Recomeços escrita por LohRo


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, obrigada pela companhia e em especial às meninas que deixaram seus reviews em apoio. Fico feliz em saber que do outro lado da tela tenham pessoas que gostam do que escrevo.
Vamos a mais um capítulo, o primeiro do ano!
Boa leitura.



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—Bom dia, meu amor!

Deitada em sua cama, Sara tentava criar coragem para se levantar. Havia acordado há alguns minutos com o barulho da chuva, a barriga pesada apoiada confortavelmente sobre o colchão macio, se sobressaía de seu pijama de seda.

Ela sabia que ainda era muito cedo, mas precisava ir até o laboratório levar a autorização de sua reintegração à equipe. No dia anterior, durante sua consulta de rotina, havia sido liberada pelo Dr. Grant para voltar ao trabalho. Pelos exames, estava tudo bem com ela e o bebê.

Haviam sido dias difíceis, muitas restrições e remédios com horários rigorosamente controlados. Mas cada vez que sentia os movimentos de sua pequena, ela tinha a certeza de que tudo daria certo, que dentro de algumas semanas a teria em seus braços, forte e saudável.

Por muitas vezes, se pegava imaginando como seria o seu rostinho, seu cabelo, a cor de seus olhos. Tinha que admitir tamanha ansiedade e com Grissom não era diferente.

A presença dele se tornou constante em seu apartamento. Era uma sensação diferente vê-lo transitando entre suas coisas para cuidar somente de suas necessidades. Às vezes, tinha vontade de confrontá-lo sobre seus verdadeiros sentimentos, principalmente onde uma certa dominatrix se encaixava. Mas ela sabia que o melhor a se fazer era se concentrar apenas na vida preciosa que carregava em seu ventre.

Girando seu corpo lentamente, Sara conseguiu colocar suas pernas para fora da cama sem maiores dificuldades. Sua barriga estava gigantesca e ela não podia acreditar que já estava em seu último trimestre. Deus, havia se passado tão rápido!

Seu celular tocou sobre a mesinha, o que a obrigou a se levantar de verdade.

—Bom dia, Sara! Eu ... te acordei ?

—Eu já estava acordada, Grissom! E bom dia pra você também!

—Hum ... - Ele estalou a língua em uma mania quase infantil e sem rodeios, resolveu lhe fazer um convite. _Estou saindo do laboratório, podemos nos encontrar ? Você já vai voltar de sua licença e eu pensei que seria um bom momento para terminarmos o quarto de Emma.

Eles vinham passando muito tempo juntos nas últimas semanas e Sara não sabia até que ponto aquilo era bom. Talvez, no final das contas, dificultasse ainda mais as coisas.

—Não acho que seja uma boa ideia!

—Por favor, Sara! Eu também quero viver este momento, não me negue isso.

O que ela poderia fazer ? Suas vidas separadas estavam interligadas pela filha deles e Grissom nem de longe, pretendia ser um pai ausente, muito pelo contrário!

—Mas ... você não vai para casa dormir ?

—Posso dormir depois! Então você aceita ? Tem uma loja nova no quarteirão da prefeitura!

Sara arqueou uma sobrancelha do outro lado da linha, ele estava pesquisando sobre aquilo ?

—Ok! Antes eu tenho que passar no laboratório e deixar a autorização do meu retorno.

—Então eu te espero aqui mesmo! Ah e Sara, venha de táxi! Seria interessante você considerar a ideia de parar de dirigir.

Sara encarou o celular quando a ligação foi encerrada.

~♥~

 Berços, guarda-roupas, poltronas, cômodas combinando.

Havia uma infinidade de móveis no mostruário, de vários estilos e cores, todos eles de muito bom gosto. Eles mal conseguiram optar por apenas um de cada, divergiram em algumas coisas e concordaram em outras.

Próximo passo, na outra parte da loja, a mesma vendedora lhes mostrou utensílios, bebê conforto, carrinhos, tapetes e brinquedos, de borracha, silicone e pelúcias.

—Acho que preciso me sentar, meus pés estão me matando!

Grissom a olhou quase em desespero, estavam mesmo exagerando.

A vendedora que os atendia, gentilmente lhe trouxe uma cadeira.

Quando decidiram que já tinham tudo o que precisavam, muitos minutos depois, se dirigiram para o caixa onde uma nova divergência aconteceu, Grissom queria ser o único a pagar e Sara não aceitava aquilo de modo algum.

