Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 5
Capítulo 5




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O sono custou a chegar naquela noite. A mente de Elisabeta era inundada pelas lembranças do que acontecera no escritório, e ao mesmo tempo em que seu corpo era tomado pelo desejo, sua razão apontava o quanto fora longe demais. Nunca estivera de forma tão íntima com um homem, e nunca imaginara que pudesse chegar a esse ponto com Darcy Williamson.

Os primeiros raios de sol já entravam pela janela quando Elisabeta finalmente adormeceu, e agradeceu imensamente quando acordou algumas horas depois. Os finais de semana de Elisabeta costumavam ser de passeios com o Lorde, eventualmente um pouco de trabalho, mas nesse dia especificamente, pretendia ficar o maior tempo possível em seu próprio quarto.

Não saberia como agir com Darcy, não saberia se seria capaz de esconder de Archiebald ou Charlotte o que havia acontecido. E não confiava em seu corpo, pois a mera lembrança da noite anterior a deixava agitada. Seus lábios permaneciam inchados, o toque de Darcy ainda vívido em sua memória.

Por isso só saiu de seu quarto nas primeiras horas da tarde. Darcy quase nunca estava em casa nos finais de semana, e os passeios preferidos de Lorde Williamson eram após o almoço. Elisabeta não tinha dúvidas que Charlotte acompanharia o pai, e então poderia comer alguma coisa sem encontrar nenhum dos Williamson.

Amaldiçoou sua falta de sorte quando, do topo da escada, avistou Darcy na poltrona, com um livro nas mãos. Antes que pudesse fingir que não o vira e retornar para seu quarto, ele a avistou e abriu um sorriso preguiçoso e cúmplice. Elisabeta sentiu-se paralisada, e quase torceu para que os outros dois membros da família inglesa se materializassem naquela sala.

— Bom dia. – Darcy disse, conforme Elisabeta descia os degraus.

— Bom dia... tarde. – ela respondeu, sua boca seca.

— Estava ficando preocupado. – Darcy levantou-se, caminhando em passos lentos em sua direção. – Achei que pudesse ter fugido.

— Fugir? – ela engoliu em seco. – Pra onde eu fugiria?

— Você pareceu um pouco assustada ontem. – ele se aproximou ainda mais.

— Darcy! – Elisabeta deu um passo para trás. – Nós não precisamos falar sobre ontem.

— Não? – ele ergueu a sobrancelha.

— Foi um erro. – disse, sem encontrar os olhos dele. – E eu nem quero imaginar o que você está pensando de mim.

Elisabeta sentiu o nó em sua garganta, de repente. Não deveria se importar com o que Darcy pensaria sobre ela, mas se preocupava. Tentava provar à ele e Charlotte que não tinha qualquer interesse no dinheiro daquela família, mas sabia que o que acontecera ontem não ajudava a mudar a ideia de Darcy. E percebeu que temia tanto o encontro pelo receio do que ele poderia dizer.

Mas Darcy a surpreendeu quando se aproximou ainda mais, a mão dele tocando seu rosto de forma delicada, trazendo os olhos dela de encontro aos dele. Elisabeta sentiu as lágrimas queimarem em seus olhos, e tentou contê-las, porém incapaz de evitar que uma delas corresse por seu rosto. Darcy a limpou com o polegar.

— Eu estou pensando que você é surpreendente, Elisabeta. – disse, tranquilo. – E que me envergonho por vê-la pensar que eu a julgaria. Sei que tem seus motivos para pensar o pior de mim.

Elisabeta soltou uma respiração que não havia percebido que prendia. Não pensava o pior de Darcy. Sequer sabia o que pensava sobre ele, o que sentia por ele. Ainda não havia decidido se queria gritar com ele ou beijá-lo.

— Você me confunde. – disse, de repente.

— Isso é bom. – Darcy sorriu, ainda acariciando o rosto dela. – Você também me confunde, me deixa intrigado, desconfiado.

— O que aconteceu ontem a noite... – ela começou, mas Darcy a interrompeu.

— Não diga que foi um erro. Não precisamos falar sobre isso, se não quiser. Mas não foi errado. – ele disse, sério.

— Certo, não foi um erro. – Elisa suspirou. – Mas não deve mais acontecer.

Darcy assentiu, acariciando os lábios de Elisabeta. Aproximou-se dela e tocou os lábios dela com os seus, em uma carícia leve. Foi um breve contato, antes que Darcy se afastasse, com um sorriso tranquilo. E então Elisabeta respirou aliviada, um pouco mais calma com a ideia de que não precisariam conversar sobre o acontecido.

