Os Cavaleiros de Ouro subiram as escadas resignados, ou pelo menos aparentemente. Saga amaldiçoava a sua própria incompetência em matar Atena. Camus, Afrodite, Máscara se perguntavam o porquê de não terem permanecido na paz do Hades. Todavia, agora não existia mais volta, estavam todos vivos, todos no Santuário, todos em paz e para desespero coletivo todos a mercê das idéias "mirabolantes" da Deusa da Sabedoria Adolescente e Universitária.

— Meninos, eu resolvi reuni-los aqui, porque ontem, após uma aula inspiradora e de assistir a "Cenas Improvisadas" no Youtube eu tive uma ideia genial!

Shaka abriu os olhos destruindo metade da sala e chamuscando um pouco do cabelo de Saga que estava sentado à sua frente. Shura bateu na mesa revoltado e acabou por cortá-la ao meio. Camus errou na indignação e se auto-congelou. Mu tentou se teleportar para o próprio templo esquecendo do selo de Atena e bateu com a cabeça no teto caindo sentado ao chão. Milo disparou agulhas escarlates aleatoriamente acertando os demais cavaleiros com "balas perdidas". Afrodite caiu duro pra trás cercado de rosas brancas.

Após a confusão inicial, Saori bateu palmas, a guisa de chamar atenção dos Cavaleiros.

— Meninos, meninos... vocês realmente pegaram o espírito da coisa. – o silêncio que tomou conta do recinto era mais sepulcral que em missa de corpo presente. – eu gostaria de sugerir a todos que façamos uma dinâmica de grupo, onde encenaremos cenas sorteadas. Precisamos nos conhecer melhor e principalmente incentivar a interação para que possam lutar juntos com facilidade caso seja necessário. Precisamos estimular a cumplicidade entre nós.

— Eu sabia que essa história de estudar psicologia só ia nos foder. - Mask resmungou entre dentes.

— Bom, como estão todos de acordo... – Saori continuou ignorando rumores e protestos – vou sortear os primeiros quatro cavaleiros que participarão da primeira rodada de cenas.

A Deusa meteu a mão dentro de um saquinho que sabem os Deuses onde estava escondido e começou a "cantar" os nomes dos condenados, ou melhor, dos sorteados.

— Shaka de Virgem, Shiryu de Dragão, Aiória de Leão, Afrodite de Peixes.

A gargalhada foi geral, o grupo inusitado reunido se encaminhou para as cadeiras do "palco" improvisado pela Deusa. Bem que todos estranharam a presença daquele espaço ao adentrarem a sala de reuniões.

— Bom... Como não temos platéia, vou pedir que os demais Cavaleiros sugiram as cenas para serem encenadas por nossos quatro escolhidos.

Tendo dito isso, Saori distribuiu papéis em branco para que os Cavaleiros escrevessem suas cenas. Sorrisos sádicos surgiram nos rostos sentados em volta da Távora partida. Cenas escritas, papéis misturados, a Deusa escolheu o primeiro tema.

— Melhores maneiras de impedir a meditação...

Afrodite sorriu, quem sabe essa história não fosse realmente divertida? Poderia tentar aborrecer Shaka sob a proteção e anuência da Deusa. Deu um passo a frente e começou a cantar...

— Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais, três elefantes incomodam muita gente, quatro elefantes incomodam muito mais... – a cada elefante, lançava rosas sobre um Shaka furioso que alternava as cores do rosto entre rosa, vermelho, roxo, pink, lilás, fúcsia.

Os demais cavaleiros riam descontroladamente. Mu ficou penalizado com o pobre virginiano e mandou uma mensagem telepática "se não pode com eles, junte-se a eles. A piada vai perder a graça." Shaka entendeu a mensagem do cavaleiro de Áries e deu um passo a frente. Começou a fazer uma mímica de uma construção e a utilizar onomatopéias dos diversos sons de serras e martelos e vidros partindo. Todos ficaram abismados com a apresentação do sisudo Cavaleiro Mais Próximo dos Deuses. Ele realmente tinha inclinação para o teatro. Saori bateu palmas e puxou o próximo papel.

— Pior comentário para se fazer antes de uma batalha...

Aiória se adiantou e olhou "felinamente" para Afrodite.

