Genderswap escrita por Ero Hime


Capítulo 4
A primeira luta


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeei meus pitchuquinhos!
Aproveitando o feriado, e escrevendo entre um filme e outro que a Bruna me recomendou e agora eu preciso ver todos, escrevi mais um capítulo de Genderswap. Essa fic vai ser bem simples, eu estou adorando escrevê-la. Vai ter uns dez capítulos, eu acho, então espero que gostem também! Fiquei super feliz que tenham gostado do último capítulo, fiquei com medo de não ter ficado bom como eu queria, mas vocês deixaram comentários lindos, então MUITO obrigada!
Não deixem de dar uma olhada nas minhas outras bebês, Quimera e Heroína ♥



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—Capítulo IV–

Não é a vontade de vencer que importa – todo mundo tem isso. O que importa é a vontade de se preparar para vencer.

Naruto e Hinata não sabiam se aquilo ia dar certo – suas esperanças se esvaíram no primeiro momento em que começaram a treinar. O sol estava ao pino, iluminando toda a campina afastada dos muros de Konoha. Hinata decidiu que seria melhor que ela aprendesse os movimentos básicos, uma vez que se encontraria com a hokage-sama pela tarde, e Naruto poderia esperar até o dia seguinte, quando teria o temido encontro com Neji. Mas as coisas não estavam indo como planejavam. Hinata não conseguia concentrar chakra suficiente para executar os jutsus mais simples. Não era por falta de sentir — ela conseguia perceber claramente a quantidade exorbitante de poder que se concentrava, sobretudo, em seu abdômen –, apenas não conseguia fazer com que chegasse até suas mãos.

Teve que tirar a jaqueta laranja, porque o esforço a deixou com calor, e foi difícil se concentrar vendo aqueles músculos definidos, ressaltados pela regata preta. Hinata se distraía com o menor detalhe percebido sobre o corpo de Naruto, o que o deixava impaciente.

“Não, é Tigre”, orientou, mais uma vez, sobrepondo suas mãos sobre as dela, mas a diferença de tamanho não deixava que ele as cobrisse totalmente. Hinata choramingou, se desculpando de novo . “Está tudo bem”, suspirou, afastando o cabelo do rosto, “mas Kage Bushin é a técnica que eu mais uso, você precisa conseguir”.

“Eu sei, eu sei!”, Hinata murmurou, nervosamente, “mas é difícil fazer mais que um. Se eu me concentro no chakra, troco os selos!”. Respirou fundo, “Vou tentar mais uma vez”.

Naruto deu alguns passos para trás, parando em uma distância segura, esperando. Hinata ficou em pose, afastando as pernas e posicionando os braços flexionados. Seus olhos semicerraram, uma goticula de suor escorrendo pela testa e se perdendo nos fios loiros que grudavam. Mesmo com os dedos maiores e mais desajeitados, reproduziu os selos de Tigre e de clonagem, tentando visualizar em sua mente o bushin perfeito. Queria pelo menos três clones dessa vez, mas quando as palavras saltaram de sua boca e a nuvem de fumaça se dissipou, avistou, frustrada, apenas um clone aceitável – os outros dois pareciam como sacos furados, caídos de maneira cômica sobre as pernas. Soltou um grunhido de decepção, liberando o bushin.

Naruto se aproximou, parecendo segurar o riso. Hinata não entendia como ele podia estar se divertindo com toda aquela situação. Parecia que só ela estava ciente da situação catastrófica em que se encontravam, e não estavam nem um pouco perto de avançar, quem dirá descobrir uma maneira de reverter aquilo.

“Olha, você está indo bem”, Naruto se apressou, tentando tranquilizá-la. Hinata sempre cobrava muito de si mesma, e não conseguir executar um jutsu tão simples quanto aquele, que era cobrado na academia, a deixava um pouco mais que desgostosa. “Tudo bem, vamos pensar assim”, ele chamou sua atenção, levando os braços para trás da cabeça, “não use nenhum jutsu durante o treinamento”. Hinata deve ter feito uma careta muito confusa, porque ele completou, depois: “Você é boa em taijutsu, não é? Geralmente, nesses treinamentos, a vovó apenas fica me atacando e gritando o que eu estou fazendo de errado”, deu de ombros, a medida que Hinata sentia leves tremores por todo o corpo, “você só precisa desviar e atacar com taijutsu, ela não vai perceber muitas mudanças”.

