Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 2
Capítulo 2




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Elisabeta chegou em casa mais tarde do que o normal naquela noite. Ouviu o som do piano antes de abrir a porta, por isso não ficou espantada ao ver Charlotte tocando o instrumento, sob o olhar atento de Darcy e Archiebald. A discussão com o filho do Lorde ainda estava viva em sua memória, por isso amaldiçoou mentalmente quando Charlotte parou de tocar ao vê-la entrar, obrigando-a a forçar um sorriso e cumprimentar os presentes.

— Elisabeta, minha querida. O jantar já foi servido, peça para que Mercedes prepare alguma coisa para você, sim? – O Lorde disse sorrindo.

— Não se preocupe. – Elisabeta também sorriu, ignorando a presença de Darcy. – Comi qualquer coisa na redação. Se me dão licença, vou para os meus aposentos.

— Junte-se a nós, por favor. Eu faço questão. – Charlotte disse, para a surpresa de Elisabeta.

Não pode evitar desviar seu olhar para Darcy, que tinha a expressão fechada, contrariado. Independente da ideia de Charlotte, era claro que Darcy não concordava.

— Meu pai disse que a senhorita tem um talento nato para a música. – Charlotte sorriu.

— Seu pai está exagerando. – Elisa sentou-se na outra ponta do sofá, o mais longe possível de Darcy.

— Não é verdade. Elisabeta aprendeu neste mesmo instrumento, Charlotte, e muito mais rápido que qualquer um de vocês. – o inglês sorriu.

Darcy riu, ironicamente, causando certo desconforto ao ambiente.

— Posso crer que sim, meu pai. Imagino que o senhor tenha sido mais cauteloso ao cobrar de Elisabeta do que era ao cobrar de seus filhos. – disse, venenoso.

— De forma alguma. – O Lorde respondeu, ácido. – Exigi de Elisabeta o mesmo que exigi de você e sua irmã.

— Seu pai sempre deixou claras suas expectativas quanto à minha educação, senhor. – Elisabeta tentou conter o tom irritadiço. – E fiz todo o possível para cumpri-las.

— Era o mínimo a ser feito. – Darcy manteve o sorriso irônico. – Não foram baratos os investimentos de meu pai.

— Darcy! – Charlotte chamou sua atenção. – Não seja deselegante.

— Acredito que seja hora de encerrarmos esta conversa. – o Lorde respondeu, firme.

— Ora, meu pai. Acho que eu e Charlotte temos direito de saber os motivos que o levaram a investir parte de nosso patrimônio em uma moça do interior.

Elisabeta engoliu em seco, mortificada com as acusações implícitas. Charlotte parecia tão chocada quanto ela, mas pela primeira vez em muito tempo viu a expressão de completa irritação no rosto de Lorde Williamson.

— Eu não lhe devo satisfações, Darcy. Mas lhe responderei, pois não vou mais tolerar sua falta de bons modos para com Elisabeta. Elisabeta era uma menina quando a conheci, me lembrava sua irmã e sua mãe quando jovem. Sonhava em conhecer o mundo, mas estava condenada a uma vida interiorana.

— Meu pai, o senhor não precisa... – Charlotte tentou interromper.

— Elisabeta sempre foi inteligente, astuta, dedicada. Aos dezessete anos era capaz de debater qualquer assunto com desenvoltura. Não me arrependo de ter feito de Elisabeta minha protegida. E nesta casa é tratada como minha filha, como sangue do meu sangue. Não admitirei que você a trate como menos do que isso.

— Archiebald, por favor. – Elisabeta levantou-se, sorrindo para seu anjo da guarda. – Seus filhos não me conhecem. É natural que tenham suas desconfianças. Mas me reservo o direito de não ouvi-las.

Elisabeta fingiu um sorriso para Darcy, levantando-se. Pode ouvir a discussão que se iniciava entre os três Williamson, mas não tolerava mais aquele dia, muito menos a presença de Darcy. Entrou em seu quarto e tentou esquecer o mundo que estava do lado de fora.

##

O dia seguinte amanheceu promissor. Charlotte e Darcy não estavam à mesa no café da manhã, e após garantir ao Lorde que não era necessário desculpar-se por Darcy, tiveram uma agradável refeição, como nos velhos tempos. O irmão mais velho de Charlotte também não estava em nenhum lugar da redação, por isso Elisabeta teve um dia calmo, que quase a fez esquecer que aquele homem assombrava sua vida.