—Vamos mesmo discordar sobre tudo ? - Grissom se virou para ela assim que devolveu seu cartão à sua carteira com apenas metade dos itens pagos. Sua expressão era impagável.

Sara o olhou de lado enquanto digitava sua senha na maquininha.

—Não! Apenas quando eu sei que estou certa e você, errado.

Ele revirou os olhos, quase infantil. Aquilo se traduzia em um sim.

Sara disfarçou um pequeno sorriso.

—Muito obrigada pela preferência, se precisarem de algo mais, me procure.

 A vendedora os conduziu até a saída e eles agradeceram.

Grissom olhou em seu relógio durante a pequena caminhada até o estacionamento. As horas já estavam bastante adiantadas e estava indeciso em convidá-la ou não para almoçar.

Chegaram em seu carro e ele imediatamente abriu a porta para ela. Esperou que ela colocasse o cinto e só então fechou a porta novamente. Deu a volta e se sentou do lado do motorista com o corpo totalmente voltado para ela.

Sara se mexeu desconfortável enquanto tentava ajustar melhor o cinto em sua barriga, ela podia sentir um par de olhos azuis observando seus movimentos.

Satisfeita com a posição, ela o encarou.

—Podemos ir!

—Você quer almoçar comigo ?

—Grissom ... - Ela deu um longo suspiro, abaixou a cabeça por um instante e o encarou novamente, antes de continuar. _Mesmo indiretamente, faremos parte da vida um do outro, somos os pais de uma mesma criança, mas ... por favor ... não torne as coisas mais ... difíceis.

—E é difícil para você estar ao meu lado ... - Ele concluiu. Sem dizer mais nada, ajeitou sua postura e ligou o carro.

~♥~

Grissom depositou as chaves sobre o aparador e se sentou no sofá totalmente inclinado para trás, a cabeça apoiada no encosto macio, os olhos voltados para o teto.

O apartamento estava frio e ele pouco se importou. Quem vivia reclamando sobre a temperatura era Sara, principalmente quando se esquecia de ligar o aquecedor. Mas ela não estava ali e ele duvidava de que estaria novamente.

Ele levou uma mão à cabeça, seus dedos apertaram suas têmporas simultaneamente e só então deslizaram até seus olhos, apertando-os com força. Um longo suspiro e ele se sentiu cansado.

Cansado daquela situação, cansado de suas vidas separadas, cansado de no final de tudo, ele sempre sair machucado. Palavras e ações poderiam ser mais dolorosas do que quaisquer ferimentos físicos e ele nunca se sentiu tão velho como naquele momento.

Algo pressionou sua coxa, ele tirou os dedos dos olhos e levantou a cabeça do encosto para ver a cabeça de Hank apoiada em sua perna.

O cão o encarou com olhos tristes, sentindo a tristeza de seu dono.

—Oi, garoto! - Grissom levou a mão até a cabeça forte do animal e a acariciou.

Hank gostou do agrado, levantou a cabeça para pular no sofá e retribuir com uma generosa lambida em seu rosto.

Grissom riu.

—Hank!

A expressão de arrependido que ele fez foi impagável, tanto que provocou uma gargalhada no supervisor.

~♥~

Com pouco mais de duas horas para o seu turno começar, Grissom resolveu sair sem um destino predeterminado. Daria algumas voltas pela cidade e quem sabe, parar em algum restaurante mais afastado.

Não havia tido mais contato algum com Sara, ao longo daquele dia. Mas sabia que ela voltaria ao trabalho amanhã, então provavelmente iriam se cruzar na troca de turno.

Tinha que confessar sua enorme preocupação com ela em campo naquelas condições. Seu vigor não era o mesmo, seus reflexos mais lentos, e ela facilmente poderia se ver em perigo. Afinal de contas, por mais cuidados que pudessem ter, lidavam com criminosos, assassinos da pior espécie.

Quanto mais pensava, mais tinha a certeza em falar com o seu supervisor mais uma vez para restringi-la ao laboratório.

Deslizando pelas ruas de Vegas quase no automático, perdido em tantos pensamentos, ele realmente se viu surpreso quando parou para prestar atenção no bairro que havia entrado, mais um quarteirão e ele estaria em frente a uma conhecida mansão.

Quando parou o carro, pouco depois, ele não moveu mais nenhum músculo sequer, apenas continuou olhando para a frente quase em transe.

Não soube dizer quanto tempo se passou até que ouviu o seu nome do seu lado da janela e se virou para a dona da voz.

—Gil ?

—Olá, Heather!

