Genderswap escrita por Ero Hime


Capítulo 3
O primeiro desafio


Notas iniciais do capítulo

Oioi gente! Como estamos? Aqui está um capítulo fresquinho. Minhas aulas voltaram, e eu passo duas horas do meu dia em um ônibus, então tenho bastante tempo para escrever! Vou tentar postar o quão rápido eu puder, eu juro!
Vocês estão gostando disso tanto quanto eu? É difícil descrever as cenas pensando no corpo de um com a personalidade do outro, mas eu estou amando! Não sei trabalhar com comédia, mas eu estou tentando. Obrigada por todos os comentários e o apoio!
Espero que gostem desse capítulo, e vejam minhas outras fics, eu prometo que são boas também! ♥



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—Capítulo III–

De qualquer maneira, é sempre bom contar com uma mãozinha amiga de vez em quando.

Hinata andou pela calçada, por baixo dos toldos das lojas fechadas e longe das lamparinas, apenas por segurança. Nos primeiros trinta segundos, percebeu que correr seria inviável – ainda não tinha conseguido coordenar seus movimentos com a extensão real de seu novo corpo provisório, fazendo com que sua noção de passo longo não fosse a mesma daquelas pernas, e, na primeira tentativa, pisou em falso e tropeçou. Optou pela boa e confiável caminhada tranquila, o que levou o dobro do tempo considerado aceitável para chegar até o prédio onde ficava o apartamento de Naruto.

Era uma construção antiga e padronizada, e, se Hinata se lembrava bem, foi usada como dormitório para as crianças que ficaram órfãs depois do ataque da raposa de nove-caudas, dezesseis anos atrás. Arriscaria pular pelos telhados, mas não sabia se a janela estava aberta, e, sem o Byakugan, sentia-se incomodada à pouca luz. Entrou pelo portão, subindo as escadas. Não sabia o número do quarto – costumava ficar observando o Uzumaki de longe, apenas, e conhecia apenas a varanda por fora –, mas supos que as chaves estariam em seu bolso. Dito e feito, puxou um molho com um chaveiro decorativo de sapo. Sorriu, mesmo que minimamente. Era o terceiro apartamento do segundo andar, e não teve dificuldades de entrar.

A primeira coisa que notou foi a bagunça caótica do lugar. Roupas, equipamentos, restos e embalagens, tudo jogado em pilhas sobre a mesa e o assoalho. Depois de ignorar o caos, andou alguns passos, reconhecendo o cômodo. Era pequeno e confortável, apesar de tudo. Para alguém acostumada com todo o luxo que uma mansão imperial podia oferecer, uma casa de apenas um cômodo era, no mínimo, curiosa. Era estranha também. Nada de fusamas ou tatamis. A cama era alta, moderna, com lençóis brancos desarrumados. A mesa tinha pernas esticadas, de madeira, e havia uma geladeira e um fogão, que, embora de aspecto velho, ainda eram inovadores. Tinha uma porta, que supos ser o banheiro, e uma cômoda com gavetas fechadas de mal jeito. Se aproximou, devagar, sorrindo quando a luz da lua iluminou o quadro ao lado do despertador. Naruto era uma criança agitada, mesmo com os traços angelicais. Sakura ainda tinha o cabelo longo, e Sasuke – bem, Sasuke estava ali.

Quando as primeiras impressões acabaram, Hinata se deu conta de que estava na casa de um garoto – não qualquer um, mas de Naruto –, sozinha. Foi inevitável que suas bochechas não queimassem. A vergonha ainda parecia ser a mesma naquele corpo truculento e pesado, então ficou tranquila ao perceber que continuava ela mesma, pelo menos um pouco.

Tudo aquilo era como um sonho estranho – um pesadelo, para ser mais exata –. Já tinha visto muitas coisas bizarras durante as missões, mas nada como aquilo. E, para completar a ópera, havia a reunião com os líderes feudais. Seu pai esperava por aquele encontro há décadas, e estava mais empenhado que qualquer pessoa que conhecia. Sabia que Naruto também tinha sido convidado, como o herói da vila, e sabia que ela mesma só iria por solicitação da presença do herdeiro mais próximo do clã – Hiashi ficaria mais que satisfeito em levar Neji, ou Hanabi. Mesmo assim, ela faria o possível e impossível para que as coisas corressem bem.

