Desafios do Destino III - Desastres e Desfechos escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 7
O Julgamento do Salvador




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Eu não sentia mais nada, eu me vi perdido, mais uma vez, e isso já estava me estressando. Esse roteiro muda quando? Eu via sombras e minha frente, todas se mexendo de desespero, todas com muito afinco para poder me fazer sair dessa em que me encontro, nesse quase sem vida em que eu me ofereci para estar. Percebi o desespero de Destino, que nem se movia direito. Do nada, pude sentir que alguém me carregava e gritos... nossa, eram muitos parecia uma revolta. Eu sentia vento em meus cabelos, senti que penas caíam em cima de mim.

—Ele está ferido! O que você fez?

—Ele se matou, ele que enfincou a faca.

—Filho, olha o que você fez! Você sabe que todos estaremos perdidos se ele for morto! – Nisso, eu senti que alguém passava as mãos por cima do ferimento. Eu estava tão aéreo, tão pleno naquele meu torpor que o toque nem parecia um, era somente uma brisa correndo por cima do meu profundo ferimento.

Será que eu fiz errado em ter penetrado aquela adaga em minha barriga? Será que eu me entreguei tão facilmente? Eu sentia o desespero de todos os que percorriam meu corpo incauto e amuado em meio ao salão. Antes de perecer, eu podia sentir que algo se cortava dentro de mim, como se um imenso laço que unia dois corpos se desfizesse em meio a uma tesoura que transformava tudo em pedaços menores. Minhas forças cessavam tão ferozmente, tão cruelmente, eu me sentia tão indefeso, eu era um pobre filhote sem a proteção dos pais que foram mortos em um tiroteio de caça ilegal. Nossa, o quão longe eu fui? Quantos mares inteiros eu passei para simplesmente morrer na praia?

Não, não era esse meu futuro, eu sentia dentro de mim que não era a minha vez, minha senha ainda não fora chamada. Impossível ou não, senti um forte tremor abaixo de mim, um que me fez ficar ainda mais petrificado em meu corpo quase sem alma. O teto ruiu, assim como a cobertura do templo, o mundo interior ficou em câmera lenta, penas coloridas começaram a cair sobre mim, junto dos pedregulhos que quase me matavam.

Uma intensa luz caiu sobre todos nós e muitos corriam para fora quando as sombras começaram a descer. Cinco aves formosas e majestais sobrevoavam a cabeça de Destino, que viu seu pesadelo surgir diante de seus olhos.

—Eu as matei! Como estão vivas?! – Seu olhar furioso o deixou imóvel, permitindo que uma senhora mais de idade se aproximasse de mim e me colocasse uma faixa entorno do meu abdômen, impedindo que mais sangue fluísse por aquela brecha que eu mesmo abri.

—Menino, não sei como você fez isso, mas essas aves estão revoltadas com o seu ferimento! – Enquanto minha visão turva tornava-se translúcida novamente, eu podia notar tudo que persistia ao meu redor. Com uma lança empunhada, Destino duelava com as aves, Rosália, com auxílio de Nýchta, mãe da Tríade, me transportavam para lado de fora do salão.

—Espere, por que está me ajudando? Contra seu filho?

—Ele é impuro, o pai dele e eu sempre sabíamos. Porém, nunca imaginávamos que ele chegaria a esse ponto, de matar os irmãos e tomar o poder deles. – As duas corriam pelos corredores. Ao longe, escuto ainda a batalha entre Destino e as Aves. Nesse temor, eu refletia sobre o que deixei de fazer, sobre a minha parca força. O que, na verdade, eu era? Sou um guerreiro? Médico? Advogado? Soldado, general ou coronel? O que eu poderia ser? O que me faria perder tempo e me deixar feliz?

