Desafios do Destino III - Desastres e Desfechos escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 9
Os Sinais do Arauto: Crises das Gerações




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—Que Arauto?

—Bom, já ouviu aquele ditado "Nunca se briga com os próprios pais"? – A minha cara de negação respondia o que acabara de ouvir. – Então, eu acabei de inventar. – Minha cara de "Piada sem graça e fora de hora" foi o que eu pude fazer. – Para ficar mais claro, como Destino, agora Tirano da Tríade, controla os poderes do Destino, do Tempo e da Morte. Conflitar com Efiáltis, ou seja, o Pesadelo, apenas colocara em xeque um equilíbrio natural de milhares de anos.

—Isso já ocorreu alguma outra vez?

—Claro, teve Urano com os filhos, depois Cronos com os filhos. Zeus ainda não passou por isso. Esses são um dos casos mais famosos, porém, não tiveram um impacto tão grande no planeta assim para desestruturar completamente a natureza. Todavia, a forma como os dois está se mostrando é a clara forma de como o colapso natural pode ser atingido.

—Ainda não estou entendendo.

—Sabe aquela sensação que temos durante nosso sono, que simplesmente acordamos, não conseguimos nos mexer e parece que o mundo ao nosso redor é horripilante e macabro? Então, é assim que o mundo será se esses dois duelarem. Tudo parará e nós pereceremos, porém, sem morte real, ficaremos em um transe constante até nosso corpo não tolerar mais a pressão do medo e falecer. Mas o processo é demorado, raros são as situações em que uma pessoa sobreviveu menos de três anos nesse colapso constante.

—Espera? Três anos?

—Sim, o corpo humano é uma criação fabulosa, entretanto, pena nesse detalhe de suportarmos por tanto tempo nesse estado de transe tormentoso.

Os dois se encaravam. Não conseguia alcançar os olhos de Efiáltis, eu sabia que o escondia por trás de uma máscara densa de milhares de linhas de fel imundo das profundezas amargas da Cidade de Carvão, presente de seus filhos para sua visão quando entrou em estado de quase morte, vivendo seus dias naquele caixão de vidro, sem usufruir o que lhe restara, finalmente, de vida, sem se preocupar com o equilíbrio do mundo.

—E o que posso para impedir isso?

—Você não fará nada! – A voz ecoante de Efiáltis tremeu todo o lugar. Praticamente, os destroços e resquícios da construção começaram a se desfazer, criando um imenso deserto de cinzas, com chão craquelado, com tudo deformado. Pequenos arbustos secos brotavam espontaneamente do chão, mas morriam logo, pareciam pequenos espécimes experimentais que fracassaram ao serem as evoluções mais perfeitas que poderia realizar em pouco tempo. Destino tinha os punhos rígidos, com a arma em mãos, no entanto, eu notava um olhar amedrontado no semblante formado pela sua face levemente reptiliana. Eu sentia uma aflição em batalhar com o próprio pai, que o ensinara tudo o sabia hoje.

—Não seria eu ter que duelar com Destino?

—Eu já disse para você não interferir nesse duelo!

—Mas eu só falei... – E a profecia ecoava em minha cabeça:

Num mar de relatos

O filho do Destino buscará

—O que isso quer dizer? – As aves me encaravam de forma terna, porém preocupadas. Elas faziam tudo parecer pior. Realmente, o pior era não ver a Pérola, uma ave que conheci pouco, Marfim foi a ave que mais caminhou comigo, me levou a todo o lugar que eu precisava conhecer. Ele sabia o que eu tinha que fazer. – O que a profecia quer dizer?

—Ainda não entendeu? – A voz de Destino ecoava em minha cabeça, o tempo ao nosso redor era menor, mais fraco, parecia tudo lento, somente eu e as aves que nos movíamos rapidamente. – Isso é o importante nesse momento.

 

Não despreze as dores do passado

Para distrair as ondas do futuro

 

Nisso, uma espécie de esfera rochosa surgiu no céu, caindo diante de nós. Seu formato deixou de ser esférico, decaindo para um formato humanoide, era uma espécie de criatura, tinha uma bocarra com dente afiados, começou a se mover enquanto utilizava os quatro membros. Atiçou-se a fúria de Efiáltis, ergueu sua arma e partiu para cima do filho, que revidou com a foice em mãos. Com fúria em seus olhares, as aves me impediram de atrapalhar.

—Tarde demais, temos outro problema! – A fera corria na direção deles, as aves a atrapalhavam enquanto eu me recompunha para usar o poder que recebera de Nýchta. O ar passava pelos meus poros secando meu suor. Em minutos, eu pulava sobre a criatura, sobre aquilo que eu teria que enfrentar. Vozes em minha mente reprisavam aquela profecia em parar, como um contínuo ciclo interminável em que o botão do rádio quebrou e fiquei ouvindo somente uma única música até perder a paciência e quebrar o aparelho.