No quarto parecia estar tudo certo, e Hinata já conseguia se mexer sem riscos de trombar em nada. Devagar, retirou o pesado casaco laranja, ficando apenas com a camiseta de malha. Era desconfortável olhar para baixo e estar mais longe do chão, ou poder fitar os próprios pés sem dificuldade. O relógio da cozinha informava que já passavam das duas, mas ela não conseguiria dormir no meio de toda aquela bagunça. Mexeu nos armários – sentindo-se ligeiramente invasiva –, a procura de sacos de lixo e produtos de limpeza. Seria infinitamente mais fácil se pudesse usar chakra, mas não se sentia segura o suficiente para executar jutsus, não com aquele corpo, muito menos com aquela massa de poder que se concentrava em seu abdômen.

Dessa forma, fez tudo à moda antiga. Encontrou alguns produtos intocados de limpeza, e pedaços rasgados de pano. Juntou as embalagens vazias e o leite estragado, amarrando sacos perto da porta. Depois, dobrou a roupa do chão, separando o que precisava ser lavado e o que podia ser guardado. A cada nova peça, uma reação diferente, até o ponto de encontrar calções e, assustada, arremessá-lo para o outro lado do quarto. Limpou a mesa e lavou a louça suja, tirou a comida velha da geladeira e organizou as prateleiras. Dobrou a roupa de cama, estendendo lençóis limpos, e, quando o cômodo parecia brilhar como novo e estava higienicamente habitável, Hinata se sentia tão cansada que nem mesmo a troca de corpos foi capaz de afastar seu sono. Jogou-se contra a cama, estranhando a maciez do colchão, e fechou os olhos, dormindo logo em seguida.

Quando acordou, parecia que tinha apenas piscado por alguns segundos. O despertador, ativado algumas horas antes, emitia bipes incômodos e irritantes. Ela tateou cegamente, desligando-o, e, finalmente, conseguia sentir a tensão do dia anterior por todo seu corpo. Era um tipo de cansaço mental que deixava seus músculos pesados, mas, mesmo assim, Hinata se levantou. O cabelo estava jogado para todos os lados, e seu estômago roncava, vazio. Não teria tempo, todavia, para comer algo, ou se atrasaria para encontrar Naruto. Era crucial que encontrassem uma estratégia o quanto antes, para não despertar estranheza.

Puxou o casaco laranja de cima da cadeira, vestindo-o enquanto bocejava. Pela janela, diversos tons de azul serpenteavam no céu, e sequer havia amanhecido antes. O clima estava gelado, como esperado de uma noite atípica de geada. Hinata saiu pela porta, trancando-a, certificando-se de ter pego todas suas ferramentas e a bandana. O horário lhe favorecia por não haver ninguém na rua, sequer nas lojas. Enquanto andava, tentando controlar o sono e a ansiedade, começou a raciocinar ignorando qualquer sentimento de desespero que ainda tinha – maneiras de desfazer aquela maluquice, quaisquer casos parecidos que já tinha ouvido falar, onde procurar. E, principalmente, como enganar sua família e seus amigos.

Aquele era um ponto sensível. Todos sabiam sobre o fora colossal e a vergonha enorme – seu time, sua professora, as outras garotas, até mesmo os garotos. Era claro que ninguém comentava sobre, mas ela sabia distinguir uma fofoca quando via uma. Estavam sendo delicados, sabendo sua paixão ridícula e milenar pelo Uzumaki – a própria Sakura foi muito prestativa consigo, e até mesmo Neji foi lhe perguntar se estava bem –. A questão era que, a partir daquele momento, ela e Naruto teriam que passar muito tempo juntos. Explicar essa situação toda vai ser, no mínimo, desconfortável.

