Chamas Negras escrita por Benuzinha


Capítulo 2
São apenas histórias




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Como que por uma curiosa coincidência, depois que Elisa contou sobre os cavaleiros que defendiam Athena, de repente, por todo lugar que passava, Elisa escutava alguém falando sobre aquele assunto. Um garotinho na rua comentava com o pai que gostaria de ser um cavaleiro quando crescesse, um grupo de homens na frente de uma ferraria comentava como suas lendárias armaduras eram resistentes, uma senhora comentava com o marido que as estrelas pressagiavam uma grande batalha. Na manhã seguinte, Elisa foi pega de surpresa quando o pai de Juliet, Axel, a interpelou logo depois que ela terminou o desjejum. Ele estava muito sério e ela imediatamente imaginou que ela ou os rapazes haviam feito algo errado.

— Minha filha disse que vocês andaram conversando sobre o senhor Albafica ontem.

— Sim. – respondeu ela, surpresa.

— E ela andou falando uma história sobre um santuário de Athena.

— Falou.

— Aquela menina... – ele suspirou – Não deve dar ouvidos a ela, eu já falei para a Juliet não ficar enchendo os ouvidos dos turistas com essas lendas. Sabe, as pessoas ficam curiosas e acabam se embrenhando na montanha e se perdem.

— Ah... – ela apenas o encarou.

O tom de descrença que saía de sua voz não encaixava, era como se ele estivesse fingindo que não acreditava na história e aquilo a deixou ainda mais surpresa.

— Por favor, esqueça o que ouviu, são apenas histórias.

— Não se preocupe. – ela o acalmou – Não tenho a menor pretensão de me embrenhar na montanha atrás de lendas sobre deuses e guerreiros mitológicos. Já me embrenho o bastante na floresta, as salamandras tomam todo o meu tempo.

— Claro, claro. – ele pareceu aliviado – Uma pesquisadora não vai querer perder tempo com essas bobagens.

— Não diga isso. – ela refutou educadamente.

Após mais algumas palavras, o homem disse que algo para resolver e pediu licença. Enquanto isso, a jovem pensava naquela conversa tão peculiar. O que seria afinal esse tal santuário? Uma sociedade secreta? E o tal Albafica seria parte dela?

Uma semana se passou desde o encontro com o cavaleiro, sem que ela o visse novamente, para desapontamento de Elisa. Entretanto, coisas mais importantes ocupavam sua mente. O local que o rapaz dissera era ainda melhor do que ela esperava e não só encontrara a espécie que procurava como, provavelmente, acabara de descobrir uma espécie nova que vivia apenas ali, naquela floresta. Justamente por isso, Thorgan havia ido até Atenas para comprar algumas coisas de que precisaria, já que teria que alongar sua estadia ali por mais algum tempo. Enquanto fazia anotações de uma salamandra que conseguira trazer viva e mantinha dentro de um pote de vidro que pedira ao dono da hospedaria, Elisa pensou no quanto estava tendo sorte. Talvez a idéia de publicar um estudo em seu nome fosse apenas um sonho e no fim ela teria que pedir para seu pai fazê-lo como sempre, mas, em seu interior, ela saberia que fora ela que fizera aquilo.

Estava tão absorta em seus estudos que não reparou na comoção que acontecia na rua naquele exato instante. Somente quando os gritos partiram de dentro da hospedaria foi que ela percebeu que havia algo errado. No momento em que por fim se levantou para ir até a janela para ver o que estava acontecendo e Andrew entrava correndo em seu quarto com uma expressão de pânico, o prédio desabou.

Escuro. Estava tudo tão escuro. Onde fora parar o sol? Com dificuldade, ela conseguiu tirar alguns escombros que estavam sobre sua cabeça e finalmente pôde enxergar o que acontecera na cidade. Boa parte estava destruída, era como se um terremoto tivesse acontecido de repente e devastado o vilarejo. O local parecia ter sido evacuado, já que não havia ninguém por ali, nem mesmo Andrew.

Elisa tentou sair e notou, com certo desespero, que apesar de não ter sido esmagada pelos escombros, seu corpo estava preso e ela não podia se mexer. Ela tentou de todas as formas sair, entretanto, por mais que se esforçasse, todo aquele peso não pareceu se mover nem um centímetro. Passou-se um bom tempo antes da jovem notar a presença de um homem que se aproximava. Ele vestia uma espécie de armadura negra e não parecia muito abalado pelo que acontecera, nem sequer pareceu notá-la. No entanto, ele era sua única esperança agora.