— O ambiente muda completamente quando Darcy não está. – Olegário comentou, estranhando a calmaria.

— Torço todos os dias para que volte para a Inglaterra. – Elisa revirou os olhos.

— Venâncio diz que Darcy era um bom jornalista na Inglaterra. Talvez não tenha se adequado ao Brasil. – ponderou.

— Falta a Darcy vontade de adaptar-se. – Elisa disse, firme. – Poderia trabalhar no jornal como qualquer um de nós, mas coloca-se em um pedestal, querendo modificar nosso trabalho.

E ao encerrar a conversa, Elisabeta deu-se conta do quanto estava incomodada nos últimos tempos. A presença de Darcy tirava dela o prazer de trabalhar no jornal, de chegar em casa. Era sempre recebida com desconfiança e ironias. Mas Darcy era filho do Lorde, e herdeiro do jornal.

No caminho de volta para casa, uma ideia passou a amadurecer em sua cabeça. Dissera, no dia anterior, que continuaria escrevendo como achava correto, no jornal dos Williamson ou em qualquer outro. Já tinha um nome conhecido em São Paulo, talvez pudesse realmente tentar a chance em outro jornal.

Precisaria pensar sobre isso, e conversar com Archiebald. Mas não seria uma conversa fácil, precisaria pensar em suas palavras, principalmente porque não era sua intenção interferir na relação de Darcy com o pai. Porém, se sua relação com Darcy não melhorasse, não haveria alternativa. Teria que sair do jornal e da mansão.

Ao entrar em casa, porém, deu de cara com Darcy. O inglês não deu-se ao trabalho de desviar seu olhar do livro que tinha nas mãos, e Elisabeta passou por ele sem cumprimenta-lo. Já estava quase no pé da escada quando ouviu a voz grave e esnobe.

— Já em casa? Aproveitando a folga do chefe? – ele disse, sem tirar os olhos do livro.

— A coluna está entregue. Se soubesse que fazia questão, teria comigo uma cópia. – ela respondeu, virando-se para ele.

— Prefiro leituras mais substanciais. – Darcy riu, irônico.

— O senhor deve ser bastante infeliz. – Elisabeta deixou escapar, antes que pudesse pensar sobre suas palavras. – Só isso explica o desejo de viver em pé de guerra.

Darcy finalmente a encarou, seus olhos queimando em fúria.

— Você realmente se acha importante, não é? – Darcy tentou atingi-la.

— Na sua vida eu pareço ser figura central. – ela cruzou os braços, sorrindo. – O senhor não tem amigos, uma namorada?

— E o que isso interessa a você? – Darcy ergueu a sobrancelha.

— Estou me perguntando se não existe, no mundo, alguém que opte por tolerar seu mau humor. Sua irmã não conta, a pobrezinha não poderia trocar de família.

Ele levantou-se, caminhando na direção de Elisabeta. Parou à curta distância, sustentando o olhar divertido dela com um olhar raivoso. Elisabeta mantinha o sorriso, enquanto Darcy apertava os dentes.

— Quem é você para falar de família? Que tipo de família delega responsabilidades à um idoso endinheirado? – disse, irritado.

— Não adianta tentar me atingir falando sobre relações humanas, senhor Williamson. Minha família vai muito bem, assim como meus amigos. Seu pai inclusive parece gostar mais da minha presença do que da sua, o que não é muito difícil, dada a forma como o trata. – ela manteve o sorriso.

— Você não vai conseguir manipular meu pai contra mim.

— Darcy, por favor. – ela riu. – Qual seria o meu interesse em colocar seu pai contra você? Você é completamente louco.

Elisabeta virou-se para continuar a subir as escadas, mas foi surpreendida por um puxão de Darcy em seu braço. Firme, porém sem qualquer intenção de machucá-la. Mas Darcy não contava com seu desequilíbrio, por isso sem que nenhum dos dois esperasse, Elisabeta chocou-se contra o peito dele, apoiando-se para não cair.