Suspirou. Dobrou a rua, avistando a residência esplendorosa dos Hyuuga, e sentiu falta de cumprimentar os empregados, e trombar com Hanabi apenas para provocá-la. Parou, esperando no mesmo lugar em que deixou Naruto noite passada. Reprimiu a vontade de entrar pela porta discreta, e agradeceu quando viu o garoto sair pela mesma, quando os raios de sol começavam a despontar. Hinata suspirou quando viu sua própria imagem, o cabelo despenteado e o casaco abotoado errado. Se aproximou, recebendo um sorriso largo e brilhante em resposta. Ficou desconcertada por um momento.

— Bom dia! – cumprimentou, estridente, e Hinata se aproximou o suficiente para arrumar a gola. Era estranho ser a mais alta, e mais estranho ainda estar ajeitando a si mesma. Tentou afivelar a jaqueta, mas não tinha a menor coordenação com aqueles dedos grandes demais para os botões pequenos – O que foi, vesti errado? – tentou olhar para baixo, sendo impedido pelos braços próximos a seu rosto.

— Não, está tudo bem. – respondeu, com a voz baixa, que saiu rouca, e não sussurrada – Só me deixe... – alisou o cabelo, de cima a baixo, penteando os fios e colocando-os no lugar – Pronto.

Se afastou, e viu seu próprio rosto vermelho – finalmente uma reação familiar –. Mas, em vez de envergonhar-se, Naruto apenas sacudiu a cabeça, apertando a bandana. Saíram, juntos, pela calçada, mas não sabiam exatamente para onde estavam indo.

— Como foi a noite? – Hinata perguntou, educadamente. Naruto suspirou, levando a mão até a nuca, despojadamente, enquanto ela andava com as mãos na frente do corpo.

— Sua irmã é um doce. – ele resmungou, e a garota sentiu os cabelos ralos da nuca arrepiarem-se. Tinha se esquecido completamente de Hanabi! – Mas fica calma, eu dei um jeito. – ele sorria de uma maneira nada confiante – Mas sua cama é realmente dura.

— Me desculpe por isso. – murmurou, torcendo os dedos. Estava prestes a dizer algo, mas o som de seu estômago chamou a atenção de ambos, rugindo despudoradamente. Hinata estacou, assustada, à medida que Naruto começou a gargalhar – O que foi isso? – perguntou, assustada, enquanto sentia suas entranhas se contorcerem.

— Foi meu estômago! – a risada de sino preencheu a rua, alta e escandalosa, ao passo que o rosto do garoto começou a alcançar tons monumentais de vermelho, estendendo-se até seu pescoço – Fica tranquila, isso é normal. – falou, depois de se acalmar, limpando as lágrimas dos cantos – Mas acontece sempre que eu fico com fome. – admitiu – Não tomou café da manhã? – Hinata balançou a cabeça negativamente – É a refeição mais importante do dia! – protestou, recomeçando a caminhada, e Hinata o seguiu, tropeçando nas pernas.

— Estava ansiosa demais para café da manhã. – respondeu, mordendo a boca, e Naruto suspirou, assentindo.

— É justo. Mas vamos ter que comer. – seus olhos brilharam, e ele disparou pela rua, fazendo Hinata ter que acompanhá-lo.

Estavam perto da rua principal da vila, e Hinata tinha uma ideia de onde estavam indo. Apesar de se sentir com dois pés esquerdos, conseguiu andar em uma linha reta sem cair de cara, e aquilo já era um avanço. O sol já estava mais proeminente, e algumas pessoas já surgiam nas janelas, acordando para um novo dia. Naruto parou, abruptamente, e Hinata quase trombou contra seu corpo pequeno. Surpreendentemente, o restaurante do Ichiraku já estava aberto, o vapor saindo pelas frestas. Naruto entrou saltitante, afastando o cortinado, e Hinata o seguiu, acanhada.

— Bom dia, velho! – gritou, chamando atenção, e o cozinheiro veio da cozinha, com o olhar assustado.

— Bom dia, senhor Ichiraku. – Hinata cumprimentou, fazendo-o arregalar mais os olhos.

— Oh, Naruto, menina Hyuuga, que surpresa! – sua voz de trovão soou, e ele limpou as mãos no guardanapo – Em que posso ajudá-los hoje, crianças?

