Send escrita por wldorfgilmore


Capítulo 2
Capítulo 2




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“Vale do Café, Junho de 1910.

Lorde Darcy Williamson,

respondendo a sua dúvida um tanto exótica: opte por a formalidade ao se referir a mim, como bem disse, não nos conhecemos e, se depender de mim, nem vamos.

Cuidado ao interpretar esta frase! Não a leve como uma insulta ou desprezo. Não desgosto de você como individuo. E nem há a possibilidade, já não conheço sua personalidade e esforço-me para não interpretar essa sua falta de assunto como ignorância ou pouca experiência de mundo.

Espero não lhe conhecer, pois aguardo munida de esperanças, que cortem este laço que me prende compulsoriamente a este matrimônio.

Mas vejo que está satisfeito com a vida que lhe foi prometida e, sinceramente, não entendo o porquê de tal acomodação. Nunca pensou em ter uma dama que verdadeiramente amasse ao seu lado? Ou ser livre para fazer suas próprias escolhas?

Não há a necessidade de me responder – e nem quero que o faça. É uma pergunta retórica, com pleno objetivo de fazer-te pensar nos termos de casamento.

Também não há a necessidade de responder esta carta. E, presumo que se for minimamente inteligente, saberás o motivo após ler minhas palavras. Agradeço pelo grande esforço, mas espero que consigamos não desenvolver algum assunto.

Com sinceridade, Elisabeta Benedito.”

Darcy permaneceu atônico por alguns segundos ao terminar de ler a carta que levava nas mãos.

Releu.

Leu novamente. 

Passou, cuidadosamente, os olhos por cada linha daquele papel sem acreditar nas duras palavras que uma desconhecida fora capaz de lhe direcionar.

Desconhecida, repetiu em pensamento, ao sentar-se na  cama. Nunca conhecera Elisabeta Benedito, a noiva que lhe fora prometida aos quatro anos de idade, antes mesmo de a menina nascer.

O rapaz recordava que seu pai, logo após a assinatura do acordo de casamento, tratou de lhe deixar ciente que sua noiva seria a primeira filha dos Benedito. Darcy lembra que na época, não sabia o que era noiva, tampouco tinha ciência do que significava o matrimônio, já que não tinha uma figura materna em sua vida. Sempre fora criado pelo pai e, tendo pouca idade, ficara imensamente feliz com o que lhe fora prometido. Em sua mente inocente, pensava em Elisabeta como uma amiga que brincaria com ele por toda sua existência.

Aguardara ansiosamente o nascimento da menina e, quando foi informado pelo pai, aos seis anos, que Elisabeta Benedito havia dado sua graça ao mundo, o menino passara a ficar todas as manhãs sentado no grande portão de Mansão Williamson, esperando a sua nova amiga chegar.

E ela nunca chegava, por mais que perguntasse ao seu pai constantemente a respeito da criança, Lorde Williamson lhe informava que só a conheceria no dia que se casassem.

E o menino esperou a data do casamento até certa idade, quando começou a tomar consciência da situação que lhe fora imposta sem os olhos ingênuos de uma criança.

Darcy crescera com uma visão amigável de Elisabeta Benedito, ela era como uma amiga imaginária que um dia se tornaria real e, mesmo depois da idade adulta, a moça ainda transitava por os seus pensamentos vez ou outra.

Darcy tinha 28 anos e era formado em Economia por a melhor universidade de Londres, sempre fora muito dedicado nos estudos por forte influência de seu pai, que desde cedo, treinou seu único filho para cuidar dos negócios prósperos da família. E, como Darcy sempre frisava, tinha sorte de realmente gostar do seu campo de atuação.

Como personalidade, Darcy era conhecido por ser galante, educado e ligeiramente sisudo. Não se abria com frequência para desconhecidos, mas era irrefutavelmente prestativo com os que lhe tinham apreço.

Era bem quisto entre as mulheres, começando sua vida sexual cedo por conta do assédio que sofria devido ao charme e virilidade que possuia. Qualidades incontestáveis em Darcy Williamson. Não reclamava, gostava dos prazeres que a vida era capaz de lhe proporcionar. Seu pai também pouco se importava com a vida boêmia que o filho levava, contanto que cumprisse com as demandas das empresas e com o contrato de casamento que a cada dia ficava mais perto de se concretizar.

Darcy mudara um pouco a visão matrimonial com o passar dos anos. Nunca desprezou as cláusulas do tratado de Lorde Williamson e Felibesto Benedito, também nunca se apaixonou por as mulheres que se deitou, então isso facilitou sua concordância.

Com um olhar mais profundo para as vantagens que a sociedade trazia para os negócios do pai, passara a achar uma excelente ideia aquela aliança mais formal.

Todavia, mesmo com o relativo desapego de seus anseios de infância e apesar de ter estado com diversas mulheres antes de conhecer sua noiva, sua imaginação ainda ansiava por conhecer Elisabeta Benedito.

Contudo, ao reler a carta de caligrafia bem desenhada pela quinta vez, percebera que Elisabeta não o via com bons olhos. Muito pelo contrário. Apesar de a moça relatar não haver desprezo em seus sentimentos, sentia certa raiva embutida naqueles dizeres.

