Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 20
Capítulo 20




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A gota d’água veio em uma manhã chuvosa de sexta-feira. Elisabeta já tinha em mente um quarto no cortiço mais próximo do jornal – era um ambiente familiar, apesar de simples, mas era o que poderia pagar. E dessa forma estaria longe de Darcy, pelo menos quando não estivesse no jornal.

Faltava apenas, e para Elisabeta seria a pior parte, conversar com Lorde Williamson. E a verdade é que não haveria cenário onde esta era uma conversa fácil. Archiebald jamais aceitaria qualquer desculpa para a mudança de Elisabeta, e por isso ainda não encontrara a coragem de conversar com seu protetor.

Mas não podia mais ficar na mansão dos Williamson, e se havia alguma dúvida a respeito daquilo, ela foi respondida da maneira mais cruel de todas. Elisabeta estava saindo de seu quarto. Pretendia tomar um rápido café da manhã, ir à redação e aproveitar seu horário de almoço para acertar seu aluguel no cortiço.

Foi detida pela visão de Darcy e Ludmila saindo do quarto dele. Seu mundo pareceu congelar naquela imagem, numa descarga de adrenalina e angústia que Elisabeta habituara-se a sentir. Os dois tinham sorrisos no rosto e conversavam distraidamente.

— Ainda bem que meu chapéu estava em seu quarto, Darcy. Não sei como continuo esquecendo tantas coisas aqui. – Ludmila disse, sem qualquer maldade na voz.

Os dois pararam no lugar ao colocar os olhos em Elisabeta. Os sorrisos murcharam, e talvez fosse a expressão chocada no rosto da mais velha das Benedito, ou o óbvio pensamento que passava pela mente dela, que fez com que os dois começassem a falar ao mesmo tempo.

— Elisabeta! – Darcy exclamou.

— Elisa, bom dia! Vim buscar meu chapéu no quarto de Darcy. – Ludmila disse, em tom acelerado.

— Ludmila esteve aqui ontem mais cedo. – Darcy quis explicar. – Veio me chamar para um passeio.

— Sim, e acabei esquecendo. Sempre deixo tudo nos lugares.

Quanto mais os dois tentavam falar, mais suspeitos pareciam. E Elisabeta respirou fundo, exausta de tudo aquilo. Exausta de encontrar Darcy pelos cantos, exausta da forma como ele fazia com que se sentisse.

— Vocês não me devem explicações. – encontrou forças para falar.

— Elisa... – Darcy suspirou. – Não é nada disso.

O tom dele deixava claro que Ludmila estava ciente de tudo o que acontecera entre eles. E Elisabeta não soube se seu sentimento era alívio ou irritação.

— Já falei, você não precisa me explicar.

— Mas eu quero explicar. – ele pareceu cansado, e nenhum dos dois percebeu que Ludmila saia discretamente do corredor.

— O que é que você quer explicar? – Elisabeta cruzou os braços, incapaz de sustentar o olhar dele.

— Ludmila é minha amiga. – Darcy soltou o ar, procurando os olhos de Elisabeta. – Só minha amiga.

Darcy se aproximou sem aviso, invadindo o espaço de Elisabeta. Ele queria tocá-la, beijá-la, mas apenas permaneceu ali, parado. Ela finalmente levantou a cabeça, o olhar encontrando o dele. Darcy acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos.

E aquele toque foi muito pior do que todos aqueles dias em que mal se falavam ou mal se olhavam. Elisabeta sentiu seu coração quebrar-se com a proximidade de Darcy. E antes que pudesse cometer uma loucura, viu-se afastando-se dele, saindo em passos apressados pelo corredor.

##

Elisabeta chegou tarde naquela noite, novamente acompanhada de Olegário. E Darcy mais uma vez observou o abraço, o beijo na bochecha, a cumplicidade. Não queria confrontá-la. Não queria realmente saber o que acontecia entre ela e Olegário. Ainda assim, foi novamente incapaz de ir para seu quarto e fingir que não vira o que aconteceu.

Mas dessa vez, apenas sentou-se, fingindo ler um livro, como se apenas estivesse ali. Elisabeta não se surpreendeu exatamente ao ver aquela cena. Perguntou-se porque ele se importava, porque permanecia controlando seus passos. E só poderia explicar pelo sentimento de posse masculina.

Tentou ignorá-lo e ir para seu quarto. Mas Darcy sequer fingiu cumprimenta-la, como se não tivesse notado que ela estava ali. E foi esse o motivo maior de sua irritação. Por isso deu meia volta na escada, e seu olhar pousou em Darcy.

— Você agora pretende ficar me vigiando? – perguntou, irônica.