— Me vê um rámen dos grandes que eu tô morto de fome! – Naruto se apressou, sentando no banquinho e esfregando as mãos. Hinata se sentou ao lado, incomodada porque a cadeira não acomodava todo seu corpo de maneira confortável.

— Claro... Hinata. – o homem voltou para a cozinha parecendo confuso e assustado.

Hinata, por outro lado, estranhou o comportamento de Ichiraku, mas Naruto continuava alheio, cantarolando alguma coisa enquanto analisava o cardápio de acompanhamentos. Foi somente quando ela percebeu o óbvio – era seu corpo analisando o cardápio de acompanhamentos.

— Naruto! – sussurrou, alarmada, chamando a atenção do garoto, que, assustado, inclinou-se em sua direção – O que está fazendo?

— O quê? – ele parecia inconformado – Estou pedindo rámen para comer. – falou, como se fosse óbvio, e não entendia seu rosto absolutamente apavorado.

— Mas eu sou você e você sou eu! – Hinata se sentia verdadeiramente idiota naquele momento. Tinham combinado de fingirem ser o outro até o dia da reunião, e no primeiro lugar que vão, já estragam tudo. Não era para menos que Ichiraku parecia tão perplexo. Hinata jamais falaria daquela maneira com ele! Naruto demorou alguns segundos para processar o pensamento, mas também deixou o queixo cair e os olhos arregalarem.

— Ah, que bola fora! – gemeu, aterrorizado, apoiando a cabeça contra as mãos. Hinata, embora estivesse em choque, começou a pensar rápido, para contornar a situação.

— Tudo bem, essa vai ser nossa primeira prova. – murmurou – Não podemos mais errar. Você sou eu, e eu sou você, ok? – insistiu, e Naruto assentiu rapidamente, aprumando a postura e tentando suavizar a expressão, embora tivesse conseguido apenas uma careta.

Ichiraku voltou da cozinha com uma bandeja e duas vasilhas. Uma delas tinha um tamanho monumental, e outra era apenas uma porção de sopa com vegetais. Hinata salivou, esperando por seu pedido, mas surpreendeu-se quando o cozinheiro depositou o pote maior na sua frente. Amedrontava, virou-se para Naruto, que também a encarava, confuso e parecendo entristecido. Em sua mente, sabia que estava no corpo de Naruto, logo, teria que agir como ele – mas aquele rámen era enorme! Tinha tudo, pedaços de ovo, carne de porco, macarrão, caldo escuro, vegetais, até mesmo alguns pedaços de gyoza. Ela nunca conseguiria comer aquilo!

— Esse é nosso novo rámen especial: a super tigela tripla picante! – anunciou, parecendo orgulhoso, e cruzou os braços, esperando. Hinata tinha a esperança de que ele voltasse para a cozinha e, assim, pudesse trocar com Naruto, mas o homem parecia disposto a vê-lo experimentar.

— O-obrigado, senhor Ichiraku. – Naruto se apressou, gaguejando para disfarçar a desolação, e o homem assentiu, sorrindo, parecendo acreditar que era mesmo a Hyuuga. Hinata, por outro lado, engoliu em seco, tremendo ao pegar os palitinhos.

— Itadakimasu. – murmurou, com medo. Abriu os hashi, com a mão suando, e afastou os pedaços gigantes de gengibre. Talvez se tomasse apenas a sopa, o homem ficaria satisfeito e os deixaria. Sem expectativa, enrolou o macarrão, levando-o à boca com um pedaço de carne. Deu duas grandes mordidas, sorrindo desajeitadamente para o senhor – E-está delicioso! – falou, de boca cheia, mas, antes que pudesse engolir, sentiu os temperos picantes ardendo sua língua, fazendo-o engasgar. Não conseguia engolir, e sentia os pedaços pararem no meio do caminho de sua garganta. Não podia gesticular, e seu rosto estava paralisado. Pensou que fosse morrer naquele momento, mas, por um golpe de sorte do destino, Naruto interveio a seu favor:

— Velh- Senhor Ichiraku, poderia me trazer um copo de água, por favor? – corrigiu-se depressa, e ele saiu, prontamente, parecendo satisfeito.