“Mas isso é-” parou, se perdendo na linha de raciocínio, “isso é loucura! Naruto-kun, foi uma péssima ideia, nós nunca vamos conseguir fazer isso”. Começou a andar de um lado a outro, entrando no que seria uma potencial crise de ansiedade. “Vão nos descobrir, vai ser uma confusão, vamos ser acusados de espionagem, pior!”, o tom histérico não combinava com a voz grossa que saía por sua garganta, tornando o surto muito mais hilário do que trágico, “conspiração contra os líderes feudais! Ah, eu já posso até imaginar, vai ser um desastre”. Estava a ponto de desabar sobre os joelhos e cobrir o rosto para chorar, mas Naruto, em algum momento, se interpôs a sua frente, segurando-o pelo braço. As mãos pequenos e os membros curtos não eram suficientes para pará-la completamente, mas o mero contato fez sua pele se eriçar. Surpreendida, interrompeu o monólogo, tropeçando. Baixou o olhar para seu rosto, os olhos quentes, mas firmes, encarando-a, e, apesar de serem as íris peroladas que via no espelho, estavam envoltas de uma confiança que ela sabia que somente Uzumaki Naruto detinha. Acalmou-se.

“Hinata”, chamou, resoluto, “nós vamos conseguir”. Para alguém que, por toda uma vida, admirou em silêncio, e, sem palavras nenhuma, se encorajou a melhorar, ser atingida por aquela frase dita tão crua e diretamente era tranquilizador. “Ok, vamos nos acalmar e pensar direito”, deixou os braços caírem, e Hinata respirou fundo, “Já sei!”, seu rosto se iluminou, “por que não pensamos nisso antes? Podemos usar o Henge no Justu!”. A garota desanimou na mesma hora, balançando a cabeça.

“Eu já pensei nisso. Pode funcionar por três ou quatro horas, mas é um jutsu que exige concentração e muito chakra. Se formos pegos de surpresa ou nos distrairmos, já era. E ficaríamos cansados demais para qualquer coisa”, explicou, e Naruto deixou-se abater ligeiramente, apenas para se recuperar no minuto seguinte.

“Pelo menos agora temos uma segunda estratégia!”. Hinata riu internamente, se perguntando como ele podia ser tão simplista. “Não precisamos nos preocupar com isso agora. Vamos indo, eu vou encontrar com a vovó na frente do prédio do hokage. Quer dizer, você vai”. Hinata gemeu, desgostosa, e ele sorriu um sorriso largo.

Puseram-se a caminhar pelo caminho em que foram, em um silêncio agradável. Teriam de passar pelo centro da pequena vila, e, contanto que não chamassem atenção sobreviveriam àquilo também. Hinata, perdida em pensamentos, andava com as mãos sobrepostas, enquanto Naruto caminhava tranquilamente, os braços quase sempre atrás da nuca, despojadamente. Distraída, pensou em como aquela pose confiante e descontraída realmente podia combinar com ela, se ao menos conseguisse ser um por cento do que Naruto era.

Já estavam na metade do caminho quando ouviram uma voz chamando-os.

“Naruto? Naruto, Hinata!”. A garota lamuriou-se, dando uma meia volta, enquanto o garoto, ao seu lado, engolia em seco.

Sakura e Ino vinham em sua direção. Há muito que Hinata não as via – desde que a vila começou a ser reconstruída –. Sakura mantinha os cabelos tão curtos quanto possível, enquanto Ino deixava os fios loiros crescerem por suas costas, bem atados no alto da cabeça. As garotas acenavam freneticamente, e Hinata sentiu a garganta secar. Não dava tempo para um – como Naruto mesmo sugerira – Henge no Jutsu. Teriam que improvisar.

“Hina-chan!”, a de cabelos rosas cumprimentou primeiro, parando próxima a eles, com as sobrancelhas atadas. Já era surpreendente ver aquele casal caminhando lado a lado, com tanta intimidade, mas o que mais a deixava confusa eram as poses, quase como se estivessem invertidas. Sakura nunca tinha visto Hinata sem ser com as mãos entrelaçadas firmemente na frente do corpo, da mesma maneira que Naruto estava agora. “Como você está?”.

