—Sara, eu não quero mais que vá a campo!

—Eu já disse a você que ainda posso fazer o meu trabalho, Grissom! Não pode me boicotar só porque espero uma filha sua.

—Não estou te boicotando, isso é apenas cuidados! Será que não entende ?

—Eu sei me cuidar!

Ele inclinou o corpo para trás em sua cadeira e suspirou bastante insatisfeito enquanto ela, em pé, com os braços cruzados, o encarava incisivamente.

Como podia ser tão teimosa ? Deus, se sua filha puxasse aquele gênio, ele estava perdido!

—Está bem, ok? Faça como desejar!

O peso dessa última semana era bem visível, ele parecia esgotado. Definitivamente não era nenhum pouco fácil passar quase vinte horas no laboratório todos os dias.

Sara ficou em silêncio por alguns segundos, mordeu os lábios e então, estalou a língua em sinal de rendição. Descruzou os braços e se apoiou na cadeira à sua frente.

—Grissom, olha ... eu entendo a sua preocupação e acredite, não hesitaria em te dizer se sentisse em algum momento, que não conseguiria mais fazer o meu trabalho. Emma é a coisa mais importante que temos, jamais a colocaria em perigo por um simples capricho meu! Eu quero trabalhar, estou bem para isso. Amanhã, possa ser que isso mude, mas enquanto este momento não chegar, eu quero continuar ativa. Só queria um pouco da sua compreensão também.

Ele a entendia, mas aquilo não significava que era fácil de aceitar. Ao menos passar todas aquelas horas malucas no laboratório lhe servia para alguma coisa. Podia se certificar que ela estava bem, sempre que quisesse e era algo que ele muito prezava. Além de ser diretamente responsável por seus casos. Sim, havia favorecimentos de sua parte e ele pouco se importava.

De repente, ela levou ambas as mãos à barriga, apalpou delicadamente e começou a rir, parecia sentir cócegas.

Ele arqueou as sobrancelhas, sem entender absolutamente nada.

—Você está se sentindo bem ?

—Acho que ela acabou de virar!

—O quê ??? - Ele quase deu um pulo de sua cadeira e em segundos, estava ao seu lado. _Já se posicionou para o parto ?

—Calma! Isso não quer dizer que ela vá nascer neste exato momento! - Sara parecia se divertir com a expressão dele.

Grissom riu envergonhado de seu próprio desespero.

—Posso ? - Ele ainda podia ver os movimentos em sua barriga.

Sara se certificou que as persianas estavam fechadas e assentiu discretamente.

Quando Grissom espalmou as mãos em todo aquele volume lindo, seus olhos chegaram a brilhar. Nada no mundo o fascinava mais que aqueles doces momentos, ele simplesmente amava sentir sua garotinha se mexendo.

~♥~

O final de semana chegou e se foi, feito um furação.

Grissom não acreditava que conseguiria acumular funções por muito tempo mais. Praticamente havia se mudado para o laboratório há duas semanas, desde que assumiu a carga extra de trabalho.

Em duas semanas, somando todas as horas que havia conseguido dormir em sua própria cama, não completaria as horas de um dia inteiro.

Então naquela manhã, depois de ter distribuído os casos do dia, ele saiu à procura de Ecklie e o encontrou sem maiores dificuldades, em sua própria sala.

Se sentou assim que ele gesticulou para tal e esperou pacientemente que ele finalizasse sua ligação. O que aconteceu em poucos minutos.

—Como vão as coisa, Gil ?

—Exaustivas! É sobre isso que quero falar com você, Conrad! Já tem alguma data definida para o retorno de Joseph ?

—Falei com ele mais cedo, iria avisá-lo assim que tivesse a oportunidade! Ele me garantiu que volta depois de amanhã!

—Ok! Acho que consigo suportar mais dois dias! - Ele se levantou e estava pronto para sair quando se lembrou que precisava deixá-lo à par de seu planos. _À propósito, pretendo tirar alguns dias a mais quando minha filha nascer, não apenas ao que tenho direito!

—É justo! - Ecklie se rendeu sem maiores questionamentos, era o mínimo que podia fazer. _Quando está previsto para ela nascer ?