Ele saiu para a cozinha, e Hinata engoliu de uma só vez, choramingando e arfando com a boca aberta. Soltou os hashi, coçando a garganta, sentindo vontade de vomitar. Eram tantos sabores que não conseguia distinguir nenhum, apenas a pimenta do reino e o alho, salpicando em sua língua. Tossiu duas vezes, forte, e Naruto bateu em suas costas, com aquelas mãos pequenas. Ela agradeceu silenciosamente, recuperando o fôlego, e, quando Ichiraku voltou, tentou se recompor o mais rápido possível, exibindo um largo sorriso.

— Está uma delícia! – utilizou toda sua animação naquela frase, como Naruto faria, e o cozinheiro sorriu, jubiloso.

— Maravilha! Se você aprovou, já vou incluir no cardápio. Aproveitem, crianças. – voltou sua atenção para o entregador que chegara, e Hinata suspirou, curvando as costas e bebendo outro gole generoso de água.

— Essa foi por pouco! – exasperou, e Naruto concordou, aliviado – Aqui, pode comer. – empurrou a tigela disfarçadamente, e ele sorriu, lhe dando a sua.

— Vem para o papai. – murmurou, esfregando as mãos. Apesar de tudo, Hinata teve de rir, um pouco. Tudo aqui era loucura demais.

O segundo rámen estava delicioso, como esperava. Era seu pedido usual – a mistura perfeita entre temperos suaves e caldo de peixe. Comeu todo o macarrão e o gengibre, bebendo a sopa quando terminou. Limpou a boca, observando Naruto devorar todos aqueles pedaços de alimento, parecendo absolutamente feliz. Gotas caíam sobre seu colo, manchando parte da blusa, e Hinata franziu o cenho, incomodada por ele.

— Isso estava mesmo maravilhoso. O velho mandou bem. – proferiu, suspirando, a vasilha totalmente limpa. Hinata assentiu, levantando-se da banqueta, com as costas doendo.

— Vamos, não podemos chamar mais atenção. – chamou, e Naruto assentiu, também se levantando e puxando alguns ienes do bolso atado à sua perna – Meu doce dinheirinho. – Hinata choramingou, e Naruto riu.

— Sinto muito, mas temos que manter as aparências, e eu não tenho um tostão. – a garoto rolou os olhos, aceitando sua desculpa.

Saíram da loja, e o dia já estava claro. Grande parte do comércio já tinha aberto, e as pessoas se cumprimentavam. Hinata puxou Naruto pela tangente, escondendo-se e levando-o para o mais afastado da multidão. Os moradores gostavam dele, o herói da vila, e não tinham tempo para autógrafos naquele momento. Já tinha um lugar em mente, tranquilo e isolado.

— Para onde estamos indo? – o garoto perguntou, confuso.

— Tem uma campina, depois dos muros, onde eu costumo treinar sozinha. – explicou – Vamos poder conversar melhor e decidir o que faremos até terça-feira. – ainda era sexta, e eles teriam que enfrentar o fim de semana inteiro.

Caminharam por um bom tempo, a maior parte dele em silêncio. Sozinhos, ainda havia uma atmosfera pesada, cada um tentando não pensar no que aquilo significava para o outro. Hinata sentia-se mal por estar impondo sua presença a Naruto, justo quando ele queria focar em missões e em seu treinamento com os sannins. Naruto, por outro lado, estava desconfortável, com as palavras de Hanabi rondando sua mente. Não sabia que Hinata nutria sentimentos por ele há tantos anos, e devia estar sendo difícil para ele, logo depois de ser dispensada.

— Chegamos. – Hinata quebrou o silêncio, apontando para uma relva, cheia de árvores quebradas e troncos de treinamento. Era espaçoso e iluminado, com alguns arbustos frutíferos também. Naruto ficou surpreso.

— É muito bom. – elogiou, e a garota corou.

— Tudo bem, vamos sentar e pensar. – encostou em um tronco, descansando as costas e tendo espaço para esticar as pernas. Naruto sentou-se a sua frente, com as pernas cruzadas, apoiando a cabeça nas mãos e esperando – Não podemos chamar atenção, e ficar deslizando igual no Ichiraku. – uniu as sobrancelhas – Vamos ter que manter nossa rotina. O que você faz usualmente?

