Lovers escrita por Giovanna Lu


Capítulo 3
Padfoot




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Sirius Black não gostava de passar as férias em casa, mas não tinha muita escolha. Contudo, passar alguns dias na residência dos Black era bastante suportável quando comparada a perspectiva de nunca mais retornar a Hogwarts, que era exatamente o que Sirius estava se forçando a aceitar. De certa forma, o pensamento sequer o desesperava, afinal sabia que a consequência era bem merecida. Se fosse expulso de Hogwarts, não questionaria, apesar de que a partir deste ponto o rumo de sua vida estaria perdido.

James havia socado seu rosto com força quando percebeu o que Sirius fizera. Ele não reagiu, porque não tinha o direito de reagir. E também não implorou quando seu amigo não o perdoou, não insistiu quando Remus o mandou embora da Ala hospitalar, não deixou que madame Pomfrey consertasse seu rosto ferido e nem mesmo se importou com o olhar zombeteiro de Snape quando se desculpou. Ele era como um robô e todo seu corpo emanava culpa. Depois de todo o ocorrido, sentado frente a frente com o diretor e com a professora McGonagall parada no canto da sala, ambos os adultos com olhares decepcionados e rígidos, ele só queria desaparecer.

— Acredito que o senhor seja capaz de compreender a situação que nos colocou, senhor Black — Dumbledore disse finalmente.

— O senhor tem algo a dizer? — perguntou McGonagall, incentivando sua fala.

— Só que entendo a gravidade do que fiz — ele respondeu de maneira quase monótona. — E tudo bem o senhor me expulsar.

Dumbledore se inclinou, a expressão totalmente impassível. — Não pretendo expulsá-lo, senhor Black.

— Apesar de uma tentativa de assassinato ser um caso muito mais grave do que uma simples expulsão — acrescentou McGonagall, deixando Sirius sem palavras contra a acusação. Sua professora não estava sendo maldosa, mas era bastante clara sua vontade de conscientizar seu aluno, de alguma forma, sobre seu erro terrível.

— No entanto, ainda com os apontamentos da professora McGonagall, acredito que o senhor não tenha tentado conscientemente tirar a vida do senhor Snape. E agora, com a situação sob controle, preciso aplicar uma punição a altura de sua infração, mas acredito que sua situação em particular não seja propícia a uma suspensão ou expulsão.

— Minha "situação em particular"?

— Sou familiarizado com o perfil da família Black. E sei bem que o senhor representa uma bela surpresa nesta escola — começou o diretor. — Minha principal função é zelar pelo bem de todos os alunos, e me perdoe a falta de sensibilidade, mas acho que não estaria em segurança longe de Hogwarts, senhor Black.

Sirius sentiu o rosto esquentar, não sabia se de vergonha ou raiva. Ele conteve qualquer comentário espertinho e acenou de forma positiva, como se aquilo não fosse humilhante. Não poderia receber a punição que merecia porque sua própria casa era ruim o bastante para ser considerada pior do que um processo da justiça em resposta a uma maldita tentativa de assassinato. 

— Entretanto, medidas precisam ser tomadas — Dumbledore continuou, após o silêncio de Sirius. — O senhor cumprirá detenções com a professora McGonagall o resto do sexto ano todos os finais de semana, não terá mais o privilégio de visitar Hogsmeade e está suspenso do time de quadribol deste ano.

Ele engoliu em seco, observando todos os seus privilégios sendo tirados de si como areia escorrendo entre os dedos. Mas não era tão ruim. Na verdade, era tudo bem suportável. Não era como se já não cumprisse muitas detenções; Hogsmeade ainda era acessível, considerando seu conhecimento a respeito das passagens secretas do castelo e por fim, ele não iria querer estar no time de quadribol com James, porque o amigo provavelmente estaria ansioso por acidentalmente derrubá-lo de sua vassoura. Mas então, Dumbledore soltou sua última sentença:

— Uma coruja foi enviada aos seus pais, explicando sua atitude imprudente que colocou um colega em risco de morte. Obviamente, eles não foram informados sobre a condição de Remus e a história foi ligeiramente modificada. Mas eles estão cientes de sua infração.

Sirius fez um movimento de cabeça difícil de identificar, os pensamentos distantes. Ele esperava não precisar voltar para casa no natal, mas as férias ainda eram uma realidade, e ele teria de encarar sua mãe numa versão ainda mais desequilibrada e enfurecida, principalmente. Walburga Black era pior do que qualquer privação escolar. Estava ciente disso.