—Daqui a três semanas, mas essas coisas são imprevisíveis!

—Eu vou programar as coisas para a sua ausência!

O supervisor apenas assentiu em concordância e deixou a sala.

No corredor, ele foi interpelado por Jim.

—Deu a Sara o caso Rollins ?

—Sim, por quê ?

—Também estou nele, ficarei de olho nela!

—Obrigado!

Eles seguiram direções contrárias.

De volta à sua sala, Grissom se sentou em sua cadeira e quase foi engolido por todos aqueles papéis que se acumulavam sobre sua mesa.

—Hora de dar um jeito em vocês também!

~♥~

 Horas mais tarde, Grissom precisou auxiliar um CSI.

Vestido adequadamente com um macacão, ele periciava o porta-malas de um bentley quando Jim chamou por ele.

—Vamos até a sua sala, eu preciso falar com você!

—Aconteceu alguma coisa ? - Ele desligou a luz uv e retirou os óculos especiais.

—Esta conversa é para justamente não acontecer! - O capitão parecia bastante sério.

Grissom arqueou uma sobrancelha e se virou para o seu subordinado que também havia parado o que fazia e prestava atenção na conversa.

—Termine o que conseguir, Andrew! Vou pedir ao Greg se ele pode assumir o turno mais cedo.

—Sim, senhor!

Ambos os homens seguiram a passos apressados pelos corredores, mal haviam entrado na sala e Jim foi logo disparando assim que fechou a porta.

—Eu quero que tire Sara deste caso para a segurança dela!

—Como assim ? O que ela fez ?

—Daniel Rollins não era um homem pacato e pai de família como todos nós pensávamos. As investigações nos conduziram para um outro norte, descobrimos que  ele era um dos cabeças da gangue La Hermandad. A execução de toda a família foi um acerto de contas, desconfiavam que ele estava trapaceando.

Grissom arregalou os olhos entendo a gravidade.

—Você sabe que os membros desta gangue são conhecidos por serem extremamente vingativos ... e cruéis! Sara está se colocando em evidência, ela ficou possessa comigo porque eu não permiti que participasse do interrogatório. Não queria deixá-la frente a frente com esse tipo de gente! Agora você entende o porquê ela precisa sair deste caso o quanto antes!

—Farei isso agora mesmo, Jim! Pouco me importa se ela vai soltar os cachorros em cima de mim também!

O capitão imaginou que aquilo com toda a certeza aconteceria e quase riu se o assunto não fosse tão sério.

—Eu preciso ir, minha prioridade foi falar com você antes de todo o resto!

—Obrigado meu amigo, por cuidar dela!

Assim que Jim deixou sua sala, ele imediatamente ligou para ela.

—Sara ? Venha até minha sala, por favor!

~Fim do flashback~

~♥~

Parada na porta com a cabeça encostada no batente, ela o observava ir de um lado para o outro com agilidade, alguma coisa fumegava no fogão, o cheiro era bom.

A mesa com algumas delícias, sua filha no chão entretida com seus brinquedos. Ainda era muito cedo e aquela sensação gostosa de bem-estar, de nostalgia tomou conta de seu coração.

Ele começou a assobiar uma canção e ela riu, nunca o tinha visto fazer aquilo. Viu quando ele desligou o fogo, pegou Emma do chão e começou a dançar com a filha em seus braços, ela não se conteve e deu uma risadinha alto o suficiente para chamar a sua atenção.

—Hey! - Grissom estacou, sentindo seu rosto se tingir de vermelho.

Ela se aproximou ainda com o sorriso em seus lábios.

—Por que parou ?

Ele sorriu de lado bastante sem jeito, qualquer coisa que dissesse o deixaria ainda mais constrangido. Se bem que ... aquilo se chamava felicidade!

—Bom dia, mamãe!

—Bom dia! - Ela roçou seus lábios de leve e pegou a filha de seus braços. _E você mocinha, já acesa logo cedo ? - O que Emma queria mesmo era voltar para os seus brinquedos, ela beijou seus cabelos de cachos revoltos e a colocou no chão novamente. _Não te vi saindo da cama, por que não me acordou ?

