Tudo e todas as coisas escrita por Bell Fraser, EverMellark, Cupcake de Brigadeiro, Gabriella Oliveira, RêEvansDarcy, Leticiaeverllark, Paty Everllark, DiandrabyDi, Sorvete Ed Sheerano, IsabelaThorntonDarcyMellark, Naty MellarkLi, Kiara, katyyxliss


Capítulo 3
Eu, a Patroa e as Crianças


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera, tudo bem? Na medida do possível aqui vai tudo bem (Luana, Tulla, Web Diva)
Bem, pessoal kkkkkkkkkkk tudo bem? Aqui quem vos fala hoje é a Cupcake de Brigadeiro, e é com muita honra que trago uma fic no dia dos pais, muita honra mesmo eu infelizmente não estando com o meu pai hoje, mas eu fico feliz demais por trazer uma fic que coincidentemente é sobre família, e o Peeta é um pai super presente e carinhoso, assim como o meu pai é, Eu não fazia a menor ideia de que postaria nesse domingo, quando comecei a escrever, em maio para junho kkkkkkkkkkkkkkk mas estou super feliz!!! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *gritando super alto, pulando de animação*
Bem, sem mais delongas, deixo com vocês essa one, escrita com muito, mas muito carinho, com a música Trem-Bala (tive essa ideia de última hora) direcionando tudo, assim como algumas outras músicas muito conhecidas nos últimos dias, para dar uma descontraída, e também uma mudança de clima, espero muito que gostem, e tenham paciência, porque ela estrapolou totalmente o meu limite KKKKKKKKKKK eu nunca ia imaginar que uma one fosse me render tantas palavras, mas ta ai! ♥
A classificação eu gostaria de deixar em +14, para não correr o risco de ser inconveniente, mas não tem nada explícito, relaxem.
A Sinopse, rapazeada, eu não estou conseguindo escrever KKKKKKKKKKK mas assim que conseguir, eu vou postar ela aqui, mas basicamente é um casal que está tentando voltar a se conectar como um casal de amantes, e não apenas de melhores amigos dentro do casamento, tudo ambientado no Brasil, e bem, é isso KKKKKKKKK eu to arrasada que não consegui fazer nada melhor na sinopse, mas a one está super família, bem domingo de dia dos pais ♥
BEIJOOOOOSSSSSS
'



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Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si

É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti

É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz

É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós

 

— E é isso, não esqueçam de me enviar os trabalhos até semana que vem, eu dei duas semanas à mais, mas só metade de vocês me enviaram ainda. Lembrem-se sempre de que essa turma toda deveria ter repetido na matéria mas eu resolvi dar mais tempo. É bom darem valor ao professor aqui — os alunos riram, mas preocupados. Essa turma é toda de estudantes de Medicina, e é uma da qual possui os alunos mais humanitários que já vi, sendo que eu trabalho há mais de dez anos com Biofísica, porém em todo o empenho que a maioria têm em estar usando o que tem aprendido para ajudar as outras pessoas, não entregam os trabalhos.

Um grupo de cinco alunos veio no final para tirarem dúvidas, que respondi, passando o link de algumas videoaulas e textos online, então finalmente fiquei livre para sair e desfrutar de um final de semana dormindo com meus cachorros e filhos. O que são a mesma coisa, já que Laura e Nicolas são adolescentes e levam uma vida igual a do Frederico, Carmem e Geralda, os três vira-latas que Katniss e eu resgatamos pelas Avenidas há uns anos atrás. Os cinco tem em comum o sono excessivo, e só viver para gastar meu dinheiro e comer quando estão acordados.

Mas me fazem muito feliz.

Tomei um susto ao ver os dois me esperando na porta da faculdade.

— O que os dois estão fazendo aqui?! Não deveriam estar na aula? Eu ia buscar vocês — falei, sem entender, mas abraçando-os.

— Benção, pai — disseram juntos, sorrindo, retribuindo o abraço.

— Deus abençoe vocês… mas o que fazem aqui?

— Eu fui liberada mais cedo no pré-vestibular, então busquei o Lolô e viemos. Avisei a mãe — assenti, com a explicação da minha filha mais velha, com 17 anos.

— Pai, pode passar no McDonalds? Eu quero comer um BigMac. E um McLanche Feliz.

Revirei os olhos, enquanto caminhava com os dois ao meu lado, mas de braços dados com Laura, que repousava a cabeça no meu ombro. Mas antes, me lembrei quando tempo faz que não comem em um fast-food, eu sei que é muito prejudicial à saúde, mas mais prejudicial é o meu stress por causa deles, me perturbando para cozinhar esses hambúrgueres em casa, e eu realmente não estou muito disposto, depois de duas semanas fazendo isso.

Como a última vez que os levei para comer isso foi há pouco mais de três meses, concordei.

— Só porque não vou ter que pegar o engarrafamento para ir para a escola de vocês — o menor de 15 anos sorriu, mexendo a cabeça. — Mas como vieram pra cá? Pagaram Uber como?

— O senhor esqueceu o cartão na minha carteira pra esconder da minha mãe — Florzinha explicou, e minha face se iluminou em recordação. — Não usei para mais nada não, já acabou o dinheiro da minha mesada.

Balancei a cabeça, tranquilo. Confio mais em deixar meu cartão de crédito com um limite alto com minha filha de 17 anos, ou com o meu filho de 15, do que com minha esposa de 36 anos. Uma esposa pode ser bem perigosa com um cartão de crédito em um limite favorável.

— Pai, eu estava reclamando com minha mãe, mas ela acha o mesmo que a Laura safada, de que esse meu Samsung Galaxy 4 está em ótimo estado, porém eu não acho isso, tendo em vista que vocês três tem iPhone. E o do senhor é o X, que custa sete mil reais, e o da mãe é o 8 Plus, enquanto eu estou aqui na miséria.

Nicolas começou de novo o assunto de trocar de celular. Eu só olhei para Laura, que olhou para mim. Suspiramos juntos.

— Como vocês esperam que eu seja convidado para as festinhas da igreja com um celular caindo aos pedaços?! Eu não posso mais com esse celular! Eu posso ficar com o iPhone 7 Plus da Laura e vocês comprarem um 8 para ela, pai! O senhor sempre troca, e dá para ela, mas nunca pra mim!

— Nicolas… — comecei, me virando, para vê-lo com as bochechas pardas vermelhas de raiva. — Você disse que tiraria notas boas. Você só não reprovou em física porque eu estudei com seu professor. E o seu celular está funcionando maravilhosamente bem, já que você só usa o meu para usar seu Instagram e gastar minha memória com a penca de fotos suas.

Cruzou os braços, irritado.

Voltei os olhos para as ruas da Barra da Tijuca, em direção ao McDonalds mais próximo.

— Mas pai! Eu não tenho moral nenhuma com esse celular! — Laura riu, se divertindo com o drama do irmão. — Ai, ó, essa sonsa rindo! Caraca, maluco, eu só tô pedindo um celular!

— Ô garoto digo eu! — exclamei, não em um tom sério, por sempre rir quando eles tem esses ataques. — Vocês comem literalmente mais da metade do meu salário! Eu pago seu Spotify, Netflix, compro seus gibis da Marvel, pago todo o seu lazer, incluindo aquele PS4 que você mal usa… — entrei na fila do Drive-In do McDonalds. — Ainda me pede um iPhone?

— Sim! — respondeu como se fosse óbvio. — Eu nem dou tanto prejuízo assim, pai! Eu mal vou em festa de escola, na verdade, eu nem vou! E quem compra roupa cara pra mim é a minha mãe! Os gastos que tiveram comigo mesmo foram na saúde, mas isso o plano cobriu tudo.

— Se eu te comprar dois hambúrgueres você para de falar? — Aí ele abriu um sorriso.

Três, e não conto para a minha mãe que o senhor não usou a gravata que ela pediu para o senhor usar — senti as minhas bochechas corarem, de raiva. Que tipo de filho eu criei, meu Deus.

Laura riu, com os pés descalços no banco, mexendo sem o menor problema com o meu celular. Eu não tenho senha para nada, nem eles comigo. A gente vai, cada um usa o celular do outro, sem problemas.

Fechado — aceitei, deixando ele fazer o pedido. — Vou passar no Burger King para comprar o meu e da Katniss, ok? — assentiram, aumentando uma música de um tal de Zayn.

— Pai, esse que está cantando que estava na mesma banda do Harry Styles, que o senhor foi comigo em Maio, e do do Niall Horan, agora em julho.

— Ah, daquela banda chata que você tem na parede do quarto, né? — Sorriu, sem se abalar. Eu e ela nos damos muito bem, sempre demos, e graças à Deus nosso relacionamento se mantém ainda melhor com o passar dos anos.

Laura não é de muitos amigos, nem Nicolas, então isso bem ou mau nos faz sermos mais unidos.

Ela tem umas colegas de escola que adorariam ir nesses shows, mas ela não gosta, por não se sentir à vontade, então eu simplesmente vou, entro no show, erro as letras todas, rimos até passar mal, tiramos muitas  fotos, curtimos o show. Às vezes Nicolas entra no bonde, e é ainda mais divertido.

Katniss não é muito de sair para esse tipo de pazer, prefere mais um teatro, cinema. Pensar na minha esposa me fez ficar mal, só em pensar em seu nome. Não é um mal de raiva, mas de saudade. Ela passou os últimos três dias em Vassouras, no interior do Rio, à trabalho. Não que nosso relacionamento não seja bom, na verdade, é bom até demais. Como melhores amigos, não como marido e mulher.

— Pai, vamos no show do Tiago Iorc? Vai ser no Theatro Municipal, acho que dá pra ir de carro. Ou vamos pegar o BRT como a gente fez com a mãe no show do Ed Sheeran?

— Você já comprou os ingressos? Acho que esse sua mãe vai querer ir, ela tem o CD no carro dela — falei com Laura.

— Ainda não… a gente está perto do shopping, podemos passar lá e comprar. Ela ama ele. Nicolas — chamou o irmão, que estava com fones de ouvido, completamente distraído. — Vamos no show do Tiago Iorc? Vai ser num domingo. A gente vai poder cantar Alexandria até a garganta doer.

— Tenho compromisso de manhã e tarde na igreja, todos os domingos, vai ser que dia? — perguntou, prestando atenção. — Mas de qualquer forma, tanto faz, queria mesmo ir em um show do Khalid, ele veio no Lolapalooza e eu nem fui. Estou de luto até hoje.

— Aqui está dizendo no último domingo de novembro… vamos? Dá para ir nós quatro. O ingresso está caro, mas todo mundo paga meia, exceto a mamãe. A última vez que fomos nós quatro foi no Rock in Rio para assistir o Justin Timberlake e a Alicia Keys.

Enquanto conversavam, tentei focar na pista, dirigindo agora em direção ao Barra Shopping, na Avenida das Américas.

Foca na pista, Peeta, foca na pista, falei comigo mesmo, várias vezes, piscando, para não demonstrar o quão afetado estou. Não quero que as crianças me vejam querendo chorar.

— Não! Nós quatro fomos juntos no show do Bruno Mars em novembro. Showzaço, meu Deus, que saudade daquele show. Mas depois disso é que nunca mais saímos juntos pra um rolê top, a gente só vai no cinema e praia junto. Vai ser mais calmo, mas acho que vai ser legal. Meu pai pode até dar de presente de aniversário para a mãe.

Começaram os dois a conversar, enquanto eu tentava me segurar para não parar o carro e minha vida, ou chorar. Lembro claramente de como foram esses dois shows, eu e Katniss, juntos, como um casal casado, não como um casal de amigos. Lembro que enquanto as crianças estavam esperando para ir no banheiro e irmos para casa, que é longe do lugar do show, nós consumamos o casamento no carro, no banco de trás, rindo, empolgados, tudo estava bem. Ela estava bem, eu estava bem. Estávamos ótimos, na verdade. Até aí éramos cúmplices.

Mas depois desse show, depois disso, eu engatei em uma comum semana de provas no final de semestre, ela nos trabalhos da delegacia, já que trabalha como delegada federal, e simplesmente paramos de nos procurar dessa forma, por causa do cansaço, as conversas preocupadas sobre o estado de saúde do Nicolas, que mesmo com todas as brincadeiras, é delicado, pois há três anos ele teve um transplante de coração, etc. Muitas situações. Mas pensei que fosse passar, continuei sendo quem eu sou, procurando agradar ela, as crianças, ser um pai e marido presente, assim como ela, mas simplesmente nós sequer nos tocamos mais do que um abraço, e hoje eu inclusive tenho receio de tentar alguma coisa e constranger ela.

Casamento é feito de fases, e de todas que já passei, essa que estou enfrentando agora, é uma das piores, porque eu simplesmente não consigo encontrar coragem para falar com ela sobre assunto, e nem ela comigo. Nós dois queremos falar sobre isso, mas não conseguimos.

Temos tanta intimidade para falar sobre qualquer coisa, mas não para tratarmos da nossa vida conjugal.

Não troco por nada a minha amizade e relacionamento com ela, como minha melhor amiga, porque isso é o que casamento está pressuposto a ser. Se tiver que ser assim até o final de nossas vidas, eu aceito, por amar tanto ela, que só de poder ver seu rosto ao dormir e acordar já é mais do que o suficiente. Porém queria poder tentar sermos mais do que isso outra vez, já que sempre tivemos essa relação.

— Ué, pai, veio direto pro shopping? Eu estava brincando — Laura falou, mas sorrindo animada, mesmo com o uniforme do pré-vestibular.

— Eu preciso comprar alguma coisa para sua mãe — falei, passando direito pelo aparelho que evita que eu passe por pedágios. Nicolas colocou a cabeça entre nós, com um sorriso. Não converso muito com eles sobre isso, e não acho que Katniss mesmo converse, porém é claro que estão cientes de que eu e a mãe deles não estamos no nosso melhor momento.

— Acho que nós já sabemos onde o senhor deve ir procurar um presente — Laura assentiu, com um olhar esperto.

*

— Nossa, que cheiro bom é esse! — Katniss exclamou, depois dos latidos incessantes dos cachorros, pulando em cima dela, por saudade. Eu também senti sua falta.

Mas continuei, sendo ajudado por Nicolas, a preparar a pizza vegetariana, já que eu e ela não comemos carne, e Laura come ocasionalmente, querendo também fazer parte do movimento em proteção não somente aos animais, mas também à saúde.

É saber se sentir infinito

Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar

Então fazer valer a pena

Cada verso daquele poema sobre acreditar

— Bem, senhora Mellark, por favor — Laura começou, como me indicou a fazer. — Uma banheira relaxante te espera na suíte master.

— Desde quando aqui tem uma suíte master?! — perguntou, quebrando todo o espírito da coisa. Laura bufou, demonstrando aborrecimento com a mãe, que riu sinceramente.

— Pai! Deu tudo errado! — A morena de olhos azuis veio, chateada. — Vai lá resolver. Eu fico fora de mim quando ela faz isso, poxa vida, mãe! Que caô! Caraca, maluco!

Ri, balançando a cabeça, imaginando que algo do tipo ia acontecer. Laura têm zero paciência durante a TPM, e em todos os outros dias do mês. Lolô brigou com ela, enquanto sovava a massa, pedindo para que o ajudasse.

— Oi, meu bem… — disse ela, tranquila, sorrindo, deixando a mala na ponta da escada que dava para os quartos. Sorri, indo abraça-la bem apertado, sentindo seu perfume doce.

— Oi — respondi, sentindo ela afagar meus cabelos, ronronando. — Coisa séria?

Assentiu, suspirando profundamente.

— Estou acabada de cansaço — falou, ajeitando meu cabelo liso ondulado volumoso. — Nem te conto os problemas que aconteceram, quase pensei que fosse ficar mais tempo lá. E se eu ficasse, ia enforcar alguém. Ou dar dois tiros no meio da cara de alguém da delegacia.

Assenti, compreensivo.

— Me dá suas bolsas, eu ajudo — peguei sua mala, e as duas bolsas pesadas que carregava, seguindo-a para o nosso quarto.

Ela foi logo tirando os saltos, ao mesmo tempo que soltava dos cabelos até um pouco abaixo da cintura, em cachos grandes, em um tom de chocolate.

Enquanto colocava suas coisas no closet, ela ia se despindo sem receio, enquanto contava como foi sua semana, que teve que balear cinco bandidos acusados de homicídio. Reclamava de que odeia saber que fez mal a alguém mesmo que essa pessoa seja mal.

— Mas agora as famílias vão ter justiça — falei para acalmá-la, me aproximando de seu corpo coberto por uma apenas toalha, antes de entrar na banheira.

