Passavam todo o tempo juntos, exploraram o planeta em busca de novos sons, ele sabia como agradar a pequena luz. Aliás, agora ela era realmente um raio bem opaco de luz, ela sabia que uma hora ou outra sua energia se esgotaria se não fossem buscar mais, ora, além de explorarem novos sons, também procuravam a fonte eletromagnética do planeta, ela sentia fragmentos daquelas ondas, logo ambos chegariam naquela região-fonte e ela iria se recompor.

Certa vez, ele encontrou uma enorme caverna e pediu para que ela o esperasse do lado de fora. Ela sentou ao chão, um animal com placas duras passou próximo dela, ele deveria ter se assustado com ela, mas só correu assustado quando o som amplificado pela gruta saiu num tom tão alto que até mesmo animais batendo as asas saíram de lá de dentro rapidamente. Ela gargalhou animada quando ele apareceu pela entrada da cavidade da rocha.

— Você ouviu isso? Não chega a ser o som que fizemos no nosso primeiro choque, mas você viu aqueles seres voando? Eles não esperavam por aquilo! – E deu uma gargalhada, ainda divertido pelo feito.

— Sim, eu vi sim. – Sorria abobalhada com a animação dele.

Estavam distraídos até que uma sombra inesperada atingiu o lugar. Ela se retraiu num susto e simplesmente saiu correndo – não tinha mais a mesma “velocidade da luz” que antigamente, mas ainda podia cortar o ar em uma espécie de “zig-zag” – para alguma área que ainda apresentava luz, tropeçou algumas vezes, mas não chegou a cair, ele foi atrás dela e a segurou pela mão, puxando ela com uma maior velocidade – ela estava fraca, afinal –, ele decidiu olhar para o céu atrás deles durante a corrida ininterrupta, imaginou que fosse mais uma nuvem que, como já havia acontecido antes, estava se aproximando. Mas não, não era uma simples mancha de sombra ocasionada por nuvens. Outros animais de grande porte apareciam, correndo em desespero com eles, um vento extremamente intenso movimentava enormes vegetações e erguia poeira. A curiosidade dela ganhou força quando percebeu que o pânico era generalizado, foi então que olhou para trás e viu a enorme massa em rota daquele planeta.

Se pudesse chorar, seus olhos provavelmente estariam repletos de lágrimas, sabia o que iria acontecer. Ele também percebeu. Ela estava fraca demais para continuar correndo e gastando o pouco de energia que possuía. Pararam e se abraçaram não precisavam ter medo, já percorreram enormes distâncias antes pelo espaço e viram muitos outros eventos acontecerem.

Tudo ocorreu em questão de segundos num estrondo que ele reproduziu sem realmente querer. Ela oscilou em tons extremamente intensos no começo, quadriplicou de tamanho no início do choque, parte daquele planeta de desprendeu e continuou a rota agora desviada numa direção oposta, agora com menor velocidade, restos continuaram no planeta enquanto outra parte se deslocava rapidamente para fora do eixo.

Tudo aquilo foi seguido de um enorme silêncio. Ele se erguia atordoado, ouvia-se rochas e cascalhos caindo do céu. Procurou por ela, estava próxima de si quando o evento aconteceu, mas nada encontrou. Em desespero continuou a rodopiar tudo ali em volta, com o tempo, ampliava a escala de procura, e buscou, averiguou, explorou, mas nada encontrava. Ela havia sumido. Ela provavelmente se dissipou e se uniu aos fragmentos magnéticos que agora estavam invertidos na Terra, de forma abrupta.

Caiu de joelhos próximo ao mar. Já havia se passado meses – ou será que eram anos? – de procura e nada, nenhum resultado. Será que nunca mais poderiam se encontrar? Sua alma estava destroçada.

Olhou para o céu, depois de tanto tempo, um dos fragmentos daquele choque catastrófico estava completamente avermelhado no céu escuro e inóspito. O eclipse lunar era a dona do lugar agora. Aos poucos sua forma foi se desfazendo, se desmanchando em ondas cada vez mais fracas, até que ele sumiu.