Pride and Passion escrita por oicarool
Darcy precisava agradecer imensamente a presença de Ludmila, nos dias que passaram após seu rompimento com Elisabeta. Não sabia se poderia chamar de rompimento, mas era como sentia-se. E a presença constante e animada de Ludmila trazia um pouco de leveza para os seus dias.
Sua relação com Ludmila vinha da infância. Apesar das personalidades completamente opostas, eram amigos e companheiros de diversão. A garota sempre tinha alguma história para contar, algum novo caso amoroso, uma briga familiar, e costumava manter sua mente ocupada.
Mas nem Ludmila conseguia fazê-lo esquecer totalmente Elisabeta. E com o passar do dia, essa tarefa se tornava cada vez mais difícil. Elisabeta evitava a todo custo estar no mesmo ambiente que Darcy, ficava calada durante as refeições e recolhia-se tão logo dava a última garfada.
Era um comportamento que já chamava a atenção inclusive de Lorde Williamson, mas Elisabeta sempre sorria ao ser questionada, desviando o assunto. Naquela noite seu pai recolhera-se mais cedo, e ao saber que o Lorde não iria jantar, Elisabeta não fizera questão nenhuma de ser discreta.
Alegara não estar com fome e subira as escadas quase correndo, sob o olhar aflito de Darcy e curioso de Ludmila e Charlotte. Darcy sentia-se derrotado. Tentava compreender a falta de sentimentos de Elisabeta, mas sentia-se mal de saber que ela não tolerava sequer uma refeição na companhia dele.
— Muito bem. – Ludmila suspirou. – Eu estou tentando respeitar o seu tempo, mas preciso saber o que está acontecendo aqui.
— O que? – Darcy tirou os olhos da escada vazia, encarando a amiga. – Eu não sei do que está falando.
— Eu o conheço uma vida inteira, Darcy Williamson. – revirou os olhos. – Não tente mentir pra mim. Me diga, o que está acontecendo entre você e Elisabeta.
— Não tem nada acontecendo. Não mais. – Darcy desviou o olhar.
— Como assim, meu irmão? Vocês pareciam tão em sintonia no Vale do Café. – Charlotte aproveitou a oportunidade.
— E estávamos. Pelo menos eu achei que estávamos. – Darcy suspirou. – A verdade é que Elisabeta e eu não sentimos a mesma coisa. E eu não posso força-la a gostar de mim.
Charlotte e Ludmila trocaram um olhar, revirando os olhos.
— Não é possível que você tenha interpretado que Elisabeta não gosta de você. – Charlotte soltou uma risada baixa.
— Eu mal conheço Elisabeta, mas uma mulher que age como ela está agindo tem tudo, exceto falta de sentimentos. – Ludmila disse, como se fosse óbvio.
— Não importa mais. Nós terminamos o que tínhamos. Nunca foi algo sério, de qualquer forma.
— Darcy, você é um idiota. – Ludmila disse, por fim. – Me desculpe, mas é. Quer dizer que pela primeira vez você se apaixona...
— Eu não estou apaixonado... – defendeu-se.
— Quer dizer que pela primeira vez você se apaixona... – Ludmila repetiu, marcando as palavras. – E desiste dessa forma?
— Ludmila está certa. Sabe que nunca falei nada porque via vocês tentando ser discretos. – Charlotte ergueu a sobrancelha. – Tentavam muito mal, é verdade, mas eu tentei respeitar.
— Parem, vocês duas. – Darcy levantou-se, ansioso. – Foi uma decisão de Elisabeta, e eu vou respeitar.
— Tudo bem, tudo bem. – Ludmila sorriu. – Não está mais aqui quem falou.
— Ótimo. Eu preciso revisar alguns contratos antes do jantar. Com licença.
E tão logo Darcy se afastou, Ludmila e Charlotte trocaram outro olhar cúmplice.
— Vamos, me diga tudo o que sabe sobre Elisabeta Benedito. – Ludmila pediu, já traçando um plano em sua mente.
##
Na noite seguinte, Elisabeta deteve-se por mais tempo do que o normal na redação. Não havia realmente mais trabalho a fazer, mas Darcy havia saído cedo, e a certeza de encontra-lo em casa a deixava inclinada a permanecer no jornal. Olegário trabalhava ao lado dela, observando a amiga ler e reler os mesmos papeis.
— Você vai me dizer o que está acontecendo ou vai esperar que eu adivinhe? – disse, com uma risada.
Elisabeta respirou fundo, soltando o ar com certa dificuldade.