“B-bem, eu acho”, Naruto respondeu, tentando olhar de relance para que Hinata lhe ajudasse, mas era difícil com as duas garotas segurando seus braços. Quer dizer, ele nunca esteve tão perto assim delas, antes. “Por que não estaria?”, tentou disfarçar.

“Ora, Hina-chan, não precisa fingir para nós”, Ino respondeu, rolando os olhos, “Nós, mulheres, precisamos ficar juntos. Nós sabemos o quanto pode ser difícil ficar perto desse aí” moveu os olhos raivosamente para Hinata, no corpo de Naruto, e voltou “depois de tudo que aconteceu”.

Naruto arregalou os olhos, agora suando frio. Seus ombros tencionaram, e ele não abriu a boca, com medo de falar alguma besteira. Realmente não queria se meter no meio daquelas duas loucas, todavia, no corpo de Hinata, teria que fingir ser a própria – o que significava descobrir coisas que não estava a fim de saber –.

“Hm, olá, Sakura-chan, Ino-chan”, Hinata chamou a atenção para si mesma, vendo a situação de Naruto. As garotas desviaram para ele, e ela tremeu com o fuzilar da Haruno, tentando se lembrar a todo instante de que era para Naruto, não para ela. “Eu e Hinata estamos, hm, estamos indo ver a hokage-sama, digo, a vovó Tsunade”, mexeu nas mãos nervosamente, gaguejando mais do que gostaria. Era difícil se lembrar de todos os vícios e os trejeitos de Naruto.

“Oi, Naruto”, Sakura resolveu, por fim, cumprimentá-lo. “Espero que não esteja tornando mais constrangedor para nossa Hinata aqui”, ela e Ino abraçaram Naruto pelos ombros, como se o protegessem, e, assustado, olhou para Hinata, com as íris lilases completamente aterrorizadas. A garota tentava encontrar uma maneira de escaparem dali quando Naruto se remexeu, incomodado.

“Espera, o que querem dizer com isso?”, perguntou, esquecendo-se, por um momento, de que estavam com os papeis trocados, e Hinata quis balançar a cabeça, tentando dizer para ele não perguntar sobre aquilo.

“Calma, Hina-chan, não precisa se esconder da gente”, Sakura lhe respondeu docemente, e Naruto não se lembrava de ter ouvido aquele tom dirigido a ele alguma vez. Ergueu as sobrancelhas. “Não tem nada de errado em declarar seus sentimentos, algumas pessoas que não sabem compreender isso”. Naruto refez a expressão confusa, enquanto Hinata, abaixando os olhos, sentiu cada centímetro de seu rosto queimar em brasas.

“Meus... sentimentos?”, repetiu, devagar, compreendendo aos poucos. Podia ser lerdo, mas não era burro. A fatídica declaração de Hinata, a qual ele inconvenientemente ignorou por não saber como responder. O motivo que fizera com que não conseguissem se falar por dias, o motivo que fizera Naruto pará-la naquela noite. Gemeu internamente.

“Isso, seus sentimentos!”, Ino incentivou, “não tenha vergonha deles. Se ao menos o Naruto fosse um pouco sensível, jamais teria dispensado uma garota legal como você!”. Tanto Naruto quanto Hinata concordavam que aquela entonação vergonhosa nas palavras estava acabando com eles. Hinata, no entanto, não estava pensando em manter o disfarce quando deixou que as palavras saíssem de sua boca.

“Não!”, tarde demais, percebeu que todos olhavam para ela, “Quero dizer...”, coçou a cabeça, encabulada, e, agora, Sakura e Ino a encaravam como se quisessem tirar um pedaço de seu tronco. “A culpa não é inteiramente do Naruto, quer dizer, minha”, corrigiu rapidamente, “Hinata colocou uma grande pressão, e percebeu que tudo que ela disse apenas serviu para criar um clima ruim entre ela e eu”, sorriu tristemente, evitando fitar seu próprio rosto possivelmente abobalhado naquele momento.

“Está colocando a culpa na Hinata?”, Sakura guinchou, verdadeiramente irritada, e Naruto, sob seus braços fortes como aço, temeu pela vida da Hyuuga, embora estivesse afetado por sua última frase. Não queria que ela assumisse a culpa por qualquer coisa que tivesse acontecido, contudo, não sabia como lidar com aquelas asas de colibri batendo dentro de seu peito.