***

As semanas que se seguiram a traição de Sirius foram terríveis. Seus amigos sequer reconheciam sua existência, principalmente James, que parecia mais chateado do que o próprio Remus. Na verdade, Remus era o mais acessível dos amigos. Depois de alguns poucos dias do acontecido, passou a levantar o olhar em direção a Sirius, sorrir quando ele olhava e até se sentar próximo nas refeições. Entretanto, todas as tentativas de Lupin, que era bom demais para guardar remorso e estava claramente tentando fazer Sirius se sentir melhor, só fizeram com que este se sentisse ainda pior.

Ele não sabia explicar, mas uma parte sua dizia constantemente que não devia voltar a se aproximar de Moony, Wormtail e Prongs. Além da vergonha que o consumia (seu arrependimento nunca seria suficiente), ele tinha medo do que poderia acontecer no futuro, caso a amizade fosse retomada. Afinal de contas, era um Black e sua mente era bastante propensa a insanidade. Pensava em sua família e a forma como eram todos obcecados e perigosos; Sirius sempre tentara se afastar desta índole, mas começou a ver que os esforços eram em vão. Como diziam seus pais: toujous pur; um Black é sempre um Black. Sempre puro.

Então, Sirius se distanciou de todas as tentativas de Lupin de se aproximar, até que seu amigo desistiu de tentar. Ele se isolou cada vez mais, dedicando-se unicamente as aulas e suas detenções com McGonagall. À noite, quando não conseguia dormir, ia até a torre de astronomia e observava o céu em silêncio. Na verdade, o silêncio era tão constante em seus dias que ele mal se lembrava de qual era a sensação de ter uma conversa de verdade com alguém. A vida de Sirius Black nunca fora tão insossa.

Mas as coisas só ficaram ruins realmente depois de um mês. Com todo aquele tempo em silêncio em sua própria mente, ele passou a ter pensamentos assustadores. Naturalmente, o exílio causou uma grande confusão em Sirius, que parou de ter qualquer prazer em seu dia a dia por vontade própria. Ele sequer visitava Hogsmeade às escondidas, como no passado, quando entediado. Essas coisas não tinham mais graça, nada mais tinha.

Seus pensamentos macabros incluíam sempre o futuro. Não o futuro próximo, como a reação dos pais quando voltasse para casa, embora isso também fosse um bocado perturbador, mas o distante. Havia uma pressão familiar gigantesca para que se juntasse aos comensais da morte, uma ideia que Sirius sentia asco. Ele queria lutar na guerra quando deixasse Hogwarts, mas do lado certo. Em contrapartida, sabia que as possibilidades de se tornar um auror e participar ativamente das batalhas eram quase nulas. O histórico dos Black era sujo demais para confiarem a segurança de pessoas inocentes a um deles, por mais nobre que fossem suas intenções. Mas se Sirius não tivesse um lugar muito bem definido no conflito, as coisas seriam ainda piores, porque não ter uma posição significava estar vulnerável, e estando vulnerável ele também estaria nas mãos de seus pais. E Sirius Black preferia a morte do que ser um seguidor de Voldemort.

Ele pensava muito em todas essas questões. 

E também pensava nos amigos, e como sentia saudade de passar seu tempo com eles. Assim, ficava cada dia mais deprimido.

Certa noite, na torre de astronomia, enquanto tentava localizar alguma constelação que aprendera na infância, ele percebeu o quanto a brisa da noite era revigorante e fazia com que se sentisse livre e com a cabeça longe de preocupação. Se aproximou da grande janela da torre mais alta do castelo, e talvez tenha sido uma atitude realmente estúpida, mas ele subiu no parapeito e se apoiou nos joelhos alguns segundos. De imediato, foi incrível, já que o ar ali era ainda mais puro e a sensação ainda mais avassaladora. Mas não foi duradouro. A brisa se transformou repentinamente em um vento forte e seu corpo sem qualquer suporte se desequilibrou.

Ele não tinha as mãos apoiadas no parapeito, então quando se inclinou demais, não teve tempo para se segurar. Tudo aconteceu em uma lentidão ridícula, seus pés ainda estavam fixos na estrutura da torre quando se deu conta de que estava prestes a cair e provavelmente morrer. Mas esta foi a última constatação que fez antes que mãos pequenas e firmes puxassem seus braços com força e de forma desajeitada. Então, ao invés de cair no terreno de Hogwarts, ele acabou de costas sobre o chão de pedra.

E em seguida, alguém começou a socar todos os locais de seu corpo, sem realmente machucá-lo.

— O que pensa que está fazendo?! Seu idiota! Idiota! Maldito idiota!