— Ah, eu sei… mas ainda sim, eu me sinto péssima… e me acertaram de raspão. Estourou na minha pele, praticamente.

Abriu a toalha, revelando seu corpo nu, mostrando um ferimento aberto, que tentava se fechar, muito recente. Me assustou de preocupação, por ter pelo menos quatro dedos. De longe pude ver alguns estilhaços.

— Katniss, pelo amor de Deus! Como você não me avisa uma coisa dessas?! — exclamei, muito irritado, puxando-a para dentro do banheiro, abrindo a caixa de primeiros-socorros. — Isso ia piorar quando entrasse para tomar banho!

Suspirou, mas deu um sorriso, cobrindo o seio com o braço, endireitando a postura para eu poder fazer um novo curativo.

Me sentei no chão do banheiro mogno, e pacientemente limpei o ferimento mediano, com cuidado.

— Trabalho de porco quem cuidou disso antes de mim — ela riu, gostosamente, pondo a cabeça em meu ombro, enquanto eu ainda limpava cuidadosamente a área inflamada. Não usa cinta, se sente bem com o corpo no peso adequado para seus 1,65 de altura, e 36 anos de idade. Ela cuida da saúde, todo dia bem cedo corremos juntos, então não carrega um sobrepeso, mas ainda que o tivesse, eu nunca a trocaria. Ela é simplesmente a coisa mais linda que já vi desde os meus 17 anos.

— Tem vezes que eu me esqueço que você é de biomédicas — ri, inclinando minha cabeça na direção da sua, começando a passar uma pomada na ferida. Se contorceu de dor, mas não falou. — No hospital, era um um enfermeiro que ia fazer o tratamento adequado, mas não deu tempo.

— E você fez o favor de limpar no hotel isso daqui, não é mesmo?

Assentiu, respirando profundamente, para controlar a dor. Peguei duas gase, e coloquei por cima, colando com esparadrapo, depois a passei dois comprimidos de analgésico.

— Obrigada, Peeta — agradeceu, suspirando aliviada, se afastando. Mas seus olhos cinza azulados pareciam querer dizer alguma coisa. Diga, Katniss, diga, por favor. É só falar que eu faço, é só pedir que eu vou atrás.

Acho melhor tomar um banheiro no chuveiro… — completou, suspirando. — Vai ser melhor por causa do curativo.

Concordei, me pondo de pé, estendendo a mão para levantá-la.

— Ok, enquanto fica aí, tomando banho, vou terminar a ajudar as crianças com o seu jantar de boas-vindas — sorriu levemente, parecendo querer falar alguma coisa, assim como eu quero.

Tendo simancol para não deixar nossa conversa ficar mais estranha, saí, com um meio sorriso, encostando a porta.

Suspirei, antes de sair do quarto, fechando os olhos.

Ah, meu Deus, como eu amo essa mulher.

Desci as escadas despreocupado, cumprimentando Geraldinha, a cachorra mais velha da casa, com seus quinze anos, mas de velha só tem idade, porque a disposição dela é de onze meses. Saio com ela, Frederico, um schnauzer de nove anos, e a Carmen, de dez, todas as manhãs em corrida, e é bem difícil acompanhar, mesmo que eu pratique corrida há mais de vinte anos.

— Oi, bebê! — ela pulou em mim, quase me derrubando. Geraldinha não é tão “inha”, ela é um pouco maior que um Golden Retriver. É uma vira-lata que pegamos na Avenida Brasil.

— Pai, me ajuda por favor! Olha o que esse babaca fez comigo! — Laura gritou, furiosa. Eu quase caí para trás, realmente, com o estado da cozinha. — Espero que o senhor esteja bem, porque eu estou nada bem! Eu vou jogar fogo nele!

— Mas o que piegas vocês fizeram aqui?! Essa é a minha semana de limpar a cozinha, você querem acabar comigo?! Como que eu vou limpar isso?! Ai meu Deus, eu lavei essa cozinha anteontem! — Comecei, muito aborrecido, com a parede coberta de farinha de trigo e leite. — Quem começou?

Perguntei, apenas uma vez.

Nicolas apontou para Laura, e ela para ele, feito duas criancinhas. Suspirei. Ótimo. Ela tem 17 anos, e ele 15, mas permanecem nessa imaturidade de cinco. Onde eu errei, meu Deus, na educação dessas crianças?

— Ótimo, então vocês dois, os celulares, agora — pedi, dispondo minhas mãos, com uma cara de poucos amigos. — Agora, ou eu chamo a mãe de vocês.

Lolô fez pirraça, mas ele logo tirou o celular do bolso, botando na minha mão, e Laura pegou o dela que estava na outra bancada, com raiva.

— Aproveitando que está no clima de cozinha, podem ir abrindo essas massas de pizza logo ou acabou de vez, sem celular, inclusive o meu e da Katniss, por todo o final de semana!

— Mas pai, a Laura estava toda cheia de provocação, tirando foto minha e postando no Instagram! Ela tem um monte de amigo meu lá, foi postando de sacanagem! Poxa, pai, fala sério com ela! Eu sou sempre o humilhado nessa casa, vocês só acabam comigo por causa de umas coisinhas que eu postei e viralizou no Twitter! Vocês não tiveram senso de humor!

— Porque você é quem mais provoca, oras! — respondi, à altura. — Nicolas, você semana passada quebrou a estante com as taças de cristais da dona Ana com o seu fogo por futebol! E essas suas coisinhas no Twitter eram fotos da Laura dormindo toda desengonçada, e a foto dela virou meme durante as aulas da faculdade, inclusive! Sem contar que você estourou o lustre da sala, e fez o teclado pegar fogo, o teclado da sua irmã!

Aí pareci ter tocado em sua ferida, pois ele ficou todo vermelho, e baixou os olhos, já pegando a vassoura que fica no canto.

— E Laura, eu sei que você fica provocando seu irmão, eu já disse que isso é errado, você tem que ajudar o seu irmão, que é mais novo, e eu espero que vocês se ajudem, não fiquem com essas bobagens! Você já tem dezoito anos, não dá mais para ficar nessa bobagem de jogar óleo na cara dele. — Ralhei. — Eu amo vocês igualmente! Não existe essa. E eu ponho vocês no castigo justamente por isso. Poxa, vocês são crescidos já! Eu com essa idade estava trabalhando, para poder pagar meus cursos. Eu não peço nada à vocês, nem a Katniss, o que esperamos é que vocês se entendam e se amem! Como podem jogar ovo, leite, óleo e farinha para cima um do outro?! Isso daqui é o quê, jardim de infância?

Os dois ficaram corados de vergonha, mas também irritados por saber o que viria a seguir.

— Se abracem.

— Não! — gritaram juntos. — Pai! PARA DE FALAR JUNTO COMIGO!

E começou os dois a discutir entre si, feito dois bebês, enquanto eu encarava tediosamente, pensando no motivo de não ter tomado conhecimento do inferno que também existe na paternidade. É bonitinho cuidar quando está pequenininho, só troca fralda e dá comida, mas e agora, que sabem falar, andar, correr, bater, e ainda te desafiar? Complicado.

Quero descobrir quem foi o mongol que disse que é mais fácil criar mais de dois filhos, porque certamente isso não acontece aqui.

— Já acabou? — perguntei, depois de dois minutos, eles se xingando sem palavrão.

— Pai, por favor! Entenda o meu lado! Eu fui forçado a jogar farinha na cara dela!

— Mas eu fui obrigada a revirar com ovo nesse seu cabelo loiro! Idiota!

— Parem com isso agora! Nenhum de vocês tem justificativa para terem começado isso! — continuei, muitro sério, e eles estavam mal por eu estar aborrecido, mas não adiantava muito, já que insistiam em se atacar com os olhares acusatórios.

— Peeta, pode deixar que eu resolvo isso — Katniss disse, aparentando tão cansada como eu. O cheiro de seu sabonete de rosas estava impregnado, como só fica bem nela, e seus cabelos longos molhados, sobre a camisola violeta, deixando a sensação de que seus olhos são roxos, inexplicavelmente.

Assenti, deixando ela passar, ficando ao seu lado, e poder admirá-la fazer mágica.

— Vocês tem cinco minutos para se abraçarem, ou vão apanhar. Não me forcem usar minha força para marcar a perna de vocês com o meu chinelo — segurei a risada, cobrindo a boca, por seu tom diplomático e sério. — E eu quero toda essa cozinha limpa. Os dois vão limpar. E os celulares vão ficar sob custódia do pai de vocês até nós acharmos que está na hora de devolver. Entenderam bem? Eu estou cansadíssima, e o pai de vocês ainda mais por causa dessa infantilidade de vocês, então arrumem tudo.

— Sim, senhora — responderam, aborrecidos, começando a pedir desculpas, e colocar as coisas no lugar. Katniss olhou para mim, com uma piscada e sorriso engraçado.

— Precisamos de você mais tempo em casa de novo — riu, se jogando ao meu lado no sofá, e os cachorros vieram atrás, principalmente Fred, se pulando em seu colo. — Ah! Comprei seu hambúrguer vegetariano no Burger King. Vou buscar.

Peguei os quatro hambúrgueres, dois para cada um, no microondas, dando uma olhada séria e reprovatória para os dois, que começavam passando pano na parede.

— Pelo menos podemos assar as pizzas, pai? Por favor, essa faxina está me dando fome — Lolô perguntou.

— Claro! — respondi sério. — Acha que depois disso tudo eu não vou querer comer pizza? A mãe de vocês passou três dias fora, e o combinado era ter pizza. O caso de vocês comerem é que eu vou pensar.

— Mas pai! Eu comi já fazem duas horas! Eu amo pizza! — Laura reclamou, vindo me abraçar para me convencer a ceder.

— Eu ouvi um “eu quero apanhar”?! — Katniss gritou, com a voz irritada. — Como é que é, Nicolas e Laura?! Eu quero tudo limpo e bem feito, como o pai de vocês pediu! Rápido! E eu quero jantar, andem logo com essa limpeza! Rápido!

— A mãe de vocês falou, e eu assino em baixo. Deveriam ter pensado antes de fazer essa farra toda.

E saí, pegando o suco na geladeira.

Dei para minha esposa o que lhe compete, me sentando ao seu lado, conosco dividindo a batata frita.

— Põe aquela série que a gente assiste, Doutor House. Nós dois paramos onde mesmo?

— Acho que no terceiro da quinta temporada, não foi? — ela franziu o cenho, pensando. Com as crianças usando minha conta, fica difícil saber onde paramos. — Foi nesse mesmo. Depois, a gente tem que terminar Black Mirror, falta o último episódio da 4ª temporada.

Dei o play, com ela com a cabeça no meu peito, encolhida, aproveitando meus dez centímetros mais alto que ela. Laura herdou sua altura, mas Nicolas há tem quase a altura da irmã aos 15 anos.

Mesmo trabalhando com isso, acho a genética uma coisa além do nosso entendimento. Laura herdou meus olhos azuis, meu tipo de cabelo, no caso, ondulado, e também a minha pele branca, porém seus fios são castanhos escuros, como os de Katniss, e carrega as covinhas que a mãe têm, assim como o sorriso.

Enquanto isso, Nicolas tem olhos cinzas-azulados, como Katniss, e também a mesma pele mestiça, parda, como se vivesse na praia, mas as semelhanças para por aí, pois eu me vejo nele quase por inteiro, seja no jeito que mexe no cabelo loiro, que gesticula quando está mentindo ou nervoso. É divertido tentar entender como essas coisas funcionam.

— Eu até hoje te culpo por não ter ido cursar Medicina na UERJ quando você tinha passado. Você sem dúvidas seria como esse doutor House — ri, mordendo mais uma batata frita.

— Eu realmente me encontrei na Biologia, não tinha como eu largar tudo. Também teria que abrir mão de você, lembra? Não ia valer a pena ser médico, e você pegar para si uma responsabilidade que também é minha.

Suas bochechas coraram, e eu me arrependi um pouco de tal comentário. Lembrar da época que éramos adolescentes sempre é um pouco doloroso, tendo em vista que não damos um beijo de verdade há um tempo bem considerável.

— Lembro… — respondeu, vagamente, abraçando-me um pouco mais apertado, como se eu fosse desaparecer. Assim eu não fico tão arrependido, penso comigo mesmo.

Eu e ela nos casamos pouco menos de um ano depois que começamos a namorar, porque meus pais economizaram o bastante para dar entrada em um apartamento perto da faculdade. Era uma kitnet, mas com cômodos bem confortáveis para pelo menos quatro pessoas bem organizadas.

Por ter um bom emprego, e ter a certeza de que ela era a pessoa certa, só confirmamos na igreja, e casamos. Mas coisa de quatro meses depois, nós dois inexperientes, apaixonados, e cheio de sonhos, descuidamos, sem querer, e ela ficou grávida de Laura.

Foi um completo baque, mas ela não desistiu de ir adiante com a faculdade, cursou até quando pode, para dar à luz, e eu trabalhei até chegar a passar mal, na rotina pesada de faculdade, trabalho, e cuidar das duas. Meus pais foram muito presentes na minha vida, e eu queria que a minha filha tivesse a mesma experiência.

Fiz tudo o que podia para o melhor delas, já que Katniss largou tudo para cuidar da nossa filha também, já que não tínhamos condições para manter uma empregada para cuidar dela, então mesmo morto de cansado, eu arrumava toda a casa, cozinhava, ficava com Laura, e ainda cuidava de Katniss, que ficou doente pela idade e a falta de condicionamento físico para cuidar de um bebê.

Meu sonho naquela época era medicina, e eu ainda me desdobrava para conseguir passar, já era o terceiro ano consecutivo tentando. No dia que fui fazer a segunda fase, só tinha trazido Katniss do hospital, depois de deixar Laurinha com a minha mãe. Eu estava completamente morto em todos os sentidos. Mas incrivelmente descobri que passei logo que saiu a lista de aprovados. Segundo lugar. Sem cota de escola, renda, simplesmente consegui o segundo lugar.

Só que seria uma sacanagem da minha parte abandonar minha família para ir atrás de um sonho, quando Katniss ao meu lado tinha largado os dela para cuidar da nossa família.

Então me dediquei na Biologia, e por receber bem, decidimos que seria melhor Laura crescer um pouco mais para que nós pudéssemos conciliar melhor para que ela pudesse voltar a estudar e se formar.

Não foi nada fácil, já que logo que ia terminar de se formar, faltando coisa de um semestre, descobriu estar grávida de Nicolas, e lá fomos nós, porém dessa vez eu me inclinei mais para cuidar de Laura e dela, mesmo que tenha significado menos dinheiro, só para que pudesse realizar seu sonho de se formar, e ela conseguiu, mesmo quase sem forças, no final de uma gestação de risco muito grande, já que desde que nasceu Lolô teve sérios problemas cardíacos, que lhe custou pelo menos um terço da sua vida até o dia de hoje em um hospital.

Somente quando ele completou seis anos, é que eu iniciei meu mestrado para lecionar em faculdade, e Katniss para passar na OAB, e dois anos depois é que finalmente ficamos lado a lado na inclusão social. Eu trabalhava de tarde para noite, e ela de manhã para tarde, então pudemos ver as crianças crescendo, e acompanhar os dois com mais calma, porém eu sempre que posso fazer hoje, já que nós não temos tantas preocupações com conta, dívidas, questões de saúde, para tornar o dia dela livre de preocupação, mais trabalho em casa, eu faço.

— Vou subir para dormir — falou, sonolenta, depois de cinco episódios. Nesse meio tempo, as crianças terminaram de arrumar a cozinha, e vir comer pizza conosco, para então irem dormir, pois amanhã ficou combinado de irmos na praia de Ipanema, já que em pleno agosto, choveu muito na semana passada, mas já está sol e calor de novo.

— Vou com você — falei, da mesma forma, me sentindo acabado de cansado por toda essa semana estressante na faculdade.

Desliguei a grande e nova TV da sala, envolvendo sua cintura com um braço, e ela fez a mesma coisa comigo. Subimos as escadas calmamente para nosso quarto.

Ela foi logo para o banheiro escovar os dentes, enquanto fui devolver os celulares para os dois.

— Para de fingir que está dormindo, florzinha— Laura começou a rir, desvendando o livro Por Lugares Incríveis, que me fez comprar no mês passado. — Desliga esse abajur e vai dormir, garota.

Falei com um sorriso, que ela devolveu, assentindo, marcando o livro com uma caneta, já que assim como eu gosta de anotar enquanto lê, e o colocou na gaveta de seu criado-mudo.