— Passo o dia com a vovó Tsunade. – respondeu de prontidão – Quando não ficamos no escritório, vamos treinar. Ela ia começar a me ensinar mais sobre taijutsu. – seus olhos brilharam, mas Hinata sentiu todo o corpo arrepiar.

— Fora de cogitação! Eu nunca vou conseguir fingir ser você perto da hokage-sama! – sequer conseguia chamá-la pelo nome, quem dirá ter o nível de intimidade que Naruto tinha.

— Mas você quem disse que não podemos chamar atenção! Se eu não for treinar, ela vai desconfiar. – apontou, e ela admitiu que ele tinha um bom ponto.

— Tudo bem, digamos que dê certo. – era uma hipótese bem remota – Eu mal consigo andar, com essas pernas enormes! – apontou para os membros, reforçando – Eu não vou conseguir controlar seu chakra, por exemplo.

— Eu te ensino. – retrucou, simplesmente, e Hinata o encarou como se ele fosse louco – Não é tão difícil. Você sabe todos os jutsus que eu, mais ainda, até. O segredo vai ser pensar como se você fosse que controlasse tudo. É seu chakra, é seu corpo. Você é muito inteligente, eu tenho certeza que consegue. – Hinata não esperava por um elogio tão cru, e foi inevitável não corar. Naruto observou seu próprio rosto assumir um tom escarlate.

— Obrigada. – agradeceu com um múrmuro – Aos sábados eu treino com Neji nii-san, é quase sagrado. Vai ter que ir no meu lugar. – mudou de assunto, e, ao contrário da sua própria reação, Naruto pareceu se animar mais.

— Treinar com o Neji? Estou dentro! – ela suspirou internamente, se perguntando como as coisas pareciam tão simples para ele.

— Eu vou tentar te ensinar o básico do Byakugan, apenas para você se adaptar com ele. Sei que é difícil enxergar, mesmo sem estar ativado. – falou, franca, e Naruto concordou furiosamente.

De certa forma, aquela era a questão principal. Poderiam ficar ali durante o dia, para evitar encontrar os amigos, e, durante o fim de semana, teriam apenas que cumprir suas obrigações. Não parecia tão difícil – Hinata estava até esperançosa –. Foi mudar de posição, dobrando as pernas, mas sentiu um repuxar em seu abdômen, e uma dor incômoda surgiu, algo que não estava ali. Infelizmente, ela sabia do que se tratava, e começou a se desesperar.

— Não, não, não, não... – se levantou em um salto, encostando na árvore e unindo as pernas o máximo que pode.

— Hinata, o que foi? – Naruto, alarmado, se levantou também, preocupado com o rosto da garota, que, de repente, tinha se convertido em uma máscara de total pânico.

— Eu estou com vontade de fazer xixi!

Na noite anterior, aquilo nem passara pela sua cabeça, e, depois da faxina, ela dormiu em poucos segundos, sem comer nada, logo, suas necessidades fisiológicas não se pronunciaram. Mas ela tinha comido uma tigela inteira de rámen, tomado o caldo e dois copos de água! Sentia a bexiga cheia, e, agora, com a consciência, parecia que a vontade tinha duplicado. Naruto também a encarava, mas ela não conseguiu identificar quais sentimentos estavam estampados nas orbes peroladas arregaladas.

— Você não mijou ainda? – Hinata ignorou completamente aquele vocabulário chulo vindo de sua voz, apenas para encará-lo, apavorada.

— Claro que não! Eu não tinha sentido vontade! – se justificou, e, a cada palavra, sentia mais e mais suas entranhas se apertarem – Por que? Você fez?

— Claro que sim!

Aquele foi o artifício perfeito para distraí-la momentaneamente. Se não tinha sido o propósito, funcionou muito bem – Hinata paralisou, sentindo os olhos saltarem, enquanto suas orelhas começaram a queimar.