Sirius, com muito esforço (pois a pessoa estava praticamente em cima dele), conseguiu se sentar e dar uma boa olhada em quem dividia o local com ele. Sob a penumbra, o rosto bonito de Marlene McKinnon parecia até assustador com sua expressão enfurecida. De todos da escola, ela era a última pessoa que ele imaginava encontrar ali e principalmente, que salvasse sua vida.

— Eu devia tê-lo expulsado no primeiro dia que veio! Mas não, fiquei com pena porque não está falando com seus amigos... — ela começou a soltar as frases que não faziam o menor sentido para Sirius. — E agora tenta se jogar da minha torre? Qual seu problema?!

— Eu não tentei me jogar! — ele respondeu, ofendido.

— Pois não foi o que pareceu! Você estaria morto se eu não estivesse aqui, Black!

Sirius precisou desviar de mais uma tentativa de Marlene de socar seu ombro. — Certo, obrigado! — disse enfim. — Mas não estava tentando me matar, só queria...

Ele não conseguiu explicar, porque "sentir a brisa melhor" parecia algo realmente estúpido de se dizer e não queria parecer um bobo na frente de Marlene McKinnon, embora já achasse que não estava passando a melhor das impressões.

— É difícil de explicar — finalizou, feliz por estarem no escuro e ela não notar seu rosto envergonhado.

— Você me assustou muito, Black — ela comentou depois de alguns segundos, em um tom de voz baixo.

— Uh, sinto muito.

— Tem certeza de que não estava tentando pular?

— Toda do mundo.

— Prometa que não vai fazer isso nunca mais...

— O quê? Mas já disse que não estava tentando... — Sirius voltou a se justificar.

— Isso não. Prometa que não vai mais subir naquela janela — ela interrompeu.

— Ah, claro, prometo. Foi uma ideia estúpida.

— Muito estúpida. 

Os adolescentes ficaram alguns segundos em silêncio, retomando o fôlego pelo que havia acontecido, os corações ainda levemente acelerados. Por fim, Sirius perguntou:

— Não me leve a mal, mas o que estava fazendo aqui em cima? 

— Esse é o meu lugar especial bem antes de ser o seu. Venho aqui há uns quatro anos quando preciso ficar sozinha — ela respondeu. — Te vi vindo para cá algumas vezes e não disse nada, porque você parecia triste. Mas hoje queria um tempo em silêncio, e quando cheguei você estava subindo no parapeito da janela. Ótima visão...

— Ah, foi mal. Não sabia que esse era o seu lugar — ele se desculpou, dando de ombros.

— Não é meu.

— Não, digo, você o descobriu primeiro. Então é meio que seu direito ficar aqui. Posso sair, se quiser...

— Não estou tentando te expulsar, Black.

— Mas se quiser — ele insistiu, se sentindo uma criança birrenta.

— Não quero. Na verdade, prefiro que fique e me faça companhia.

Ele a encarou, surpreso. — Disse que queria ficar sozinha.

— Quero um tempo em silêncio, e acho que nós dois podemos muito bem fazer isso.

— Oh, entendi — ele respondeu, tratando de ficar quieto.

Eles passaram boa parte daquela noite sentados no chão de pedra da torre de astronomia, lado a lado, observando o céu noturno pela janela da direção oposta. O conforto de uma companhia, mesmo silenciosa, foi ótimo. Quando o sol já estava quase nascendo, Marlene pegou em sua mão de forma delicada, fazendo com que se observassem sob a claridade. 

— Sabe, Black, nós vamos fazer um trato.

— Um o quê?

— Um trato. A partir de hoje, quando precisar vir aqui, você me chama. E quando eu precisar, te chamo.

— E por que isso? — ele indagou.

— Porque é bom não estar sozinho — ela falou. — E independente do que aconteceu, você não merece ficar sem ninguém.

Antes de sair, Marlene deixou um beijo em sua bochecha e uma promessa silenciosa de dias melhores. E pela primeira vez em um bom tempo, Sirius não se sentiu culpado por esperar boas coisas do futuro. Na verdade, ele se pegou sorrindo, após um longo período de tempo sem fazê-lo.

De fato, tudo se tornou muito melhor para Sirius Black após o ocorrido. É engraçado como a presença de uma pessoa na vida de alguém pode colocar mais sentido em sua existência. Antes, Sirius se sentia desesperançoso, mas quando Marlene passou a chamá-lo quase todas as noites para a torre de astronomia, almoçar ao seu lado, parecer realmente interessada no que ele dizia e o mais importante, não fazer qualquer pergunta a respeito do que acontecera entre os marotos, tudo isso fez com que ele se sentisse renovado. Não havia mais espaços para pensar em coisas ruins e decisões que ainda não precisavam ser tomadas. Alguém se importava com ele. 

