Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 6
Capítulo 6




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Susana estava na redação. Susana estava na sala de Darcy, rindo muito mais alto do que o necessário de qualquer coisa que Darcy dizia. Elisabeta estava tentando se concentrar no trabalho, mas era uma tarefa muito, muito difícil, quando a voz de Susana ecoava por todo o seu precioso ambiente.

Ela continuava aparecendo em todos os lugares. Estava em sua casa antes que Elisabeta pudesse sair para trabalhar, e não raro estava lá quando retornava. Fazia questão de provoca-la na frente de Darcy e Charlotte, embora fingisse inocência quando Lorde Williamson estava presente.

Mas a tolerância de Elisabeta diminuía quando via Susana interagir com Darcy. Fazia questão de tocar em Darcy sempre que possível, elogiá-lo por qualquer motivo. Sabia que estava sendo infantil, irritando-se com coisas tão banais. Principalmente porque não tinha qualquer relação com Darcy, não sabia sequer se gostava dele.

Era apenas instintivo. Seu humor piorava, principalmente ao notar que o inglês parecia saber exatamente o efeito que provocava nela. Ele não dizia nada, nunca dizia nada. Mas possuía um divertimento no olhar, agradecia exageradamente todos os elogios, e todas as vezes em que Elisa tentava usar alguma desculpa para não ficar no mesmo ambiente, Darcy requisitava sua presença.

Não o beijara mais após a noite no bar. Sequer ficara sozinha com ele mais do que alguns segundos. E não era por evita-lo, precisava ser sincera. Estava apenas trabalhando demais, e Darcy agora passava menos tempo no jornal. Elisabeta sabia que o mais velho dos Williamson notara a saúde debilitada de Archiebald, sua dificuldade de reter informações e de manter o comando dos negócios.

Em partes era esse o motivo da aproximação de Darcy e Susana. Archiebald e Julieta Bittencourt eram sócios em muitos negócios, e Susana era o braço direito da Rainha do Café. Conforme Darcy tomava parte nos negócios do pai, sua presença era exigida em reuniões e debates de negócios. E Susana aproveitava-se disso.

Era claro o interesse da mais velha em Darcy. Não poderia ficar mais evidente nem que Susana tentasse. Não poderia julgá-la, uma vez que Darcy era um homem muito interessante. Alto, bonito, forte, inteligente. Tinha um humor sarcástico, sabia conversar sobre todos os assuntos. Era carinhoso com Charlotte, e aos poucos passava a ter uma relação melhor com Lorde Williamson e com os colegas na redação.

Elisabeta tentou desviar sua linha de pensamento. Não pretendia admirar as qualidades de Darcy, embora fizesse isso com alguma frequência nos últimos tempos. Seu raciocínio foi interrompido por mais uma gargalhada de Susana, que levou seus olhos diretamente para a sala de Darcy.

Seus olhos encontraram diretamente os dele, antes que pudesse disfarçar a expressão irônica. Darcy sorriu abertamente, respondendo à Susana sem tirar os olhos de Elisabeta, brincando com uma caneta graciosamente entre os dedos. Elisa perguntava-se se era tudo para provoca-la. A camisa justa, o perfume, todos os pequenos detalhes que era obrigada a notar no trabalho e em casa.

Darcy ergueu a sobrancelha, com um sorriso de lado, quando Elisabeta engoliu em seco, o que chamou a atenção de Susana. Mas antes que ela pudesse virar-se completamente, Elisabeta já estava com seus olhos na máquina de escrever, fingindo estar completamente alheia ao que acontecia na sala de Darcy.

##

Não foi de propósito na primeira vez. Elisabeta e Olegário eram amigos, tinham intimidade o suficiente para brincadeiras, para um ou outro abraço, mesmo que em meio à redação. Era um ambiente informal, afinal de contas. Por isso não foi proposital e não teve sentido de provocação.