—Você parecia estar dormindo tão bem, não tive coragem!

A troca de olhares falou volumes, flashes da noite anterior pipocavam em sua cabeça e ela desviou o olhar ou não responderia por seus atos. Olhando para a mesa, encontrou algo que desviaria sua mente.

—Nosso café da manhã ?

—Huhum.

—Quer ajuda ?

—Já está tudo quase pronto, mas pode arrumar a mesa se desejar.

—Claro!

Eles estavam na mesma sintonia, movimentos sincronizados, muita troca de olhares, sorrisos bobos e toques nem sempre comportados.

Emma olhava toda aquela interação com olhos bem atentos em seu pai, acompanhando todos os seu movimentos, seus brinquedos já não lhe interessava mais.

Em dado momento quando Sara se virava para pegar mais uma xícara do armário, eles se esbarraram levando um encontrão bem no meio da cozinha. Grissom a segurou e a beijou profundamente.

Emma gritou, ficou em pé e andou tentando ficar entre eles. Ela escalou as pernas de seu pai, enquanto os dois riam muito.

—Hey ... sua ciumenta ... papai precisa ser de nós duas.

—Papa ...

Sua garotinha agarrou seu pescoço muito forte e não havia maneira dela soltar. Sara estava sem forças com tantas gargalhadas.

—Mas que garotinha terrível ... Emma querida ... papai precisa respirar!

Ela se agarrou mais nele, depois beijou sua bochecha diversas vezes.

—Agora precisa beijar a mamãe ... ela está triste!

—Mama ...

—Oh ... ela disse mama! - Sara deu um pequeno grito emocionada, seus olhos brilharam, ela tinha certeza que uma lágrima estava prestes a cair. Era a primeira vez que sua filha a chamava.

—Mama ... - Emma soltou o pescoço de seu pai para agarrar o de sua mãe.

Sara recebeu um beijo molhado e quase se desmanchou de amor.

—Minha preciosa, como eu te amo!

Era uma típica manhã de uma família feliz!

~♥~

Naquela noite eles precisaram mudar seus planos, a reserva que haviam feito em um famoso restaurante francês precisou ser cancelada. Grissom foi chamado às pressas no laboratório. Um caso quente, um ator famoso e eles precisavam de sua referência em entomologia.

Durante todo o tempo em que estava afastado, ele prestou consultoria em raríssimas ocasiões. Realizava minunciosamente seus estudos cronológicos e voltava para o conforto de sua casa, para os cuidados com sua garotinha. No fundo estava chateado com a mudança de planos, mas Sara havia o tranquilizado.

“Podemos ir amanhã, Gil ... ou qualquer outro dia! O restaurante continuará no mesmo lugar”.

“Esta noite seria especial”. - Ele parecia desolado.

“Assim como as outras também serão”.

Ele inclinou a cabeça e a olhou por baixo. Ela havia confessado certa vez que adorava quando fazia aquilo.

“Vai me esperar acordada ?”

Ela sorriu de lado.

“Você quer ?”

“Sim.”

“Tudo bem!”

—Não me diga que já está com saudades de casa, boss!  - Jim entrou na sala de descanso e encheu uma generosa xícara de café.

Grissom sorriu e levou sua própria xícara à boca.

—Talvez!

—Como Sara e Emma estão ?

—Bem!

—Qualquer dia desses darei uma passada para ver as minhas garotas favoritas!

—Sabe que é sempre bem vindo, Jim!

O capitão parou para realmente prestar atenção em seu amigo, ele parecia diferente embora tentasse disfarçar.

Grissom arqueou uma sobrancelha notando a maneira com que era encarado.

—Aconteceu alguma coisa, Gil ? - Jim sorriu com os olhos e tomou um generoso gole de café.

—Por que ?

—Você está diferente! Aconteceu ? - Insistiu.

—Acho que está ficando maluco, capitão!

—Sei!

~♥~

Ele olhou em seu relógio e arriscou uma ligação. Primeiro toque, segundo ...