“Espera, espera”, Naruto chamou a atenção, se desfazendo do laço, e as duas garotas cruzaram os braços, esperando por sua defesa. “Não foi totalmente culpa da Hinata”, a conjunção da terceira pessoa soou estranha, mas ele continuou, ignorando o rápido erro, “Naruto também foi um idiota. Quer dizer, ele não sabia como reagir, e não queria me magoar. Ele me considera muito”, suavizou no final, diante do olhar chocado, quase perplexo, que Hinata lhe dava. As garotas estavam confusas diante da declaração, olhando de um para outro repetidas vezes, tentando encontrar o que havia de errado. Não esperavam uma atitude daquelas de Hinata, ainda mais com aquele tom tão determinado. Ela estava diferente. Assim como Naruto, que queimava cada vez mais, ficando da cor de suas vestes. “Agora, meninas, se nos derem licença, eu e Naruto temos coisas para fazer”, desvencilhou dos braços, puxando Hinata pela mão, afastando-se delas. Sakura e Ino permaneceram no mesmo lugar, chocadas.

“É impressão minha, ou a Hinata está diferente?”, Ino perguntou, e a outra garota cruzou os braços, pensativa. “Eles estão estranhos”, comentou, “Você viu o Naruto, como ele estava todo envergonhado? Era como se tivessem trocado de personalidade”.

Longe dali, Naruto e Hinata respiravam aliviados. Caminharam ininterruptamente até se considerarem fora do alcance de visão das duas kunoichis. Hinata sentiu-se mal de tê-las tratado daquela maneira, principalmente quando lhe ajudaram tanto nas últimas semanas, mas não podia arriscar que fossem descobertos. Percebeu que a mão pequena ainda segurava seus dedos de maneira desajeitada, e pigarreou. Naruto, um pouco vermelho, soltou-as rapidamente, arrumando o cabelo que voava para seus olhos.

“Essa foi por pouco”, Hinata comentou, esticando a manga do casaco, um hábito adquirido desde criança. Naruto a fitou, concordando com a cabeça.

“Acho que mandamos bem com elas”, sorriu, largo, e Hinata riu baixo. “Você foi bem”, elogiou, com a voz suave, e a Hyuuga pensou que não seria possível corar mais.

“Obrigada”, murmurou, olhando para baixo. “É verdade o que disse antes?”, precisa confirmar, antes que sua mente começasse a criar imagens boas demais para ela. A maneira que ele a defendeu, tirando a culpa de seus ombros. Só queria saber se poderia sonhar com aquilo, ao menos um pouco.

“Claro que sim”, ergueu a cabeça tão rápido que seu pescoço estalou. Naruto parecia tranquilo, mas quase inconformado, como se ela perguntar aquilo fosse ofensivo, “Você é a última pessoa que eu gostaria de magoar”, Hinata deixou que um sorriso a preenchesse, enquanto fitava Naruto. Ela não conhecia aquela expressão condescendente, sobretudo em seu próprio rosto, mas concluiu que gostava dela. “Agora, temos que ir. Vovó Tsunade deve estar te esperando”.

Seu bom humor desapareceu, enquanto gemia baixo, acompanhando Naruto. Não estava realmente pronta para lutar com a quinta Hokage, ainda mais quando não tinha pleno controle de seus movimentos. Momentos como aquele eram irritantes para ela – não ter equilíbrio pleno a deixava nervosa, principalmente por estar sem seu Byakugan.

Avistaram o prédio administrativo, mas não foi preciso entrarem. Tsunade esperava do lado de fora, conversando com dois ninjas quaisquer. Quando viu o casal se aproximando, dispensou-os, voltando-se para eles com uma faceta irritada. Hinata engoliu em seco, mas Naruto, ao seu lado, parecia tranquilo, com os ombros relaxados.

“Onde estava, garoto?”, a mulher ralhou, “está atrasado!”.

“Desculpe, hokage-sama”, se apressou, antes que Naruto dissesse algo que Hinata não dissesse, mas a mulher a fitou um pouco chocada, “Quer dizer, vo...vó”, hesitou, olhando de relance para Naruto, que assentiu, incentivando-a. “Estou pronta para treinar. Pronto!”, corrigiu-se, rindo para disfarçar, “Estou pronto para treinar”, tentou parecer descontraída, e Tsunade a fitou por longos três segundos, até assentir e se virar.