— O quê? Você fez xixi? – repetiu, a voz já aumentando alguns tons inconformados, e Naruto assentiu, parecendo não perceber a gravidade da situação.

— Lógico, eu acordei superapertado! – se defendeu. Hinata não conseguiu controlar seus próprios pensamentos em seguida, o calor passando de sua nuca para seu rosto, tomando conta de cada centímetro, até que a pele amorenada estivesse totalmente vermelha – O que foi? Você está bem? – Naruto se aproximou, preocupado.

Tudo que Hinata conseguia pensar era que Naruto tinha mesmo feito xixi. Tinha abaixado suas calças, sua calcinha e visto suas partes. A vergonha era tamanha que tudo que ela conseguiu foi soltar pequenos guinchos, que saíram totalmente desproporcionais na voz grossa daquele corpo, parecendo como urros desafinados. No momento seguinte, foi impulsionada pela aflição e pela inconformidade, e ergueu o braço, deferindo um forte tapa contra o ombro de Naruto. O garoto, pego desprevenido, caiu há alguns metros, sem fôlego.

— AI, ISSO DOEU! – gritou, apoiando a mão contra o ombro – Não era para doer assim. – resmungou, tentando sentar, e, esfregando o local, percebeu que havia ficado a marca contra a pele alva da morena. Por um momento, ela tinha esquecido que estava no corpo de um garoto, e que sua força física e o peso da sua mão eram diferentes. Tirando o fato, claro, que ela nunca tinha batido intencionalmente em alguém que gostava, ainda mais em Naruto. Estagnou, de repente, em choque – Eu não vi nada, eu juro! – Naruto se defendeu, levantando-se – Que tipo de homem acha que eu sou? Eu fiz de olho fechado!

Hinata sentiu a indignação ser substituída pela culpa, e deixou os braços caírem, fitando a marca do tapa bem evidente contra o ombro, brilhando como uma placa de luz. Levantou as mãos até a cabeça, afundando no cabelo, deixando a mandíbula se soltar em uma expressão de profundo desespero.

— Meu Deus, eu sou um cara que bate em mulheres! – guinchou, começando a andar de um lado a outro, esquecendo sua bexiga cheia. Naruto a observou, pasmo. Não conhecia tão bem as mulheres, mas sabia identificar um ataque de pânico.

— Hinata, você não é um cara! – exclamou, marchando até ela e agarrando seus ombros, fazendo-a parar, mas suas mãos pequenas não conseguiam se fechar em torno do bíceps. Ela o encarou com aqueles olhos azuis atormentados – Você é uma garota no corpo de um cara! – tentou fazê-la recobrar a razão, mas ela continuou murmurando coisas desconexas, culpada. Naruto começou a se desesperar também, e, antes que pudesse pensar, desferiu um tapa contra seu rosto, fazendo-o virar para o outro lado. Pelo menos a fez parar de surtar, mas, quando voltou, estava novamente indignada.

— Agora você se tornou um cara que bate em mulheres! – acusou, esfregando a bochecha, que também adquiriu um tom rosado.

— Pelo amor de Deus. – Naruto bufou, afastando-se para olhá-la no rosto – Se acalma! Eu não sou um cara, e você não é um cara. Quer dizer, eu sou um cara, mas no seu corpo, o que me torna uma mulher. Ah, foda-se! Se acalma! – confundiu-se e ficou irritado.

A pequena briga teve o efeito desejado. Hinata respirou fundo, recobrando a consciência, e voltando para o ponto que importava, e precisariam resolver, antes de qualquer coisa: sua bexiga cheia.

— Eu ainda preciso fazer xixi. – resmungou, e Naruto suspirou.

— Olha, para mim foi mais fácil porque, sabe, é sentado. – queimou ligeiramente – Mas precisa de um pouco de prática.

— Eu não vou fazer isso! – exclamou, rápido, novamente aflita. Nunca tinha visto um membro masculino pessoalmente, muito menos tocado em um. As aulas de anatomia foram mais que suficientes, além do fato de ser completamente constrangedor. Naruto voltou a suspirar, coçando a cabeça e procurando um meio-termo.