Havia dado uma escapulida para estar exatamente ali, sentado no banco do vestiário sem ninguém lhe espionando.

Ele sorriu de lado, vinha sendo motivo de chacota a noite toda.

Depois de Jim, os demais não fizeram de rogado.

Os primeiros a explanarem suas opiniões foram Greg e Nick. Os três haviam acabado de analisar uma importante evidência, assim que desligaram a luz forense, o CSI mais novo cutucou o amigo.

“Hey Nick, você não acha que há algo de diferente no chefinho ?”

“Agora que comentou, Greg ... estou o achando mais ... animado ... desinibido eu diria.”

“Desinibido ?” - Ele pensou. Aquela palavra não combinava com ele. Balançando sua cabeça, ele chamou suas atenções antes que continuassem com aquilo.

“Meninos, eu ainda estou aqui.”

Em um outro momento, novamente precisou se esquivar. Desta vez, ele foi vítima da curiosidade de Catherine. Eles caminhavam lado a lado no corredor e entraram em sua antiga sala.

“Como vão as coisas na família Grissom ?”

“Indo bem!”

“Indo bem ? Depois de todo esse tempo é só isso que tem para me dizer ?” - Ela estava inconformada.

Ele tentou disfarçar o sorriso, mas tinha certeza que ela havia notado.

“O que quer que eu diga, Catherine ?”

“Oras, Gil! Deixe de fazer mistério, você não é o mesmo desde a última vez que nos vimos, está diferente e todos nós notamos. Até parece que viu o passarinho verde!”

Ele deu uma gargalhada gostosa, aquilo havia sido engraçado. Mas o que conseguiu foi só deixar sua amiga ainda mais intrigada.

Diante de seu olhar, ele tocou em sua orelha completamente sem jeito. Ele sempre fazia aquilo quando se sentia desconfortável. Como no mundo, lhe diria o real motivo ?

Não muito tempo depois Warrick o pegou rindo sozinho e era óbvio que ele não deixaria escapar essa oportunidade.

“Se pudesse se ver neste exato momento ...”

“Hã ?”

“Nunca imaginei que te veria com cara de bobo!” - O moreno riu.

Grissom entortou a boca.

“Você também ? Já sei, é alguma aposta que fizeram!”

Warrick balançou os ombros com seu sorriso maroto.

“Se é, não estou sabendo de nada! Mas ... você está diferente ... para melhor ... e isso é bom!”

Afastando as lembranças, ele esperou pacientemente que ela atendesse a ligação.

—Oi!

—Oi querida!

—Gil! Eu não vi que era você, como estão as coisas por ai ?

—Um tanto complicadas! Eu liguei para saber o que estão fazendo ?

—Assistindo O Rei Leão!

Ele ouviu uma risadinha do outro lado da linha e sorriu também.

—Queria estar ai ... hum Sara ... você acha que ... estou diferente ?

—Diferente como ?

—Eu não sei ... é ... talvez mais ... mais ... ah querida, eu não sei.

—Aconteceu alguma coisa aí ?

—Cath, Jim, os meninos, todos estão com ... com piadinhas!

Ele ouviu sua risada.

—Mas eles disseram alguma coisa ?

—Que eu estou diferente ... e algumas coisas mais! Algo me diz que eles combinaram tudo isso!

—Hum ... e isso te incomoda ?

—Não, claro que não! Eu só fiquei curioso para saber se você achava o mesmo!

—Nós fizemos amor, Gil ... e foi muito bom! Nós dois estamos diferentes!

—Ah então é aqui o seu esconderijo, chefe!  - Greg surgiu na porta todo faceiro. _Cath pediu para te chamar, parece que a sua cronologia inocenta o nosso único suspeito!

—Eu tenho que ir, nos falamos mais tarde.

—É a Sara ? Manda um beijo para ela!

—Greg está te mandando um beijo ... eu sei ... também te amo!

Ele desligou o telefone, ignorando o sorriso pervertido de seu ex subordinado.

—Ela te mandou outro!

E então saiu antes que fosse vítima de uma nova provocação, ele podia sentir Greg em seu encalço.