Desafios do Destino III - Desastres e Desfechos escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 10
Os Sinais do Arauto: A Lápide Fendida




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Ele foi o primeiro a atacar, sua fúria caiu sobre mim como um vulcão sofrendo uma erupção. O calor que nossos corpos trocavam era lava percorrendo ao nosso redor. O choque das espadas causava faíscas intensas, eu me via poderoso e fiel ao que pregava, ele e via poderoso e fiel aos conceitos que idealizava, uma bomba enorme de explosivos nos dava ignição para aquele conflito.

—Você ainda é fraco, todo esse tempo foi um desperdício, jamais saberá como me derrotar.

—Eu posso perder, mas não desistirei. – Eu o joguei para longe com um chute, não tinha mais ninguém para me ajudar como antes, não seria um trabalho em que eu teria uma torcida para mim. Diferente, todos estavam em meus poderes, dando forças e resistência para aquilo. – Você é um monstro, nunca conseguirá o que quer.

Estávamos tão concentrados nisso que nosso embate, simplesmente, causou um tremor intenso, abrindo uma cratera com muita lava escorrendo por todos os poros do planeta. Ele não se importou em se queimar, continuava a levantar sua espada verde de esmeraldas, ela mudava de formato e de desenhos a cada impacto com a lança, a Nýchta, nome da espada e da armadura. Noite entregava sua força toda para enterrar o filho corrupto e invejoso, decidiu se voltar contra a própria família para poder assumir um poder que não controlaria sozinho.

Não sabia disso, acreditava que o Tempo e a Morte se curvariam para ele de forma solene e perene, com confiança e meditação, sem ao menos lutar. Usaria isso para derrotar Destino, ele tinha o conhecimento do futuro, mas era a história que escrevia tudo.

—Tempo, poder de controlar a velocidade das estações! Morte, serva da vida para a homeostasia do ambiente! – Um enorme relógio surgiu diante dele, os ponteiros correndo como se não tivessem fim. Uma foice desceu dos céus e enfincou no chão. – Eu te bendigo a lutar contra seus irmãos!

Duas auras saltaram dos símbolos, dois fantasmas sem corpo nem forma avançaram contra Destino, que se perdia em seus gestos. Sua espada cortava o ar e nada se revolvia.

—Lança. – E sua arma se metamorfoseou em uma lança. Eu a atirei na direção dele, não conseguiu desviar e a ponta perfurou sua barriga. Mas isso não seria necessário, havia partes da profecia que me entregariam isso.

 

Não guarde do tesouro moeda alguma

Desenha na lápide a sua vida

 

—De ouro vem o tesouro, da esmeralda a esperança, do diamante o amante; da pérola e da platina, a serventia; do marfim, o fim! – Ergui as minhas mãos, tudo o que eu fazia era inconsciente, Efiáltis me entregava todo o conhecimento do mundo, o que eu poderia fazer era tentar. – Uma esfera dourada surgiu em cima de Destino, cobrindo seu corpo com uma intensa e nebulosa sombra. Ele não conseguiu reagir, foi sugado por ela. Quando teve tempo, estourou com sua espada, agora vermelha como rubi.

—Acha mesmo que é assim que me vencerá?! – Tesouro? Que tipo de tesouro teria de abrir mão? – Não é assim que as profecias trabalham.

—Poder é o maior tesouro que o humano pode almejar. – Fechei meus olhos, tempo necessário para eu me desfazer de tudo ou de ele me atacar e tudo terminar ali. – Eu entrego meu poder, meu conhecimento, minha virtude. Eu abro mão da esperança, da bonança, da benevolência e da sobriedade, deixo ir as mágoas, tristezas, avarezas e desesperanças. Eu permito que meu corpo seja livre e parco, sem nada para duelar.

Uma enorme lápide surgiu do rio de lava abaixo de nós e um pincel aparecera em minha mão.

—Essa é a sua lápide, sua vida já foi desenhada. – Uma voz ecoou em minha cabeça. Ali era tudo o que eu mais queria, minha vida fora toda desenhada, escrita e corrigida, ali era o meu fim, eu sentia isso. Com o pincel, assinei embaixo. Mais literal que isso não poderia acontecer. Quando eu olhei para cima, uma espada cortava o ar e a lápide foi destruída.

—Você é um fraco, isso só pode ser brincadeira! Acabou de assinar a sua morte! – A espada em lança se tornou e atirou contra mim.

—Eu me liberto das amarras da perseguição! – Gritei e a lança caiu por terra, se desfez em poeira. Destino não entendia o que aconteceu.