— Desculpe? – ele ergueu a sobrancelha. – Boa noite, Elisabeta. Não a vi chegar.

— Ah, pelo amor de Deus. Que cena patética. – ela bufou. – Responda, pretende ficar me vigiando?

— Eu não estou vigiando ninguém. – Darcy negou, revirando os olhos.

— Vou poupar seu interrogatório. Sim, eu estava com Olegário. Saímos para jantar depois do jornal. Trocamos um longo e apaixonado beijo de boa noite no portão de casa. – Elisabeta cruzou os braços.

— Não trocaram, não! – Darcy levantou-se rapidamente, a irritação tomando conta dele.

— Ah! – Elisabeta bateu palmas. – Então quer dizer que você estava olhando.

— Quer saber? – Darcy largou o livro em qualquer lugar. – Eu estava olhando. Porque me preocupo com você, me preocupo quando não está em casa.

— Bom, eu estou em casa agora. – revirou os olhos, irritada. – Pode voltar para sua programação habitual. Não tem nada a fazer com sua amiga Ludmila essa noite?

— Ludmila ao menos é só minha amiga. – Darcy a acusou. – Já Olegário...

— Olegário é um ótimo amigo. – Elisabeta levantou a voz, baixando em seguida. – E não seria um problema seu se eu quisesse me envolver com ele.

Darcy ficou em silêncio, respirando fundo, até conseguir formular uma palavra.

— E você quer? – perguntou, com o coração apertado.

Elisabeta revirou os olhos, e sem dar nenhuma resposta, subiu as escadas.

##

O sábado trouxe um bonito tom de azul ao céu, com um sol brilhante e animador. Elisabeta combinara um passeio à tarde com Olegário, e por isso evitou sair de seu quarto até a hora de encontrar o amigo. Não sabia, é claro, que o dia bonito fora inspirador para Lorde Williamson, Charlotte e Ludmila.

Darcy optara por ficar em casa, seu humor estava cada vez pior depois das últimas tentativas de conversar com Elisabeta. A verdade é que precisava aceitar que talvez ela realmente tivesse sentimentos por Olegário, e essa fosse a causa de tantos jantares e tanto desprezo por ele.

Mas quando a viu descer as escadas, com um vestido vermelho que ele não conhecia, e que valorizava seu sorriso e suas curvas, sentiu o sangue ferver. E o comentário saiu de seus lábios antes que pudesse raciocinar sobre ele e decidir ficar quieto.

— Vai encontrar seu amigo Olegário? – ergueu a sobrancelha.

— Sim. Algum problema? – Elisabeta também disse em tom desafiador.

— Nenhum problema. Está um dia bonito, deve mesmo aproveitar. – cruzou os braços.

E foi o olhar dele que a transportou para o passado. Para os dias que se seguiram à chegada dele e Charlotte. A forma como a tratava como alguém inferior, como uma intrusa.

— Que bom que pensa assim. Tive medo de não obter sua aprovação para fazer o que bem entendesse de minha vida. – ela riu, irônica.

— Como se você precisasse da minha opinião para alguma coisa. – ele resmungou.

— Ainda bem que não preciso, não é mesmo? Se dependesse de você eu estaria desempregada e sem ter onde morar. – Elisabeta deu de ombros.

— Você vai mesmo falar sobre isso? – Darcy exaltou-se. – Vai mesmo fingir que nada aconteceu depois disso?

— Muita coisa aconteceu, Darcy. Mas voltamos aos velhos tempos.

— Que velhos tempos? Do que você está falando?

— Estou falando de você ai, pronto para me acusar de qualquer coisa, vigiando os meus passos. – Elisabeta ficou enfurecida. – Pronto para encontrar qualquer erro meu, apenas para me acusar de errar.

— Eu não estou...

— Mas você pode ficar tranquilo, Darcy. Eu já estou fazendo o que deveria ter feito há muito tempo. Eu vou embora dessa casa em breve.

— Elisabeta, o que você... – ele tentava dizer, sendo interrompido por ela.

— Sabe do que eu me arrependo? – Elisabeta não sabia de onde tudo aquilo vinha, apenas continuava falando. – Me arrependo de ter me apaixonado por um esnobe como você.

Darcy ficou em silêncio, sem saber como processar aquela informação.

— Me arrependo de ter amado alguém que nunca foi capaz de me amar. No fundo você nunca deixou de achar que eu estava aqui apenas pelo dinheiro da sua família, não é? E isso é patético, Darcy.

Darcy queria responder. Queria parar a chuva de palavras de Elisabeta, mas estava perdido naqueles detalhes. Naqueles gigantescos detalhes. Apaixonada, amor. Era um jeito completamente atordoado de confessar seus sentimentos, mas ela os dizia mesmo assim.