Elisabeta sequer pensou que pudesse provocar o olhar de Darcy. Fora um abraço de amizade, e se Olegário manteve a mão em sua cintura por alguns segundos a mais, não foi por qualquer maldade. Mas quando Elisabeta voltou para sua mesa, os olhos de Darcy estavam nela, a expressão de incomodo não poderia estar mais clara.

E Elisabeta demorou a notar. Estando tão acostumada a ser ela a perturbada com Susana, levou alguns dias para notar que qualquer conversa que tinha com o colega de trabalho chamava a atenção de Darcy. Ou que ele sempre precisava de um café na mesma hora em que ela e Olegário tinham a mesma ideia.

Darcy não era propriamente rude com o colega, mas não fazia nenhuma questão de ser simpático. Um pouco por isso, e um pouco por uma vingança quase infantil, Elisabeta passou a demonstrar um pouco mais de afeto. Cumprimentava o amigo com mais ênfase, conversava mais com Olegário sempre que Darcy estava presente. Fazia questão de demonstrar cumplicidade.

Eles pareciam estar vivendo um pacto de silêncio. Darcy não jantava em casa na maioria dos dias, Elisabeta mal o encontrava no café da manhã. Ela optava por ficar na redação quando Darcy saia mais cedo, e poderia quase jurar que ele fazia o mesmo. E aquele jogo de provocações, aliado a falta de contato, estava deixando os dois mais arredios, mais tensos.

O episódio do escritório acontecera há mais de um mês, o último beijo há mais de duas semanas. Elisabeta estava quase tentada a provocar uma situação, ficar sozinha com Darcy propositalmente. Não devia, não quando seu corpo parecia precisar do dele, quando não conseguia ver Darcy sem pensar em seus beijos.

Mas naquela manhã, Charlotte dera a ela a notícia de que Darcy não dormira em casa. Fora quase um desabafo, uma irmã que esperava que seu irmão mais velho não estivesse com Susana, a quem Charlotte passara a desprezar após as constantes visitas. Em Elisabeta, teve um efeito quase que bombástico, e imediato.

Como mais velha de cinco irmãs, o ciúme não era rotineiro. Era acostumada a dividir a atenção dos pais, brinquedos, espaço. Surpreendeu-se com o poder daquele sentimento, que Elisabeta nem sabia porque sentia. Sabia apenas que seria um dia difícil, tenso, porque tudo o que pensava era em gritar com Darcy, Susana, e manda-los para o inferno.

Ela não o fez, claro que não. Manteve uma expressão neutra quando Darcy chegou, muito mais tarde que o habitual, com o olhar cansado. Não o cumprimentou, mas não jogar o peso de papel nele já parecia uma vitória naquele dia. Mas estava tensa, desconfortável, e não demorou para Olegário perceber.

Elisabeta jamais usaria o amigo daquela forma, mas quando Olegário segurou sua mão, não impediu. Riu das tentativas dele de melhorar seu humor, e quando mais tarde, com a redação quase fazia, ele sugeriu que ela ainda estava tensa demais, talvez tenha escapado propositalmente que uma massagem cairia bem.

E não deveria de forma alguma, mas quando Olegário revirou os olhos, e a chamou de abusada, ela apenas sorriu. Não retirou as palavras quando o amigo, a contragosto, tocou em seus ombros, e mesmo que tenha sido apenas por alguns segundos, e que para eles não houvesse nada de sensual ou fora do comum, seus olhos buscaram os de Darcy.

Porque Darcy não sabia de sua amizade com Olegário, de sua paixão por uma moça de alta classe social, ou de todas as vezes em que Elisabeta aconselhara o amigo. Darcy sabia apenas que Olegário era um homem solteiro. E Elisabeta sabia que ele passara o dia a observando. Sentia os olhos de Darcy nela, ainda que nenhuma vez tivesse retornado seu olhar.

Mas ela o fez, naquele segundo em que Olegário a tocava de uma forma que, para qualquer um que visse de fora, parecia íntima demais. E o monstro que batia em seu peito desde que ouvira sobre a noite de farra de Darcy acalmou-se um pouco ao ver aquele rosto consumido pela irritação, fúria até.