Desliguei o pisca-pisca ao redor da bandeira do Canadá, para onde foi, no ano passado, ficar quatro semanas em Toronto para um intercâmbio de inglês. Eu quase morri de saudade, passei mal até ficar de licença médica por uma semana, com muita dor de cabeça e febre, fazendo até Katniss parar no trabalho para cuidar de mim, mas hoje estou aqui, graças a Deus, e ela também.

Seu quarto tem as paredes cor salmão, mas em uma parede em específico, ela tem inúmeras fotos que para ela são importantes, e na maioria eu estou, me fazendo sentir orgulho de seu pai dela. Não por eu ser tão importante em sua vida, mas por ter um relacionamento como eu tenho com o meu pai e com a minha mãe. São coisas importantes para mim, e eu quero que ela e Nicolas tenha a mesma experiência.

Beijei o alto de sua cabeça coberta por fios castanhos-escuro, mesmo suja de farinha de trigo, desejando-lhe boa noite.

Fui para o quarto de Nicolas, decorado com o tema de Star Wars, não me surpreendendo em vê-lo esparramado na cama, dormindo serenamente, com a luz amarela ligada, por ter o costume de escrever antes de dormir, algo como cartas para Deus. Nunca li, mas sei que é algo do tipo, porque a Katniss descaradamente lê, e me conta tudo o que descobre.

Fechei o caderno, beijando o alto de sua cabeça, arrumando o travesseiro, cobrindo-o melhor, para enfim sair e seu quarto, indo para o meu.

Katniss estava deitada de barriga para baixo, invertida na cama, com os cabelos caindo para fora da cama, mas estava olhando para a porta, dando um sorriso gostoso quando me viu entrar, batendo ao seu lado da cama.

Apenas avisei que escovaria os dentes, e assim o fiz, me jogando ao seu lado, sentindo ela se enroscar ao meu peito, suspirando profundamente. Está cansada e tensa, posso sentir pela rigidez de seus ombros, no entanto, não iria dormir agora.

E se ela não pretende dormir, logo, eu também não vou.

— Como foi sua semana? — perguntou, serenamente, brincando com os dedos das minhas mãos, os entrelaçando, outrora os descolando, como uma brincadeira de criança.

Entrei no joguinho, fazendo ela dar uma risada. Segurei seus dedos com a ponta dos meus, serenamente. Acabamos ficando com os dedos entrelaçados.

Suspirei, mas dei um sorriso, tirando uma mecha castanha de seu cabelo que caía em seus olhos.

— Melhor agora que você está aqui. Sabe que não gosto quando precisa ficar fora — confessei, passando o polegar por sua bochecha, fazendo carinho. Ela quase ronronou, fechando os olhos, inclinando-se para o carinho. O tempo mostra seus leves traços, mas nunca a trocaria por nenhuma aluna da faculdade. Vejo inúmeros colegas de trabalho fazendo isso, e acho um absurdo sem escrúpulos. Nem que eu fosse hoje solteiro eu desejaria outra. Katniss simplesmente é o amor da minha vida.

Fico encantado por conseguir ir atrás de seus sonhos, e por conquistá-los, mas uma parte de mim é muito egoísta, e queria poder prender ela à mim, só para poder contemplar seu sorriso. Mas a deixo partir. Ela sempre volta para casa, e eu também.

Abriu os olhos cinzas puros, que se mantém intocáveis desde que nos conhecemos.

— Sabe que eu também não gosto de ficar longe de vocês. Só fui porque precisavam de mim. Às vezes me pergunto se o mundo não fabrica mais pessoas tão completas e maravilhosas e poderosas como eu — sorri, caindo no riso, junto com ela, assentindo.

— Não é difícil saber quem Laura e Nicolas puxaram em quesito modéstia.

Carinhosamente, agora que estamos deitados, um de frente para o outro, sua perna cobrindo as minhas, não deixando que eu escape, seu indicador percorreu meu rosto, me fazendo logo fechar os olhos bem serenamente. Eu me sinto de volta aos primeiros meses de casamento, antes das crianças, quando éramos só nós dois, em um espaço que só tinha uma sala, cozinha e banheiro. Sequer tínhamos um sofá até Laura nascer, era apenas um colchão no chão, que sempre usávamos, caindo aos beijos e risos.

Não me arrependo de nada. Me arrependo de não conseguir dizer o que arde em meu peito, a minha saudade por momentos como esses.

— Sinto sua falta — sussurrei, abrindo os olhos. Só tem a luz dos postes na rua, entrando pela fresta da persiana em nosso quarto. — Sua falta.

Ela piscou, fazendo parecer que seus olhos são estrelas. Mas são lágrimas querendo vir. Seu polegar parou em meu queixo, fazendo um carinho inocente, seu olhar seguindo seu carinho. Minha mão passeava por suas costas, muito conhecidas aos meus toques. Está sem sutiã. Não gosta de usá-los, e não é como se precisasse. Ela é linda.

E o tempo ou está me deixando louco, ou ela mais linda, com toda sua maturidade. Como será que me enxerga?

Uma das razões para estarmos tão distantes é justamente essa, dentro de mim.

— Eu amo você — disse, com a mão em meus cabelos. Seu carinho é como um sonífero.

— Eu te amo mais — respondi, tirando minha mão devagar de suas costas, para pegar gentilmente a sua, beijando a ponta de seus dedos ágeis para fazer e resolver qualquer coisa, prontos para desatar quaisquer nós que esteja prejudicando as crianças, ou a mim.

— Eu te amo muito mais — rebateu, devagar, se aproximando ainda mais, encolhendo-se a mim. Temos o costume de falar isso, desde que casamos. É sincero.

Dormimos, sem nada além disso.

 

*

 

A gargalhada de Laura me faz perder o equilíbrio, caindo na areia, rindo, enquanto Katniss saia correndo debaixo do guarda-sol, gritando de preocupação com Nicolas, atingido no olho pela bola do frescobol.

Não é sobre chegar

No topo do mundo e saber que venceu

É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu

É sobre ser abrigo

E também ter morada em outros corações

E assim ter amigos contigo em todas as situações

— Meu Deus, Lolô! — ela exclamou, assustada, pegando o rosto do nosso filho com as mãos delicadas.

— Só faz vergonha! — Florzinha gritou, vindo para o meu lado, caindo na areia, divertida. — Lixo!

— Está tudo bem, mãe! — O garoto exclamou, rindo, mas com certo tom de dor. — Eu estou suave, relaxa.

— Peeta! Olha só o que você fez!

— Eu?! — Perguntei dramaticamente. — Eu fui jogar a bolinha para ele, que não pegou!

O olhar dela foi puramente acusador, mas não falou mais nada, enquanto eu caía na areia, ainda gargalhando, junto com Laura.

— Muito burro ele, meu Deus! — A mais velha exclamou, ainda, depois que fomos para debaixo do guarda-sol, sentando na toalha que Katniss trouxe, porque eu nunca me lembro de trazer alguma coisa além de óculos e protetor solar, para não ficar descolando depois.

— Vocês podem parar com essas brincadeirinhas sem graça, estão ouvindo? — Katniss falou, muito séria. Nicolas agora disfarçava o choro, com o olho todo vermelho pela areia. — Tá na praia, vai para a água, vai correr! Agora ficar arremessando uma bola assim, que não é de praia? Francamente! Eu odeio essas brincadeirinhas sem graça!

— Nossa, calma — reclamei, levantando as mãos em rendição, vendo melhor o que aconteceu com o olho de Nicolas. — Só precisa de um pouco de água.

Peguei minha garrafa, forçando ele a ficar com o olho aberto, e limpei seu olhos, usando também uma toalha bem seca e limpa.

— Agora sim — ele resmungou, mas agora queria rir. — Está tudo bem, mãe. Obrigado, pai.

Dei apenas um aceno com a cabeça.

— Acha que está pronto para encarar uma onda comigo? — Laura perguntou, depois de tirar algumas fotos, ainda rindo, e ele reclamando, pedindo para ela não contar isso na igreja, para a Sofia, uma menina de sua idade, que ele é apaixonado desde os oito anos de idade. A coisa é bem inocente, mas nenhum de nós em casa perde a chance de tirar uma com a cara dele.

— Claro! — Cada um pegou sua prancha, indo correndo para a água, enquanto fiquei debaixo do guarda-sol com uma Katniss aborrecida.

— O que foi? — perguntei, começando a ficar preocupado, sabendo que estou pisando em solo minado.

— Nada, só pensando no aborrecimento que vai ser o almoço com minha mãe — suspirei, me jogando para trás, deixando a cabeça sobre as bolsas. Abaixei o boné, para não pegar sol nos meus olhos.

— Francamente, sua mãe é um troço — ela riu, sem se abalar. — Não esqueci do que ela disse sobre a Geraldinha ser malcriada. Ela é nossa filha também, igual Laura, Nicolas, Frederico, e a Carmen. Como ela pode vir na nossa casa e dizer uma coisa dessas? Perturbada.

— Mais respeito, porque eu amo sua mãe.

— Porque minha mãe é um amor, a sua é quase a reencarnação do diabo — sua gargalhada me fez sorrir torto, tranquilo, observando Laua e Nicolas esperando a oportunidade de pegar uma boa onda. Os dois se avacalham, mas se dão muito bem, na outra parte do tempo.

Esse é o momento, pensei.

— Katniss, o que acha de eu e você sairmos amanhã, depois que seus pais almoçarem conosco?

Ela franziu o cenho, confusa.

— Mas segunda-feira você tem aula para dar, prova para aplicar… pensei que fosse querer descansar. Usei até como desculpa para mamãe não ficar muito tempo.

— Folgaram — tranquilizei-a. — Uns doidos vão protestar lá, ter aquele debate besta entre eleitores do Lula e Bolsonaro. Dois lados de desocupado, a maioria tudo sustentada pelos pais, está lá porque alguém banca, mas um quer socialismo, e o outro ainda mais louco quer intervenção militar. Nem meu espírito vai ir para a UFRJ, meu anjo. Nem meu espírito. Tenho é sono para colocar em dia, prolongar meu feriado de dia dos pais amanhã. Usar a segunda para me recuperar. Fora que eu tenho que terminar de assistir Supernatural e The Walking Dead.

Ela riu gostosamente, pondo a cabeça em meu ombro, com seu chapéu de palha para praia.

— Gente maluca, com certeza vai sair barraco. A Kátia disse que já está cansada de mandar viatura lá — ri, balançando a cabeça.

— Ai, eu nem apareço, ficar me estressando, melhor ficar em casa, esticar as pernas, fazer vários nadas — ela assentiu, concordando. — Estava pensando em liberar as crianças para a casa do Felipe.

— Finnick, você quer dizer — revirei os olhos. Felipe é meu primo distante, mas o tenho como irmão, que todos chamamos de Finnick.

— Ah, você entendo. Largar as crianças lá para a gente sair — ela riu mais, balançando a cabeça, entrelaçando seus dedos aos meus. O contraste é nítido das nossas cores de pele. Meu polegar faz carinho em seus dedos.

— Por mim tudo bem. Johanna me mandou um áudio esses dias, pedindo para eles irem lá ver ela. Lucas fez aniversário mês passado, foi a última vez que os vimos. E eles moram pertinho da gente.

— Então, depois que seus pais forem, o que acha de virmos caminhar? — ela mexia em meu celular com a mão vaga, para tirar fotos das crianças surfando, mas logo parou, para olhar bem em meus olhos. — Sério. A gente pode vir e voltar de Uber… só para caminhar, nós dois. Vai estar vazio, por ser feriado.

Como fazíamos antes, sei que meu olhar completou, e ela captou a mensagem, pelo rubor em suas bochechas. Eu posso beijá-la agora mesmo, com seus ombros cobertos por uma toalha, vestindo roupas bem leves, mas nenhuma de banho, pelo machucado. Mas não o fiz. Não invadi seu espaço.

— Eu adoraria — respondeu, parecendo até emocionada, sorrindo. Impossível não sorrir de volta, desviando nossos olhos para as crianças.

Daí engatamos em uma conversa cheia de risadas dos dois só tombando na prancha, e ainda rindo das derrotas. Ah, se soubessem o que aguarda na vida adulta. Vai ser assim, mas antes que eles levantem, vai vim uma onda de uns cinco metros de boletos, e afogar eles.

Peguei, então, o ukulelê que Laura gosta de tocar.

— Faz uma eternidade que você não pega nisso — Katniss zoou, sorrindo, comendo um Snickers. Passei longe, por minha drástica alergia à amendoim.

— Ah, mas eu ainda devo saber tocar alguma coisa, não é possível… — fiz um acorde, meio desafinado, me fazendo fechar um olho, enquanto ela ria. Peguei meu celular, afinando o instrumento, e revendo algumas notas. — Qual o nome daquela música que você fica cantarolando?

— O Sol — respondeu, sorrindo. Debaixo do guarda-sol, seus olhos ficam quase assustadoramente azuis, de tão intensos. Quase esqueci que são cinzas.

— Me passa o ritmo — ela cantarolou, e eu logo peguei a melodia, entendendo que a música está em G.

 

Ô, Sol
Vê se não esquece e me ilumina
Preciso de você aqui
Ô, Sol
Vê se enriquece a minha melanina
Só você me faz sorrir

 

— Meu Deus, Pedro, você estava um ano sem tocar, e agora quando bem entende, aparece cantando assim com essa sua voz de anjo, e tocando perfeitamente bem um dedilhado que nem o Nicolas consegue?

Ri sinceramente, continuando o dedilhado tranquilo.

— Eu disse que ainda sei de algumas coisas — rebati, então, continuei. — Acho que o que eu não sei mais é teclado, piano, desde que Nicolas arrebentou o lustre e destruiu o da Laura, nunca mais toquei. Nem bateria… mas como é o resto?...

 

E quando você vem
Tudo fica bem mais tranquilo
Ô, tranquilo
Que assim seja, amém
O seu brilho é o meu abrigo
Meu abrigo!

 

— Canta, só nós dois! — pedi, dando uma cotovelada mediana nela, que mordia o lábio inferior, com um sorriso ambíguo. Eu poderia fazê-la deitar na areia agora, e beijá-la toda, se assim me pedisse. Amo seus sorrisos com duplo significado. Mas não fiz nada além de esperar ela se juntar à mim.

 

E toda vez que você sai
O mundo se distrai
Quem fica, ficou
Quem foi, vai, vai
Toda vez que você sai
O mundo se distrai
Quem fica, ficou
Quem foi, vai, vai, vai
Quem foi, vai, vai, vai
Quem foi..

 

Toquei algumas mais simples, em meio a água de coco, sanduíches veganos, sorrisos, quando o sol estava se pondo, voltamos para casa, e o caminho rendeu ainda mais risadas.

— E parabéns pra você, que me fez entender que minha paixão não é você! Obrigado por demonstrar esse amor falso — Katniss cantarolou, junto com o Aldair Playboy, me fazendo rir, junto com as crianças. Ela canta tão mal.

— Não sabia que você sabia cantar alguma coisa que tenha o Weslley Safadão, pensei que o odiasse.

— E eu odeio! Mas essas músicas me ajudam a correr na esteira — ri, balançando a cabeça. A música voltou para o começo, e nós quatro entramos em coral.

 

Abre o jogo, acabou
Pra quê esconder esse falso amor?
Eu confiei, me entreguei
Meu coração logo se machucou

Noite do meu lado
Fico aqui imaginando
Mas como pude cair
Nessa farsa de amor?

 

— TODO MUNDO JUNTO AGORA, HEIN! — Nicolas gritou.

 

E parabéns pra você
Que me fez entender
Que minha paixão não é você
Obrigado
Por demonstrar esse amor falso

 

E cantamos até o final.

— É melhor a senhora saber cantar essa do que Só Quer Vrau — Laura comentou, rindo.

— O quê? Você sabe cantar o quê? E peraí, Laura você disse o quê? — perguntei, me fazendo de desentendido. — Como assim vocês conhecem uma música que se chama Só Quer Vrau?

— Pai, não é como se a gente quisesse saber da letra, é que toca em todo lugar — Katniss riu, assentindo. — Eu sou convertida, eu não escuto essas coisas, mas fica na cabeça. É uma paródia de Bella Ciao, de La Casa de Papel, que a gente maratonou.

— Quando eu me vi, só cantava isso, sem querer. Me senti mal.

Uhum, ata bom, Katniss, ok, eu vou fingir que estou acreditando. Depois que te peguei no pulo dançando Bang, da Anitta, eu não acredito em mais nada.

— Ai, você me acusa disso, como se não ouvisse Alexandre Pires!

Aí ela tocou na minha ferida.

— Vou nem falar nada. Vou nem falar — falei. — Nada mesmo.

Alá como ele fica! Hmmm, a gente sabe que o seu fica escutando Sai da Minha Aba do Só Pra Contrariar para ficar lutando Boxe!

