Os móveis do quarto de Emma haviam sido todos entregues com antecedência. A empresa terceirizada havia confirmado a disponibilização de seus funcionários para aquela tarde, Sara estava no aguardo não somente deles, como de Grissom também.

Após longos três dias apenas se vendo de longe e esporadicamente, ele havia a interpelado no corredor do laboratório quando já estava de saída, dizendo ter recebido uma ligação da empresa terceirizada confirmando a montagem dos móveis. Seu número havia sido incluído nas referências durante as compras e seria melhor que ele estivesse presente para acompanhar tudo de perto. Na verdade, ele quase chegou a impor sua vontade, estava muito sério e em nenhum momento abordou qualquer outro assunto, nem mesmo perguntou se estava bem.

Ela havia concordado com apenas um aceno de cabeça e seguido na direção contrária à dele, tentando evitar certos tipos de pensamentos. Estava cansada, louca por um banho e morrendo de fome.

A campainha tocou a tirando de seu devaneio. Olhando no relógio delicado em seu pulso, ela sabia que era ele. Suspirou e foi atender a porta.

Grissom estava com os cabelos úmidos enrolados em pequenos cachos, a barba bem aparada feita recentemente, vestindo uma camisa polo azul marinho, calça jeans e tênis. Com as mãos nos bolsos, sem saber o que fazer com elas, ele a encarava profundamente.

Em silêncio, Sara deu passagem para que ele entrasse.

—Estou adiantado ? - Ele tentou fazer alguma conversa, qualquer coisa era melhor que aquele silêncio.

—Não, pelo horário eles devem chegar a qualquer momento ... - Ela mal conseguia olhar em seus olhos.

Ele assentiu.

—Como você está ?

—Bem!

—Como ... passou esses dias ?

—Ah, então agora te interessa saber ?

—Nós precisávamos desse tempo, Sara ... - Sua voz era suave, mas ele compreendia sua reação. Apenas não queria mais conflitos entre eles.

Sara não respondeu, embora racionalmente concordasse com ele.

—Posso ? - Ele apontou para a sua barriga gigantesca com tanto amor em seus olhos. _Queria senti-la, não foi fácil eu me afastar dela ... também.

—Não! Eu não quero o seu toque.

A campainha tocou novamente e antes que ela chegasse até à porta, ele a interceptou, prendendo-a em seus braços.

—Me solta, Grissom! - Ela se debateu.

Ele não fez nenhuma menção de que iria obedecê-la.

—Cuidado, você vai machucar o bebê!

—Então me solte!

—Eu precisava ficar sozinho, não me perdoaria se aquele maluco fizesse algo à você!

—São os riscos que se corre por se envolver com aquela mulher! Até mesmo um maluco consegue enxergar isso que existe entre você e Heather. - Ela riu com amargura.

—Não estou envolvido com ela! E esse “isso” que você diz, não é absolutamente nada! Você só está muito machucada e a culpa é toda minha, eu sei! Eu quem causei toda essa insegurança.

—Você me conhece tão bem, que precisou Heather te dizer tudo isso ?

Ele ignorou todo o seu cinismo.

—Nossa filha merece uma família ... Sara! Podemos recomeçar do jeito certo desta vez, prometo que não terá mais dúvidas do meu amor por você!

Outra vez a campainha, ela tentou se libertar mais uma vez, mas sem sucesso. Ela sabia que ele não iria soltá-la a menos que ela lhe respondesse.

—Eu cresci em um lar disfuncional, Grissom! Não quero isso para Emma! Olhe para nós, mal conseguimos conversar sem que haja alguma discussão! O que nós dois poderíamos oferecer para ela ?

Ele afrouxou seus braços e ela aproveitou para escapar.

—Nosso amor ...

Ela parou há centímetros da porta quando o ouviu dizer. Abaixou a cabeça por um instante, tomou fôlego novamente e abriu a porta sem forças para rebater sua declaração.

~Fim do flashback~

~♥~

Eles sabiam que as coisas lentamente voltariam para o eixo. Tudo ficaria bem, eles só precisavam trabalhar no relacionamento deles. Dia após dia, construindo, edificando, harmonizando.

Era certo que não havia como recuperar o tempo perdido, e muito menos queriam ficar remoendo o passado. E foi assim, em um acordo mútuo e silencioso que ambos decidiram que de agora em diante, o passado ficaria em seu devido lugar. No passado. Tudo que lhes interessavam naquele momento era o presente que viviam e o futuro que construiriam juntos, sem neuras ou desconfianças, com muito amor e entrega.

Havia uma calmaria naquela noite, o vento fresco, o céu limpo e estrelado.

O jantar havia sido simples, mas muito saboroso, Grissom havia feito questão de cozinhar para eles.

Sara estava na sacada de seu quarto com os braços sobre a grade de proteção.

Era um bairro familiar com casas de alto padrão e suas imensas áreas privativas. Parecia uma cidade paralela à Vegas, era bom viver afastado de toda aquela agitação.

O silêncio da noite sendo quebrado por barulhos de insetos noturnos que talvez vinham do gramado ou do próprio jardim. A lua vista ali do alto era espetacular, seu reflexo sobre as águas da piscina era de encher os olhos. Todo aquele cenário a remediou à uma vida no campo, simples e tranquila.

Ela se sentia em paz, estava feliz com o rumo que sua vida estava tomando. Seus lábios que curvaram em um sorriso e seu coração se encheu de ternura quando seus pensamentos foram para suas duas pessoas favoritas no mundo. Emma e Grissom, sua família.

Família, ela tinha uma família.