Ela não conseguia lembrar-se se Darcy a havia tocado alguma vez, mas sentia o calor emanar dele, seu perfume, e seus sentidos ficaram atordoados por alguns segundos. Darcy continuava segurando seu braço, mas agora sua outra mão estava em sua cintura, tentando apoiá-la. As duas mãos de Elisabeta firmes no peito de Darcy, a camisa fina sendo a única barreira entre seus corpos.

— Meu Deus, você está bem? – ela ouviu a voz dele em um tom diferente. – Você se machucou?

— O que foi isso? – ela tentou afastar-se, mas as mãos dele a mantinham no mesmo lugar.

— Me desculpe, eu não tive intenção.

O pedido de desculpas soou estranho para ela, por isso buscou os olhos dele. Não contava que estivessem tão próximos, ou que os olhos de Darcy fossem tão assustadoramente encantadores daquela distância. O olhar dele era confuso, preocupado, completamente diferente de tudo que havia visto naquele mês. E sem qualquer aviso, Darcy sorriu.

— Você me irrita tanto que perdi a cabeça. – ele manteve o sorriso, agora deixando que ela se afastasse. – Me desculpe.

Elisabeta continuou encarando aquele ser humano tão diferente do Darcy que conhecia. Não tinha mais dúvidas sobre a insanidade dele. E nem sobre a dela, ao notar de repente o quanto Darcy Williamson era atraente.

— O que foi? – ele cruzou os braços.

— Você... você pediu desculpas. – ela tentou encontrar as palavras.

— E o que você queria que eu fizesse? – Darcy revirou os olhos.

— Eu não sei. Primeiro você quase me derruba da escada, depois pede desculpas.

— Não foi minha intenção, Elisabeta. – Darcy irritou-se. – A senhorita poderia aceitar as desculpas. Mas não me surpreenderia se fosse contar ao meu pai, como uma criança mimada.

— Ora, por favor! O único mimado nesta casa é o senhor. – Elisabeta bufou.

— Minha educação sugere que eu lhe peça desculpas. – ele cruzou os braços novamente.

— Pois eu não aceito. E seria melhor se esquecêssemos que moramos sob o mesmo teto.

— E como eu poderia esquecer se a senhorita anda pela casa como se fosse uma rainha?

— Eu moro aqui! – Elisabeta elevou a voz.

— E agora terá que aceitar que eu e Charlotte também moramos. E deverá nos respeitar, independente do que o meu pai diga. – Darcy deu um passo a frente.

— Quando foi que não os respeitei? A menos que o senhor considere a minha existência uma provocação, o que parece ser o caso. Só isso explica que me observe feito um abutre, me fareje como um cão de guarda.

— Enquanto eu não souber suas verdadeiras intenções, eu serei sua sombra. – ele disse baixo, qualquer vestígio daquele Darcy sorridente evaporando. – Estarei onde estiver, procurando um erro seu.

— Fique à vontade. – Elisabeta deu um passo a frente, seu corpo quase encostando no dele. – Mas eu espero que peça desculpas quando se der conta que isso não passa de paranoia.

Elisabeta virou-se e começou a subir as escadas.

— Isso é o que vamos ver, Elisabeta.

Mas ela não olhou para trás ao ouvi-lo, e jogou-se na cama tão logo chegou ao quarto. Seu coração batia forte em seu peito, a lembrança do corpo dele em contato com o dela, dos olhos tão próximos. Ainda sentia o cheiro de Darcy, e assustou-se ao se dar conta que desejava bater nele tanto quanto desejava beijá-lo naquele momento.

Riu da ironia da situação, até que a exaustão de tantas batalhas trouxe lágrimas aos seus olhos. Sentia falta da calmaria do Vale do Café, e da rotina com o Lorde antes da chegada do furacão Darcy. Antes que pudesse notar, as lágrimas caíram, e mais lágrimas vieram atrás dessas. Chorou de raiva e tristeza, e naquele momento identificou-se ainda mais com Lorde Williamson. Doía, sem que ela soubesse porque, não ser capaz de conquistar os filhos dele.

Quando desceu para o jantar, tentou disfarçar a vermelhidão de seus olhos, mas soube que foi em vão ao ver os três Williamson a observando com curiosidade. Quase debruçou-se em lágrimas novamente quando Lorde Williamson ofereceu um sorriso bondoso e seu braço para acompanha-la até a mesa.

E Elisabeta jurou ter visto preocupação no olhar de Darcy, por mais estranho que aquilo parecesse.


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