Nicolas provocou, passando a língua nos dentes, com um sorriso enorme. Ele vai ver quando receber a mesada. Pelo menos metade ele não vai ver e nem tocar.

Senti um frio na espinha, quando fui descoberto. Não é fácil me manter saudável e com um corpo legal na minha idade, eu preciso de um ânimo! Não vou ficar ouvindo Tom Jobim para lutar!

Suspirei.

’... — eles riram, e a JB FM começou a tocar Essa Tal Liberdade, com o Alexandre Pires, e eu continuei sendo motivo de chacota, mas ria, com todos eles cantando juntos, uma das minhas músicas favoritas, e deles também. A viagem pareceu mais curta na volta para casa, e muito mais divertida do que a vinda.

A gente não pode ter tudo

Qual seria a graça do mundo se fosse assim?

Por isso eu prefiro sorrisos

E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim

— Vamos, vão tomar banho, vou colocar a lasanha no forno. Se forem rápidos, faço torta de limão.

Anunciou, e os dois foram calmamente para seus quartos, enquanto eu a ajudei a tirar as coisas, principalmente as pranchas, deixando-as perto da piscina.

— Vem tomar banho, depois a gente vê essas coisas, ai, quero comer logo — ri, concordando, largando as coisas cheias de areia perto da grande piscina, para segui-la para nosso quarto.

A nudez um do outro é completamente normal. Somos melhores amigos acima de qualquer coisa. Tomar banho juntos é algo que já fizemos e fazemos incontáveis vezes. Muitas não eram exatamente banhos… suspiro audivelmente, enquanto ela conta sobre uma de suas colegas de trabalho que fica tentando prejudica-la.

— Eu disse alguma coisa? — perguntou, preocupada, parando de fazer espuma em seus cabelos tão lindos.

Dei um sorriso falso bem convincente, negando. Ela deu de ombros, ficando de costas para mim, com seu corpo bem preenchido, continuando a falar o quanto fica incomodada com a audácia da outra mulher, em dizer que ela fica fazendo fofoca de outras pessoas.

Mas eu nem estava prestando atenção, só pensava no quanto preciso contar a verdade. Nós somos mais que melhores amigos. Quero poder terminar de ouvir e beijar seus lábios, seja de uma forma casta ou apaixonada, apenas para frizar que estou aqui, e sempre vou estar, até quando Deus permitir.

Ao me dar conta, meu corpo deixava nítido meus pensamentos inapropriados, me deixando completamente sem jeito, passando para debaixo da água, e ela andou no box largo, ainda de costas, por sorte, falando que está irritada por não aguentar as piadas infames sobre mulheres na delegacia.

Graças, quando se virou, não suspeitou do efeito que só o pensamento mais casto ao seu respeito mexe comigo de todas as formas.

Falei pouco, o que é incomum, e senti que ela percebeu minhas poucas palavras, mas não disse nada.

O jantar seguiu tranquilo com a lasanha vegetariana, feita com berinjela, Nicolas falando de Sofia, e Laura reclamando de Lucas, filho de Finnick, que insiste em chamar ela para sair toda vez que ela posta alguma coisa no status. Meu alerta de pai piscou, é claro.

— Acho melhor vocês dois ficarem em casa ao invés de irem para a casa do Finnick — comentei, e Katniss franziu o cenho, pensando. Assentiu, também. — Vou conversar com o Lucas. Com ele e o Finnick, que não deve tá sabendo disso.

— Não, o senhor vai assustar ele — ela disse, com um sorriso. — Têm meu total apoio. Eu só estudo, pai. Entro no WhatsApp para conversar com as minhas colegas e ele vem encher meu saco. Se eu quiser namorar, vocês vão ser os primeiros a saber. O que eu quero é uma vaga na federal. Quando ele for uma, até caso com ele.

Dei um meio sorriso, abrindo a mão, e ela bateu, em high-five, rindo. Mas eu estou nervoso, e muito preocupado, só de pensar nela e Nicolas saindo de casa, embora eu queira viajar, curtir a disposição que tenho com minha esposa, eu amo tanto, mas tanto os meus filhos, que é muito difícil imaginar que um dia, que não vai demorar, eles terão outras pessoas.

Felizmente, Laura é muito transparente, fala as coisas facilmente, e nosso relacionamento é bom também por conta disso. Há dois anos, ela me contou que gostava de um garoto na igreja, que tinha sua idade, mas conversamos, e aconselhamos ela a deixar o tempo passar, para amadurecer mais, já que na época tinha apenas 15 anos. Ela não ficou com o garoto, eu sei que não, ou ela me contaria.

Ela bem que chorou, mas no dia seguinte estava bem, eu sai sozinho com ela, a levando para almoçar onde quisesse, dizendo que se um rapaz não fosse tratar da forma como merece, não vale a pena, o tempo passou, e o máximo é elogiar a aparência de algum rapaz, mas nada demais. Enquanto Nicolas e Sofia é algo bem inocente, mas eu e Katniss também prestamos atenção, já que na escola, e dentro da igreja mesmo, infelizmente, há uma força e influência muito grande de ir com os sentimentos, mas não é bem assim que as coisas funcionam.

Na nossa casa, namoro está proibido enquanto não estiverem na faculdade, pelo menos, e precisa ser maior de 18 anos, válido para os dois, mas pedimos sempre muita sinceridade da parte deles sobre tudo, não deixando que Nicolas de alguma forma tire vantagem em cima da irmã do gênero oposto, nem vice versa. Sempre achei ridículo toda a cultura que existe do homem, inclusive dentro da igreja, principalmente, desde pequenos, mas decidi educar meus filhos com princípios bíblicos, e em igualdade aqui, os dois arrumam a casa, fazem a comida, precisam ter boas notas, trabalhar, e serem sempre sinceros comigo e Katniss.

Katniss e eu buscamos ensiná-los a se preocupar mais em ser a pessoa certa, do que buscar uma. No tempo que for certo, para ambos, vai aparecer alguém. E eu vou junto com minha esposa vasculhar cada coisa que possa haver no CPF de ambos. Principalmente que ela é da polícia federal, nem uma briguinha no jardim de infância vai passar despercebida.

Lavei a louça, e logo subi para deitar com Carmem e Frederico, já que Geraldinha quis dormir com Nicolas.

Me desejaram um feliz dia dos pais, pouco antes da meia-noite.

— Amanhã na igreja dou o presente que compramos com seu dinheiro — Laura disse, com os olhos muito pesados e cansados, fazendo seu corpo parecer mais pesado no meu colo, a carregando arrastada junto com seu irmão. Ri, sinceramente, a pondo na cama. — Bo’ noite, pa… — apagou com sono antes de terminar de elaborar a frase.

— Também amo você.

Falei, sincero, beijando o alto de sua cabeça.

Depois, fui até o quarto de seu irmão, que se jogava na cama.

— Boa noite, pai, espero que goste dos mimos, deu muito trabalho ajudar minha mãe escolher a comida vegetariana de amanhã — contou, com a voz bem densa, cansado e com sono também, depois de um dia todo na praia.

— Sempre falo que não precisa, mas já que ficam sempre insistindo, eu aceito. Aliás, sua mãe comprou uma nova camisa social… ela deu uma igual para você? Eu vi que ela comprou uma igual para usar com a Florzinha.

Riu, assentindo, apontando para a camisa no cabide, na porta de seu banheiro. Suspirei.

— Se o senhor tentar desacatar ela, sabe que vai rodar né? Melhor a gente ir igual, e deixar tudo mec do jeito que ‘tá.

Assenti, preocupado na possibilidade. Katniss têm até porte de armas, e um monte de habilidades esportivas, não sou eu quem vou tentar o contrário.

— Boa noite, filho.

Ele sorriu, batendo na minha mão, com um toque nosso, fazendo contingência, como fazemos desde que ele é pequeno, e gostou muito do gesto pelos filmes americanos.

Mal vi quando Katniss se deitou ao meu lado, por ter ido resolver algumas coisas referentes ao trabalho no nosso escritório, porém senti sua mão fazer carinho em minha bochecha, e posso jurar que a ouvi dizer:

— Eu também sinto sua falta.

 

*

 

— Misericórdia… — falei, começando a rir, no banco do carona no carro de Katniss, conosco voltando do culto de domingo de manhã, depois de eu ter chorado com as homenagens de dia dos pais, é claro.

— O quê? — perguntou, se inclinando para tentar ver o que eu via em seu celular.

— Clove anunciou no Instagram que está grávida, ai olha a cara do Cato na foto — quando parou no sinal, mostrei a foto de sua irmã junto do marido, e começou a rir. — Sorrindo porque não começou a limpar bumbum cagado e cuidar de assaduras em tempo integral.

Katniss gargalhou, jogando a cabeça para trás, quase passando mal. Clove e Cato são apenas apelidos, eles se chamam Claudia e Claudio, respectivamente, assim como meu nome é Pedro e o de Katniss, Katarina, porém nós todos nos chamamos por apelidos desde sempre.

— Ai, ainda bem que a gente já têm os nossos — ela falou, balançando a cabeça, e eu imediatamente concordei, olhando protetoramente para os nossos filhos no banco de trás, os dois com fones de ouvido, e alheios.

— Graças a Deus em pouco tempo vão estar seguindo a vida deles, e a gente vai poder se aposentar para viajar e a gente ficar livre para aproveitar a vida — ela riu sincera outra vez. Fomos pais bem novos, porém não nos arrependemos, por na época, bem ou mal, já termos um apartamento, e eu um emprego que pagava o suficiente para conseguirmos pagar o básico e oferecer coisas boas para Laura, depois veio Nicolas.

Clove e Cato enrolaram igual fio de computador para terem um filho, pois sempre diziam que queriam ter um tempo para eles, e tudo mais, queriam poder oferecer as melhores escolas, as melhores coisas e um monte de desculpas, para esconderem que só não se sentiam seguros para a maternidade, que não é fácil. Digo isto porque é algo que ele mesmo me admitiu há um tempo, depois de uma discussão com a esposa, ele querendo muito adotar, mas ela não se achava pronta ainda para a responsabilidade.

Eu fico cansado só de imaginar. Vou fazer quarenta em três anos, e tudo o que eu quero é formar as crianças, poder continuar trabalhando, e dar seguimento aos meus sonhos, que precisaram ser postos de lado para realizar os deles. Ainda quero fazer um tour pela América Latina com Katniss, e aproveitar nossa vida à dois por mais que um final de semana.

— Ai imagina o quanto esse bebê vai ser chato — comentei, pensativo, enquanto ela dirigia seu Fiat Argo. — Lembra quando ela fez a Laura engordar dois quilos só em uma semana que passou lá quando tinha dez anos? Qualquer coisinha ela cedia, e ainda cede quando cuida de crianças. Ela é muito babona, vai vestir a criança com Adidas. Bem, ela estava planejando ir com Cato para Miami, então só aquelas coisas cara, como é o nome…? Supreme, né? Um moletom besta que a Florzinha me pediu mês passado, nossa, paguei até com o seu cartão. O meu não ia aguentar, porque ela também comprou um monte de coisa na Renner, ela e Lolô. Quase chorei com o valor da fatura.

— Deus é que me livre de ter que cuidar de uma criança assim, já basta Nicolas e seus pitis querendo um iPhone e Laura pedindo carro — ri, descontraído, abrindo mais a janela do carro, pela temperatura baixa, trazendo um vento sereno e gélido, quase como um chá. — Ela tinha me contado que estava estranhando algumas coisas, mas não sabia. Pra mim ela ia levar a ideia de adoção mais à frente, igual a Madge — assenti. Magda é uma prima, que hoje mora em Salvador. Quando fez 30 anos, depois de tentar de muitas formas ter filhos com o marido, mas não conseguindo por causa de um problema de saúde, resolveram adotar uma criança negra, de seis anos. Na verdade, eles não planejavam adotar uma criança de outra cor. O que explicaram é que chegaram ao orfanato, e viram o Mateus isolado, brincando sozinho, por ter sido abandonado quando bebê, ninguém o tinha adotado, mas foi de cara. Hoje o menino tem doze anos, e Madge e Marvel adotaram mais dois, de pele parda, escolhidos pelo coração.

Os dois sempre estão muito felizes com os filhos,se recusam escutar que não são pais legítimos. São uma família linda. Acredito que ninguém estava esperando por isso, mas aconteceu, e é muito admirável. Conhecendo os dois, sinceramente, eu nunca ia imaginar. A felicidade foi grande demais em vê-los realizar um sonho que desde a época de namoro planejavam, serem pai e mãe.

A gente pensou que, por causa do Cato, fossem adotar também, já que os dois amam crianças, e tudo mais, imaginei que fossem adotar uma menor do que a que Madge e Marvel adotou, por quererem uma experiência mais “completa”, Cato comentou esse desejo há poucos meses, mas agora o anúncio, pressuponho que não vão mais, por enquanto.

— Ai, graças a Deus a gente ter tido nossos filhos quando tínhamos fôlego, viu? Eu correr hoje em dia, nossa, atrás de bebê me dá dor só de imaginar. Peeta, já pensou? Mãozinha suja pela casa? Criança querendo usar a gente de cavalinho? Misericórdia, eu ia até cuidar e amar, mas ia morrer de cansaço, certeza.

Gargalhei, de todo o drama dela. Ela fala essas coisas, mas é um bebê sorrir para ela, que fica comentando que poderíamos tentar ter mais crianças, que sente falta de pegar neném no colo, chega até a chorar quando uma criança – o que são todas, ela é muito carinhosa –, brinca com ela.

— Concordo. Agora, daqui pra frente a gente só tem que ser apoio moral para eles, não mais o tudo. Deus sabe de todas as coisas, né? — sorri, assentindo. Um fato curioso é que as duas irmãs de Katniss enfrentaram problemas para engravidar, mas foi eu e Katniss ficarmos na lua-de-mel, que aconteceu, espontaneamente. Impressionante. E isso com todas as precauções da época. Vai entender. E Katniss é a única que teve problemas com ciclos, e diziam que teríamos filhos depois de muito tempo.

Não dá, quando tem que ser, simplesmente é.

— Sua mãe está ligando — avisei, passando o celular para que ela atenda no viva-voz. Colocou o aparelho em uma parte do carro justamente para que pudesse fazer isto.

— Oi, mãe, tudo bem?

— Tudo na pior. Eu estou esperando vocês há meia hora na porta do seu condomínio! O insolente do seu marido não ia ficar aqui para nos receber? Seu pai tem remédio para tomar, Katarina! E hoje é dia dos pais, e você deixou justamente o seu do lado de fora, em todo esse frio!

Ela fechou os olhos, suspirando profundamente. Eu virei o rosto para a paisagem, pondo meus óculos escuros. Insolente é você, velha gagá, pensei.

— Mãe, estávamos na igreja, a senhora sabe. A Laura faz parte do ministério de louvor, por isso demoramos mais a sair, depois teve uma homenagem para os pais, a senhora sabe que Peeta congrega, e ama as crianças, não iria perder o momento. Já estamos chegando.

Acho bom! Acho muito bom! Estou passando mal, e seu pai também! — E a velha desligou.

— Impressionante, acabamos de sair da igreja, e o diabo já nos espera na porta de casa — Katniss me olhou muito feio, enquanto dava uma manobra para entrar no condomínio, pedindo para os pais entrarem no carro.

— Oi, vô, vó — Laura e Nicolas disseram juntos, com sorrisos forçados.

— Mal arrumados, como sempre — Conceição falou, com a cara emburrada, deixando que Diniz entrasse na frente. — Laura, quando vai parar de ser criança e deixar de pintar a ponta do seu cabelo? Fora que você engordou muito. E Nicolas, seu cabelo fica péssimo cortado curto assim.

— Boa tarde, mãe — Katniss disse, tranquila. Eu nem olhei para trás, continuei mexendo no celular. Falso eu não sou. — Boa tarde, pai. Feliz dia dos pais. Nos desculpem o atraso.

Houve uns cumprimentos, dos quais eu não participei em nada além de boa tarde, porque acabo de vim da igreja.

Os cachorros vieram animadamente, mas precisei botá-los no jardim, para não dar mais um motivo para os ânimos se aquecerem.

— Peeta, serve o almoço comigo, por favor? — Katniss pediu, deixando seu casaco em cima do sofá. Parece tensa.

Por ela, Peeta, seja gentil e paciente por causa dela. Você ama sua esposa, pense nos filhos que você tanto ama, não piore as coisas, meu amor. Falei comigo mesmo.

— Claro — respondi, calmo, até. Arrumei a mesa grande para seis pessoas, arrumando tudo.

