Mais um dia amanheceu no Santuário e Athena mais uma vez preparava a continuação dos "treinamentos". Uma enxurrada de atestados médicos foi entregue a Deusa por seu capacho, digo, secretário Tatsume.

— Quem esses moleques pensam que são? – a indignação da Deusa alcançou a estratosfera – Eu sou uma DEUSA! E vou curar todos os "doentes" agora! Não admito corpo mole neste Santuário.

A peregrinação começou pelo templo de peixes. Afrodite dormia seu sono de beleza despreocupadamente. Duvidava um pouco que a Deusa entendesse que seu atestado médico não era nada além de uma receita de bolo escrita em sueco. Foi acordado com um balde cheio de água gelada providencialmente carregado pelo puxa-saco mor de todo universo, também conhecido como Seyia.

— Se ousar falar uma palavra de reclamação eu mando incinerar o seu jardim!

Afrodite engoliu em seco, o que fazer além de se submeter a mais um dia de tortura?

No templo de Aquário não foi preciso nada além de uma ordem. Camus de Aquário tinha o péssimo hábito de obedecer ordens, mas em seu íntimo já pensava seriamente em rever conceitos.

Shura de Capricórnio fatiava peixe para Ikki preparar o sushi. Athena matou dois coelhos com uma única cajadada, ou melhor, torturou dois cavaleiros com uma única visita. Com eles a tática foi diferente. Um grande e enorme berro:

— ! ME AJUDEEEEEEEEEE!

Alguns meteoros de Pégasus, algumas imprecações pelos móveis destruídos e os dois ocupantes do templo de capricórnio seguiram, sem esconder a revolta, para a "arena de treinamento".

Aioros de Sagitário aparentemente se encontrava realmente doente, ou melhor, quase morto. O que a Deusa não sabia é que o Cavaleiro de Sagitário era aprendiz de químico e criou uma fórmula para enganar a Saori. E se deu bem...

— Aioros irmão querido, me dá logo esse remédio antes que Athena...

Aioros ficou na dúvida entre suicídio e assassinato, acabou por tomar o antídoto e decidir que arrastar o irmão seria o melhor castigo para aquele fofoqueiro desajeitado que não conseguia ser discreto.

Quando Athena entrou em escorpião, encontrou Milo com as duas pernas engessadas sobre um puff.

— Agora eu entendo o porquê do Cavaleiro de Aquário estar agarrado a Afrodite. Escorpião está fora de ação por bons quinze dias... – Athena falou aparentemente crédula na cena que via.

Milo levantou correndo, atrapalhado com o gesso cenográfico, roxo de ciúmes.

— Aquele bastardo...

Só percebeu o engodo quando escutou as gargalhadas da comitiva de arrebatamento de cavaleiros fujões. Tirou o gesso falso e seguiu cabisbaixo se amaldiçoando por ter caído em um truque tão simples.

Em Libra Dohko e Shiryu já estavam prontos e conformados. A Deusa parabenizou os cavaleiros e seguiu em frente. Shaka de Virgem se encontrava dormindo, digo meditando, sob as árvores gêmeas acompanhado de Mu de Áries. Athena elevou o cosmo, possessa.

— Seus dois vagabundos zen levantem imediatamente os traseiros daí se o quiserem conservar!

Infelizmente eles eram poderosos, mas não eram deuses.

Pouco antes de se aproximar de Câncer Saori pediu ao Capaxão as máscaras de oxigênio. Se recusava a respirar o ar purulento daquela casa, mas viera preparada. MM assistia calmamente Jogos Mortais 5. Pensava estar imune a influência da Deusa, espantando-a com o (in)salubre ar de sua casa, mas foi surpreendido por uma mistura de Darth Vader com bolo de noiva e saiu correndo assustado em direção à arena, terrificado com a visão dantesca a que fora submetida.

Saga e Kanon criaram uma ilusão kawaii cheia de coisinhas fofinhas tentando distrair a Athena.

— AHHHHH KAWAIIIIIIII NÃOOOOO! – o cosmo de Saori se elevou e explodiu a casa de gêmeos mandando seus ocupantes para a arena por via aérea.

Finalmente Saori chegou a Touro, já que Mu de Áries poupara o trabalho de descer até o último templo.

