Desafios do Destino III - Desastres e Desfechos escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 4
Orações sem palavras




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Era tudo um sonho? Ou apenas mais um pesadelo? Eu não sabia onde estava, somente sentia dor, lástima, ódio e revolta. Sim, eu me revoltava comigo mesmo, contra tudo aquilo que me foi predestinado, contra meu próprio destino. Não era lava, mas muitos vidros quebrados por todos os lados, onde eu estava? Não sabia quem eu era? Mentira, minha vida era clara, assim como a água límpida, mas não sabia de onde eu era, de onde eu vim ou para onde eu vou.

O sangue saía de meus pés, eu sentia meu corpo latejando, sentia minha vida escorrendo pelas feridas que eu tenho que ter para ser aceito pelo futuro tão incerto. Caminhar por eles era desditoso, era viver um sofrimento que jamais imaginei que iria sentir. Socorro! Minha voz não saía, era somente visões de sopros que jamais saberia o significado.

—Acorde, por favor. – Eu abri os olhos e me deparei com a senhora, ainda viva, ainda cheia de forças para permanecer em pé. Ao seu lado, quatro pequenas aves dançavam entorno de tão majestosa águia pura de marfim. Seu semblante irritado era o essencial para assustar as pequenas criaturas, que o deixaram em paz logo em seguida. – Precisamos ir!

—Para onde?

—Você verá. – E assim, nos colocamos a sumir daquele pandemônio que um dia chamei de lar dos saberes. As asas da águia eram macias e ela, dócil. Sentir as suas garras balançando abaixo de onde eu me inclinava era um mártir sem fim. Um dia, elas seriam as facas que cortariam a minha carne? Ou seria a boa e afiada espada que eu chamaria de aliada? Sem rumo, sem direção e sentido, seguíamos plainando sobre altos topos nevados que não diziam nada além de que o frio tinha chegado. As neves, fofas e medonhas, faziam meu corpo tremelicar e fazia meus poros serem fechados como cadeados em portões sem volta.

—Rosália, o que aconteceu na biblioteca?

—Aquilo que você fez ou viu foram somente visões, tudo não passou de uma miragem.

—E como está o Destino?

—Infelizmente, muito bem, mas irritado com a liberdade dos pais. Tudo isso pode colocar os planos dele em xeque.

—E quando ocorrer o xeque-mate?

—Ele perecerá e os pais assumirão a tríade novamente. Entretanto, não acho que eles conseguirão derrotar o filho. Ele se fortaleceu com o poder dos irmãos e com as Cidades caídas.

—Então, estamos por conta própria?

—Sim, ainda mais que meu poder está enfraquecendo conforme a Cidade de Pérola vai se desfazendo.

—Eu queria saber como você ainda está viva se a cidade já não mais existe.

—Diferente de todas as cidades, eu transferi o centro de poder a vários lugares. Portanto, até tudo perecer, eu ficarei viva. – Ela cerrou os olhos e notei que lágrimas se formavam na fenda cerrada. – Em momento, posso nada fazer, esperar é o que me resta.

—E o que eu preciso fazer? Aquela profecia não é clara.

Repentinamente, pousamos em um enorme pátio vazio, com a grama acinzentada se quebrando com o pisar de meus pés pesados no terreno já morto há eras. Mais ao longe, nem tanto, um enorme templo com uma imensa torre que se erguia à altura mais incrível que nossos olhos nem viam o pequeno farolete luminoso no topo daquele telhado todo quebradiço.

 


—Ali, algumas respostas estão estampadas. Ficarei aqui para cuidar dos novos membros do nosso mundo. – Eu, solitário, caminhava em direção daquela construção esverdeada. O verde era musgo que crescia nas paredes solitárias do santuário. A imensa porta de madeira rígida tinha incríveis ataques que estraçalharam as lacas das árvores que entregaram o ultimo respirar para proteger o interior. Atrás de mim, Rosália cuidava da pequena ave com olhar perolado enquanto a incrível Marfim brigava como crianças com as demais três atrapalhadas.

Do lado de dentro, estupendas molduras traziam imagens sobre a descensão do mundo. Pessoas sofriam e ardiam nas chamas do áspero mármore crepitador. O que era aquilo tudo? Um final sem nenhuma chance de socorro? Uma ajuda para reconhecer os sinais do nosso futuro amargo?

Nada daquilo tinha sentido, nada me respondia nada. Por fim, me sentei no chão, bem no centro do centro do lugar vazio e lotado de poeira velha como os tempos dos primórdios humanos.

Num mar de relatos

O filho do Destino buscará a forma

Das aves decaídas num túmulo de vidro

Feito no campo dos traidores

Quem seria o filho do Destino? Seria eu quem carregava esse apelido tão simplório? Eu identifiquei os outros versos e cada um eu já verifiquei a veracidade.

Almas boas manipuladas

Presas nas garras da discórdia

Na cor celeste da mágoa guardada

Na história sem falas na oração

Almas boa manipuladas? Seria Rosália uma delas e a última que sobrou? Garras da discórdia? Eu encarei o teto e reconheci a expansão do céu celeste acima de mim. Nisso, encarei as paredes ao meu redor e as imagens pareciam se mover, fazendo um longo teatro dos passos que um dia eu coloquei os pés por cima. Tudo aquilo eram histórias narradas, sem palavras na oração. Ou seriam orações sem palavras? Eu teria que implorar por respostas?

 


—Você ainda não entendeu o que está acontecendo? – Ao fundo do lugar, uma pequena estátua não movia os lábios, mas conversava comigo. Tentei andar, mas meus pés começaram a arder. Por diversos instantes, escorreguei e me cortei daquele solo irregular e completamente lotado de vidros craquelados, com suas pontas arrancando um pouco do sangue que um dia eu produzi e não deixei vazar. – Chegue mais perto.

Com esforços que faziam meu corpo acarretar dores que jamais achei que sentiria, com músculos se rasgando como trapos velhos sem utilidade no canto perdido, me coloquei a arrastar como a serpente ferida em direção do pequeno pedestal que a figura sem rosto me chamava.

—Você é filho dele, não de sangue, mas de missões. Aquilo que os pais não fazem, os filhos arrumam de forma melhor. Você é um pequeno grilo que não sabe quem é o inimigo, confiar nos amigos não aparenta trazer resultado, mas são neles que o suporte para não cair se sustenta.

Tudo se calou e eu senti que tudo desabaria em cima de mim, não me movi nem me contive, gritei os gritos abafados em minha garganta.

—Ainda há presas nas garras da discórdia. Não é quem, mas o que. Você sabe como agir, siga os instintos que todos lhe deram. Use aquilo que você jamais precisou para encarar o pagamento verdadeiro.

O teto caiu sobre nós dois. Eu não sentia meu corpo quando fui atingido gravemente por um pedaço da madeira que segurava a estrutura toda. Quando somente sangue pingava da minha testa no chão, a sombra de uma imensa águia me cobriu.

—O que aconteceu? – A voz de Rosália escoou pelo campo inteiro. – O que aquilo faz aqui?

Ela pegou a pequena estátua sem rosto. Em seu corpo quase oco, um tecido estava enrolado. Letras confusas escritas estampavam o pequeno retalho amarelado.

—É importante? – As cinco aves ressoaram unidas. – Ou podemos destruir?

—Eu nem acredito que estou falando junto dessas cinco crias. – A ave do marfim aparentou estar irritada. – O que diz aí, Rosália?

—Precisamos acordá-lo. Somente ele pode ler isso. – E guardou o pano no bolso do vestido quase todo destruído. – Por favor, só não morra antes da hora.


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