— Dite, eu sei que você fez chapinha, mas lamento informar que está a chover.

Afrodite rosnou, mas nada comentou. Shiryu foi à frente.

— Cavaleiros, Tatsumi será o nosso comandante hoje.

Os cavaleiros sentiram um arrepio ante a previsão nefasta do Cavaleiro de Dragão. Antes que Atena puxasse o próximo papel Shaka adiantou-se.

— Lamento informar, todos os juízes de Hades estão invadindo o Santuário, mas hoje é o "Dia sem Cosmo".

— Meninos, vamos trocar agora o grupo.

Um frio coletivo atingiu a espinha de todos os presentes na sala. O funesto saco com os nomes foi novamente sacudido e os nomes começaram a surgir.

— Hyoga, Mu, Máscara da Morte e Camus. Bom, o jogo agora será um pouco diferente. É o jogo das frases. Eu vou entregar a cada um de vocês duas frases escritas pelos seus companheiros e vocês a tem de colocar dentro do contexto da história que estiverem a contar.

Saori entregou a cada cavaleiro dois papéis. O seu objetivo era desenvolver a capacidade de adaptação de cada um deles. Apesar de aparentemente ser uma brincadeira era um treinamento sério e além do mais as cenas estavam sendo gravadas por uma câmera escondida e ela venderia o show dos cavaleiros. Estava cansada de bancar um bando de marmanjos sem fazer nada no Santuário.

— Podem começar, vocês estão na arena de treinamento...

Hyoga se adiantou e puxou seu mestre.

— Mestre, Mestre... Os Cavaleiros de Prata se revoltaram e vão invadir o Santuário...

Camus abriu o primeiro papel e soltou uma "pequena" imprecação ao ler o que estava escrito.

— Agora eu não posso socorrê-lo... ESQUECI DE ME DEPILAR E OS PENTELHOS ESTÃO INCOMODANDO.

Hyoga controlou o riso da melhor maneira que pôde antes de continuar.

— Não se preocupe Mestre, eu tenho um ótimo hidratante para esse tipo de incômodo...

Mu se aproximou divertido para entrar na brincadeira. Tirou o seu papel do bolso.

— ALGUÉM VIU O MEU VESTIDO COR-DE-ROSA?

Mascára aproveitou a "deixa".

— Mu, seu vestido cor-de-rosa está junto com o sapatinho de cristal de Camus.

Foi a vez de Hyoga usar uma de suas frases.

— I KILL YOU!

Mu apontou o dedo para Hyoga e começou a gritar.

— Ele está possuído, ele está possuído.

Hyoga começou a se contorcer e Máscara da Morte a rir maldosamente. Camus partiu para cima do Cavaleiro de Câncer como se fosse enforcá-lo.

— Que Macumba você fez dessa vez?

O canceriano tirou a sua própria frase do bolso e arregalou os olhos ao vê-la.

— ATIREI O PAU NO GATO, MAS O GATO NÃO MORREU!

— Ele não é um gato, seu burro! Ele é um pato! – Mu contestou. E foi a vez de Camus tirar a sua segunda frase do bolso.

— UMA COISA É UMA COISA, OUTRA COISA É OUTRA COISA.

— Andou bebendo vodka estragada, Camus? – Mu perguntou e tirou a sua própria frase do bolso. – EU QUERIA TANTO EXPLODIR TUDO!

— Com certeza eu bebi vodka estragada Mu, na sua casa. Por que não me disse antes que desejava acabar com o Santuário? Você é o traidor?

Hyoga pegou a sua última fala.

— NA ESCOLA EU BRINCAVA DE "SALADA MISTA" COM OS MENINOS. Por que não esquecemos essa coisa toda de guerra e traição e tudo o mais e vamos brincar?

— SE TIVER PIRULITO EU PULO A CERCA! – Mask usou o seu último papel – Gostei da sua idéia pato! Vamos brincar de pular cerca e o prêmio vai ser o pirulito do Camus.

— Mask, Camus não tem pirulito, ele tem picolé!

Atena bateu palmas satisfeitíssima com o resultado.

— Parabéns meninos. Vocês foram ótimos. Amanhã estejam aqui no mesmo horário e continuaremos o treinamento.