“O que está esperando? Vamos!”, saltou, desaparecendo, e Hinata entrou em desespero.

“Vamos? Vamos onde?”, sussurrou, e Naruto puxou novamente sua mão, indicando para que saltassem para o telhado.

“Para o campo de treinamento! Vem, eu te mostro!”, não deixou que ela se preparasse, dando um impulso e puxando seu corpo junto. A diferença clara entre pesos não deixou que fossem muito alto, mas Hinata, por instinto, apoiou contra a parede e saltou, ajudando Naruto para que não caíssem.

Ainda não estava segura em pular pelos parapeitos, mas sentia-se estranhamente reconfortada com os dedos entrelaçados. Não que o medo de cair tivesse desaparecido – ela apenas não pensava mais naquilo, enquanto o vento assolava seu nariz, fazendo cócegas. Há tempos não lembrava como a sensação de simplesmente correr podia ser libertadora. Chegaram ao campo de treinamento do leste, cercado por altos muros e arames. Pousaram, Hinata desequilibrando-se um pouco. Naruto foi para o canto, recostando na parede e assentindo confiantemente para ela. Tsunade já estava despindo a capa, estalando os dedos de maneira perigosamente agressiva.

“Muito bem, garoto!”, gritou, aproximando-se, e Hinata deteve o impulso de sair correndo. “Já sabe como funciona. Espero que tenha melhorado aquela técnica vagabunda”, sorriu, como se não estivesse falando sério, mas Hinata não estava deveras otimista.

Não teve tempo para pensar antes que a mulher investisse contra si. Assustada, saltou para trás, procurando não tropeçar nos próprios calcanhares. Desviou o tronco de um soco bem direcionado, tentando fazer a cabeça trabalhar rápido – mesmo que estivesse nublada de medo –. Naruto tinha dito que era para lutarem normal e ela apontaria seus erros. Mas, céus, ela era a quinta Hokage! Como poderia lutar com ela? Não era Naruto – não tinha seu poder, ou sua coragem de enfrentar um inimigo mais forte. Tudo que conhecia era sua habilidade corporal e o Byakugan, mas nem isso tinha naquele momento. O corpo de Naruto era pesado e lento, e por pouco não foi acertada duas vezes.

“O que está fazendo? Dançando? Revide!”, a mulher ordenou, derrapando para se virar em sua direção. Hinata queria correr para longe.

Tentou pensar racionalmente. Tsunade-sama era conhecia por sua força sobre-humana, então, de maneira nenhuma, poderia sofrer um ataque direto daqueles punhos. Como Naruto reagiria? Criaria bushins para distração, certamente. Sem seus olhos, sentia-se desnorteada. Seu estilo taijutsu só era eficiente se pudesse ver os pontos de chakra do inimigo. Estava chegando perto da cerca, e, em um movimento assustado, conseguir desviar os punhos de seu rosto, batendo contra o antebraço e correndo na direção oposta. Tsunade acertou parte da cerca, transformando-a em farelo. Hinata soltou um guincho. Em algum lugar, Naruto gritava incentivos.

“O que está acontecendo com você?”, a mulher gritou acima do barulho de pés e de destroços. “Está fugindo como um covarde!”, uma nova investida, e, dessa vez, Hinata conseguiu saltar por cima. Não tinha conseguido contra-atacar ainda. Tentou se lembrar das dicas de Neji, colocando força nos ombros e desacelerando com as mãos estendidas, apenas para se lembrar, tarde demais, de que não conseguiria realizar o golpe das palmas de chakra.

Tsunade estranhou a posição de Naruto enquanto ele descia em sua direção, mas, com as pernas posicionadas de mal jeito, teria que desviar. Jogou o corpo para o lado bem a tempo de escapar do golpe, que acertou o chão, levantando uma nuvem de poeira. Seus olhos identificaram o corpo correndo para trás, tentando se aproveitar da parca visão. Correu em sua direção, puxando duas kunais e lançando. Elas bateram contra algo metálico e caíram, inertes. Tsunade localizou Naruto, quase do outro lado do campo, na defensiva, como se parecesse pensar nos próximos passos. A mulher estranhou aquele comportamento. Naruto nunca fora tão bom com luta corpo a corpo – ele partia para cima toda a força que tinha, muitas vezes fazendo-a ralhar por não raciocinar estratégias do inimigo. Mas o que estava vendo na sua frente era algo totalmente diferente. Não tinha usado ninjutsus nenhuma vez, que dirá atacá-la. Parecia com medo. Melhor. Intimidado.