— Aldebaran de Touro, o que você está fazendo com essa calça branca, batendo nesse tambor?

— Droga! Em vez de chamar um guia eu chamei foi um encosto. Acho que preciso ir ao terreiro da mamãe e treinar mais! Deixa pra lá. Já vou Saori.

Finalmente todos estavam reunidos na arena para mais um dia nonsense, digo, um dia de treinamento.

— Bom, todos já sabem que estamos passando por uma fase de treinamentos de dinâmica de grupo. Hoje será o "jogo do troca", um dos companheiros sugerirá uma cena e os participantes devem encená-la. Quando eu falar "troca" o contexto deve ser mudado, aproveitando a cena.

Todos se entreolharam, quando achavam que não podia piorar eis que ela vinha com uma idéia mais estapafúrdia que a anterior.

— Vou sortear agora o nome dos cavaleiros participantes, lembrando que aqueles que participaram ontem não o farão hoje, tendo em vista que o objetivo é a participação e interação de todos.

Os oitos cavaleiros que já tinha sido torturados respiraram aliviados.

— Os nomes são: Milo de Escorpião, Shun de Andromeda, Shura de Capricórnio e Ikki de Phoenix.

— IKKIIIIIIIIII, você vai treinar comigo! Estou tão feliz!

Ikki emburrou o semblante e grunhiu alguma coisa. Subiu ao palco e apressou os demais a comparecer ao cadafalso. Quanto mais rápido fizessem mais rápido acabaria e estariam livres.

— Bom a cena é, um picnic na beira do lago... Credo meninos, que falta de imaginação!

Saori foi coroada com uma sonora vaia. Além de submetê-los a tamanha humilhação ainda queria que eles tivessem "imaginação"? Fala sério!

— Irmão, irmão, vamos ao parque hoje fazer um picnic? – Shun começou

— Vamos. Estou ansioso. – Ikki respondeu.

— Troca!

— Vamos, ou você vai me encher o saco. Mas só vou se o Shura for comigo.

— Troca!

— Só vou se o Shura me carregar.

— Isso irmão! O Shura carrega você!

— Não posso Shun, estou com dor nas costas.

— Troca!

— Com o pé quebrado.

— Troca!

— Cortei meu braço fora no treino de ontem. Pede pro Milo.

— Eu levo a cesta de doces. – Milo se adiantou.

— Troca!

— Eu levo o veneno para o suicídio coletivo.

— Você vai a pé irmão?

— Vou de carro.

— Troca!

— De ônibus.

— Troca!

— Vou com a vassoura que eu roubei do Harry Poter.

Os quatro fingem se dirigir para o lago imaginário. Ikki na "vassoura do Harry Poter", Shun a pé, Milo carregando o "veneno" e Shura escondendo o braço na camisa.

— Irmão, esse lago é tão lindo! – Shun novamente iniciou.

— Troca!

— Esse lago é fedorento.

— Troca!

— Esse lago é enorme!

— Troca!

— Porra, cadê o lago que ficava aqui?

Milo adiantou-se.

— Shun, eu falei que o veneno tinha que ser bem diluído ou a viagem não acabava.

— Troca!

— Eu disse que mingau de aveia faz mal pra saúde. Você está dentro do lago.

— Hombres, vamos tomar logo esse veneno que eu quero morrer.

— Troca!

— Que eu quero matar vocês!

— Troca!

— Que eu quero virar uma bicha louca e voar na vassoura do Ikki.

— Na minha vassoura não!

— Troca!

— Pode levar Shurita.

— Troca!

— Você vai ver onde eu vou enfiar essa vassoura!

— Eu te pego sua galinha despenada!

— Troca!

— Eu vou ficar tão feliz!

— Shura, eu nunca pensei isso de você.

— Troca!

— Shura... a minha vassoura é maior que a do franquinho.

— Pois eu quero o seu rabo venenoso.

— Troca!

— Deixa eu ver?

— Troca!

— Então vai varrer o meu templo que está imundo.

Saori bateu palmas.

— Perfeito. Vocês foram ótimos. Muito obrigada. Hoje eu estou um pouco cansada por ter que ir atrás de vocês, mas todos participarão de nossos treinamentos, portanto, estejam aqui amanhã no horário e nos pouparemos de alongar esta dinâmica por mais dias.