Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 9
Capítulo 9




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No dia seguinte todo o corpo de Elisabeta doía. Não era apenas a cabeça, que doía por causa da bebida. Não era apenas o espasmo muscular de uma noite de descobertas com Darcy. Sentia-se doente. Enjoada, com o corpo todo exausto. Tentou levantar-se da cama, sem sucesso. Não lembrava-se de que horas havia acordado e vestido a camisola, mas agradecia agora por seu momento de lucidez.

Avaliou suas atividades do dia. Precisava avançar em sua coluna, a semana estava no fim e tudo deveria estar pronto até o começo da semana seguinte. Por outro lado, poderia trabalhar de casa. Não gostava tanto da ideia, mas sua garganta doía, a exaustão tomava conta.

Adormeceu novamente, sem notar. Quando acordou com as batidas na porta, não sabia quanto tempo havia passado. Mas a voz de Charlotte soava do outro lado, e imaginou que fosse tarde. Só isso explicaria alguém bater à sua porta. Provavelmente Charlotte e Archiebald perceberam que Elisabeta sequer despertara ainda.

Elisabeta enrolou-se em uma coberta, arrastando-se até a porta.

— Bom dia. – disse, com a voz rouca.

— Meu Deus, o que aconteceu com você? – Charlotte disse, preocupada.

— Eu não sei. – Elisabeta voltou para a cama, com Charlotte em seu encalce.

— Você parece péssima. – Charlotte riu. – Tudo isso foi a bebida de ontem?

— Não, não. – Elisabeta defendeu-se. – Tem alguma coisa tentando me matar.

— Eu vou pedir para Mercedes fazer um chá pra você.

Charlotte estava prestes a puxar a cadeira e sentar-se um pouco. Mas um detalhe chamou sua atenção. Elisabeta ainda estava em um processo de penalização por si mesma, e quando seus olhos voltaram a focar em Charlotte, ela segurava um tecido nas mãos.

— Esse é o colete de Darcy? – Charlotte abriu um sorriso. – Darcy esteve aqui?

— O que? – Elisabeta fingiu surpresa. – De onde você tirou isso? Eu não sei de quem é.

— É de Darcy. – Charlotte afirmou. – A pergunta é como veio parar em seu quarto.

— Ora, Mercedes deve ter esquecido. – Elisabeta se fez de desentendida.

— Ah, claro. É melhor que levar para o quarto de Darcy, não é? – Charlotte manteve um sorriso enigmático.

Assim que Charlotte saiu de seu quarto, Elisabeta jogou-se na cama. Esse dia havia começado da pior forma possível, e não parecia melhorar.

##

Elisabeta sequer conseguiu sair do quarto naquele dia. Após o almoço, foi a vez de Lorde Williamson visita-la. Sentia falta de seus momentos a sós com Archiebald, das conversas profundas, o carinho que ele demonstrava. E apesar do mal estar, passou momentos agradáveis ao lado de seu protetor.

O que fez com que pensasse sobre sua relação com Darcy. Charlotte era inteligente e não deixaria aquela informação passar. Todos sabiam que Mercedes era incapaz de deixar um alfinete fora do lugar, e era impensável imaginar que esquecesse um pedaço do vestuário de Darcy.

O que Charlotte pensaria se soubesse sobre sua relação com Darcy? Ou pior, o que Lorde Williamson pensaria? Abrira as portas de sua casa, dera a ela educação, oportunidades, mas tudo isso era muito diferente de uma relação com seu filho. Os Williamson eram nobres ingleses, tradicionais, e Elisabeta era apenas uma jornalista do interior.

Além disso, não tinha de fato uma relação com Darcy. Brigavam parte do tempo, e tinham aqueles momentos roubados, que estavam cada vez mais frequentes. Mas Elisabeta não sabia se Darcy havia deixado de lado suas suspeitas iniciais. Não conversavam sobre qualquer tipo de sentimento.

E para ser sincera, Elisabeta sequer sabia se gostaria de conversar sobre algo que não sabia o que era. Porque era verdade que sentia desejo por Darcy, aos poucos passara a ver mais qualidades naquele homem, mas ele também a irritava com facilidade, gostava de provocá-la e nem sempre era a melhor das companhias.