Repentinamente, uma explosão, a lava espalhou para todos os lados, caiu por cima da gente. Eu não urrei, não sentia dor alguma, diferente dele que se corroía por inteiro. Seu cordão, um pequeno relógio, desapareceu, formando uma fumaça diante do meu olhar. Um rugido veio ao longe, com todas as cores. Tempo estava diante de mim. Era semelhante ao irmão, tinha uma pele mais lisa do que a reptiliana do familiar.

Ele tinha um olhar sério, mas sorriu para mim. Parecia feliz. Em sua mão, uma bebê, não chorava nem gritava.

—Para um sacrifício arriscado, você abriu a mão de seus poderes. Interpretou a profecia que dizia ser necessário um pingo de fraqueza para se vencer o seu maior medo, um futuro incerto e delicado. Você conseguiu caminhar por uma trilha de perigos que colocavam em xeque a sua sanidade e sua força de vontade, decidiu ser melhor que todos nós, mas sabíamos o que esperar, era uma pessoa de bom coração de feições amáveis. Soube maravilhosamente agir com destreza.

Ele me entregou o bebê.

—Quem é ele? – Dormia calmamente, como se o mundo ao redor não estivesse explodindo.

—Ele é o novo integrante que comandará o mundo, controla o Passado.

Onde Destino jazia congelado pela leve, todo petrificado, uma explosão aconteceu. Ele se libertou, contudo, menor e mais fraco, ele parecia um zumbi. Ao atacar, falhou. Uma foice transpassou seu tórax, o coração estava preso na lâmina. Disso, saltou uma fumaça que correu até meu colo, uma espécie de animal saltitante, um coelho bem pequeno, que se enrolou em um lençol macio, dando forma a outra criança. Em sua testa, a nascença da Foice.

—Ele controlará o Futuro, pois tudo termina com um ciclo verdadeiro e certeiro, assim surgirá o novo equilíbrio. – Com os dois bebês no colo, eu segui até Destino, estava mais velho, mais perecível. Olhou para mim, raiva em seu último semblante.

—Durma... – Eu me ajoelhei ao seu lado, sabia como ele reagiria. Não atacaria, não tinha mais força. Em um piscar de olhos, simplesmente, ele se desfez em poeira. Uma brisa a levou para o horizonte. Um choro me despertou de um transe, outro bebê em minha frente, com a imagem de uma esfera em sua testa. – E, você, meu pequeno, controla o único destino com que temos que nos preocupar, o Presente.

—Você entendeu que tudo isso foi necessário para reiniciar o ciclo?

—Na verdade, para mim, era a busca para um poder maior.

—Tu és filho do Destino, não esqueças disso. Teu poder serás essencial. – Tempo e Morte desapareceram em meio a uma luz, eu estava sozinho naquele lugar. Entretanto, o chão começou a criar vida. Das rachaduras, água saia. Da lava, uma pequena ilhota. Dos demais, grama surgia.

—O ciclo reiniciou. – A voz de Rosália vinha de uma pequena esfera, uma pérola. Eu agachei para pegá-la. Os três bebês em meu colo, precisei fazer mágica para não deixar nenhum cair. Segui até a ilha, onde uma nova lápide surgiu, eu me sentei próxima dela e encarava tudo o que eu passei para chegar ali, perdi amigos, familiares, não perdi a bondade, o que era essencial.

De uma árvore com pétalas rosas, a natureza voltou a nascer e a florescer, as raízes, três em especial, formaram uma espécie de cesta, onde depositei os três lençóis com as crianças, as três de olhos abertos me encarando.

—O mundo agora é de vocês. – Rosália falava comigo, eu via seu semblante em uma nuvem no céu. – Cuide desses pequenos, eles são os novos líderes do mundo. – Cada um me encarava com um olhar de surpresa e felicidade, riam sem parar. Entretanto, um sono intenso me acolheu, sabia que se deitasse, acordaria jamais. Era meu fim, o nosso fim, nosso destino era esse, nossa vivência era essa: percorrer o mundo, a natureza, ermos verdadeiros e bondosos, humildes e carinhosos, controlar o Tempo e aceitar a Morte.

Não resisti, não era meu fim, era meu começo. A partir dali, seria uma nova pessoa, uma nova alma. Ali seria o último lugar em que eu olharia o mundo daquela forma, meu nome estava na lápide e isso importava, eu escrevi e marquei o mundo com minha existência.

 

 


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