— Olha, Pedro, fazendo alguma coisa — Conceição começou, mas o que fiz foi ignorar. A Palavra manda a gente fugir do diabo, então depois de botar a mesa, fui chamar as crianças.

— Vocês dois vão ficar entre eu e a vó de vocês — fui logo avisando, empurrando-os pela escada, dando nos dois uma crise de gargalhada.

— Pai, quantos anos o senhor têm? 15? — Lolô perguntou, rindo. — Nem eu faço isso!

— Sabem que ela tentou me matar duas vezes. Querem ficar sem pai no dia dos pais?! — Os dois negaram, rindo. — Ótimo, já sabem o que fazer. Vão receber o dobro de mesada e headphones novos se manterem a conversa longe de mim.

— O senhor vai pagar me acompanhar no show da Ana Vitoria, então — franzi o cenho para Laura.

Quem?

Ana Vitória, é uma dupla de amigas, elas cantam aquelas músicas fofas. Tenho até o CD delas no carro do senhor, eu gosto muito. Já até cantaram com o Tiago Iorc, bom demais.

— Aquelas sem graça que cantam aquela música que toda garota sabe cantar, Trevo Tú? — Nicolas perguntou, confuso como eu. Sei quem é Niall Horan, fui no show dele mês passado, em Julho, com ela, mas não tenho ideia de quem seja Ana Vitória. Não é isso um nome composto? Eu não entendi.

Laura tem 18 anos, mas um coração de 12, é impressionante. Suspirei, já sentindo minhas pernas doerem por ter sempre que correr com ela para ficarmos na grade de qualquer show. É lei. Mas vale à pena, ela nem precisaria me chantear.

— Ok… eu vou.

— E o senhor tem que me dar o seu iPad, que está mais atualizado que o da mamãe — Nicolas se aproveitou.

Essa doeu mais. Mas desde que não precise falar com minha sogra maldita.

.

— Com a sua caneta da Apple.

— Pô, Nicolas, você quer o quê? Meu celular junto?! Ou o resto do meu salário, que vocês não usam com comida? Que droga, eu sou um professor, não um poço de dinheiro, ou de moedas de ouro!

— Se possível — ele deu um sorriso tão cheio de sacanagem para me chatagear, que fez eu e florzinha cairmos na risada.

— Desce logo, garoto — e assim o fez. — Acha que ele vai querer qual cor de celular?

Laura enlaçou seu braço ao meu, nos fazendo descer os vinte e cinco degraus juntos, me deixando um milhão de vezes mais calmo. Amo tanto meus filhos e minha esposa, que acho que o dia que eu tiver que dar adeus, vou morrer de saudade.

— É preferível que não seja o rosa, vai deixar a gente em paz. Mas mesmo que seja o rosa, ele vai amar, e comprar umas capinhas pretas, que é a cor favorita dele — ri. — Compro para o senhor.

— Obrigado, filha.

Beijou minha bochecha, saindo caminhando calmamente para a sala de jantar para almoçarmos.

Katniss conversava com o pai, assentindo para alguma coisa, enquanto sua mãe ouvia atentamente.

— Ah, Peeta, crianças! — ela exclamou, sorrindo, aliviada. — Vamos almoçar!

Quase pude escutar ela dizer um pelo amor de Deus, quanto antes almoçar, mais cedo eles vão embora. Ela também não gosta quando sua mãe vêm. Seu pai é um cara sem expressão nenhuma, tanto faz, tanto fez, desde sempre é assim. Ninguém acredita que ele é um promotor de justiça, muito bem conceituado. Mão de vaca que dá pena, as crianças reclamam muito quando saem com ele, pois nem um lanche de camelô ele paga. Não ajudou em nenhum centavo da festa de casamento. Ajudou a gente a dar entrada em um carro, quando Laura nasceu, mas nunca mais, nem um centavo. Katniss teve que rebolar muito para poder conseguir fazer ele e a mãe nos ajudar a cuidar das crianças, porque meus pais não são ricos. São professores também, minha mãe, pedagoga, trabalhava o dia todo, não tinha condições de olhar as crianças para a gente, enquanto a mãe de Katniss ficava levando a vida de patroa de todos os dias, sem mover um dedo para ajudar.

Todos nos sentamos à mesa, eu ao lado de direito de Katniss, e Laura ao meu lado, enquanto minha sogra em outra extremidade, de frente para a filha, ao lado de seu marido, Nicolas de frente para mim.

Katniss encomendou o almoço, então o que tivemos que fazer, basicamente foi buscar na portaria do condomínio de casas que moramos.

Foi servido o tão amado churrasco que sua mãe ama e eu odeio, por conta da crueldade aos animais, mas de uma forma mais gourmet, que eu acho um desperdício de dinheiro, ainda mais com a minha sogra.

Eu e Katniss ficamos com carne de soja e os acompanhamentos básicos de um almoço carioca no domingo, farofa, batata frita, arroz e feijão, todos servidos com coca-cola ou guaraná.

Nicolas, empolgado pela sua parte no acordo, puxou diversos assuntos com a avó, que se entreteu o bastante para olhar para mim somente duas vezes, com seus olhos azuis irritantes. Meu sogro e nada foi a mesma coisa, só concordando com a mulher.

Laura ajudava o irmão, sustentando as conversas sobre o dia a dia deles, de que estavam fazendo as receitas que receberam dela, o que tornou o clima muito agradável. Agradável até demais.

Olhei para Katniss, no meio daquela paz, com meus olhos semicerrados, completamente desconfiado, e minha esposa estava polida, com uma mecha de seus longos fios atrás da orelha, comendo bem devagar – algo bem incomum, já que têm uma torta holandesa no meio da mesa para quem terminar o almoço –.

O que você está escondendo, perguntei só com o olhar. Ela piscou diversas vezes, desconcertada, balançando a cabeça em negativa, provavelmente também estranhando toda essa comunhão que não existe entre nós, seus pais, e as crianças.

Quando meu telefone tocou, e eu pedi licença, por ser minha mãe.

— Manda um beijo pra minha avó! Ela só quer saber de viajar, e esqueceu de mim — Laura reclamou, fazendo uma careta engraçada.

— Benção, mãe — pedi, estando afastado da mesa.

Deus abençoe, meu filho! Tudo bem com vocês? Fiquei de ligar ontem à noite, mas vi as fotos no meu zap que a Laurinha postou, e depois no face da Katniss. Céus, estou com tanta saudade!

Sorri. Minha mãe é um amor. Deve ser por eu morar longe, e ser filho único.

— A gente também, mãe, sabe que em qualquer momento, a senhora pode vir, junto com meu pai. Faz uns três meses que a gente não se vê. Fica difícil para mim por causa das aulas da faculdade, trabalhos, fora que o Lolô anda péssimo em Biologia e Física, aí todo dia eu estou estudando com ele e a Laura quando chego do trabalho. E eu sei que a senhora anda perambulando pelas ruas de Salvador com o meu pai, aproveitando o INSS. Pensa que não sei. Eu tenho FaceBook também, dona.

Ela riu gostosamente do outro lado da linha.

Meu anjo, uma hora chega a hora de se aposentar, e Deus me livre voltar a morar no Rio! Aqui na Bahia é muito melhor! Você deveria vir com o amor da sua esposa, e com os meus netos! Seu pai conseguiu um pedreiro que terminará o quarto quarto da casa, para você e a Katniss, temos o nosso, um para as crianças, e outro para os cachorros. Mas mês que vem, em Setembro, nós vamos ir aí!

Sorri. Gosto muito dos meus pais. Rapidamente, desejei um bom dia para meu pai, que também disse que sente falta das crianças, e quer nos visitar o quanto antes. Minha ligação não durou dois minutos, mas me fez ficar melhor. É muito bom ainda ter meus pais comigo, eu dou muito valor.

Voltei para a mesa, avisando baixo para Laura depois retornar para minha mãe, assim como Nicolas.

— Bom, muito bom o almoço — Conceição falou, em um suspiro, depois de um tempo, sorrindo, comendo um pouco do pudim que Katniss preparou antes de irmos para o culto hoje pela manhã. — Surpreendente que você tenha ajudado, Pedro.

— De nada, mas eu só passei o cartão mesmo — respondi, sem olhar para ela. Katniss deu um pisão no meu pé, que eu fingi não sentir.

— Engraçado — Conceição disse, venenosamente. — Pensei que nem isso fizesse, já que minha filha me contou que vocês iriam se divorciar, porque achava que você era gay, já que faz tanto tempo que sequer ficam juntos como um casal.

O quê?!Eu, meus filhos e o meu sogro exclamaram ao mesmo tempo, na medida que Katniss se engasgou seriamente com a água.

— Você o quê, Katarina?! — perguntei, largando a colher que eu me servia, quase fechando os olhos, como se isso pudesse fazer as coisas terem mais sentido em meus ouvidos. — Você disse o quê?!

Meu Deus, tenha misericórdia… — Laura murmurou, sem acreditar, enquanto Nicolas bebia da coca-cola, desviando o olhar para não rir.

— Eu… bem, Peeta… — ela ia dizer alguma coisa, ainda tossindo pelo engasgo, toda vermelha, mas sua mãe logo a interrompeu.

— Você não contou nem para as crianças, querida? Você me disse que estava desconfiada. Clove mesmo disse que era um absurdo, mas você ainda insistiu, até colocou os emojis rindo, ainda tenho seu áudio no WhatsApp, e — não consegui conter a minha raiva, me levantando furioso da mesa, indo para a sala, muito nervoso. Isso para não jogar o copo na cabeça da velha maldita. Senhor, me perdoa, mas poderia fazer uma muralha de fogo queimar ela? Por favor.

— Peeta, espera! — Katniss gritou, largando os talheres, me seguindo para a área da piscina.

— Que barraco, hein, tô pasmo, minha mãe meteu o maior caô agora, nossa — Lolô comentou, sem acreditar.

— Cala a boca, seu idiota! Fica em espírito de oração! Espírito de oração! — Laura o repreendeu alto, irritada também.

Senti passos atrás de mim.

— Peeta, não foi isso o que aconteceu, minha mãe está sendo ela, quis fazer piada e — me virei, sentindo minhas bochechas quentes.

— Você disse que me acha gay depois e todos esses quase vinte anos de casamento?! Você acha mesmo que eu estou com você por satisfação à sociedade e aos nossos filhos?! — perguntei, irritado. — Minha raiva não é sobre você ter questionado a minha sexualidade, mas depois de todos esses malditos meses, você quer botar a culpa toda em mim! Você é uma mulher insuportável, com todos os quereres, que eu acato porque amo você! Se não gostasse, não iria nem aos dois anos de casamento! Eu sou a pessoa mais sem paciência que eu conheço, e não existe nada que me prende a você a não o meu amor e admiração pela sua pessoa!

Ela ficou sem reação, entreabrindo os lábios, sem saber o que dizer. Eu senti minhas pernas querem até falhar, tamanha adrenalina pelo momento, na frente das crianças, em um pleno almoço de dia dos pais.

— Olha, foi só um mal entendido — ela continuou, tocando em meus braços, com os olhos cheios de lágrimas. — Peeta, não foi isso o que eu quis dizer, e nem ela e —

Eu nem sei, faz tanto tempo que a gente não fica junto… nem lembro a última vez que ficamos, gente… sei lá, eu não duvidaria, gente; a voz de Katniss foi ouvida na sala, pelo celular de sua mãe, paralisando nós dois. Ela ainda disse em tom de piada.

Puxei devagar meus braços de seu toque, olhando-a bem nos olhos.

— Obrigado, viu, por toda sua consideração, Katarina — falei, e ela me deixou subir as escadas para ficar longe de toda aquela humilhação na frente dos nossos filhos.

Senti as lágrimas pinicarem nos meus olhos, mas vai ser a última coisa que eu vou fazer hoje. Não vou dar esse gosto para a minha sogra.

Quase quebrei a porta do escritório, escutando a gritaria entre mãe, filha e netos, até meu sogro gritava também.

Me sentei no sofázinho, suspirando profundamente, afundando meu rosto nas minhas mãos, para não me irritar mais. Paciência e perdão, foram as mensagens de hoje. Ah, meu Deus, bem que eu estou tentando.

Mas não está dando certo.

A minha sogra nunca gostou de mim, por nenhum motivo, ela só não gostava de mim, por não gostar da minha mãe, que uma vez, quando as famílias se conheceram, não gosto de uma comida que ela tinha feito.

E ela já tentou me matar queimado, me empurrando descaradamente em uma grande fogueira que eu tinha feito, por conta da festa junina da igreja, e eu queimei minha jaqueta de couro que comprei no Canadá, quando com as crianças fomos para Vancover, passar duas semanas. Tinha todo um valor emocional, pois estávamos comemorando nosso décimo aniversário de casamento, e passamos dois anos nos programando, nossa primeira viagem internacional em família, com nossas crianças, para essa maldita jogar fora assim.

Depois, ela quase me matou envenenado, pondo amendoim na minha comida, já que eu não como carne, é muito comum eu em um almoço familiar ficar mais nas saladas, e os acompanhamentos mais básicos.

Como seu suposto pedido de desculpas, ela me serviu um prato com meus legumes favoritos, em um almoço da família, eu acreditei da praga, e quase morri, fui parar na emergência do UPA mais próximo, sem ar nenhum.

Mas eu tento evitar o máximo a presença dela, dou o meu melhor para sequer passar do boa tarde, já que sou cristão, mas é difícil. É difícil porque ela é uma legião de espíritos que querem me fazer pagar por ter nascido pecador, não há outra explicação.

Com as lágrimas salpicando meus olhos, pela situação que acaba de ocorrer, apenas peguei as chaves da moto, que a última vez que usei foi há dois meses, uso geralmente quando saio com a Laura ou o Nicolas, para algum evento que é contra-mão de ir de transporte público.

Peguei o celular, sem trocar o casaco que eu estava, descendo as escadas apressadamente, para evitar qualquer outra situação.

Pelos fundos, entrei na garagem, pondo o capacete, quando apareceu uma Katniss chorando na frente.

— Não me deixa, por favor — ela pediu, soluçando. Seus cabelos voam com o vento gelado do inverno, os fios cor de chocolate, com a blusa de frio branca, que adquiriu na nossa primeira viagem internacional sozinhos, à Nova Iorque, quando tínhamos 23 anos. Ainda fica espetacular nela, como se tivesse comprado ontem. Mas mantive meus olhos bem nos dela. Ainda usa a blusa social com manga comprida, igual de Laura.

Não falei nada, apenas liguei a moto, abaixando o olhar, para verificar se está com combustível.

No segundo que liguei, ela sentou atrás, colocando o capacete, passando os braços pela minha barriga. Suspirei, fechando os olhos, para abrí-los, antes de abrir o portão da garagem, e seguir pelas ruas.

 

Estacionei a moto em um estacionamento perto da praia de Copacabana, e ela apenas saiu, como eu, colocando os capacetes debaixo do banco, para então sairmos lado a lado, em silêncio. O céu está nublado, indicando que não falta muito para começar a chover.

Olhei de soslaio para ela, que está com os braços bem cruzados, provavelmente sentindo frio, por estarmos tão perto da orla, caminhando no famoso calçadão, mas dessa vez, pela raiva, e meus batimentos tão irritados, tão fortes no peito por conta do que acaba de acontecer, que não pensei em tirar meu casaco para aquecê-la. Infantilmente, desejei que sentisse frio, e pedisse meu casaco, para que eu pudesse negar a ela alguma coisa, depois de todo esse tempo.

Nossa caminhada suave logo foi interrompida pelo meu celular, e o nome de Laura piscou, incessantemente. Atendi.

Pai?! Onde o senhor e a minha mãe estão? Nicolas deu crise de choro, a minha avó falou umas outras besteiras e — ouvi o soluço de Lolô, que mesmo com quase 15 anos, sei que é muito sensível com tudo o que envolve a nossa família, assim como Laura também é, mas tenta ser sempre o mais forte possível para não estressá-lo, por seus problemas de saúde. Ele bem que estava tentando não rir no momento que tudo aconteceu, mas o conheço bem o bastante para saber que com certeza sua avó não soube poupar ele de besteiras, afirmando que nos separaríamos, e coisas do gênero, como já fez antes. Da outra vez, final do ano passado, acabei por prender ele na moto, urgente para o hospital, por sua pressão que chegou aos 18 por 7.

Suspirei profundamente, parando para responder.

— Está tudo bem, estamos em Copacabana, deixa ele no seu quarto, e se der febre, o remédio que está na terceira prateleira do banheiro dele — ela concordou com um “uhum”, mas pude sentir sua voz embargada. Eu mesmo quase chorei. — Laura, está tudo bem. Sua mãe está ao meu lado.