Ficava assustada com a forma como seu corpo respondia à ele. Já tivera alguns namoricos, mas nunca um desejo tão intenso. Nunca deixara um homem tocá-la como ele, nunca tocara em outro como fazia com Darcy. A essa altura tinha a impressão que Darcy faria o que quisesse com ela.

Mas apesar de sua aparente independência, de sua vontade de ganhar o mundo, Elisabeta temia por seus sentimentos. Darcy era um homem do mundo, experiente, e não era inocente de imaginar que não tinha um longo histórico de mulheres. Mas para ela era uma novidade, tudo o que passava com ele era novidade, e apesar de tentar proteger seu coração, não tinha certeza se não estava trilhando um caminho sem volta.

Seus pensamentos foram deixados de lado quando, no começo da noite, mais um dos Williamson apareceu em seu quarto. Darcy deu duas batidas antes de abrir a porta, e Elisabeta viu-se agradecendo por ter ao menos tomado um banho durante a tarde. Ele entrou com um sorriso de lado, sentando-se na metade da cama.

— Eu deveria brigar com você por ter faltado ao trabalho. – disse, puxando a mão de Elisabeta para um carinho.

— Deveria me agradecer por não contaminar toda a redação. – ela sorriu também, sentando-se um pouco.

— Charlotte mandou um mensageiro pela manhã. Só consegui vir agora. Está melhor? – a mão de Darcy continuava acariciando a de Elisabeta.

— Um pouco, obrigada. Acho que não tive mais febre. – deu de ombros.

Darcy levou a mão ao rosto de Elisabeta, para testar sua temperatura. Mas o ato se transformou em um carinho, que fez com que ela inclinasse o rosto em direção à mão dele.

— Você quer jantar? Logo Mercedes vai servir o jantar. – a outra mão ainda segurava a dela.

— Não, ainda estou enjoada. E falando sobre Mercedes... Charlotte encontrou o seu colete aqui. – Elisabeta fez uma expressão preocupada.

— É mesmo? – Darcy sorriu abertamente. – Então logo terei uma irmã bastante curiosa tentando me fazer confessar que estive aqui.

— Eu disse a ela que não, que Mercedes deve ter colocado no lugar errado. – ela riu.

— Justo Mercedes? – Darcy ergueu a sobrancelha. – Charlotte jamais acreditaria nisso. Mas por acaso a senhorita está com medo que minha irmã descubra que passamos tempo juntos?

Darcy sentou-se mais perto dela, com um olhar desconfiado.

— Você não? – ela imitou o olhar dele.

— Eu não sei se seria adequado que minha irmã, e principalmente meu pai, soubessem o que você tem feito comigo.

— Eu? – Elisabeta deu um tapa de leve no ombro dele. – É o senhor quem tem feito coisas comigo.

— E sorte a sua que está inválida. – Darcy colou a testa na dela, acariciando o nariz de Elisabeta com o seu. – Porque eu estava cheio de ideias de como aproveitar nosso tempo.

— Você está me impedindo de pensar de forma racional. – Elisabeta confessou, acariciando o rosto dele. – Então, por favor, saia daqui antes que sua irmã nos encontre.

Darcy roubou um selinho antes de afastar-se de Elisabeta, saindo discretamente do quarto, e para a sorte deles, sem ser visto por ninguém.

##

No dia seguinte Elisabeta sentia-se um pouco melhor. Ainda assim só desceu na hora do almoço, quase renovada ao ver o banquete característico dos almoços de final de semana da casa dos Williamson. Cumprimentou os três ingleses, sentando-se em seu lugar característico.

— Que bom que se juntou à nós, Elisabeta. – Lorde Williamson sorriu. – Estive preocupado com você.

— O senhor sabe que me recupero rapidamente. – ela segurou à mão dele rapidamente. – Não quis causar nenhuma preocupação.

— Ainda bem que está melhor, Elisa. – Charlotte bateu palmas. – Ontem recebemos o convite para o baile de Camilo Bittencourt, que será realizado na próxima semana, e mal posso esperar para que vá comigo escolher nossos vestidos.

— Charlotte, Elisabeta ainda está se recuperando. – Darcy piscou discretamente para Elisabeta.

— É verdade, mas poderemos ir durante a semana. Será um evento grandioso, Elisa. Toda a cidade estará lá.

— Os eventos de Julieta são sempre bastante agradáveis. – Elisabeta sorriu. – Eu adoraria ajuda-la na escolha.