Mais tarde despediu-se de Olegário com seu melhor sorriso, em um abraço que durou mais segundos do que o normal. E poderia ter ido embora com o amigo, mas nesse dia não fugiria de Darcy. Se alguém estivesse incomodado, que fosse ele. Que fosse embora antes dela, que evitasse sua presença. Mas Elisabeta tinha trabalho a fazer, e já podia imaginar Susana aboletada no sofá dos Williamson, como sempre fazia.

E era melhor que estivesse trabalhando, então. Porque talvez não fosse capaz de controlar seus comentários ácidos, beirando a grosseria até. Não se precisasse ver Darcy e Susana interagindo mais uma vez. Sentou-se novamente, ignorando Darcy como fizera o dia inteiro.

Quase acreditou que passaria ilesa por aquele dia quando Darcy levantou-se e caminhou pela redação, indo até a porta em seguida. Imaginou que ele estava indo embora, mas quando Darcy trancou a porta e voltou-se para ela, prendeu a respiração. Mas o ignorou mesmo assim, enquanto os olhos dele quase queimavam, esperando sua atenção.

— O que foi aquilo? – Darcy trovejou, enquanto Elisabeta fingia trabalhar.

Tentou sua melhor expressão de desinteresse, evitando olhar para Darcy propositalmente. Queria provoca-lo, queria que estivesse tão irritado quando ela.

— O que? – perguntou em tom monótono.

— Pare com isso! – Darcy se aproximou, colocando as duas mãos na mesa de Elisabeta, impedindo sua leitura.

— Eu não sei do que está falando. – Elisabeta finalmente o encarou.

— É claro que você sabe. Esse show com esse malandro. O que foi isso? – Darcy tinha fogo nos olhos.

— Olegário? – fingiu indiferença. – Ele estava se despedindo.

Darcy bufou, levando as mãos à cabeça, bagunçando os cabelos antes de arrumá-los novamente. Respirou fundo uma, duas vezes, antes de voltar-se para ela novamente. Estava louco, só podia ser. Só a loucura explicaria a vontade de procurar Olegário em sua casa, soca-lo e depois demiti-lo.

— Você não parece bem. – o desprezo escorregou pela voz de Elisabeta. – Talvez uma boa noite de sono ajude.

Mas Darcy notou o tom, ela sabia que notaria. Seu olhar brilhou com um reconhecimento, e Elisabeta cruzou os braços, desafiando-o a confessar.

— É sobre isso, então? – a expressão dele mais controlada agora.

— Sobre o que? – Elisabeta levantou-se, dando a volta em sua mesa, sentando-se na beirada.

— Sobre eu não ter dormido em casa? É esse o seu jogo? – Darcy sorriu, irônico.

— Você não dormiu em casa? – ela fingiu um choque. – Surpreendente. Espero que não tenha sido picado.

Darcy sorriu abertamente agora, a irritação aos poucos entrando em controle. Se ele estava louco, Elisabeta também estava. Seu ciúme não estaria mais evidente nem que ela estivesse verde, de fato. E aos poucos o comportamento das últimas horas começou a fazer sentido para ele.

— Picado? – ele ergueu a sobrancelha.

— Veneno de jararaca pode ser mortal, Darcy. – Elisabeta sorriu.

— Você não cansa de me surpreender, Elisabeta. – Darcy se aproximou de repente, quase colidindo com ela. – Você realmente acha que eu estive com Susana?

— Susana, alguma meretriz. Não faria diferença, não é mesmo? – ela ergueu o queixo, tentando se manter indiferente à ele.

— Quando a conheci eu não imaginava que seria o tipo ciumenta, Elisabeta. – Darcy a cercou, uma das mãos já em sua cintura. – Mas eu gosto disso. Exceto quando você resolve me provocar.

— E consegui? – ela sorriu, irônica, vencida pelo corpo dele.

— Você quase fez seu colega perder os dentes. E não teria como comprar uma prótese, pois estaria desempregado.