— Preciso procurar um lugar para morar. – disse, em voz baixa.
— O que? Por que?
— Porque a casa dos Williamson ficou pequena demais. – respondeu, simplesmente.
— Aquela mansão? Isso tem a ver com Darcy, não tem? – Olegário disse, irritado. – Eu sei que ele é meu chefe, mas se você precisar que eu quebre a cara dele...
— Claro que não. – Elisabeta riu. – Só não quero mais trabalhar com Darcy e encontra-lo ao chegar em casa.
— Achei que estávamos nos dando bem. – Olegário deu de ombros.
— Eu não quero falar sobre isso. – Elisabeta suspirou. – Só não quero ir para casa agora.
— Ótimo. Eu estou mesmo precisando de uma cerveja.
E sem dar chances para Elisabeta negar o convite, Olegário arrumou suas coisas rapidamente, e partiram para o bar mais próximo.
##
Darcy sabia que não deveria fazer aquilo. Não tinha realmente direito de espera-la. Mas Elisabeta não estava em casa, e já era tarde. Poderia ter acontecido alguma coisa, ela poderia ter sido assaltada. Não era exatamente um costume de Elisabeta chegar tão tarde em casa.
E quando ele a viu despedir-se de Olegário no portão, e soube que estava bem, ele deveria ter subido as escadas rapidamente, fingindo não se importar. Mas o incomodo em seu peito foi grande demais, e seu racional ficou um pouco comprometido pela visão de Olegário beijando a bochecha de Elisabeta.
Foi um Darcy de braços cruzados e expressão contrariada que Elisabeta encontrou ao abrir a porta de casa. Não estava com energia para lidar com ele, não depois de contar para Olegário quase todos os detalhes de seu relacionamento com Darcy, apenas para ouvir o amigo rir de sua teoria sobre o inglês não sentir nada por ela.
— Noite agradável? – ele perguntou, assim que ficou claro que Elisabeta pretendia ignorá-lo.
— Sim. – ela respondeu baixo, seguindo sua caminhada.
— Eu fiquei preocupado, sabia? – Darcy apressou-se para parar na frente dela. – Você poderia ao menos avisar quando vai sair.
— Eu não devo satisfações à você. – Elisabeta bufou. – E já não tivemos uma conversa similar a essa?
— Foi antes. – Darcy respondeu, seguro.
— Antes, durante, depois... – ela desdenhou. – Você pode me dar licença?
— Você estava com Olegário? – perguntou, querendo a confirmação que não precisava, tinha visto os dois juntos.
— Que tipo de interrogatório é esse? – Elisabeta cruzou os braços.
— Não é um interrogatório. Eu cheguei há pouco com Ludmila e fui informado que você não estava.
E qualquer energia que Elisabeta tivesse para aquela conversa foi drenada naquele momento. Se havia chegado há pouco, provavelmente ele e Ludmila estavam jantando juntos, em algum bar, ou seja lá a programação escolhida por eles.
— Eu não perguntei sobre sua vida, Darcy. – respondeu, mordaz. – Não me interessam suas companhias, e não tenho interesse em informar à você as minhas.
Darcy pensou em questioná-la. Quis puxá-la pelo braço, prendê-la em seu abraço, beijá-la até que Elisabeta confessasse algum sentimento. Mas perdia as esperanças de que houvesse algum. E por sua recusa em confessar, talvez já estivesse seguindo em frente, talvez de fato seu objetivo sempre fosse Olegário, e ele fosse o tolo da história.
Por isso deixou que ela passasse por ele em passos apressados, subindo as escadas sem olhar para trás.
##
Na manhã seguinte um café da manhã silencioso recepcionou os moradores da mansão. Lorde Williamson saíra cedo para um passeio, mas Charlotte impedira que Elisabeta pulasse a refeição, tornando o ambiente constrangedor. Darcy mantinha a expressão fechada, assim como Elisabeta, e Charlotte e Ludmila observavam os dois com curiosidade.
— Darcy, está muito bonito hoje. – Ludmila disse casualmente, fazendo Elisabeta remexer-se na cadeira.
— Que bobagem, Ludmila. – Darcy revirou os olhos, fazendo Ludmila e Charlotte rirem.
— É verdade. – Ludmila riu mais alto. – Não é verdade, Charlotte?
— É verdade, meu irmão. – a garota confirmou. – Não acha, Elisabeta?
Elisabeta retirou os olhos da xícara, por breves momentos, e encontrou o olhar sério de Darcy.