Naruto – o verdadeiro –, por outro lado, não conseguia desviar os olhos de Hinata. Era como assistir a um obstáculo. Sentia-se hipnotizado pela maneira que desviava dos golpes, um após o outro, usando os cantos, as diagonais, até mesmo pairando no ar. Se mexia com graciosidade, até mesmo com delicadeza, uma elegância que Naruto sabia que nunca seria parte daquele corpo. Ele era rude, sabia disso. Movimentos bruscos e imprudentes, derrubando onde quer que fosse. Força bruta era seu estilo. Agora, assistir Hinata lutar, mesmo que fosse com seus membros, era uma apresentação deleitosa aos olhos. Os saltos, os bloqueios. Parecia se mover sem dificuldades, com uma leveza invejável. Ele sabia que a velha também percebera a mudança. Em partes, queria ajudá-la, para não terem problemas, mas a outra parte apenas desejava para que aquilo continuasse, e ele pudesse assistir mais, aprender mais.

Hinata era a única alheia a tudo que acontecia a seu redor. Se concentrava, particularmente, em não ser atingida por aqueles golpes poderosos. O chão, as paredes ao seu redor e algumas partes da cerca de metal, estavam cobertos de buracos e restos, sobreviventes da fúria bem direcionada da hokage. Naruto não estava brincando quando disse que o treinamento se concentrava, basicamente, nela gritando correções e provocações a todo momento. Ignorando totalmente a dor de cabeça, conseguiu captar uma ou duas dicas, e admitia que a própria aerodinâmica de seus movimentos melhorara. Mas estava ficando cansada. Ainda não conseguia dominar totalmente a respiração, e seus pulmões estavam começando a parecer como uvas-passas. Precisava terminar aqui. Acertar um golpe, provar que tinha evoluído. O sol já tinha se movido alguns centímetros, mas ainda queimava sua nuca exposta.

Tsunade avançou, sem perder tempo. As kunais tinham sido um ardil para distraí-la, e, quando jogou atirou para desviar, a mulher saltou em sua direção. Hinata teve tempo apenas para pular para o lado, mas teve que erguer o braço para proteger o rosto. Era mais resistente do que imaginar, porque o soco atingiu e a jogou para trás, mas não o suficiente para fazê-la rolar. Apenas escorregou de bunda. Pensando rápido, usou o pé direito para apoiar, se levantando com os joelhos e atacando de frente. A hokage, pega de surpresa, bloqueou, e Hinata desferiu uma série de ataques. Estava morrendo de medo, mas não podia pensar demais. Agiu como pensou que Naruto agiria.

Deu certo. A mulher perdeu o equilíbrio momentaneamente, e Hinata sabia que poderia desferir um golpe certeiro, embora não fosse surtir muitos danos. Parou no meio do caminho, com o punho no ar e o rosto contorcido.

Tsunade a fitou parecendo querer esconder a surpresa. Hinata se afastou, ofegante, e a hokage se pôs de pé, arrumando as roupas. Abriu e fechou a boca várias vezes, inflando as narinas e olhando ora para Naruto – no corpo de Hinata –, ora para Hinata – no corpo de Naruto –.

"Bom, garoto, não sei o que andou fazendo, mas está funcionando”, disse, por fim, e Hinata deixou um largo sorriso se abrir. “Seu taijutsu melhorou muito. Fora aquelas dicas que eu te dei, bem... pode continuar treinando como está fazendo”.

“Sério?”, Hinata exclamou, unindo as mãos, “Muito obrigado, hokage-sama!”, estava tão feliz que não percebeu seu erro, e Tsunade ficou encarando-a, confusa, tentando entender qual era o problema. A Hyuuga, no entanto, nunca tinha sido elogiada daquela maneira, e saber que a mulher mais forte da vila achava que estava indo bem, era surreal. Naruto, percebendo seu êxtase e o olhar analítico da velha, se apressou, correndo.