Elisabeta riu baixo, e Darcy a puxou contra seu corpo. Seus lábios procuraram os dela, provocando, chegando perto apenas para afastar-se. Ele sorriu, confiante, mas foi surpreendido quando Elisabeta o segurou pela gravata, o puxando para ela. Suas bocas colidiram, gerando uma explosão de desejo.

Darcy colocou as duas mãos nos cabelos de Elisabeta, puxando os cachos, enquanto ela mordiscava seus lábios. A língua quente de Darcy tocou à sua, o corpo dele a prensando contra sua mesa de trabalho. Ela ainda o segurava pela gravata, enquanto a outra mão segurava-se em sua nuca.

Ele a surpreendeu quando a levantou sem esforço, sentando-a na mesa, abrindo suas pernas sem delicadeza, mantendo uma de cada lado do corpo dele. Darcy a puxou em direção a ele, suas mãos em seguida entrando por baixo das camadas de tecido, levantando as saias de Elisabeta e puxando seu centro contra o dele.

Ela deixou um gemido baixo escapar, e uma das mãos dele foi ao encontro de seu cabelo, como uma garra, expondo o pescoço de Elisabeta e deixando sua boca explorar. A outra mão de Darcy mantinha seus corpos colados, satisfeito quando Elisabeta respondia à seus movimentos, em uma fricção que quase enlouquecia os dois.

Darcy mordeu o pescoço de Elisabeta, e depois o beijou com força, querendo deixar marca, querendo fazê-la dele. Sem conseguir se conter, Elisabeta puxou a camisa de Darcy, expondo o suficiente de pele para que cravasse suas unhas, fazendo-o gemer contra sua pele.

Suas bocas se encontraram novamente, e Darcy desamarrou um dos laços do vestido de Elisabeta. As mãos descontroladas buscavam cada parte do corpo um do outro, em puxões, arranhões, apertos. O beijo era cada vez mais molhado, desesperado, como se quisessem recuperar o tempo perdido, ao mesmo tempo em que queriam punir um ao outro.

Mas Elisabeta o empurrou de repente, apenas o suficiente para suas bocas se separarem. Ele a encarou com o olhar perdido, surpreso.

— Onde você passou a noite? – Elisabeta perguntou, de repente, fazendo Darcy rir.

— Encontrei o filho de Julieta, Camilo. – ele a olhou nos olhos, por algum motivo precisava que ela acreditasse. – Fomos a uma casa de jogos.

— E depois? – Elisa o pressionou.

— Se você quer saber se havia mulheres, a resposta é sim. – ele a sentiu ficar tensa em seus braços. – Mas você não tem com o que se preocupar. Eu não pago por sexo.

Ela estudou a expressão dele, desconfiada. Não se importava que ele fosse direto, mas precisava saber, queria saber se era sincero.

— Eu só quero uma mulher na minha cama, Elisabeta. E essa mulher é você. – Darcy disse direto.

— Isso não impede que... – ela começou, mas foi calada com um beijo.

— Eu não estive com ninguém. Eu não preciso mentir para você. E já que estamos sendo sinceros, você e Olegário...

— Não. – ela o interrompeu. – Não, somos amigos.

— Então eu espero que você nunca mais me faça passar por isso. – ele sorriu de lado.

— Desde que você durma em casa. – Elisabeta também sorriu, provocante.

Mas antes que suas bocas pudessem se encontrar novamente e retomar de onde pararam, uma batida forte na porta fez com que os dois se afastassem, arrumando as roupas rapidamente.

— Elisabeta, você está ai? Sou eu, Olegário! Esqueci minhas chaves. – a voz dele soou pela porta.

Elisabeta precisou conter uma risada ao ver a expressão irritada de Darcy, antes que ele abrisse a porta. E trocaram apenas mais um olhar cúmplice quando Olegário sugeriu acompanha-la até em casa, e Elisabeta prontamente aceitou. Não se encontraram em casa, e nenhum dos dois sabia o que aquela noite significaria. E por via das dúvidas, experariam o dia seguinte.


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