##

Mas os dias que se seguiram foram difíceis. Embora nenhum dos dois tocasse no assunto, havia um desconforto no ar. Após dois dias de trégua, logo as pequenas discussões voltaram a acontecer, e ainda mais frequentes do que anteriormente. Discutiam a todo momento no jornal pelos motivos mais banais, e qualquer oportunidade em que ficassem sozinhos em casa era preenchida por pequenos argumentos.

Darcy a estava enlouquecendo, pois não deixava seus pensamentos em nenhum momento do dia. Quando não estavam brigando, Elisabeta via-se observando o corpo dele, suas mãos, a forma como se movia. E a noite os seus sonhos eram preenchidos por ele, fazendo as mais diversas loucuras, coisas que quase a deixavam envergonhada. O desejava tanto que perderia a sanidade.

Para completar seu desespero, Julieta Bittencourt e sua fiel escudeira Susana Adonato estavam de volta à São Paulo. Apesar de sua boa relação com Julieta, Elisabeta e Susana se odiavam desde o primeiro minuto em que cruzaram os olhos. Elisabeta não confiava em nada do que a mais velha falava, e Susana não perdia a oportunidade de tentar diminuir Elisabeta sempre que podia.

Era evidente o interesse que Susana tinha por Darcy, e por isso passara a última semana na casa dos Williamson em todas as oportunidades que tinha ou criava. Naquela manhã, Susana havia chegado antes do café da manhã, e para seu desespero, Charlotte e Lorde Williamson estavam em seu passeio matinal. Agora dividia a mesa com Susana e Darcy.

— Darcy, fico feliz pelo convite para o passeio. – Susana sorriu de forma exagerada. – Você é sempre tão gentil, uma companhia tão agradável.

— Ora, Susana, temos negócios para discutir. – ele sorriu. – Nada melhor do que fazê-lo à luz do sol.

— E você, minha cara? – Susana se dirigiu à Elisabeta, que estava alheia à conversa. – Como tem sido dividir seu reinado com os filhos de Archiebald? – alfinetou.

— Muito agradável, Susana. Os Williamson são sempre muito educados. Fico feliz de dividir meu palácio com tantos nobres. – Elisabeta revirou os olhos.

— Elisabeta é muito espirituosa, Darcy. – Susana segurou a mão de Darcy, o que não escapou aos olhos de Elisabeta. – Já deve ter notado, é claro. Mas o humor dos ingleses é diferente do humor dos brasileiros, principalmente do interior, não é mesmo, Elisabeta?

— É claro, Susana. – Elisabeta apressou-se para terminar seu café. – Agora, se me dão licença, eu vou trabalhar.

— Eisabeta, espere. – Darcy levantou-se, assim que ela o fez. – Preciso conversar com você, se não se importa.

— Podemos fazer isso mais tarde? Eu já estou atrasada, me desculpe.

Darcy assentiu, um pouco contrariado. Desde a chegada de Susana à cidade Elisabeta estava mais fria do que o normal. Era evidente que as duas não se gostavam, e Darcy se preocupava que parte de sua desconfiança inicial com Elisabeta se desse apenas pela implicância de Susana. Ela era a fonte de suas informações à respeito da relação de Lorde Williamson com sua protegida, e ficava cada vez mais claro para Darcy que talvez tais informações não fossem confiáveis.

Queria conversar com Elisabeta à respeito de Susana e da relação das duas. Mas Elisabeta fazia questão de sair do ambiente toda vez que Susana aparecia, e nos últimos dias a sócia de Julieta parecia calcular o momento de suas visitas. Havia jantado com os Williamson nas últimas três noites, e essa manhã inclusive chegara antes do café da manhã.

Mas Darcy a esperaria à noite e colocaria tudo em pratos limpos. Cada vez parecia conhecer um pouco mais de Elisabeta e tudo o que via era contrário às impressões de Susana. E se estivesse certo, fora bastante injusto.

##

Elisabeta demorou a voltar para casa naquela noite. Faltavam poucos minutos para a meia noite quando ela abriu a porta calmamente, um sorriso no rosto pelas boas memórias de uma noite no bar com seus amigos, regada a risadas e um pouco de álcool. Espantou-se ao encontrar Darcy no meio da sala, de braços cruzados.

— Onde você estava? – ele perguntou, sério.

— Perdão? – Elisabeta ergueu a sobrancelha.