~Fim do flashback~

~♥~

Alguns gritinhos seguidos de uma risadinha gostosa tomaram conta do ambiente. O relógio marcava 06hs:07min quando a babá eletrônica avisou que uma certa garotinha já havia acordado, como sempre,  ainda muito cedo.

Grissom se sentou em sua cama, passando a mão em seus cabelos desalinhados. Ainda estava bastante sonolento, mas se sentia bem, havia uma paz em seu coração que o deixava muito mais disposto e animado.

—Papa.              

Um sorriso iluminou seu rosto ao ouvir sua filha aprendendo a chamar por ele, se levantou e foi até o quarto dela.

Emma estava em pé em seu berço, nua da cintura para baixo, agarrada à grade de proteção. Assim que viu seu pai, ela sorriu deliciosamente e ergueu os bracinhos, esperando ser pega, mas acabou caindo para trás sentada em seu colchão.

Aconteceu tão rápido que Grissom pouco pôde fazer, ele acabou rindo da expressão chocada da filha.

—Hey joaninha, vamos ter que trabalhar nesse equilíbrio! - Ele a tirou de seu berço ao som de uma nova risadinha e beijou seus cachos revoltos. _Arrancou sua fralda, outra vez ? - Com certeza estava molhada, ela simplesmente detestava ficar com aquilo se não estivesse seca.

Emma se esticou para alcançar o nariz de seu pai.

—Papa.

Grissom sorriu orgulhoso, havia mesmo se tornado um babão de carteirinha, ele segurou a mãozinha fofa e a beijou.

—Sim, minha coisinha linda! Eu sou o seu papa.

Bem próxima dali, encostada à porta de braços cruzados, Sara observava a cena com encantamento, um sorriso tímido brincava em seus lábios. Havia muito amor envolvido entre pai e filha, aquilo era fato.

Assim que Grissom se virou decidido a dar um banho em Emma, ele a viu.

—Oi, Sara! Faz tempo que está aí ?

Ela descruzou os braços e se aproximou, sendo observada da mesma maneira por dois pares de olhos extremamente azuis. Emma havia se aconchegado no peito de seu pai e a mão pequena tocava sua barba.

—Tempo suficiente para descobrir que alguém está aprendendo a falar. - Ela sorriu e tocou o narizinho arrebitado de sua filha.

Grissom retribuiu o sorriso evidenciando suas covinhas, tamanha proximidade deles foi o suficiente para fazê-lo rememorar parte da conversa que tiveram ao cair da madrugada.

—Eu estava a levando para o banho, quer fazer as honras ?

—Sim, claro! O que aconteceu com a fralda dela ?

—Ela mesma quem a tirou, se não estiver seca, nada feito, esta é a regra! - Eles compartilharam um novo sorriso com a sensação de que sempre seria assim toda vez que o assunto girasse em torno da filha.

No banheiro, Grissom a entregou para Sara, enquanto ele preparava o banho, ela terminava de despi-la.

Assim que Emma foi colocada na banheira junto de seus brinquedos, a bagunça de bracinhos e perninhas foi tanta que esparramou água para todos os lados, ensopando seus pais.

—Jesus! - Grissom arqueou as sobrancelhas, revezando o olhar entre o pijama de Sara e o dele.

—Ela nos deu um banho! - Sara concluiu divertida.

A garotinha pouco se importou e imediatamente tomou interesse pelo seu polvo de borracha, mordendo-o. Havia ainda uma tartaruguinha, uma estrela do mar e um golfinho flutuando pelas águas mornas.

Sara tomou a frente e assumiu a tarefa, aquela era a primeira vez em que se arriscava a dar banho sozinha na filha. Grissom apenas permaneceu próximo, caso precisasse de ajuda. Ele havia colocado algumas toalhas no chão molhado de modo a evitar algum acidente.

—O que acha de lavar o cabelo dela ?

—Ela já o molhou mesmo, eu vou buscar o shampoo.

Dentro de pouco tempo, Sara estava massageando os cabelinhos finos, ouvindo Emma balbuciar com um brinquedo agarrado à boca. Ora a criança pequena o batia na água, ora o estendia esperando que seu pai o pegasse. E assim, se passaram mais alguns minutos, logo Grissom a tirava da água sob alguns protestos.

~♥~

Sentado em seu escritório analisando alguns documentos, Grissom levantou a cabeça dos papéis quando pareceu ouvir ruídos bem longe, que aos poucos se tornavam mais evidentes. Em poucos segundos ouvia uma batida na porta, era Sara com Emma chorando nos braços.