— Não reparei. – mentiu, dando de ombros.
— Ainda bem que tenho olhos mais atentos. – Ludmila alfinetou, com um sorriso.
— Sorte a sua. – Elisabeta disse, a contragosto.
— Você poderia me dar a honra de um passeio hoje, não é mesmo, Darcy? – Ludmila levantou-se, passando por trás de Darcy, as mãos em seus ombros.
Seu olhar era atento à Elisabeta. Ludmila observava cada gesto, e apesar da tentativa de ser indiferente, os olhos verdes seguiam como uma águia qualquer movimento. E não foi discreta a forma como Elisabeta engoliu em seco ao ver Ludmila envolver os braços de Darcy.
— Sempre é um prazer passear com você, Lud. – ele riu, e por um breve segundo seu olhar encontrou novamente o de Elisabeta. – Vamos, Charlotte?
— Ah, não. – a mais nova fez um gesto com a mão. – Pretendo ir à Biblioteca hoje. Por que não convidam Elisabeta?
— Eu adoraria, mas tenho certeza que Elisabeta tem coisas melhores pra fazer. – Darcy sorriu, sua mão encontrando a de Ludmila. – Acho que seremos só nós dois, Lud.
— Ótimo. Assim ninguém rouba sua atenção.
E eles esperavam que Elisabeta dissesse alguma coisa. Se fosse sincero, Darcy queria que falasse. E os três aguardaram alguma demonstração de ciúme. Charlotte fora clara sobre isso. Elisabeta era explosiva em relação à ciúmes. Mas surpreenderam-se quando ela terminou seu café da manhã, e depois pediu licença para ir para o trabalho.
A verdade é que não tinha energia para lidar com Darcy e Ludmila. Era claro para ela a intimidade que tinham, a forma como se tocavam, suas histórias compartilhadas. Não era exatamente uma surpresa o flerte de Ludmila, ou a forma como Darcy aceitava sem incômodos a aproximação dela.
Elisabeta sentia seu coração pequeno, pesado. E não tinha forças para discutir, para inserir-se entre os dois. Secou uma lágrima que insistiu em cair, tão logo saiu da sala de jantar, e foi para a redação.
##
E os dias que se seguiram foram ainda piores. Estar na mesma casa em que Darcy estava era sufocante. Vê-lo todos os dias, ainda que por curtos períodos, era o suficiente para drenar sua força vital. Sentia-se pesada, vazia.
Não conseguia dormir direito, comer direito ou trabalhar da forma que queria. Era tomada por uma sensação angustiante, por uma tristeza que parecia não ter fim. E não era de nenhum auxilio observar as interações de Ludmila e Darcy. De alguma forma parecia que a amiga dos Williamson estava sempre tentando coloca-la à prova.
Por isso, sem perceber, viu-se retraída, acuada. E foi quando ficou claro para Charlotte e Ludmila que aquela estratégia não funcionaria. Não estavam ajudando Elisabeta e Darcy, estavam afastando-os ainda mais. E foi o suficiente para que as duas se sentissem culpadas.
Mas também não foi suficiente que as brincadeiras parassem. Nem Elisabeta e nem Darcy pareciam dispostos a dar o braço a torcer, e nem viam motivo para confessar um sentimento que não seria correspondido. Apenas observavam um ao outro, procurando sinais de que a vida estava melhor agora, de que o objeto de sua adoração estava mais feliz.
E de alguma forma sempre encontravam ou deturpavam esses sinais. Qualquer sorriso era interpretado como felicidade, qualquer conversa que não os incluía era interpretada como não sentir falta. Dormiam sozinhos, angustiados, e tentavam se renovar no dia seguinte, mostrar ao outro que também poderiam seguir em frente.
Viam-se evitando qualquer lugar em que pudessem estar juntos e sozinhos, com medo de que deixassem escapar a tristeza que tomava conta. Com medo de não resistir, de implorar por aquela atenção que fingiam não precisar. Por isso agora Darcy passava o mínimo de tempo possível no jornal.
E Elisabeta quase não saia de seu quarto, receosa de encontrar Darcy em algum lugar, de não conseguir evita-lo. Porque a verdade é que precisavam um do outro, e não tinham certeza de que conseguiriam evitar, de que seriam capazes de controlar suas palavras ou ações.
Mais uma vez, nada fizeram. Viram os dias passando, e mais uma vez escolheram o silêncio. E só agora percebiam o quanto o silêncio fazia mal para eles. Só agora percebiam o quanto estavam perdendo.
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