—Use o seu passado! – Gritou Efiáltis para mim. Nisso, eu comecei a lembrar de como adentrei naquele caos: um dia no festival, perseguido com uma pessoa fedorenta e uma faca enferrujada em mãos. Em seguida, um bosque noturno, com uma fera com garras e pele de carvão e olhos vermelhos como sangue. Assim, duas figuras surgiram ao meu lado, os dois que uma vez me perseguiram.

Juntos, seguimos a luta e avançamos diante do monstro. Seu rugido era infernal, causando um tremor ensurdecedor, quase um terremoto colossal. A criatura de carvão pulava sobre ela, arranhando seu corpo e sua pele quase impenetrável. As aves faziam sombra sobre ele, causando uma espécie de temor quando sua visão era abafada, sem receber a luz solar que se encerrava no horizonte.

Havia o assassino que perseguiu os conhecidos, me recordei dele. Não apareceu, mas senti sua presença me dando forças para permanecer no combate. Em seguida, os sábios que assassinariam a alma desolada. Uma esfera espiritual apareceu diante de meus olhos, azulado e flamejante, atacando a fera como os outros. – Aproveite o passado para enfrentar e prevenir o presente. – E a batalha prosseguia.

Minha memória avisou da biblioteca, com sua chuva de poeira tóxica e ácida, fazendo meu corpo todo sofrer de desolação. Não poderia trazer aquilo, seria a ruina de todos. Depois, a guerra e o oceano, não tinha pedidos de ajuda. Quando naufraguei, cheguei à Cidade de Pérola, lá conheci Rosália, sereias e tritões, com toda complexidade do seu mundo aquático.

A chuva começou, repentinamente, forte e impedindo que enxergássemos adiante. Parecia que tudo estava para alagar, formando uma espécie de lagoa ao nosso redor. Dava pé, não afundamos. Entretanto, vi ao fundo uma barbatana surgindo do lado. Eu me amedrontei, era o Megalodon. Nisso, as aves me agarraram e subimos para o céu, onde a chuva não atingia com força. Reparei que Destino e Efiáltis ainda colidiam com as espadas em uma velocidade que jamais veria se não me conhecesse.

O enorme tubarão branco saltou do lago, que se tornou um rio. Iniciou-se outra chuva, pálida e de areia, corroendo todos ali embaixo. Eu vi tudo desaparecendo, não era a mesma da biblioteca, era outra, uma que nunca tinha visto.

Todos, sem exceção, começaram a afundar na lagoa, que evoluiu de mar a oceano, nenhum sorriu, nenhum se despediu. O que foi aquilo? Que teste? Que maneiras? O que tudo significava?

—Agora, você tem a mim para enfrentar! – Uma aura acinzentada, quase prateada, saiu de mim. Em minha frente, estava o assassino, o eu do futuro, aquele que já enfrentara várias vezes. Flutuava, possuía as asas do Anjo, tinha a perseverança de Abigail, a força de Rosália, tinha o meu semblante. – Sou aquele de quem você jamais fugirá.

E avançou, arremessando sua lança em mim. Se assim que deve ser, assim será. Desviei, me atirando novamente ao solo, já desolado de umidade. Ele veio junto, nossas espadas colidiam, criando faíscas e explodindo no ar. Todos viam o embate, estávamos com os olhos travados, tudo terminaria ali. Ele me chutou, me jogando para o chão. Revidei, atirando meu pé em seu estômago, ou onde deveria estar um, ele se curvou e vomitou sangue, me levantei e o vi naquele jeito.

—Parem! – Destino gritou e sua voz ecoou pelo relento todo. Jogou seu pai com a foice para cima de mim e parou ao lado do meu adversário. – Aqui é o final de tudo! – Colocou as mãos sobre ele, sugou a sua essência e tudo o que eu tinha dado a ele para me ajudar contra a criatura.

—Aqui! – Efiáltis pegou minha mão e colocou sobre sua cabeça. – Encerre isso. É o seu destino. – Toda a sua força veio para mim. As aves, analisando aquilo, pousaram ao meu lado, se curvando para Pesadelo, que estendeu as mãos. Como um círculo, elas esticaram as asas, as tocando. Toda a pureza deles foi para mim, eu tinha tudo o que necessário para aquele momento.

Destino já estava pronto, estávamos com nossa força máxima. Ele tinha os poderes do Tempo e da Morte, além das almas do Assassino e do Anjo. Eu tinha Noite e Pesadelo, as Aves, tudo para o meu favor e para o nosso favor. Tudo encerraria ali, tudo terminaria aqui e agora.

 


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