Mesmo com raiva, passei o aparelho para minha esposa, que piscava várias vezes, para disfarçar as novas lágrimas em seus olhos.

— Nós estamos bem, está tudo bem, ninguém vai se separar, Nicolas. Sua avó não sabe de nada o que fala, ela entendeu tudo errado… filho, não precisa chorar, eu estou falando, está tudo bem. Se estivesse tudo mal, eu falaria. Não fica assim, está tudo bem.

Pausa.

— Não, Laura, Laura, daqui a pouco vamos voltar para casa, só fiquem no seu quarto, pega o Frederico, que ama o Lolô, e fiquem juntos, só isso, não faz mais nada, só olha seu irmão, e acreditem quando eu e seu pai dissemos que está tudo bem. Apenas deixe por perto o remédio dele para o coração… é, esse mesmo, caso ele fique com a pressão alta.

Houve uma outra pausa, mas dessa vez terminou com um meio sorriso, e um “eu te amo”, para o aparelho voltar para minhas mãos, com a ligação finalizada.

Olhei para ela, que evitava meu olhar, mas então nos olhamos, no canto da calçada, quase indo em direção à praia. Somente agora reparei que estamos de chinelo.

— Desculpa.

Foi tudo o que saiu de seus lábios cobertos por um batom vermelho, antes de voltar a chorar, sinceramente, soluçando.

Aí me obrigou a tirá-la totalmente do caminho, puxando-a com cuidado para a areia.

— Você precisa pelo menos falar alguma coisa, sabe que o que eu mais odeio em você é essa sua cara de que está ateando fogo em seus pensamentos.

— Gostaria que fossem você ou sua mãe pegando fogo, se te agrada saber a verdade — respondi, conosco sentados na areia, com roupas sociais.

— Não é exatamente o tipo de resposta adequada.

— Não faço do tipo que mente. Nem que esconde a verdade. Ao menos estou sendo sincero. Como fui com você desde que a gente começou a namorar depois da festa da faculdade.

Outro período de silêncio, mas as palavras davam murros em meus dentes, com pontapés fortes para socar a cara dela com verdade, ao invés de usar meus punhos, mas outro lado de mim desejava que estivéssemos sozinhos, e pudéssemos consumar nosso casamento na areia.

— Todo esse tempo, eu não tentei nada por respeitar o seu espaço como mulher — falei, enfim olhando para ela, com os olhos um pouco fechados pelo vento gelado, seu nariz e bochechas fortemente corados. Olhou para mim, me fazendo enxergá-la com traços bem mais novos, como se voltássemos ao Novembro quente de 1998. O tempo voou, escorrendo-se de nossas mãos, em vão, que tentamos segurar.

Nos enganamos, enchendo mais e mais nossas mãos, mas a areia, que é o tempo, continua escorregando.

— Você me desrespeitou. Eu hoje ia falar com você exatamente sobre isso. Mas você fez o favor de expor para sua mãe, que sabe que só quer o nosso mal e o de nossa família.

Suspirou, profundamente, cansada e triste, como há um tempo eu não a via.

— Nem sei por onde começar, então escolho não entrar nesse mérito. Peeta, eu te amo tanto, e ainda desejo você na mesma medida. Simplesmente não sei o que aconteceu depois daquele show do Bruno Mars, simplesmente não faço a menor ideia, se estávamos bem. E continuamos, como se nada tivesse acontecido.

Continuei olhando para ela, prestando atenção no que dizia. Desviou nossos olhares para a areia, afundando as mãos, pegando os finos grãos gentilmente.

— Posso conversar com você sobre qualquer coisa, eu sei disso. Apenas não sei por qual motivo, não consegui ter coragem para te puxar para um beijo, para um banho, para uma noite em claro, escondido das crianças — continuou, largando a areia, batendo as mãos para afastar os grãos. — Eu quero saber se você pode me descupar por isso. Posso prender milhares de políticos, líderes de quadrilhas do narcotráfico, mas não consigo dizer nos seus olhos que sinto falta de quando nós éramos mais que melhores amigos. Sabemos que somos mais do que isso.

Suspirei profundamente, virando para olhar as ondas batendo, curvando-se, formando espumas por conta do sal, toda hora em constante movimento, cada vez mais intenso, por conta do clima, que segue mudando, nos alertando que haverá uma boa chuva mais tarde.

— Eu sei que somos. Eu já te perdoei, mas ainda estou magoado por toda essa situação. Me sinto hostilizado. Imagine se fosse o contrário, você cairia para cima de mim com todo o seu arsenal de sapatos. E isso é tão injusto.

Pude senti-la dar um meio sorriso, porém não muito.

— Katniss, o que você fez foi completamente imaturo.

Prossegui, pegando em seu pulso, sem força, apenas para fazê-la olhar bem nos meus olhos. Os dela estão completamente da cor do céu cinzento, pouco comum para nós, cariocas.

— Você e eu estamos juntos desde os nossos 17 anos, já passamos por tantas situações, que nem metade dos casais aguentam. Nós dois já tivemos que vender nosso apartamento, e viver de aluguel, dependendo das pessoas, para pagarmos aquele tratamento do Nicolas, depois que ele nasceu. Nós dois já dormimos em uma porta para as crianças ficarem aquecidas com os cobertores bons. Sem contar as outras milhares de dificuldades, e coisas fantásticas que vivemos juntos, para que exponha nossa vida conjulgal para alguém que, embora seja sua mãe, quer mais o nosso mal?

Sua respiração falhou, pelas lágrimas, ao se lembrar de tudo o que já passamos juntos. Pisquei três vezes para não deixar minhas lágrimas caírem.

— Nunca vou impedir você de ir ver sua mãe, tampouco ela ir na nossa casa, mas Katniss, o que acontece ou deixa de acontecer entre nós dois no nosso quarto e na nossa cama, fica entre nós dois. Nem Laura e Nicolas precisam de satisfação. Eu nunca expus você, nem em momentos que eu sei que deveria, mas nunca expus o que acontece ou o que deixa de acontecer na nossa cama para ninguém, nem para meus melhores amigos. Que direito você acha que tinha para fazer isso comigo?

Assentiu imediatamente.

— Eu concordo — ela disse, assentindo. — Concordo mesmo. Desculpa. Eu não sei o que deu em mim, eu estava… eu não sei. Às vezes queria tanto que nossas vidas de hoje sumissem só por duas horas, e pudéssemos ser aqueles dois adolescentes que se beijaram ao som de Vamos Fugir.

Suspirei, assentindo levemente também. No final, todos nós teremos sempre a mesma carência e desejo, voltar no tempo e aproveitar mais os momentos ideais, com as pessoas certas.

Porém nós não podemos mudar, não podemos fazer nada além de seguir em frente, nos adaptando às mudanças.

— Quer lanchar? Eu almocei super mal, estou com fome.

Perguntei, depois que ela pôs sua cabeça, por fim, em meu ombro, e a minha cabeça sobre a sua. Antes, um suspiro longo, fechando os olhos por um longo tempo.

Ao pôr-do-sol feio, pela longa chuva que estava se preparando, sua mão encontrou a minha. Quando o céu estava mais cinza e escuro, com uma tempestade mais intensa indicando que cairia logo, ela apertou sua mão na minha, e me olhou nos olhos, quando seus cabelos estavam voando, assim como o meu.

— Vamos comer alguma coisa, antes que a gente fique resfriado — assenti, mas ainda triste.

Estendi o braço para ela levantar, e ela se apoiou em mim quando o primeiro raio a distância foi escutado.

Entramos em um bistrô, um pouco mais longe da praia, fazendo nossos pedidos, e a chuva despencou lá fora.

— Quer suco de maracujá ou abacaxi? — perguntei, franzindo o cenho, olhando o cardápio vasto, mas bem restringido para um paladar quase vegano como o nosso. Eu e ela só consumimos derivados de ovos e leite duas vezes no mês.

— Vou ficar no de abacaxi, e você? — respondeu, olhando por cima do meu ombro esquerdo para ver as opções de prato.

— Também… e vou pedir esse hambúrguer vegetariano, com batata frita, posso pedir o mesmo para você?

— Não é bem o que eu quero, mas pode ser — assenti. — Passa no Habbib’s depois para comprar esfirra de queijo e pastelzinho de belém?

Ri, balançando a cabeça em negativa.

— Peço pelo iFood, e as crianças recebem, meu outro cartão ficou com a Laura de novo. É bom que peço a pizza de calabresa que o Lolô me enche a paciência para comprar.

— Mas ontem eles não comeram fast-food? O que está acontecendo com você, Pedro Santos Oliveira da Silva Mellark?

Fechei a cara ao ouvir meu nome completo, mas ela riu sinceramente, bem divertida.

— Nada, Katarina Souza Everdeen Mellark. Nada. Apenas porque a madame senhorita disse que ia deixar a comida da semana feita no congelador, mas não fez nem as compras!

Fiquei essa semana fazendo faxina, trabalhando na faculdade, buscando e levando as crianças na escola, e cozinhando. Nós funcionamos para não sobrecarregar ninguém, na semana que eu estou cuidando da limpeza da casa, incluindo a cozinha, ela quem cuida de preparar a comida, e se responsabiliza pelas crianças. Mas quando precisa viajar, combinamos que precisa abastecer os armários, e preparar a comida para os dias que passar fora.

No entanto, ela não fez isso. Foi difícil para mim, mas nada para me matar, embora tenha ficado revoltado no primeiro dia, já que é tão difícil dar conta de tudo ao mesmo tempo, mas depois não é impossível, já que ela já teve que fazer isso duas vezes, por viagens inesperadas que tive a trabalho, palestras que me convidam, pelos elogios que recebo dos alunos, dos diretores, fora que ela tem suas fases no mês, o que torna tudo um inferno maior.

Só estou jogando isso na cara dela de brincadeira mesmo. Se minha indignação fosse sincera, eu teria falado por telefone, o que eu fiz no primeiro dia, por ter precisado lançado nota no sistema, e é a pior coisa da vida.

— Não deixei porque a Laura sabe fazer arroz, e Nicolas faz um molho para carne que só ele sabe fazer. Você deveria usar essa voz que tem para botar medo ao invés de ser gentil.

Ri, fazendo nossos pedidos.

Aos poucos, no decorrer de comermos ae batatas fritas enquanto nossos hambúrgueres eram preparados, e a chuva caia furiosamente do lado de fora, voltamos a interagir, sobre talvez estar na hora de instigá-los à vida zero carne.

Rindo para cá, para lá, subiu um rapaz com menos de 23 anos, mas mais de 19 no palco, com um violão na mão, desejando boa noite. Chegou nosso lanche, com todos os acompanhamentos.

— O que será que ele vai tocar? — perguntou, com um sorriso, empolgada. Nunca vi alguém amar tanto a vida “bohemia” como Katniss.

— Espero que algo que não me faça querer chorar, ninguém merece, essa geração deprimida e sempre cansada, escondendo isso atrás dessas porcarias de sertanejo.

Ela gargalhou sinceramente, cobrindo o rosto com as mãos, atraindo olhares engraçados, o que me fez rir junto.

— Meu Deus, Katniss, olha o papelão que você tá pagando! — assentiu, suspirando, dando um mordida em seu hambúrguer, e eu fiz o mesmo.

Mas no primeiro dedilhado, vi que seria pior do que sertanejo universitário, que eu odeio, por essas porcarias ficarem na cabeça como aquela tal de Anitta, que nem é metade do que é, mas fazer o quê, se eu sou obrigado a escutar no intervalo, por uns alunos que gostam de tocar essas coisas.

Por mim, escutaria apenas alguns louvores e MPB’s bem clássicas.

Às vezes no silêncio da noite — ele começou, com a voz tranquila, como pede a música.

Mordi quase com raiva o hambúrguer, quase, pois está bom demais para eu estragar o sabor excelente mordendo a minha língua, por conta de uma música triste.

— Antes fosse Infiel ou 50 reais, seria menos deprimente que isso, vim lanchar e vou sair com depressão, francamente, que ultrajante — murmurei, resmungando, quase como um velho antes dos 40, pegando duas batatas fritas, mas Katniss se atacou com outra crise de risos, fazendo até o cantor rir no palco. A risada dela é algo escandaloso, um belo “HAHAHAHAHAHA”, tornando impossível não rir, principalmente quando o rosto dela fica tão vermelho, quase engasgada com a comida.

— Peeta, você é muito ranzinza. Não acredito que vou passar o resto da vida ao seu lado. Vou ter que te converter ao funk gospel e aos corinhos de fogo — essa foi a minha vez de rir, cobrindo a boca cheia. Me lembrei da vez que fomos em uma igreja, de visita, por termos sido convidados por um amigo, e quando começou uma música com uma batida perturbadora de bateria, uma letra estranha falando sobre divisa de fogo, varão de guerra, uma mulher começou a rodar feito um peão quebrado do meu lado, e eu a empurrei sem querer, por reflexo, assustado, pensando que ela estava possuída pelo diabo, e o Nicolas estava no meu colo, começando a chorar de medo, isso quando ele tinha uns seis anos.

Aí ela caiu, e a peruca soltou, ficando agarrada na mão de uma criancinha, mas ela continuou a rodação até bater a cabeça na cadeira, e ficou imóvel até despertar com outra música que fala de uma carruagem de fogo. Nunca mais voltamos, e é de se imaginar o motivo.

Katniss praticamente gritou ao meu lado, se contorcendo na risada, cobrindo o rosto, se lembrando do dia.

— Meu Deus, Peeta. Até hoje tentando entender o motivo de você ter empurrado aquela senhora — ela disse, secando as lágrimas, bebericando o suco.

— Ué, eu fui nascido e criado em uma igreja evangélica que não segue essas coisas pentecostais, quando vi alguém naquele estado, era manifestando um demônio, não assim. Eu fiquei assustado, porque ela derrubou a cadeira dela, lembra? E eu nem empurrei com força, foi só para a mão dela não bater no rosto do Lolô — Katniss riu, balançando a cabeça.

— Nem tento entender essas coisas… ai, ai… daria tudo para ver você voltar naquela igreja — ri, mas neguei, bebericando meu suco também.

— Tá é louco, muito satisfeito onde eu estou, obrigado.

Voltamos a comer, enquanto conversávamos, e as músicas iam agradavelmente.

Apareceu alguém para tocar no piano, junto com o rapaz, e iam em músicas clássicas, até Evidências cantaram, e todo o bistrô, bem frequentado neste horário, cantou junto, inclusive.

Nós sem querer nos aproximamos mais, já que a mesa era de frente para um sofá acoplado para duas pessoas, de uma forma bem intimista, clássica, como se fosse dos anos da discoteca nos Estados Unidos, com o assento vermelho. Possibilitou que gradativamente, conforme conversávamos, ao som de músicas clássicas que gostamos, como Onde Anda Você, que é uma das nossas favoritas, cantamos a música toda, entre o lanche.

Hoje eu saio na noite vazia

Numa boemia sem razão de ser

Na rotina dos bares

Que apesar dos pesares

Me trazem você

 

E por falar em paixão

Em razão de viver

Você bem que podia me aparecer

Nesses mesmos lugares

Na noite, nos bares

Onde anda você

 

Sem sentir, fomos nos aproximando, pela facilidade de fazer isso. Pedimos uma sobremesa grande, um sorvete de banana split, mas já estávamos nas colheres finais quando a batida mudou completamente.

— Quem conhecer a próxima música, está intimado a nos acompanhar — o rapaz simpático falou, sorrindo, ele realmente tem muito talento.

— Depois dessa, podemos ir para casa — Katniss disse, sorrindo torto, parecendo estar em paz. Eu também estou, e não só pareço. Estou mesmo em paz. — Laura disse que deixou dez esfihas.

— Claro, né, pedi trinta, e eles fizeram o favor de comer as outras vinte.

Ela riu, se acomodando melhor debaixo do meu braço, que passava por seus ombros.

 

Seja eu, seja eu
Deixa que eu seja eu
E aceita o que seja seu
Então deita e aceita eu

 

Meu coração disparou, é a música da nossa lua-de-mel, que passamos em Búzios. Marisa Monte tocava nos rádios em um luau na praia, enquanto íamos para o quarto juntos pela primeira vez.

Quis poder ver o rosto de Katniss agora. Mas o fato de ter se endireitado, deixando meu braço ir para meu colo, significa muito mais. Ela lembra.

 

Molha eu, seca eu
Deixa que eu seja o céu
E receba o que seja seu
Anoiteça e amanheça eu

 

Continuou, e as pessoas cantavam, mas eu não tenho forças, agora, o refrão.