— Mas você não está apertada? – tornou a perguntar, cruzando os braços embaixo do busto, e achou particularmente engraçado ver seu rosto convertido em uma máscara tão exasperada.

— Eu não vou... – fez uma careta – tocar. — falou quase como se fosse um palavrão.

Ó meu Quarto Hokage, dai-me paciência.

— Tudo bem, tudo bem. – ergueu as mãos, acariciando, sem jeito, os braços, tentando fazê-la parar de hiperventilar – Vamos fazer assim: eu te ajudo dessa vez. – propôs, e ela ergueu uma sobrancelha, cética – Você fecha os olhos e eu toco. – revirou, e ela pareceu concordar com a oferta.

— Vamos ali atrás. – apontou para um arbusto maior, timidamente, e Naruto assentiu.

— Não é como se fosse mudar tanta coisa. – resmungou, mas ela não ouviu.

Se posicionaram, Hinata de pé e com as pernas bem separadas, mas Naruto, com aquele corpo menor, teve dificuldade em ficar na frente, de maneira que pudesse manejar sem molhar a ambos. Mordendo os lábios, conseguiu ficar do seu lado esquerdo, com um braço transpassado pela cintura, atrapalhado.

— Está bem, eu vou abrir a calça agora. – avisou, e Hinata já estava com os braços suspensos, cobrindo firmemente o rosto. Naruto resmungou, não acreditando que estavam passando por aquela situação. Procurou pelo fecho do moletom, desabotoando por dentro, e sentiu alguns tremores no braço que encostava em suas costas – Eu vou, hm, colocar para fora. – estremeceu, e ela assentiu.

Hinata não esperava pela sensação que se seguira. As mãos finas agarraram o membro, puxando-o para fora do calção que usava, e, quando o vento bateu, sentiu um arrepio na espinha. Era como se fosse três vezes mais sensível – conseguia sentir perfeitamente as mãos miúdas e quentes, e era como se faltasse pele e sobrasse carne. Estava curiosa para saber como era, mas nunca abriria os olhos.

— Pode mandar ver. – Naruto incentivou, já segurando e apontando experientemente para frente. Hinata, por outro lado, quis lhe dar um olhar inconformado.

— E como, exatamente, eu faço isso?

— Ai, meu Deus, como eu vou explicar? – choramingou para si mesmo – Faça normalmente. Como se estivesse sentada. – aquilo era muito vergonhoso! – Só relaxar, sabe? Pensa na vontade de mija- de fazer xixi – revirou os olhos – e deixa sair.

Hinata assentiu, incerta, e pareceu se concentrar. Quando percebeu, o líquido já estava saindo, como se estivesse mesmo sentada. Afrouxou os ombros, deixando-se aliviar. Estava realmente com muita vontade, porque ficou bons trinta segundos, até que sentiu a intensidade diminuir pouco a pouco, até finalizar. Era como tirar um peso do abdômen.

— O que está fazendo? – perguntou, confusa, quando sentiu Naruto chacoalhar o negócio.

— Isso é um truque muito útil, serve para não manchar as roupas. – explicou, tranquilamente.

— Ew. – homens eram nojentos. Esperou até que ouvisse o clique do botão, somente nesse momento abriu os olhos. Piscou um pouco, sabendo que deveria estar ruborizada. Seu rosto estava convertido em uma máscara concentrada, porém agradada. Hinata sentiu uma ponta de gratidão. Mesmo tendo sido vexatório, Naruto não precisava tê-la ajudada com aquilo, e mesmo assim ele se propôs – Obrigada por isso. – agradeceu em voz baixa, e ele sorriu seu típico sorriso largo, que quase combinava com os olhos perolados.

— Sem problemas. – levou as mãos até a nuca, cruzando-os. Saíram da posição constrangedora, voltando para o campo – Você sabe que vamos ter que tomar banho em alguma hora, não sabe? – ele indagou, e, mesmo estando na frente, soube exatamente que expressão ele estava fazendo. Fechou a cara, novamente envergonhada.

— Por favor, não me faça pensar em mais de um problema por vez. – resmungou.

Seria um longo fim de semana.


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Notas finais do capítulo

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