“Parabéns, Naruto!”, exclamou, chamando a atenção de ambos, “Agora, você pode ir comigo, sabe, treinar? Me ensinar esses golpes”, ergueu as sobrancelhas sugestivamente, e ela assentiu, rapidamente, desmanchando a expressão e se apressando para recolher suas coisas, puxando as mangas do casaco.

“Claro, claro, Hinata”, riu sem graça, e virou-se para Tsunade. “Muito obrigado pelo treinamento, hm, vovó”, saiu, empurrando os ombros de Hinata, e, juntos, pularam a cerca, saltando entre os telhados até desaparecerem da vista. A hokage permaneceu no lugar, cobrindo os olhos do sol, pensativa. Aquele tinha sido um treinamento interessante.

Naruto e Hinata pularam entre o arvoredo, afastando-se do centro da cidade. Hinata teve de parar, porque não conseguia mais continuar um passo sequer. Arfando, apoiou contra o joelho, e Naruto voltou, apoiando-a pelos ombros. Quando ergueu o rosto, encontrou-o bem perto, com os olhos perolados brilhando.

“Você foi incrível lá!”, elogiou, fazendo-a corar. “Seus movimentos, uau! Eu nem sei o que dizer. Você conseguiu encurralar a velha, eu nunca fiz isso, em todos esses anos”, parecia assombrado, e Hinata balançou a cabeça, envergonhada.

“Eu mais fugi que qualquer coisa”, encostou no tronco, escorregando até sentar. Suas pernas começaram a implorar por descanso. “Mas é um desafio a menos, não?”, comemorou, respirando fundo. Naruto se sentou à sua frente, cruzando as pernas e apoiando a cabeça, olhando-a fixamente. “E a reunião é terça-feira. Acho que podemos conseguir”, falou, mais firme e confiante, e Naruto rolou os olhos para ela.

“É o que eu estou dizendo desde ontem”, retrucou, mas com um sorriso, e Hinata respirou, aliviada. “Agora só temos que fazer mais uma coisa hoje”, alertou. Ela o fitou, confuso. Deveria ser quase quatro da tarde, já. Ela esperou, vendo-o erguer uma elegante sobrancelha. “Amanhã, tecnicamente, eu vou lutar com o Neji. Precisamos saber como usar o Byakugan”. A Hyuuga soltou o ar, quase divertida.

“Ah! Não me assuste desse jeito!”, brincou, sentando-se com as costas eretas. “Eu vou tentar te explicar o básico, porque leva tempo para aprender a controlar direito. Tudo bem?”, Naruto assentiu, e ela continuou, “Ok, não preciso explicar sobre kekkei genkai nem nada disso, né?”, ele negou com a cabeça, “Tudo bem, fica mais fácil assim. O Byakugan não precisa ser despertado, nós já nascemos com ele, então é mais fácil de controlar. As três principais funções do Byakugan são visão periférica, visão estendida e visão de chakra. Como você nunca treinou com ele, eu diria para não ativá-lo, mas vai precisar, se for levar a sério essa luta com Neji-nii-san”, rolou os olhos internamente.

“Claro que vou levar a sério!”, Naruto parecia excitado com a possibilidade de usar o poder ocular. Hinata continuou. “Na visão periférica, nós podemos ver tudo, trezentos e sessenta graus, mas tem um ponto cego, então tome cuidado, porque Neji-nii-san também o conhece”, Naruto assentiu, atento como um aluno, “A visão estendida nos permite ver certa distância a frente. Neji-nii-san consegue ver oitocentos metros”.

“Quando você consegue ver?”, Naruto a interrompeu, e Hinata corou. “Quase cinco quilômetros”, respondeu, envergonhada pelo olhar surpreso e admirado intenso que pousou sobre seu rosto. “De qualquer maneira, a visão de chakra é a mais importante, mas a mais difícil. Ela confunde um pouco os sentidos, porque deixamos de ver as imagens como elas são, e passamos a ver sua constituição de chakra. Você precisa entender bem isso, para não se assustar nem nada do gênero”, ficou preocupada. Alguém que não tinha experiência com o Byakugan poderia sofrer sérias lesões. “Não poderei entrar desse jeito, então vai ter que treinar sozinho”, falou, um pouco triste, porque queria conferir. Pensaria em algo até a manhã seguinte, “Mas é basicamente isso. Alguma dúvida?”, perguntou, e o garoto balançou a cabeça, quase inquieto demais.