— Que menininha insolente! – Darcy respirou fundo, indo em direção à janela do seu quarto.

Havia tentado por vezes escrever para Elisabeta, apesar de não conseguir refletir sobre tema algum. E em sua concepção, aquilo era absolutamente compreensível: nunca havia estado com sua noiva para saber dissertar sobre seus quereres ou conteúdos favoritos. Mas, pelo que lera, fora visto como um tolo e taxado com elevado grau de ignorância. Logo ele, um ávido leitor dos mais diversos livros e um dos maiores economistas de Londres com apenas 28 anos.

Anoitecia quando Darcy olhou para o relógio esperando Camilo em um pequeno bar que costumavam frequentar em Londres.

— Que demora, meu amigo! Já estava preocupado com a possibilidade de levar um bolo sem nem ter de fato um encontro. – brincou Darcy ao avistar Camilo entrar no bar. O amigo logo sentou a sua frente.

— Como não havia de demorar? O cocheiro chegou a minha casa relatando que você queria me ver com grande urgência. – explicou. - Mas, meu caro amigo, eu moro do outro lado da cidade.

Camilo continuou ao ver a expressão de Darcy mudar.

— Mas diga-me, o que houve?

— Ela me tomou como burro, Camilo! – exclamou, em um tom mais alto que o usual. - E ainda teve audácia de dizer que não tem pretensões de desenvolver assunto algum comigo. E, ah – levantou um dos dedos – sequer anseia por me conhecer.

O tom de Darcy era indignado. E Camilo franziu o cenho ao ouvir a declaração confusa do amigo.

— Quem? – perguntou.

— Elisabeta. – respondeu simplesmente. A expressão de Camilo continuou intacta.

— Elisabeta? – questionou. Camilo não se lembrava de nenhuma conquista de Darcy com aquela graça.

— Minha noiva. Ou prometida. Ou insolente, como queira chamar. – bradou Darcy, retirando a carta de Elisabeta do bolso e praticamente jogando em direção a Camilo.

— Ah, sim. Agora me lembro. A mulher que foi prometida a você antes de nascer. Conheceu sua cinderela? – brincou, pegando a carta de Darcy.

Darcy revirou os olhos.

— Ande, leia a carta! – gesticulava, apontando para o papel.

Camilo pôs-se a ler a carta de Darcy. E não tardou para seu rosto se avermelhar em risadas escandalosas. Darcy teve que contê-lo para não chamar a atenção de todas as pessoas do bar.

— Não pode ser. Isso não pode ser real. – Camilo ria, negando com a cabeça. - Darcy, meu amigo. Tenho pra mim que a sua cinderela está mais para uma bruxa. – concluiu em meio a risos.

— Eu não lhe chamei aqui para fazer chacota da minha cara! – Exclamou Darcy, apoiando os cotovelos na mesa e passando as mãos no cabelo. O garçom acabava de servir um copo de cerveja para o par.

— É impossível! Essa tal de Elisabeta deu-lhe uns sopapos por carta. – Camilo continuava boquiaberto. – Olhe isso, “espero que consigamos não desenvolver algum assunto.” — Camilo relia a carta com a empolgação que deveria ser dedicada ao seu livro preferido.

— Não a imaginava dessa forma. – Darcy levou sua cerveja na boca, olhava ao longe, pensando em como se iludira com a personalidade que ilusionou acerca de Elisabeta.

— Eu sei, você deixava de brincar comigo, pois queria brincar com a suporta Elisabeta que sequer mora em nosso país. – sorriu Camilo, lembrando da insensatez do amigo. – Olha por quem você me rejeitava. – Camilo mantinha um sorriso debochado no rosto.

— Camilo, deixe de brincadeiras. – Levou outro gole a garganta. – Eu realmente não sei o que pensar, essa mulher vai ser minha esposa. – Darcy estreitou os olhos, agora encarando Camilo.

— Bom, pelo que diz a carta, não é do desejo de Cruela. - apelidou Camilo, soltando um risinho.

Darcy ignorou o comentário, voltando a revirar os olhos, ligeiramente irritado.

— Mas temos um compromisso bem firmado e que, se anulado, pode haver prejuízos futuros para ambas as famílias. – examinou. - Em principal a dela. Ela não pode simplesmente se negar ao casamento. – Darcy permanecia pensativo.

— Contudo, com esses dizeres, aparentemente ela não quer ter contato algum com o grande Darcy Williamson.

— Mas terá. – afirmou Darcy, com a voz dura.

— Vai respondê-la? – Camilo perguntou e viu Darcy sorri de lado e levantar uma sobrancelha, em uma expressão desafiadora.

— É óbvio que irei, não deixarei uma desconhecida falar da forma que quer comigo. As favas que não quer que eu responda. – Darcy pegou uma folha de papel que levava no bolso e pediu a pena do garçom. – Elisabeta vai ter que me aturar, quer queira, quer não.

“Londres, Junho de 1910.

Querida Esposa Elisabeta Benedito..."


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