— Por favor, me ajude. – ela tentou falar o mais alto que podia.

Para sua exasperação, o homem a ignorou e continuou seguindo seu caminho. Ela olhou bem para a armadura que ele vestia e imaginou que ele poderia ser um dos lendários cavaleiros de quem tanto ouvira falar no povoado, havia uma aura de poder inconfundível ao seu redor.

— Por favor, cavaleiro. -insistiu.

Ao ouvir aquilo, o homem se virou.

— Eu não sou um cavaleiro. – sua resposta era fria, assim como seus olhos – Sou um espectro. E não ajudo humanos.

Elisa entendeu o que ele quis dizer, sem que ele precisasse explicar mais. Ele era mau, dava para ver pelo olhar dele. Se os cavaleiros eram heróis, ele estava certamente do lado dos vilões.

— Espere, por favor! -ela o chamou novamente – Então alivie meu sofrimento, eu imploro...

— O quê?

— Por favor, me mate. Eu não quero ficar aqui agonizando.

Por um instante ele parou, olhou bem em seus olhos e então voltou a se afastar. Desolada, Elisa suspirou e tentou sair novamente, sem sucesso. Pelo jeito seu destino seria mesmo agonizar ali até morrer.

Inesperadamente, o peso sobre seu corpo pareceu diminuir e, surpresa, Elisa observou o espectro que acabara de esnobar seu pedido, retirar os escombros de cima de seu corpo. Assim que se viu livre, ela se levantou rapidamente e se voltou com um sorriso enorme no rosto.

— Muito obrigada.– e desmaiou.

O espectro, ao ver aquilo, revirou os olhos. Ela se mantivera viva ali com um alto custo, pelo visto. Mas já que se dera ao trabalho de evitar sua morte, pelo menos a retiraria dali e a deixaria num local mais seguro. O resto ficaria por conta dela. Enquanto isso, ele continuaria procurando o Cavaleiro de Libra, para poder matá-lo com suas próprias mãos por ter ferido o imperador Hades.

Quando despertou, cerca de uma hora depois, Elisa viu que estava em outra casa do vilarejo e esta, pelo menos, não parecia estar prestes a desabar. A seu lado, havia um pedaço grande de pão e uma garrafa com água. Será que fora aquele homem que deixara ali para ela? Provavelmente não, aquilo teria sido um ato muito gentil. De qualquer maneira, estava demasiado faminta para ficar muito tempo meditando sobre aquilo e logo aproveitou a refeição, por mais simples que fosse.

Após permanecer ali deitada por mais um tempo para juntar suas energias, a jovem pesquisadora decidiu sair e ver a real situação do lugar. Murmurando um pedido de desculpas para quem quer que morasse na casa, ela pegou um pouco de comida e água e colocou tudo em uma bolsa.No momento em que saiu, percebeu que era muito pior do que imaginava. Praticamente tudo estava destruído e não havia sinal de outra pessoa ali. Cheia de pesar, ela viu, conforme caminhava, que a vila, antes tão bela e cheia de vida, estava agora reduzida a ruínas. O que será que acontecera com Juliet e seu pai? Teriam sobrevivido? A imagem de Andrew entrando em seu quarto veio a sua cabeça e ela correu na direção da hospedaria, ofegante. Não havia mais nada no local, além de escombros e seu coração apertou. Será que o rapaz tinha sobrevivido, como ela? Ou...

De qualquer maneira, ela não poderia ajudá-los ficando ali parada, precisava encontrar ajuda. Tentando não se deixar abater pela tristeza, Elisa andou ainda algum tempo antes de notar que não estava mais completamente só. Outro homem de armadura caminhava ao longe e um arrepio percorreu sua espinha. A armadura que ele usava era muito parecida com a daquele que a ajudara. Um espectro, dissera ele. O próprio nome não parecia muito amigável. Provavelmente havia vários deles e, se eram inimigos dos cavaleiros, certamente seriam os responsáveis por aquela destruição. Mesmo uma humana comum como ela era capaz de sentir a aura maligna do espectro que se aproximava, muito pior do que o outro. Esse não seria tão piedoso com ela. Seus instintos lhe diziam claramente para fugir e ela os obedeceu, seguindo rapidamente na direção da floresta que, após tantos dias de pesquisa, era para ela agora quase uma segunda casa.


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