A festa do astro de futebol da escola, Todd Ashton havia sido há dois meses. Minha vida havia voltado ao normal junto com a de Zoe. Eu acordava sempre no mesmo horário, ia ao banheiro, tomava café em um silêncio que me matava aos poucos. A vida amorosa de meus pais ainda continuava a mesma coisa.

            Voltava para meu quarto, me arrumava e juntava minhas coisas para a escola, incluindo meus fones cor-de-rosa e meu celular da Samsung. Saia pulando nos degraus da escada e ia em direção à saída, olhando para a cozinha onde meus pais se encontravam de braços cruzados e em silêncio. Eles apenas estavam me esperando sair.

            A partir daí, eu caminharia até a escola que não ficava muito longe e iria até meu armário, número 53. Abri meu armário e joguei algumas coisas dentro dele, enquanto recolhia outras.

            Olhei meu reflexo no espelho e puxei um batom de uma das bolsinhas personalizadas que pendurei na parte interna dele, passando-o em meus lábios logo em seguida. Afinal, ninguém merece uma Marybeth Sheridan com cara de zumbi em plenas oito horas da manhã.

            Eu voltei meu olhar para meu celular que já estava em mãos, procurando mensagens ou ligações perdidas, mas não havia nada. Novamente, Drake havia deixado de me ligar como sempre dizia que faria.

— Dia Mary. – Zoe agora tinha finas mechas verdes em seu cabelo loiro, contrastando com os olhos castanhos folha.

— Dia Zoe. – Sorri para ela enquanto fechava o armário.

— Qual o problema?

— Nenhum.

— Ele não te ligou?

— Ele nunca liga Zoe. – Apertei o fichário contra meu peito. – Eu sempre ligo.

— Vocês tem uma amizade muito estranha. – Ela soltava uma risada nasalada sempre que dizia isso.

— Aula de Biologia, vamos Zoe?

— Não tenta mudar de assunto Marybeth. – Revirei meus olhos escuros.

***

            Eu mal podia acreditar que finalmente já estávamos no horário de almoço. Meu estomago roncava desde cedo ordenando que eu lhe desse comida, mas tudo o que eu tinha era algumas balas e chicletes que não ajudavam muito.

            Na fila eu tive a sorte de poder sentir o cheiro daquela comida fresquinha e maravilhosa... No caso, descongelada. Hoje era o dia da semana que eu mais amava: Dia da Pizza.

            Era o dia em que recebíamos duas fatias gigantescas de pizza com uma lata de refrigerante ou suco natural.

— Vai pegar suco ou refri? – Zoe estava do meu lado recebendo duas fatias enormes como as minhas.

— Como hoje é meu dia favorito da semana vou pegar um refri. – Ela me olhou esperando que fosse uma brincadeira.

— Você sabe que eu sempre pego refri nesses dias.

— Adeus dieta.

            Sentamos em uma mesa vazia para conversarmos tranquilamente, até que Drake e o peguete de Zoe – Todd Ashton— sentaram com nós. Enquanto os pombinhos falavam sobre suas bobeiras em comum, eu ia saber da noite do meu melhor amigo.

— Não me ligou.

— É.

— Você nunca liga. – Rimos.

— Eu esqueço. – Claro que ele se esquece de mim, não sou uma delas.

— Relaxa bobo. – Comi uma fatia. – Como foi sua noite?

— Incrível. – Ele deu uma mordida na sua comida. – Conheci uma modelo de Chicago. Linda, gostosa, ruiva e bem burrinha.

— Drake. – Repreendi.

— Mas ela era. Não sabia a diferença de basquete e beisebol, disse que tudo começava com “B” e era a mesma coisa.

— Talvez ela estivesse dizendo aquilo para te dar mole.

— Bem, se era isso ela conseguiu. – Eu dei outra mordida e olhei para ele. – Nós transamos e ela era incrível, Mary.

— Por favor, me poupe dos detalhes sórdidos Drake Winston. – Brinquei. Ficamos em silêncio.

— Mas o boquete dela era ótimo. – Ele rebateu com um sorriso travesso enquanto olhava para o prato.

— Drake. Seu idiota, eu não quero saber. – Rimos.

— Oi Drake. – A voz forçada e arrastada de Francine me tirava do sério. Ela sempre fazia isso para me irritar e provocar Drake, afinal todos sabem que ela queria dar para ele desde que descobriu que Drake poderia ser rico e famoso.

— Ei Fran. – Ele piscou para ela, que riu e saiu andando. – Eu ainda vou comer ela. – Eu continuava quieta comendo minha pizza. – Mary?

— Achei que seu empresário havia sido bem claro quando disse para não sair trepando com qualquer vadia que aparecesse.

— Não começa Mary.

— A modelo eu entendo, afinal ela tem popularidade. Agora uma vagabunda de quinta como Francine? Me poupe Drake.

— Qual o problema? Você nunca reclamou.

— Drake, eu sei de todas as garotas que você leva para cama, sendo ou não famosas. – Eu olhei em seus olhos amendoados que me tiravam do sério e me levavam a loucura. – Mas uma pessoa vulgar como Francine já é demais.

 - Tá legal Marybeth.

***

            Acho que eu nem preciso dizer o que aconteceu depois disso. No final de semana, Drake levou a Francine para uma boate bem cara e eles beberam até ficarem tontos. Foram para um motel e transaram.

            Segunda-feira. Francine havia dito para a escola toda que Drake Winston era uma broxa que não aguentava nem quinze minutos de cama, e que um cara com ejaculação precoce duraria mais tempo.

            Foi o bastante para acabar com meu amigo. Ele faltou à aula a semana inteira e aparecia apenas nos treinos. O empresário dele ficou super irritado e falou até Drake querer arrancar os ouvidos, dizia que isso seria extremamente negativo para sua imagem, afinal ele não deveria ter transado com uma vaca qualquer.

            Quando Drake voltou para a escola na semana seguinte, Francine resolveu atormentá-lo. Ficou zombando dele e tudo mais, até que eu – Marybeth Sheridan – entrei no meio.

— Engraçado Francine, eu fiquei sabendo de outra coisa.

— Ah, é? – Ela ironizava.

— Sim. Fiquei sabendo que você ficou gemendo que nem uma vaca. E quem caiu primeiro foi você, que não aguentou o trampo.

— É óbvio que a nerd idiota vai ficar defendendo o amiguinho.

— Meu amor, ele não precisa de mim para isso. – Eu estava explodindo. – Além do mais, vamos lembrar que ele já transou com várias garotas daqui que juraram que elas nunca havia sentido tanto prazer. Então a defeituosa daqui é você.

            Depois de minha primeira discussão ganha na vida, fiz meu melhor amigo – que agora me amava mais ainda – pagar uma mega pizza e um Sunday gigantesco pra mim.

— Fico me perguntando para onde vai tudo isso. – Ele implicava.

— Graças aos meus exercícios, elas não se acumulam em meu corpinho lindo. – Fiz biquinho e ele riu.

— Claro, claro. – Ele levantou da cadeira e me deu um selinho. – Até mais Mary.

— Até. – Eu o vi passar pela minha porta e ir embora.

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