Nisso, um urro tremendo ecoou pelo palácio, fazendo as janelas explodirem de forma intensa que nos colocou no chão, de joelhos, com mais ferimentos do que conseguíamos suportar. Eu via as aves sobrevoando tudo em busca de nossos corpos quase mortos. Uma delas, a de Marfim, amiga muito humilde e acolhedora, se aproximou de nossos pesados seres e tentou nos levantar. Parte do que restou em pé permanecia trêmulo e as aves notavam isso, tanto que agilizaram o movimento de busca, nos retirando dali.

Rosália e Nýchta estavam mais debilitadas, o que eu estranhava por ter um imenso rasgo em minha barriga, que aumentava, inflamava e ardia mais e mais. Havia uma leve brisa quente que açoitava nossos rostos e as penas dos enormes pássaros. Novamente, um rugido. Uma imensa fera, uma besta semelhante a um leão, maior que o próprio prédio demolido, evocava seu corpo das cinzas queimada. De onde elas vieram, não sabemos

Rosália, ao ver aquilo, se moveu nas garras da Ave de Pérolas, a mesma que apenas retornou a viver porque ela foi valente para se manter viva. Pela terceira vez, uma onda bestial nos fez despencar alguns metros de altura daquele magnífico céu em que o sol se punha ao longe.

—Por favor, me deixe ir! Eu posso retardá-lo! – A voz rouca e fraca da vidente quase nem se ouvia, porém, seu chacoalhar nos fez notar seu incômodo. Em meio ao desespero de um salto quase certeiro que nos colocaria diante de garras afiada, um movimento de Rosália a fez se soltar e cair em queda livre perante a imagem cruel daquele Destino incerto. Como uma pluma, ela flutuou e despencou, caindo e causando um forte tremor, permitindo que as garras do monstro subissem um pouco. Eu não via, entretanto, podia sentir a forte aura que emanava de suas mãos.

Por fim, a besta atacou. Como um simples soco em um saco de pancada, ela fez o mesmo e levou o leão para longe. Certamente assustado, demorou a levantar, o que permitiu que a forte guerreira surgida recuperasse um pouco de sua energia e conflitasse com Destino. Lá de cima, víamos tudo se movendo em câmera lenta, mas sabíamos que os ágeis deslocamentos dos combatentes eram superiores e redondamente mais intensos que nossa visão.

Com a cauda repleta de músculos endurecido, tornou-se uma espécie de espada, que usava para degladiar com os punhos adversários. Quando se menos esperava, ele urrou novamente e nos jogou para longe, Rosália igualmente. Uma enorme fumaça roxa, da mesma coloração intensa que as carapaças impenetráveis da fera, surgiu. Não víamos mais nada, apenas uma redução do corpo, simbolizando ou sua derrota ou o ataque final à vidente. Infelizmente, foi a segunda alternativa. Sua voz grave triunfou pelos ares.

—Você, vidente das Pérolas, te condeno à morte pelo Julgamento da Foice! – Com uma arma em mãos, cortou o ar. Não conseguia fechar os olhos, eu via o sangue expelindo do corpo dela, eu via tudo se desfazendo em minha frente. Minha amiga... Rosália... Morta?

As aves, reparando a minha situação, decidiram me levar dali. Todavia, não permiti, comecei a me mover furiosamente, pronto para saltar e duelar com aquela criatura temerosa.

—Calma, pequena criatura, você não tem força para uma batalha!

—Não importa!

—Claro que sim! Você precisa esperar! – Como um estalo, me soltei das fortes amarras, as quais eram feitas pelas patas, e me joguei, pronto ao duelo.

—Por obséquio, me deixem ir! – Nýchta resmungou, eu ouvia, não sabia o porquê, mas escutava. – Eu posso ajudá-lo com o pouco que me resta. – A Ave do Carvão soltou a pequena ferida. Seu corpo, assim como o do filho, se desfez em fumaça, mas branca como as nuvens em dias claros. Começou a me cobrir totalmente, me dando uma força inexplicável. – Derrote ele! É sua missão, exclusivamente sua!

 


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