— Espero que esteja feliz, agora. Assim você pode se dedicar à Susana, Ludmila ou qualquer outra mulher que esteja a sua altura. – ela cuspiu as palavras.

E quando Darcy conseguiu sair do transe e absorver tudo aquilo, Elisabeta já batia a porta da casa dos Williamson, sem dar a ele a chance de uma resposta.

##

Quando voltou para casa naquele dia, Elisabeta ainda não compreendia exatamente de onde todo aquele discurso tinha vindo. Em um momento estava prestes a sair para um passeio, e no outro aquela expressão arrogante de Darcy a fizera dizer tantas coisas desconexas. Darcy com certeza achava que ela era louca.

E ao contar para Olegário o amigo rira dela. Também fora incapaz de entender de onde tudo aquilo viera. Tentara faze-la lembrar quando fora o último comentário de Darcy a respeito de um possível interesse dela, e mal conseguia recordar. Mas estava preso em seu peito, e ela não sabia porque tudo tinha saído naquele momento.

Mas foi surpreendia ao entrar em seu quarto. Em cada superfície livre havia uma vela, e seu quarto fora tomado por pétalas de rosas brancas e vermelhas. Ao pé de sua cama, estava Darcy, com um sorriso convencido de lado.

— Darcy, o que... – tentou dizer, em choque.

— Eu vou falar agora. – ele sorriu, levantando-se. – Em primeiro lugar, você demorou.

Elisabeta soltou uma risada incrédula.

— Você me deixou sem resposta mais cedo, Elisabeta. Mas você merece uma resposta. E eu quero que você lembre que não é uma tarefa fácil expressar meus sentimentos.

Darcy a puxou pela cintura, colando o corpo dela no dele.

— Eu não vou negar que, assim que conheci você, imaginei os piores cenários. Mas aos poucos eu fui conhecendo sua personalidade, suas motivações. E sem esperar, sem querer, eu me apaixonei por você, Elisabeta.

— Darcy... – ela soltou o ar que não sabia que prendia.

— Eu me apaixonei pela sua forma de pensar, por sua língua afiada, por sua entrega à seus amigos, e por sua entrega à nós. – Darcy suspirou. – E eu só cometi um erro nessa jornada, Elisabeta. E o meu erro foi não confessar minha paixão da mesma forma que confessei minhas desconfianças.

Darcy beijou a testa dela rapidamente.

— E seu pequeno discurso mais cedo. – ele revirou os olhos. – Me fez perceber que você entendeu tudo errado, e me fez ter esperanças de que eu tenha entendido tudo errado.

— O que você entendeu errado? – ela perguntou, ansiosa.

— Eu achei que você não sentisse nada por mim, Elisabeta. – Darcy acariciou o rosto dela. – E mais cedo você disse que se arrependia de me amar.

— Eu disse que me arrependia de amar alguém que não me amava. – ela corrigiu, com um sorriso de lado.

— E foi por isso que eu tomei coragem. – Darcy soltou a cintura de Elisabeta e segurou o rosto dela delicadamente com as duas mãos. – Eu te amo, Elisabeta Benedito. E eu espero que não seja tarde demais para que você pare de se arrepender de me amar também.

Elisabeta abriu um sorriso emocionado. Não sabia o quanto precisava ouvir aquelas palavras de Darcy até que ele as dissesse. Sua mão procurou o rosto dele, em um carinho leve.

— Eu acho que fomos um pouco bobos, não é mesmo? Darcy Williamson, eu amo você. Não sei como isso aconteceu, ou porque isso aconteceu, mas sinto que parte de mim te amou desde o primeiro olhar.

Darcy mal deixou que as palavras saíssem da boca de Elisabeta antes de beijá-la. Parecia um beijo diferente de todos os outros, um beijo mais leve, ainda que mais ardente, apaixonado. Mas Elisabeta o afastou de repente.

— Mas eu não sei se estou preparada para todo o resto. – ela suspirou.

— Elisabeta, todo o resto fica para depois. – ele a puxou pela cintura. – Eu estou morrendo de saudade da sua boca, do seu corpo. E hoje quero te amar com todos os sentimentos que engoli por todo esse tempo.

E então não pensaram mais em nada. No passado resolvido, no futuro incerto. Aproveitaram o presente, da forma como mereciam. E naquela noite não evitaram as palavras que queriam sair, as declarações que se formavam em sua mente. E acordaram juntos no dia seguinte, mais certos do que nunca de que era o caminho a percorrer.

 


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Notas finais do capítulo

Finalmente!