— Já é quase madrugada, Elisabeta. Isso é hora de chegar em casa? – Darcy irritou-se.

— Darcy, por favor. Nem o seu pai se preocupa com a hora que eu chego em casa. – ela revirou os olhos, passando por ele.

Mas Darcy segurou seu braço e a impediu de passar.

— Onde você estava? – ele perguntou novamente, um pouco mais calmo dessa vez.

— Não é do seu interesse. – Elisabeta sorriu irônica, ainda um pouco expansiva pelo efeito da bebida.

— É claro que é. Eu estou perguntando.

— Estava com os meus amigos. – ela manteve o sorriso.

— Amigos? Ou amigo? – Darcy deixou escapar sua aflição.

Elisabeta ergueu novamente a sobrancelha. A proximidade de Darcy já estava fazendo sua mente viajar, o perfume dele próximo à ela, o toque dele em seu braço a lembrando dos momentos vividos com ele. E então aquele interesse, uma preocupação de que ela pudesse estar com outro homem.

— Amigos. – o sorriso dela agora foi mais sedutor, a voz mais baixa. – Do jornal.

Darcy deslizou a mão pelo braço de Elisabeta, segurando a mão dela. Não sabia que podia sentir-se tão aliviado com uma informação tão simples. Se havia alguma dúvida do efeito que Elisabeta tinha sobre ele, a aflição daquela noite, imaginando que estivesse nos braços de outro era resposta o suficiente.

— Eu trabalho no jornal. – ele disse baixo, virando seu corpo para que ficasse de frente para ela.

— Você é o chefe. – Elisabeta colocou a mão no peito de Darcy, sentindo o calor do corpo dele. – Além do mais, você estava ocupado, não é mesmo? Com sua amiga Susana.

Ela deixou escapar, não pretendia falar sobre Susana. E soube pelo sorriso que Darcy abriu que havia sido tão reveladora quanto ele segundos antes. Por isso não ficou surpresa quando ele a enlaçou pela cintura e a puxou para ele.

— Susana, é? – Darcy disse, baixo. – Estive ocupado negociando com Susana. Mas preferiria confraternizar com meus colegas. – ele deu ênfase na palavra confraternizar.

— Perdeu ótimas histórias. – Elisabeta passou os braços pelo pescoço de Darcy. – E ótima cerveja.

— Eu bebi whisky em casa. – ele deu de ombros. – Mas se você tivesse me convidado eu poderia fazer companhia em sua volta para casa.

— Não se preocupe. Olegário me fez companhia. – Elisa piscou para ele.

— Olegário é um malandro, você não deveria confiar nele para trazê-la para casa. – Darcy bufou, apertando-a um pouco mais contra ele.

— É mesmo? Por que? – Elisa aproximou o nariz do dele.

— Ele poderia tentar agarrar você. – Darcy sorriu.

— Como você está fazendo?

— Sim, é disso que você precisa fugir.

— Eu não estou com vontade de fugir.

— Não? – ele perguntou, e Elisabeta fez uma negativa com a cabeça.

Darcy deixou que sua mão invadisse os cabelos dela, e a segurou pela nuca. Sorriu antes de capturar a boca de Elisabeta, sua língua rapidamente encontrando a dela, o gosto da cerveja se misturando com o whisky. Elisabeta acariciou a nuca de Darcy, entregando-se ao beijo. Tentaram começar lentamente, mas em poucos segundos ele já a segurava com força, a dominando com seus lábios e mãos.

Elisabeta apoiou-se nele, puxando-o para mais perto, deixando que a beijasse como queria, retribuindo na mesma intensidade. De repente percebeu que estavam em meio a sala de Lorde Williamson, onde qualquer um poderia vê-los, e empurrou Darcy levemente.

— É melhor eu ir. – ela sorriu, ainda nos braços dele.

— Melhor para quem? – Darcy beijou o pescoço dela levemente.

— Para nós dois. – Elisa depositou um beijo nos lábios dele. – Boa noite, Darcy.

Darcy a puxou para outro beijo, dessa vez um pouco mais ousado, mordendo o lábio inferior de Elisabeta ao final.

— Boa noite, Elisabeta.

Ela então soltou-se dos braços dele, subindo as escadas em passos rápidos, embora todo o seu corpo ordenasse que voltasse para os braços de Darcy. Mas apenas jogou-se na cama, a mão nos lábios, curiosa e surpresa ao perceber que talvez Darcy se incomodasse tanto com a ideia dela estar com outro homem quanto ela se incomodava ao vê-lo com Susana.


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