Foi então que um imenso amor a envolveu, tomando conta de cada poro do seu ser.

Por anos acreditou que aquilo jamais seria para ela, que estaria escrito em seu livro da vida, um ser solitário durante toda a sua existência. Entretanto, novas linhas foram adicionadas e muita coisa reescrita quando certa noite o único homem que amara na vida, batera em sua porta pedindo uma chance com os olhos.

Embora nem todas as páginas tenham sido felizes, ela não se arrependia de estar onde exatamente estava e muito menos, de amar quem amava.

—Sara ?

Ela se virou para dentro do quarto.

—Na sacada!

Grissom se aproximou a passos lentos e ficou ao lado dela.

—O que está fazendo, querida ?

—Nada demais, apenas admirando a vista, a lua está linda esta noite!

Ele olhou para cima para ver com seus próprios olhos o que ela falava. Um meio sorriso brincava em seus lábios, talvez de forma involuntária, mas o suficiente para mostrar o quanto estava feliz.

—Gosto daqui! É uma casa espaçosa e confortável. O bairro é familiar e bastante tranquilo, perfeito para criarmos a nossa garotinha linda! - Ele divagava.

Sara o encarou mesmo que ele não lhe devolvesse o olhar.

A barba bem aparada fazia uma sombra bonita em seu rosto. O tempo havia passado, mas ele continuava espetacularmente lindo.

Ela levou a mão até o seu rosto, vendo inicialmente sua surpresa quando ele se virou rapidamente para ela. Mas então toda a surpresa se transformou em algo muito doce. Havia tanta ternura em seus olhos quando ele colocou sua mão sobre a dela e a esfregou sobre sua barba pedindo por carinho.

Olhares conectados e silêncio. Em seu íntimo, eles tinham medo que qualquer palavra pudesse quebrar a magia do momento.

Lentamente, ele diminuiu a distância entre seus corpos e segurou em sua cintura fina. Seus olhos desceram até os lábios dela morrendo de vontade de prová-los.

—Posso ? - Ele sussurrou quebrando o silêncio, queria ouvir de sua boca a permissão para o que estava prestes a fazer.

—Sempre que desejar ... - Sara respondeu no mesmo tom, completamente envolvida naqueles olhos espetaculares. Eles pareciam querer atravessá-la.

Ela ainda teve tempo de ver o seu sorriso de menino, antes dele encaixar sua boca na dela.

Inicialmente o contato foi tímido, mas então quando a saudade bateu em suas almas inquietas, o encontro se tornou explosivo.

As mãos dela foram parar em suas costas, suas unhas cravadas em seus músculos firmes.

Ele buscou cada canto de sua boca, sentindo o gosto dela, completamente à mercê daquele efeito poderoso que somente ela tinha sobre ele. Suas mãos másculas instintivamente apertavam sua cintura, tomando para si aquele sentimento de posse. A sensação de se pertencerem novamente.

Ele segurou em sua nuca e mudou a posição de sua cabeça para aprofundar o contato. Seu corpo reagia aos seus hormônios em ebulição, já não era mais nenhum jovem, precisava se controlar, mas não estava conseguindo.

Sem se separar de sua boca, ele a conduziu para dentro do quarto até sentir o colchão macio limitar seus movimentos.

Instantaneamente sentiu a tensão tomar conta do corpo dela e se assustou, interrompendo o beijo. Não estava preparado para aquele tipo de reação, se afastou o suficiente para que pudesse olhar em seus olhos, entendendo perfeitamente do que se tratava.

Ele lhe deu um sorriso antes de roçar seus dedos em seus lábios úmidos e avermelhados.

—Não temos que fazer nada, meu amor.

—Não me sinto pronta. - Ela confessou em um fio de voz.

—Serão nos seus termos, eu posso esperar.

—Sei que não é justo com você e ...

—Shiii ... - Ele pressionou o dedo em seus lábios a interrompendo e roubou-lhe um beijo curto. _Eu te desejo mais que tudo. - Carinhosamente distribuiu pequenos beijos por todo o seu rosto e então, olhando dentro de seus olhos, reiterou. _Mas posso esperar, estamos juntos e é isso que importa!

Sara deu um pequeno sorriso.

—É bom beijar você de novo ...

Foi a vez de Grissom sorrir, ele guardou uma mecha castanha atrás de sua orelha.

—Eu ... vim aqui para te fazer um convite!

—Convite ?

—Huhum ... aceita dormir comigo no outro quarto ?

Sara o encarou por breves segundos e então, seus olhos miraram o chão.

—Hey ... o que foi ? - Ele a fez olhar para ele novamente.

—Eu emagreci muito, meu corpo ... - Sua expressão denunciava toda a sua insegurança, não se achava nenhum pouco atraente. Ela suspirou antes de tentar fazê-lo entender. _Não sou mais a mesma, Gil!

—Como assim ? Você continua sendo a mulher que eu amo, a minha Sara ... nada mudou!

—Papa ... - Ambos olharam para a babá eletrônica e sorrindo, Grissom completou.

—A única diferença é que agora, o meu coração pertence à duas mulheres!

Sara devolveu o sorriso.

—Eu não sei se a outra mulher vai aceitar dividir a parada, ela já demonstrou ter ciúmes do “papa” dela!

—Vamos até lá, eu vou convencê-la!

Sara segurou sua mão antes de saírem.

—Obrigada ...

Grissom olhou para suas mãos unidas e de volta para ela.

—Pelo que está me agradecendo ?

—Por tudo! Mas principalmente ... por me amar e não desistir da nossa família!