 

Beija eu, beija eu
Beija eu, me beija
Deixa o que seja ser

Peeta... — Katniss chamou minha atenção rapidamente, pegando em minha mão. Olhou nos meus olhos, e pareceu tão frágil como nossa coleção de taças de cristais que ganhamos de um casal de amigos.

Dei um meio sorriso, tirando uma mecha de cabelo que insiste sempre em cair em seu rosto, e beijei sua bochecha.

No tempo que você quiser, quis dizer. Mas seu olhar elétrico e cheio de perguntas não significa que quer que eu beije sua bochecha. Nem eu queria tê-la beijado na bochecha, não com lábios tão lindos, em sincronia total com seu rosto oval, simétrico mesmo quando não quer, quando joga seu cabelo volumoso sem esforços para um lado.

Por que é tão linda, Senhor? O tempo a valoriza, assim como uma jóia.

 

Então beba e receba
Meu corpo no seu
Corpo eu, no meu corpo
Deixa, eu me deixo
Anoiteça e amanheça

Sentindo que ela permitiu que eu desse outro passo, larguei a colher, e fiz carinho em sua nuca, aproveitando que todos os olhares estavam no palco, apagando as luzes da nossa mesa, para dar ênfase ao casal que cantava.

 

Seja eu, seja eu
Deixa que eu seja eu
E aceita o que seja seu
Então deita e aceita eu

 

Poder beijar sua boca depois de tanto tempo, quase me fez chorar, internamente me assustando com a eletrecidade de nossos corpos juntos dessa forma. É como se eu voltasse à festa da faculdade, onde nos conhecemos em uma barraca que vendia algodão-doce, eu fugindo dos meus amigos que insistiam em querer me arranjar alguém para eu dar meu primeiro beijo, enquanto ela estava lá por gostar mesmo do doce que faz mal à saúde.

Depois disso, fomos conversando, como se fôssemos melhores amigos há anos, até que no meio da dança e dos risos, mesmo sem saber como acontece, eu a puxei para um beijo, bem no meio da música, e ela se deixou ser beijada, ao se afastar, sorriu, e me beijou de novo, enquanto Vamos Fugir tocava. Foi há quase 20 anos atrás, mas é como se fosse hoje, agora, ao poder sentir seus lábios nos meus, bem quando é cantado beija eu, beija eu, me beija… beija. Nos separamos rápido, beijando-a outra vez, mal dando tempo de pensar. Perdi a memória, só me lembrei de beijá-la, e prolongar esse momento ao máximo possível.

Agora, porém, é quase o mesmo sentimento, mas uma redescoberta. Antes nos descobrimos, hoje, estamos refazendo esse processo.

Da mesma forma como foi anos atrás, não muito longe daqui, deixou que eu continuasse, entreabrindo os lábios, fazendo um carinho gentil na mão que eu acariciava seu rosto sempre com pouca maquiagem, ou nenhuma.

Hoje, não usa nada mais que um batom.

Suspirei, ainda a beijando, nos aproximando mais, enquanto a música ressoava sem cortes.

E ao me afastar um pouco, ela veio novamente, agora, intensa como a chuva lá fora. Sorri, retribuindo da forma mais sincera possível, o beijo no ritmo da música suave, porém constante aos nossos ouvidos, embora meu coração retumbasse aceleradamente.

— Vou pedir a conta — falei, assim que nos separamos, mas ainda com nossos lábios um pouco colados, tendo seu sorriso como resposta. Mal sei o quanto deixei de gorjeta aos cantores, mas sei que foi ótima.

Saímos enquanto ainda tocava, com nossos dedos entrelaçados, os sorrisos no rosto, em um silêncio de palavras, mas uma surra de sentimentos, acelerando os batimentos cardíacos. Toda nossa intimidade de amigos, que somos, realmente, acima de tudo, me faz ter a convicção de que ela sente exatamente o mesmo que eu.

Mal notei a moto molhada, ela apenas colocou o capacete como eu, nós sem dizer alguma coisa, nada apenas de escrever para as crianças não se preocuparem.

O caminho para casa, pareceu mais curto do que quando viemos, em energias totalmente negativas, opostas. Agora, até ultrapassei os sinais, por saber bem onde tem radar, sentindo sua risada gostosa vibrar em meus ouvidos.

Quando chegamos, os cachorros não vieram, como de costume, já que com certeza estão enfurnados na cama de Laura, que disse estar com Nicolas.

Mas ao estacionar a moto, no fundo, desejei que tivéssemos demorado um pouco mais. Mas ela mal me deixou pensar, quando tirei o capacete, ao sair de cima da moto, me puxou, passando os braços ao redor do meu pescoço, aproveitando nossas alturas não muito discrepantes, ainda mais sem sapatos.

— Te espero no quarto — disse, apenas, bem baixo, pegando os chinelos, deixando em cima da bancada de sapatos, lançando um sorriso torto e inocente, embora as intenções fossem totalmente diferentes.

Sorri também, esperando ela sair de vista, para erguer os braços, agradecendo a Deus.

Subi, indo avisar as crianças que chegamos bem.

— Onde estavam? — Lolô perguntou, sonolento, abraçado a Geralda, que apenas esticou uma patinha ao me ver, ambos assistindo ao Disney Channel, enquanto Frederico estava na almofada no chão, e Carmem bem confortável na barriga de Nicolas.

— Na praia… e depois fomos lanchar. Como vocês estão? — perguntei, entrando no quarto. Mesmo com o que me espera no meu quarto, me preocupo com as crianças. No meio tempo que guardei o capacete e pus dentro de casa as coisas dos cachorros, já que a agora há uma garoa com um vento frio o suficiente para saber que pode dar uma pneumonia em um piscar de olhos, Katniss com certeza passou aqui antes.

Sua independência não muda a devoção e o amor de ser uma mãe presente, independente de seu cansaço e obrigações. Não sinto muito por fazer tudo o que posso, mesmo quando não posso, para agradar a ela, e tirar ao máximo suas preocupações.

— Estamos bem… Nicolas esfregou ketchup em mim, mas comi dois pastelzinhos de belém dele — Laura respondeu, também sonolenta, deslizando o indicador preguiçosamente na tela grande do celular, aberto no Instagram. — Já estamos indo dormir. A mãe do senhor ligou, e disse que está sentindo nossa falta.

— Ok… boa noite, crianças. Vocês não precisam ir para a escola amanhã.

Assentiram, agradecidos (especialmente Lolô, que ainda deu um soco no ar, comemorando), mandando beijo, enquanto apaguei as luzes, e Laura colocou o telefone na gaveta, para dormir logo, mesmo sendo oito da noite, o dia foi desgastante.

Fechei a porta, suspirando.

Abri a porta, um pouco tenso, mas não encontrando nada além da porta do banheiro aberta, tocando Garota de Ipanema. Sorri torto, de forma carinhosa. Pude ver a sombra do corpo de Katniss debaixo da água quente, tomando banho. O vidro é preto temperado, e pela água bem aquecida, sua silhueta bem marcada já é uma sombra.

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, se ela soubesse

Que quando ela passa

O mundo inteirinho se enche de graça

E fica mais lindo

Por causa do amor

Desfazendo-me das minhas roupas, largando no cesto, como ela fez com as dela, sorriu ao me ver, tranquilamente. Ela está absolutamente tranquila. E eu também, mesmo sem saber o por quê.

Mas em um instante depois, seu corpo estava contra a parede gelada, em um sorriso sincero, como o meu, em um beijo ainda mais intenso que o do restaurante.

— Nunca pense que eu me canso de você — falei, pouco antes de nos completarmos, debaixo da água. — Por favor, não pense nunca isso ao meu respeito sobre você, Katniss.

Abriu seus olhos, cinzas, em contraste com a cor da pele, e do cabelo, que molhado, agora parece preto.

— Só me ama, por favor, e não me permita esquecer disso — sorri, a beijando cuidadosamente, como se fosse se quebrar caso eu agisse com mais brutalidade.

Ao sentir nossos corpos em todos os pontos juntos, fazendo-a ficar enlaçada a minha cintura, apenas com um impulso leve, e eu mal pude falar, nem ela.

Escondeu-se em meu pescoço, quase em um abraço, e só saia de nossos lábios o que era conveniente ao momento.

Não sei quanto tempo passamos ali, mas ainda não foi o bastante.

O rádio continuou tocando, indo para Beija Eu, a música do restaurante. Nos envolvemos com uma toalha, mas antes de cairmos na cama, tirei dela, beijando seu pescoço, seu rosto, como se levasse à risca o que a música diz.

 

Molha eu, seca eu
Deixa que eu seja o céu
E receba o que seja seu
Anoiteça e amanheça eu

 

Anoiteça e amanheça eu... — murmurou, tendenciosa, sorrindo, enquanto eu beijava seus ombros, em uma trilha. Sorri também.

— Quantos dias e noites você quiser, amor.

 

Beija eu, beija eu
Beija eu, me beija
Deixa o que seja ser

 

A música seguia, e continuávamos o que iniciamos no banho. “Banho”.

Cada encontro entre nós era como uma colisão pura e suave de universos. Seus suspiros, aos meus, simplesmente era melhor do que as batidas gentis da música. Não havia início dela, ou meu, não dava para saber onde nos acabávamos, íamos, simplesmente, em explosões de emoção em determinados momentos.

E eu a beijava, beijava e beijava mais, até não poder mais pensar em qualquer coisa a não ser beijá-la, tocá-la. Fizemos isso até nós dois cairmos no sono, um ao lado do outro.

— Você me olha como se eu fosse uma obra de arte — ela disse, com o roupão, na manhã seguinte, depois de acordar antes de mim, e preparar a mesa para as crianças, não para nós, nos trancando no quarto, mesmo com a luz forte e generosa do sol, às oito da manhã, como se não houvesse chuva, porém o vento gélido mostrava que mais de 18°C hoje, não fazia.

Sorri torto, vendo-a lentamente desfazer o laço no roupão. Sei exatamente onde quer chegar. Já que acordou antes de mim, nem me dei o trabalho de vestir alguma coisa, por saber que Nicolas e Laura não entram aqui a menos que sejam chamados.

Sentado na nossa cama grande, pude apenas rir, mas não com maldade, mas a cada passo delicado dela, que praticava ginástica olímpica até os três anos de Laura. Parou pela falta de interesse. Mas manteve toda a elegância de uma atleta genuína que é.

— Quem te disse que você não é uma obra de arte, Katniss? — perguntei, olhando para seu rosto sem maquiagem, puro, delicado, mesmo com o tempo e os stress da vida de uma mulher do século XXI dando traços a sua pele.

— Ninguém ousaria desmentir algo que seus olhos gritam — sorri, vendo ela abrir o roupão, mesmo com as cortinas abertas, a janela é anti-reflexo e dá para uma enorme macieira. Perdi o fôlego, admirando corpo, com algumas marcas que deixei durante essa madrugada.

Com cuidado, sem se insinuar, puxou o edredom que estava cobrindo minha cintura, desafiadoramente olhando nos meus olhos azuis-claro.

Subiu na cama, e veio até mim, perto de nos juntar novamente, de joelhos, mas mais alta do que eu.

— Eu amo você — falei, antes que pudesse falar, pus as mãos em sua cintura, enquanto as dela em meu rosto.

Assentiu, beijando minha boca.

— Eu te amo mais — respondeu.

— E eu te amo muito mais — rebati, mantendo nossa “tradição”. Foi o suficiente para ela nos juntar com tudo, de uma só vez, sem erro, agradecendo pelas crianças ainda estarem dormindo, ou com fones de ouvido no máximo a esta hora, embora pudéssemos acordar toda uma vizinhança com nossos barulhos. Foi um milagre não termos recebido alguma advertência das crianças, que já sim reclamaram de barulhos contínuos no quarto.

É algo para se preocupar, mas agora eu não pude pensar em nada.

Num movimento, nos inverti, passeando a mão por sua coxa, deixando mais marcas leves, tendo sentido falta de poder desejá-la dessa forma também. Num casamento, isto também está envolvido.

Nós não poupamos sons, então entre uma e outra junção, coloquei para tocar músicas bem alto, nos deixando ainda mais à vontade. Principalmente quando tocou Vamos Fugir, nós continuamos como se fosse a última vez, explodindo com sorrisos no meio música, mas mantendo toda nossa agitação.

Vamos fugir
Pr'outro lugar, baby!
Vamos fugir
Pr'onde haja um tobogã
Onde a gente escorregue

Vamos fugir deste lugar, baby!
Vamos fugir
Tô cansado de esperar
Que você me carregue

— Eu deveria estar cansadíssima, mas sempre encontro energias — disse, sorrindo, trabalhando, com nossas posições invertidas. Mal dava para cansar, com todos os sorriso, revezamento entre algo mais calmo, outros mais carnais, dávamos certo, e nos encontrávamos ainda mais com nossas mãos entrelaçadas, compartilhando um sorriso.

Pra onde quer que você vá, que você me carregue — cantou, beijando meu ombro, inclinada sobre mim, quando depois de algumas músicas, repetiu Vamos Fugir. Ao seu lado, deitado na cama, enfim sentindo o cansaço tomar, depois de uma madrugada com apenas três horas de cochilo.

— Você me faz sorrir mesmo quando eu quero me desesperar — falei, fazendo carinho em sua nuca, com algumas marcas novas, que sairiam só com uma boa maquiagem, como as que deixou em mim, que são bem piores. Sorri. Até parece que eu me importo.

— Bom, é válido que saiba que sinto o mesmo — assenti, afagando seus cabelos bagunçados.

Dois toques na porta, me assustaram, assim como ela, nos arrancando da nosaa bolha pessoal.

Mãe! Pai! — Laura exclamou, por cima da música. Dei pause logo que localizei o celular ao lado da cama.

— Oi, filha! — respondemos juntos.

— Nada, era só para saber se está tudo bem… eu e Nicolas vamos passear com os cachorros, ok?! A Maria Clara e o Rodrigo vão com a gente!

Avisou, tranquila. Maria Clara tem 18 anos, e o Rodrigo, 14, a idade de Nicolas. São um dos poucos colegas que eles tem, que realmente são próximos. Clara e o irmão são crianças excelentes, e sabemos que não são más companhias, somos amigos dos pais deles também.

— Ok, mas leva o seu celular e tomem o café da manhã que eu deixei pronto!

— LAURA JÁ COMEU TUDO! — Lolô gritou, provavelmente do final do corredor.

Eu comi as esfirras que sobraram, seu vagabundo!

— JUSTAMENTE O QUE EU FALEI QUE ERA MEU, MADAME! — Comecei a rir, igual Katniss.

— Ah, tanto faz, cabeçudo. O que você tem de beleza, tem de burro. Sai daqui, vai comer logo pão, sei lá. Está querendo ficar gordo mesmo, então engorda direito.

— TÁ OUVINDO NÉ MÃE? PAI! OLHA SÓ A LAURA ME BATENDO!

— Vocês querem que eu desça aí e resolva?! — Katniss perguntou, com uma voz irritada, mas eu estava fazendo carinho em sua cintura, deitada de frente para mim, pude ver o sorriso de perto, se contendo para não rir.

— Não, mãe… — disseram juntos. Os passos foram se afastando, até de longe ouvirmos os latidos animados de Geraldinha, Carmem e Frederico.

— Vamos, vamos tomar café da manhã, tenho algo para te dar — falei, sorrindo, pegando uma peça íntima minha que estava perto da cama, para sair. Katniss só vestiu o robe de linho, na cor limão, que marca seus seios bonitos, me seguindo abraçando minhas costas, descendo junto comigo.

Sorrimos mais, ao assistir ao programa do Shoptime, só para passar mais o tempo. É um dos nossos hobbies, assistir canais de compra, mesmo sem estarmos precisando de alguma coisa em casa.

— O que planeja me dar, hein? — perguntou, tentando descobrir o que tem dentro dos bolsos da calça de moletom que vesti. Continuei sem camisa, mas pus uma calça pelo frio. Ela continuou com o robe, oara me provocar.

— Bem, tive ajuda das crianças. Me custou paciência, o que torna esse presente inegociavelmente seu — comecei, deixando seu cabelo todo atrás do ombro. O cabelo está totalmente desordenado, porém ainda tem cachos muito bonitos.

— Ah, pronto… — ri, assentindo, tirando a caixa do bolso. Uma caixa pequena.

— Nossas alianças de casamento, como você mesma e eu concordamos, são de ouro, mas são finas — assentiu, não parecendo entender. — E você reclama porque se esquece de usar novos acessórios.

— Sinto sim — confirmou, me fazendo sorrir.