“Byakugan é tão legal!”, exclamou, se balançando, e Hinata não pode deixar de rir. Ele não parecia preocupado em lutar com Neji. Estava animado. Naruto era estranho, de um jeito bom. “Mas, Hinata, como eu posso ativar ele?”, bom aquela era uma ótima pergunta.

“É difícil explicar essa parte, porque, como eu disse, nós nascemos com ele. Mas pensa comigo”, estendeu as mãos, gesticulando, “Imagina os olhos. Fecha eles, tenta sentir as correntes de energia que passam por ele”, o chakra estava em cada célula de seu corpo, inclusive por trás das pálpebras. Naruto seguiu seu conselho e fechou os olhos. “O Byakugan é como um portão, que deixa apenas um pouco de chakra passar, por segurança. Quando temos a consciência da existência desse portão, fica mais fácil de acessá-lo. Você precisa visualizar bem o portão, e, como se fosse um genjutsu, você libera, forçando a passagem de mais chakra. Quando consegue, dá para sentir ele ativando”, sua voz se tornou um pouco nostálgica. Estava com saudade daquelas sensações. Tentou usar algumas metáforas, para explicar, e não sabia se Naruto tinha entendido. Ele assentiu, parecendo pensar algo, e depois, frustrado, desistiu. Hinata riu baixo. “Não se preocupe, pode ficar treinando depois. E não tem problema se não despertar. Você pode derrotar Neji-nii-san sem ele”, estava falando sério.

“Neji é forte, não quero perder, e também não quero manchar sua imagem”, murmurou, e Hinata se surpreendeu por ele estar pensando nela. Era complicado ignorar aquelas batidas desenfreadas, a lembrando, todo momento, dos sentimentos inconvenientes que ainda nutria.

Hinata se ergueu, limpando as roupas, e Naruto a imitou, arrumando a bermuda. “Acho que podemos ir. Descansar de hoje. Amanhã de manhã, antes do sol nascer, eu te encontro no mesmo lugar”, sugeriu, e Naruto assentiu.

“Estou precisando de um banho”, gemeu, e Hinata parou no meio de um passo, sentindo todo o calor de seu corpo se concentrar no rosto. Naruto se virou, envergonhado também. “Ah, me desculpe! É que eu não tomo desde ontem, e nossas roupas estão ficando fedorentas, tomar banho é higiênico!”, se apressou para explicar, tropeçando nas palavras, e Hinata quis enfiar a cabeça dentro de um buraco. Naruto tinha razão, ela também queria um bom banho, depois de lutar contra a hokage-sama, mas não conseguia sequer pensar sem ficar vermelha até a raiz.

“T-tudo bem”, gaguejou, por fim, coçando o rosto, “Mas você me promete, promete mesmo, que vai tomar banho de roupa? Não precisa ser toda a roupa!”, acrescentou logo em seguida, “Pode ser com as roupas de... baixo”, sussurrou a última palavra, estremecendo. Naruto concordou rapidamente, tentando acalmá-la.

“Não se preocupe, eu prometo que não vou olhar nada, vou usar roupas o tempo todo!”, Hinata tentou tranquilizar um pouco. Confiava em Naruto, apesar de tudo, e não tinha muitas escolhas. Teriam que lidar com aquilo, por mais três dias. “Vamos?”, chamou, indicando a linha de telhados que se estendia ao horizonte, o sol já atingindo níveis de laranja. A hora tinha voado, e ela nem percebeu.

Saltaram, lado a lado, em silêncio. Hinata tinha muitos pensamentos, mas todos eram ocupados por aquele garoto. Ela ainda o amava, dolorosamente, mas não deixaria que aqueles sentimentos tornassem a situação mais constrangedora, sobretudo naquele momento, em que começaram a conviver em paz. Não sabia o que esperar do fim de semana, contudo, se pegou imaginando que passá-lo ao lado de Naruto – mesmo que ele estivesse em seu corpo, e que não fizesse ideia de como reverter aquela confusão – não seria, de todo, ruim.


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