Ele se levantou da cadeira preocupado e rapidamente deu a volta na mesa.

—O que houve com ela ?

—Ela acordou chorando, eu não sei mais o que fazer. - Sara passou a mão nos cabelos exasperada assim que Grissom pegou a filha de seus braços. Nada parecia acalmá-la, até então tudo parecia bem quando a colocaram para tirar um cochilo naquela tarde.

—Oh querida, está tudo bem. - Ele tentou confortar o bebê, beijando seu rosto manchado de lágrimas.

Emma segurou sua orelha com seus dedinhos e chorou com renovado entusiasmo. Não era um choro de birra, algo não estava certo com ela.

Grissom tocou a região de sua orelha que parecia bastante avermelhada e sensível. Teve certeza que aquele era o motivo quando sua filha balançou a cabecinha como se tentasse tirar sua mão dali.

—Ela parece estar com dor no ouvido, já passamos por isso.

—Oh! - Sara olhou penalizada para a filha e então seus olhos se arregalaram quando algo lhe veio a mente. _Eu posso ter causado isso quando lavei o cabelo dela hoje de manhã, talvez tenha entrado água em seu ouvido e eu não percebi.

—Não se culpe, Sara. Se esse for mesmo o motivo, saiba que já aconteceu comigo também. - Ele lhe deu um olhar tranquilizador. _Vamos levá-la ao seu pediatra, assim ficaremos mais tranquilos.

Poucos minutos depois já estavam de saída, enquanto entravam no carro, chegaram a ouvir o telefone tocar dentro da casa, mas no momento nada era mais importante que acabar com o sofrimento da filha.

A ligação propositadamente foi enviada para a secretária eletrônica. A luz do aparelho acendeu indicando nova mensagem. Seu remetente.

Heather Kessler.

~♥~

Já era noite quando eles retornaram do hospital, embora cansados, muito mais tranquilos. Emma dormia profundamente no colo de seu pai, também parecia esgotada.

Eles subiram as escadas que dava acesso ao piso superior e foram direto para o quarto da criança.

Grissom a colocou em seu berço e se virou a tempo de ver Sara escolher um pijama antes de se aproximar. Dando-lhe espaço, ele se afastou para que ela trocasse a filha com mais liberdade.

Emma se mexeu e começou a chorar nenhum pouco feliz por ter sido acordada.

—Shhiii minha princesa, você já vai voltar a dormir. - Como foi dito, assim que ela terminou, a filha voltou para o seu sono tranquilo.

Eles se encararam e em silêncio deixaram o quarto, iluminado apenas pela luz fraca do abajur.

—Estou tão aliviada de não ter sido nada grave. - Sara suspirou cansada, estavam parados em frente ao seu quarto.

—A primeira vez que fomos parar no hospital por conta de seu ouvido, eu pedi ao médico para que fizesse alguns exames mais específicos. - Vendo sua confusão, ele continuou. _Otosclerose, eu precisava ter certeza.

—Você teve medo que ela tivesse herdado ?

—O bastante para submetê-la a exames desconfortáveis para um bebê de cinco meses.

—Como reagiria se recebesse um laudo confirmando a manifestação em nossa filha ?

—É uma pergunta difícil. - Ele inclinou levemente a cabeça, olhando para um ponto qualquer, tentando realmente se imaginar naquela situação. _Talvez seja um pouco irracional, mas de alguma forma me sentiria culpado. - Só então olhou em seus olhos, vendo a surpresa que eles refletiam. _Não a amaria menos, é óbvio! Além do mais, a medicina está muito mais avançada, garantindo a eficácia de um melhor tratamento. Eu ... só não queria que minha garotinha passasse por nada do que eu passei.

—Emma tem sorte por ter você como pai.

Ele sorriu com timidez.

—E você como mãe.

Foi a vez de Sara sorrir, ela olhou para a porta de seu quarto exausta, o que não passou despercebido por Grissom. Ele roçou seu dedo de leve em sua bochecha e assim que ela voltou a olhar dentro de seus olhos, se inclinou e depositou um beijo casto em sua testa.

—Boa noite, Sara.

Sua surpresa foi enorme quando ela retribuiu o beijo em sua bochecha, não esperava por aquilo e gostou da sensação.

—Boa noite, Gil.

Quando ela fechou a porta, ele tocou onde havia recebido seu beijo e sorriu.

—Passos lentos, Gilbert Grissom ... passos lentos ...


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