Apesar de ainda doer quase fisicamente o tratamento frio que recebia de seus melhores amigos (como quando James se sentava ao seu lado na aula de poções e praticamente dispensava sua ajuda para não precisar falar com ele, mesmo que essa decisão implicasse em finalizar a poção de forma incorreta), era mais fácil suportar sabendo que em algum momento do dia veria Marlene.

As pessoas ao redor pareciam surpresas com a repentina aproximação, até mesmo as amigas de Marlene. Quando a jovem se aproximava de Sirius, ele quase podia ver a dúvida estampada nos olhos delas, e o espanto quando os dois se abraçavam era ainda mais engraçado. Os marotos fingiam não notar, mas ele já vira James encarando discretamente em diversas ocasiões que se sentava com Marlene na companhia de suas amigas. Se Prongs estava pensando que ele agora era amigo de Lily Evans, estava muito enganado. Na verdade, ela parecia não apreciar muito sua amizade com Marlene. Mas Lily era inofensiva, e estava tudo bem, afinal. Ele se sentia cada vez melhor na companhia da colega de casa.

Em alguns dias antes das férias de natal, estavam na torre de astronomia, fazendo silêncio juntos, como de costume. O céu estava especialmente bonito e as estrelas brilhantes como nunca. Tudo isso foi motivo suficiente para McKinnon romper a calmaria.

— Seu nome vem de uma estrela, uh?

— Sim — ele respondeu.

— É alguma dessas? — ela perguntou, encarando o céu noturno. Sirius se recordava das aulas de astronomia na infância e sabia que sua estrela estava a vistas.

— A mais brilhante.

— É impressionante, às vezes seu ego quase me sufoca.

Ele riu. — É sério, Marlene. Sirius é a estrela mais brilhante do céu noturno.

— Oh — ela murmurou, enquanto ria.

— Veja, é aquela ali — ele disse, pegando a mão de Marlene e apontado seu indicador onde queria que ela visse. — Faz parte da constelação Canis major; chama assim porque tem o formato de um cão. A mais próxima de Sirius no "desenho" é Wezen, que representa a pata. Mas ainda tem Adhara, Mirzam, Aludra... — Ele foi localizando os pequenos pontos brilhantes enquanto falava.

— Isso é lindo... — ela constatou, quando abaixou sua mão. 

— Toda a minha família é nomeada em homenagem às estrelas ou coisas parecidas. É meio que uma tradição. 

— É uma boa tradição.

— Sim, essa é — ele concordou.

Marlene se voltou em sua direção, porque o garoto parecia muito distante enquanto falava. Eles ainda estavam muito próximos. Sirius estava atrás de Marlene e sua mão ainda segurava a dela, de modo que quando se virou, seus rostos estavam a poucos centímetros de distância. Tão próximos que ela teve uma boa visão dos olhos de cor cinza do garoto perdidos no céu, observando todas aquelas constelações. Ele finalmente voltou a olhar para ela, e pela primeira vez percebeu como seus traços faciais eram marcantes e bonitos, e como seu cabelo era perfeitamente preto, uma tonalidade bem próxima a sua própria. De repente, seu coração era muito aquecido.

— Marlene — sussurrou —, acho que gosto de você.

— Não gosta não — ela respondeu, tão baixo quanto ele.

Ainda que a resposta tenha sido negativa, eles se beijaram, porque era o que ambos queriam naquele momento. Na verdade, se tornou o que faziam quase todas as vezes na torre, a partir daquela noite. Ficar em silêncio juntos ainda parecia ótimo, mas ficar em silêncio juntos enquanto se beijavam era ainda melhor. Não estavam namorando; não conversavam sobre sentimentos e fora da torre agiam de forma bastante natural, como amigos que eram, mas dentro das paredes estreitas durante a noite se tornavam quase que outras pessoas. Tudo que faziam era se beijar, e quando paravam por alguns segundos, só conseguiam pensar em voltar a se beijar.

Sirius sabia que não era exatamente a melhor ideia de relacionamento saudável, no entanto estava bastante satisfeito e conformado, porque todas as coisas em sua vida não eram lá muito saudáveis. E dentro dele existia uma pequena chama de esperança de que no futuro eles fossem alguma coisa. Ele não expunha o que estava pensando, mas esperava que Marlene nutrisse as mesmas expectativas. Ela nunca disse que gostava dele, mas todos aqueles beijos deviam significar alguma coisa.