— Pensando nisso… — abri a caixinha vermelha, na mesma medida que ela abriu a boca, sem acreditar. — É um anel de ouro branco, com essa pedrinha rosê. É uma jóia, mas eu esqueci o nome, desculpa…

Riu, balançando a cabeça, emocionada.

— Para usar junto, no seu anelar da aliança. Como meu presente especial. Sei que nosso aniversário de 19 anos é apenas em quinze dias, mas eu quis te dar agora. Eu amo demais você. Você é amor da minha vida, e eu sou certo disso desde o dia em que vi você. Eu sou apaixonado por você, Katniss. Queria poder fazer o mundo saber disso, porque meu amor não vai ser passageiro. Nando Reis provavelmente se inspirou em nós. De Janeiro a Janeiro, enquanto eu viver, eu vou fazer o possível para você se sentir a mulher mais louvada desse mundo. Depois da Laura, é claro, porque eu tenho que ensinar a ela como alguém deve tratá-la, e fazer o Nicolas ver como tratar a futura namorada… — riu sincera no final, concordando, com lágrimas novas surgindo em seus olhos, mas não a quero chorando. — Eu amo muito você. Ainda que nunca mais pudesse te tocar, eu ainda te louvaria todos os dias. Eu ainda te acharia linda. Ainda te acharia extraordinária. Poder tocar em você como toco hoje… — fiz carinho em sua bochecha. — É apenas uma forma de demonstrar. Uma forma mais simbólica, que podemos fazer com o corpo. No dia que eu não puder mais demonstrar assim, vou usar todo o dicionário para te dizer. Todos os carinhos para te dar. Toda a energia que eu tiver para arrumar essa casa. Todos meus neurônios para resolver qualquee problema e impedimento no seu trabalho. Eu sou seu. Minha vida é sua.

— E a minha é totalmente sua, Peeta.

Respondeu, se inclinando para um outro beijo. Somos cristãos, então é claro que nossas vidas para o Senhor acima de qualquer circunstância, de qualquer situação, mas depois dEle, a ela devo minha dedicação, ao lado dos meus filhos. Ela teme ao Senhor, cuida de mim, cuida de nossas crianças. O mínimo que posso fazer é louvá-la por ser melhor do que eu mereço. Muito melhor. Ela é extraordinária. E a lembro isso todos os dias.

Ao nos separar, pude ver as lágrimas pesadas.

— Eu ainda não terminei… — continuei, sorrindo, por seu rosto de surpresa. — Tem mais. Mas antes…

Peguei o anel fino também, mais do que a aliança padrão que têm, semelhante a minha, e deslizei por seu anelar, em um encaixe perfeito.

Beijei sua mão, como na cerimônia na igreja.

— Bem, esse presente, é bem adiantado, nas possui significado igual. Demonstrar que eu me importo com o que você gosta. Aqui — passei para ela um envelope com os ingressos para assistirmos Tiago Iorc, um dia antes de seu aniversário.

— Peeta… — seus olhos ficaram em um tom quase tão azuis como os meus. — Obrigada.

A puxei devagar pela cintura, selando seus lábios com um selinho.

— Isso foi o que Laura e Nicolas me ajudaram a escolher, disseram que é o que queria, eu apenas disse o significado. Mas tem algo que Laura, em particular, me ajudou a escolher.

Tirei do meu bolso de trás, a pulseira personalizada da Pandora, com seis pingentes. Não é algo que, infelizmente, ela possa usar em qualquer lugar aqui no Rio de Janeiro, mas para quando ela se sentir à vontade. E me quiser por perto através de algo material além da aliança e do novo anel.

— Sei o quanto gostava daquela sua pulseira que te dei com o meu primeiro salário, e que você estava acumulando um pingente a cada situação boa na nossa vida, mas perdemos naquele assalto… — continuei, e ela prestando atenção, sem poder ver a pulseira ainda. — Você tinha doze pingentes, a maioria deles das viagens que fizemos, esse eu não consegui repor. Com certeza vamos ter novas oportunidades… mas aqui, essa tem similares originais de quando te pedi em namoro, da nossa viagem para búzios na lua de mel, da gravidez da Laura, sua formatura, a gravidez de Nicolas, e nossa primeira viagem para o exterior.

Respectivamente, um pingente de um coração, um carro, uma menininha, um chapéu de formatura, um menino, e um avião.

Katniss começou a chorar, tocando em cada pingente, me deixa emocionado também. No fundo, pensei que ela não fosse gostar. O assalto que nos fez perder um carro, dois anos atrás, foi muito traumatizante. Um arrastão na linha amarela, levou tudo nosso, mas felizmente estamos vivos, assim como as crianças, que estavam no banco de trás. Depois dessa situação, ela não quis mais nada de valor no corpo além da aliança de casamento.

Porém esses presentes são tão singelos. Tão puros.

— Eu amo você, amo demais você, Peeta, eu não poderia gostar mais desses três presentes, obrigada, amor — falou, não queria vê-la chorar.

Shhhhhhh, eu não te quero chorando, te quero sorrindo, você é o amor da minha vida — falei, sem medo, com seu rosto entre minhas mãos, de frente para a bancada da cozinha.

— Sou tão apaixonada por você — falou, sem rodeios, se inclinando, me beijando, e eu a beijei de volta. Não vamos precisar do rádio, com as crianças fora de casa, e as portas fechadas.

Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar

E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar

Também não é sobre

Correr contra o tempo pra ter sempre mais

Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás

Carreguei ela no colo para o sofá grande da sala, desligando a televisão, deixando cair o controle no chão, sem me importar se quebrou ou não, sentindo sua risada vibrar, junto com a minha, enquanto minha calça logo caia ao nosso lado, e seu roupão era aberto rapidamente no sofá, nos expondo um ao outro.

Não temos muitas preocupações com as proteções, por, há três anos, quando ela desconfiou estar grávida, nós ficamos preocupados, embora fôssemos lidar tranquilamente, prontos para amarmos um outro filho, mas junto com um medo muito grande, por estarmos na casa dos trinta, e cuidar de uma criança, criar com tudo o que uma criança precisa, requer todas as nossas energias e esforços, coisa que a gente já tinha passado com nossos filhos, embora não tenham sido planejados, nenhum de nós poupou a si mesmo para dá-los o melhor. Poderíamos dar uma condição ainda melhor para um novo bebê, mas a questão era de ter que reiniciarmos todo um processo, que envolve muito mais que dinheiro. Aceitaríamos na mesma hora, pois no fundo eu e Katniss queríamos sim um terceiro filho, que viria em um momento bem mais calmo e estável de nossas vidas, seja emocional, espiritual, financeiro. Ficamos no meio a meio sobre como lidar, a princípio, com a notícia.

Em uma nuance entre o bom e mau,  ela não estava, realmente, mas depois de seis meses analisando a proposta médica, tendo em vista nossa situação, depois de muito conversarmos, principalmente com Laura e Nicolas, sobre a opinião deles, resolvemos nós dois operarmos para não corrermos na chance de termos outro filho. Laura estava com quase quinze anos na época, e Lolô logo atrás, com onze, bem no início da adolescência, uma fase completamente nova para nós, que seria melhor darmos toda nossa atenção, manter o foco neles dois. Um bebê não nos faria negligentes, mas talvez não permitiria dar todo o suporte que eles fossem precisar, de frente a decisões sérias como quanto aos relacionamentos, vida acadêmica, espirital.

Mesmo não tendo os planejados em cada momento de nossas vidas, e ter tornado os primeiros anos de casamento uma correria e desgasgantes fisicamente falando, nós dois temos histórias maravilhosas com as crianças, que também têm conosco, mesmo aos trancos e barrancos, nos unimos contra as adversidades da vida, vivemos a infância deles, e estamos vivendo essa adolescência mesmo que bem estressante na maior parte das vezes, eu não me arrependo de algo que tenha deixado de fazer. Um filho mais novo agora seria mais como podermos ter mais calma e sossego, sem toda a pressão das contas, família nos acusando por sermos novos demais, e mal podíamos dar o que tinha qualidade às crianças. Demos, mas aja jogo de cintura para isso.

No final, graças a Deus, deu completamente certo. Improvável, mas deu certo. Fizemos funcionar. Eu operei, para evitar que Katniss continuasse com anticoncepcionais, que fazem um tremendo mal à saúde, e logo depois, ela insistiu, e eu deixei que fizesse também uma cirurgia, que dá mais que 100% de tranquilidade à nós dois.

Então nós ficamos bem mais a vontade, incluindo para nossos momentos mais íntimos, sem aquela preocupação de cumprir com tabela, ou coisa do tipo, simplesmente ficamos mais confortáveis, e Katniss foi quem mais sentiu positivamente foi ela, em questão de disposição para viver, se alimentar. Triste não termos feito isso antes.

É impressionante como eu não me canso de você — murmurou, puxando meus cabelos, que ela tanto ama, me trazendo para ainda mais perto, em um beijo sufocante, nós à beira de chegarmos , juntos, com toda disposição de todo esse tempo que nos evitamos. Mas mesmo que tivéssemos passado esse tempo bem, sempre fazemos dessa forma.

Por favor, vem comigo — pediu, sofregamente, e eu sentiria dor, se não estivesse tão preocupado com nossa situação, ofegantes, entregues, no sofá da sala. Sorri, ainda sim, satisfeito por vê-la se encontrando da mesma forma que eu.

— Agora… — respondi, beijando seu ombro nu, sentindo seu sorriso, quando fomos ao mesmo tempo, nos acelerando ainda mais, em busca de outro, perto de irmos novamente para fora dessa atmosfera, quando a porta grande da entrada, que fica antes da cozinha, que não permite ver o sofá de primeira, se escancarou, com os três cachorros entrando em casa cansados, mas animados.

— Mãe? Pai? — Nicolas chamou, caminhando diretamene para a cozinha, o que possibilitaria nos ver, e eu quase cai para o lado, por tudo ter acontecido ao mesmo tempo, do nada.

— Ah! — Katniss disse baixo, mas tão fervorosamente, que parecia um palavrão.

Num vulto, nos separamos, eu vestindo a calça de qualquer jeito, e ela caindo do sofá, amarrando o robe.

— Onde vocês estão?! — Laura perguntou, enquanto eu e Katniss passávamos na direção contrária, eu puxando sua mão, quase rindo de nervoso, por nossa situação.

Subimos as escadas mais rápido que qualquer coisa, entrando no escritório, que era a primeira porta, ainda mais ofegantes.

Me sentei na mesa, com uma mão no peito, outra na testa, acelerado demais para poder falar.

— O que foi isso? — ela murmurou. — Eu acho que vou passar mal.

— Já está pálida, fica calma, espera eles pararem de gritar, que você passa para o nosso quarto.

Assentiu, mas como se tivesse visto o demônio em sua frente, quando nos olhamos nos olhos, e veio uma crise serríssima de gargalhadas nossas.

— Ah, céus! Como isso pôde acontecer?! Eu jurava que iam demorar pelo menos uma hora! — ela disse, rindo, vindo para perto de mim, divertida, mas de nervosismo, assim como eu.

— E eu vou saber?! — respondi, da mesma forma, jogando a cabeça para trás. — Se tivéssemos deixado a TV ligada em tom alto, estaríamos perdidos, não acha? Nossa, ia ser muito pior, se eles nos tivessem visto daquela forma.

Ela riu ainda mais alto, me fazendo ficar da mesma forma, abraçando-a com um braço, trazendo sua cabeça para o meu ombro, e com a outra mão vaga, tentei arrumar a bagunça que continuava desde a noite passada, ainda nem tive tempo para pentear meu cabelo, que graças a Deus não cai, como com q maioria dos meus amigos.

— Ainda bem que fomos mais rápidos… ou estaríamos perdidos de todas as formas. Que escândalo seria.

Escândalo é o que estávamos fazendo — retrucou, audaciosa, me olhando com esses seus olhos tão cinzas, mas que adaptam-se ao verde ou azul em um literal piscar de olhos.

Pediu para ser perfeita, e acertaram em cheio.

— Hm, sim, realmente, mas… — Nossos corpos ainda estão a mil, é claro. Não posso sair daqui ir falar com eles sem antes tomar um banho bem demorado. — Queria continuar, mas vai ser falta de respeito, fora que eles vão encher o saco até conseguir falar com — fui interrompido por três toques calmos.

— Pai, o senhor está aí? — Laura perguntou, com uma voz um pouco cansada pela caminhada.

— Sim, filha, precisam de alguma coisa? — perguntei, sem abrir a porta, continuando sentado na mesa, e Katniss abraçada a mim, de pé.

— Não, não precisamos não. Era só para saber quem ia fazer o almoço, aí eu e o Lolô queríamos perguntar se nós dois podemos fazer. Peguei uma receita agora com a Maria Clara, muito boa, de macarrão com salsichas veganas. Tem já prontas, mas ela me deu uma dica para o molho, e Nicolas disse que vai me ajudar… podemoa fazer?

— Sim, pode sim, florzinha — respondi, sentindo Katniss mexer com as minhas costas. — Fiquem à vontade. Acho que tem meio quilo de salsicha vegana que eu e o Nicolas fizemos na semana passada, tudo no congelador.

— Então vou fazer metade pro almoço e jantar, valeu — e se afastou, permitindo nós dois suspirarmos profundamente em alívio.

— Depois de hoje, só no nosso quarto — ela decretou, enquanto saíamos, depois de acalmarmos nossos corpos com uma outra sessão na mesa do escritório.

Tranquei a porta do nosso ambiente, enquanto no caminho para o banheiro, ela deixou o roupão cair, balançando os fios longos, como uma cascata de chocolate.

— E quando diz nosso quarto… — comecei, em seu ouvido, beijando sua nuca, a virando de frente para mim, antes de podermos entrar na banheira grande do nosso banheiro. — Inclui qualquer lugar nele?

Sorriu, como uma adolescente.

— Mas é óbvio que sim.

E lá fomos nós, outra vez.

Depois de tudo, nos recompondo, fomos almoçar com as crianças, rindo, como a família boa que sempre tentamos ser.

A gente não ri o tempo todo, acredito que hajam mais lágrimas do que risos, durante a vida, mas não é algo que pese tanto  assim para a gente. Sempre estamos no final do dia um pelo e para o outro. Laura deixou assando um bolo de chocolate vegano, enquanto Nicolas e Katniss cuidavam do recheio, enquanto eu e ela colocamos Friends para passar na Netflix. É a única série que assistimos todos juntos. Estamos na terceira temporada.

Quando tudo ficou pronto, nós quatro nos sentamos no grande sofá da sala, com um cachorro no meu colo, a Geraldinha, Frederico deitado no pescoço de Nicolas, a outra no pé de Katniss, e eu me senti completamente feliz. Somos uma família, e eu vou sempre fazer de tudo para estarmos bem, e sempre juntos.

Katniss entrelaçou seus dedos aos meus, me fazendo sorrir, beijando sua bochecha, e ela deitou sua cabeça em meu ombro. Agradeci por tê-los, e nada mais importava a não ser esse momento de todos em paz.

Segura teu filho no colo

Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui

Que a vida é trem-bala parceiro

E a gente é só passageiro prestes a partir

Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá

Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá

 

 

Feliz dia dos pais!


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Notas finais do capítulo

hmmmmmmm, e então, pessoal, eu espero muito que tenham gostado, espero que não tenha sido uma leitura muito pesada, por causa da grande quantidade de palavras, eu juro que tentei cortar o máximo possível, não sei mesmo o que aconteceu, eu nem senti kkkkkkkkkkk amei muito escrever, e estou feliz demais por estar podendo compartilhar isso com vocês, é especial demais! ♥
Gostaria de agradecer a todos que leram, e um agradecimento mega especial à Bel, que me convidou, e a Thayná e a Mari, que me incentivaram ainda mais nesse projeto, que está legal demais, demais, demais, eu me sinto muito feliz de poder estar articipando outra vez! As palavras não são suficientes para expressar o que estou sentindo.
Espero que tenha entretido vocês, que tenha trazido reflexão sobre relacionamentos familiares, amorosos, enfim, foi muito legal escrever isso, e espero que tenha sido para ler, não sabem a alegria que tenho de poder estar compartilhando isso com vocês! ♥
Um forte abraço, um ótimo dia dos pais, por mais momentos com a família reunida, colocando de lado pensamentos políticos, eocnômicos, futebolíscos, enfim kkkkkkkkkkk a nossa vida passa rápido demais para a gente ficar com mágoa, com raiva, o Senhor nos deu uma vida só, e é para a gente viver ela da melhor maneira possível, aproveitando cada parte.
Gostaria muito de saber o que vocês acharam!!!! Fiquem a vontade para comentar, ou mandar uma mensagem, estou super empolgada! Um beijão, pessoal! ♥



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