera com o conteúdo. Em um primeiro momento, odiou a moça por o teor que havia lhe escrito, mas com o passar do tempo e com a raiva cessada de seu interior, entendeu seus motivos. Ele também estava em um acordo compulsório, como a mesma citou em sua primeira carta.

Tinha que dar o braço a torcer, a primeira carta de Elisabeta o fizera refletir um pouco e, por um momento, repreendeu-se por a ter dado uma resposta daquela a moça. Mas, olhando para a resposta de Elisabeta agora, o resquício de arrependimento havia voado pelos ares. Aquele assunto havia ficado deveras interessante.

“Londres, Julho de 1910.

Meu amor,”

 


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