Entretanto, as coisas ficaram estranhas depois do natal. Sirius passou a data em Hogwarts, como todos os anos, Marlene foi para casa ver sua família, e quando voltou, parecia diferente. Era como se ela tivesse reunido um tempo para pensar e constatado algo sobre Sirius que ele mesmo era incapaz de enxergar. Ela diminuiu as vezes que o chamava para visitar a torre, apesar de que ele teve a impressão que McKinnon continuava indo ao lugar com a mesma frequência, e quando o chamava, não passavam muito tempo e nem sempre se beijavam (além de que quando o faziam era breve e ela parecia quase melancólica).

Sirius evitava ir até a torre desacompanhado, porque temia encontrar Marlene lá dentro e ser obrigado a ter uma conversa que não tinha a mínima vontade. Todavia, uma parte dele sabia que era inevitável. Então, quando finalmente visitou o local e encontrou a garota com as mãos sobre o parapeito da janela, de costas para ele, não deu meia volta, como faria no passado. Sirius Black já não era como no passado.

— Vai me contar o que tem de errado? — perguntou, colocando-se ao lado de Marlene.

Ela o observou calmamente, nem um pouco surpresa com sua presença. Na verdade, parecia que estava esperando por ele. Quando falou, não havia qualquer sinal de negação em seu tom de voz. — Não sei se é o que precisa ouvir.

— É o que eu quero ouvir.

— Certo, então. Quando vai voltar a falar com James, Remus e Peter?

— Qual a relação disso com nós? — ele revidou, quase que na defensiva.

— Nós? — ela indagou delicadamente.

— É, eu meio que estou apaixonado por você, McKinnon, se ainda não percebeu.

Sirius se colocou de frente para Marlene e ela espelhou o movimento. Estava séria, os olhos cor de âmbar parecendo misteriosos.

— Você não está apaixonado por mim, Sirius.

— Estou dizendo o que sinto — ele tentou novamente, sentindo-se cada vez mais estressado. — Por que é que não pode acreditar? 

— Porque você acha que sente isso por mim, mas na verdade não sente.

— Você não pode saber o que sinto!

— Sirius, você não está apaixonado por mim! — ela objetou, perdendo a calma. — Você acha que está, mas não está. O que é uma porcaria, porque eu também gosto de você. Mas não podemos ficar juntos, pois vai chegar um momento que você não vai mais precisar de mim.

— Isso não faz o menor sentido...

— Você acha que gosta de mim porque entrei na sua vida em um momento difícil. Não tem mais ninguém ao seu lado. Sou sua heroína.

— Qual é o problema disso? Continuo gostando de você.

— O problema é que se isso não acontecesse, você nunca sequer falaria comigo — ela explicou. — Não quero ser a heroína de ninguém, Sirius, minha obrigação não é te salvar. Eu gosto de você bem antes de precisar de mim. Isso é injusto com nós dois.

— Você está errada! — ele respondeu. — Pode ter sido assim no começo, mas agora é diferente...

— Não é não.

— Vai mesmo impedir que isso continue só porque acha que não gosto de você?

Ela suspirou de maneira cansada. — Preciso fazer uma coisa que vai mudar tudo. Se depois disso ainda quiser ficar comigo, nós podemos tentar. Do jeito certo.

— Do que está falando?

— Você vai saber quando for a hora — ela disse dando de ombros. — Vou me deitar.

— Tem certeza sobre tudo isso? — ele murmurou.

— É o melhor a ser feito.

Marlene se afastou, mas pensou melhor e voltou, rodeando os braços no pescoço de Sirius, que envolveu sua cintura com força, como se não quisesse deixá-la partir nunca mais. Ficaram ali por alguns minutos, mas em suas cabeças pareceram segundos. Quando se afastou, ela colocou uma das mãos sobre seu queixo e ficou na ponta dos pés, colocando seus lábios sobre os de Sirius de forma delicada e rápida. Foi doce de um modo que nunca fora. Pela primeira vez, eles estavam juntos e abertamente carregados de muitos sentimentos.

— Eu também estou apaixonada por você, Sirius Black.

A primeira vez que Sirius se apaixonou de verdade aconteceu no pior momento de sua vida e foi capaz de torná-lo um dos melhores. Acima de tudo, foi intensa como o próprio amor. Não que a palavra amor tenha sido citada, mas ele sempre achou que muitas palavras perfeitas não foram citadas no tempo que tiveram juntos.


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