— E também compraremos o seu vestido. Eu não aceito uma recusa. Até Darcy vai ao baile. – Charlotte apontou, empolgada.

— Por insistência sua. Sabe que não sou dado a festas. – ele reclamou.

— Bobagem. Todos gostam de uma boa festa. Papai sempre nos estimulou.

— É verdade, minha filha. Inclusive está na hora de você e seu irmão conhecerem a sociedade paulista. Darcy, principalmente, precisa variar as companhias.

— Meu pai, se está falando de Susana... – Darcy começou.

— E de quem mais eu estaria falando? Aquela moça é bastante inconveniente. – o Lorde reclamou.

— Eu acho ótimo. Está mesmo na hora de Darcy começar a procurar uma pretendente. – Charlotte disse, enquanto observava a reação de Elisabeta, que tentou manter-se inexpressiva.

— Eu não tenho interesse de encontrar uma pretendente no baile de Camilo, Charlotte. – Darcy riu.

— Está na hora de se casar, Darcy. – Charlotte revirou os olhos.

— Não posso discordar de Charlotte. – o Lorde também sorriu. – Inclusive gostaria de conhecer os solteiros da região. Charlotte e Elisabeta também precisam de bons casamentos.

— Perdão? – Elisabeta entrou na conversa, à menção de seu nome. – Nós já tivemos essa conversa, Archiebald.

— Ora, Elisabeta. Eu não estou dizendo que você precise se casar por conveniência. Mas não vou deixa-la casar-se com um vagabundo que só vai sugar seu dinheiro. – o Lorde disse, direto. – Como aquele fazendeiro malandro que insistia em fazer-lhe visitas.

— Xavier? – Elisabeta riu. – Ora, Lorde Williamson, a começar que eu não tenho dinheiro nenhum para que alguém queira casar-se comigo por interesse.

— Mas tem uma boa família, uma boa educação, uma carreira. Está decidido, Elisabeta, eu vou apresenta-la para os melhores partidos da região.

— Meu pai, será mesmo necessário? O senhor está constrangendo a moça. – Darcy tentou esconder o amargor na voz.

— É claro que é necessário, Darcy. – Charlotte opinou, contendo o riso ao ver a expressão do irmão. – Eu e Elisabeta usaremos nossos melhores vestidos para ver o que São Paulo tem a oferecer.

— Mal posso esperar. – Elisabeta comentou, irônica, arrancando risos de Charlotte e Lorde Williamson, e um olhar curioso de Darcy.

##

Elisabeta recolheu-se cedo naquela noite. Ainda estava cansada e com pouco ânimo. Dispensou o recital dos Williamson, e após um banho longo, deitou-se em sua cama, enrolada nas cobertas. Após uma leitura leve, estava quase adormecendo quando a porta de seu quarto se abriu.

Darcy se aproximou em passos lentos. O cheiro de sabonete e loção invadindo as narinas de Elisabeta, e os cabelos molhados dele denunciando que acabara de sair do banho também. Tinha aquele sorriso de lado, meio cúmplice, e sem pedir licença afastou as cobertas de Elisabeta.

Deitou ao lado dela e a puxou para seus braços, as costas dela no peito dele, a mão de Darcy já procurando a de Elisabeta. Beijou o ombro de Elisa, e então cheirou seu pescoço. O calor do corpo dele esquentando todo o ambiente.

— Eu espero que você não me expulse. – ele riu no ouvido dela.

— O que é que você está fazendo aqui? – Elisabeta aninhou-se ainda mais perto dele.

— Estou com saudade da sua boca, do seu cheiro. – Darcy acariciou os cabelos dela. – Mas como você ainda não pode me dar atenção, eu pensei em dormir aqui.

— Eu não deveria deixar que você dormisse aqui. É impróprio, e alguém poderia ver. – Elisabeta virou-se um pouco para ele.

— Tenho esperança que tenha um mas nessa frase. – Darcy fez um bico.

— Mas estou com frio, e você está me aquecendo, então pode ficar.

Ele a abraçou com força, voltando a beijar levemente o pescoço de Elisabeta, e então seus cabelos, até a respiração dela ficar mais profunda. E um pouco antes de seu sono chegar, Darcy deu-se conta de que seus sentimentos envolviam mais do que desejo, mais do que vontade. Mas não sabia nomear, só que não queria nada mais daquela noite além de Elisabeta Benedito dormindo em seus braços.


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