Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 18
Capítulo 18




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A volta a São Paulo foi motivo de estranheza para Darcy e, principalmente, para Elisabeta. Depois de quase vinte dias no Vale do Café, estar de volta a cidade grande era diferente. As luzes, os sons, os carros, o movimento de pessoas, tudo tinha uma urgência que contrastava com a calmaria do interior.

Mas não era uma urgência ruim. Elisabeta sentia-se motivada, inspirada, pronta para novas colunas, para novas ideias. Por isso nem bem deixou suas malas em casa e partiu para o jornal, sob protestos de Lorde Williamson. Mas ao vê-la partir, Darcy também sentiu-se motivado, e juntos chegaram ao jornal.

Elisabeta sentia falta o cheiro de papel impresso, do som frenético das máquinas de escrever, as conversas altas e risadas. Sentia falta também de seus amigos de jornal, e a julgar pelo abraço forte que Olegário foi incapaz de conter, que literalmente tirou Elisabeta do chão, sua ausência também fora sentida.

— Elisabeta! Que bom que está de volta! – Olegário a apertou ainda mais forte, girando-a no ar. – Você não pode se ausentar por tanto tempo.

— Olegário! Senti sua falta! – ela beijou a bochecha do amigo, antes de receber um abraço apertado de Venâncio.

Sequer passou pela cabeça de Elisabeta que Darcy pudesse estar observando a cena com interesse. Queria acreditar que não havia motivo para preocupação, mas ver Elisabeta nos braços de outro homem, mesmo que com tons de amizade, era motivo de irritação. Por isso não conseguiu ser tão simpático quanto gostaria ao receber os cumprimentos de Olegário.

Mas Darcy tentou tirar aquela imagem de sua mente, e logo estava envolvido com todos os problemas que ocorreram em sua ausência. Patrocinadores, anunciantes, políticos e empresas irritados com a opinião crítica do jornal. Era bom estar de volta. Era muito bom estar ali novamente.

##

Elisabeta deveria ter se preparado para aquele momento, mas por completa ingenuidade, ou talvez distração, o pensamento sequer passou por sua cabeça. E por isso foi surpreendida ao chegar em casa naquela noite, muito depois de Darcy, por uma Susana sorridente, sentada ao lado do filho do Lorde.

A mão de Susana estava no antebraço de Darcy, em uma carícia íntima demais para uma mera parceria de negócios. E tão logo viu Elisabeta se aproximar, Susana sentou-se ainda mais perto de Darcy, que manteve-se imóvel, apesar dos olhos encontrarem os de Elisabeta.

— Elisabeta, que bom ver que também está de volta. – Susana forçou ainda mais seu sorriso. – Como foi encontrar seus parentes no interior?

— Muito agradável, Susana. – Elisabeta forçou a simpatia, após cumprimentar a todos.

— Meu querido Darcy estava me contando a respeito de seu pai. Uma pena, não é? Mas pelo menos tiveram um pouco de emoção nessa viagem.

— Eu dispenso esse tipo de emoção, Susana. – Elisabeta respondeu irônica, direcionando um olhar severo para Darcy.

— O que estava dizendo para Susana... – Darcy tentou contornar a situação. – é que foi preciso adiar nosso retorno até que a saúde de seu pai estivesse reestabelecida.

— Não era necessário, como disse tantas vezes. – Elisabeta fingiu indiferença.

— Claro que era. – Charlotte interrompeu o clima pesado. – Foi um prazer para todos nós, especialmente para Darcy. Meu irmão não saiu de perto de Elisabeta, Susana.

— Verdade? – a mais velha fingiu interesse. – Um cavalheiro como Darcy realmente sabe se portar. Fico muito orgulhosa de você, meu querido.

— Obrigado, Susana. – Darcy levantou-se rapidamente. – Agora que Elisabeta chegou podemos servir o jantar. Vou chamar papai.

Em pouco tempo estavam todos à mesa, e Lorde Williamson, após seu descanso, tratou de contar à Susana sobre a viagem e os negócios da região. Darcy observava Elisabeta atentamente, e não poderia ficar mais claro o desconforto da primogênita dos Benedito.

E Elisabeta sentia ter razão. Odiara ouvir Susana falando sobre seu pai. A mulher não poderia ser mais venenosa nem se tentasse. Era evidente o tom de escárnio e sua completa falta de comoção. E Elisabeta irritava-se pelas tentativas de chamar atenção de Darcy, a necessidade que Susana sentia de tocá-lo.

Por isso respirou aliviada quando Susana não prolongou sua visita, despedindo-se antes mesmo do final do jantar. Darcy também pareceu aliviado pela saída da mulher, mas foi Charlotte quem explanou seus sentimentos.

— Eu não aguento mais Susana. Darcy, por favor, peça para Julieta vir pessoalmente das próximas vezes. – disse, com um sorriso.

— Você sabe que não posso, Charlotte. – Darcy revirou os olhos.

— Meu irmão, Susana é desagradável com todos nós, exceto com você. É inconveniente, aparece em nossa casa nos horários mais improváveis.

— É verdade, Darcy. – Lorde Williamson concordou. – Precisamos impor limites, a menos que você tenha qualquer tipo de interesse nessa senhora.

Darcy engasgou-se com o pedaço de torta que comia.

— O que? – perguntou, com a sobrancelha erguida, encarando Elisabeta rapidamente, que fingia não ouvir a conversa.

— Sabe que evito palpitar em sua vida, mas Susana tem interesse em um relacionamento. E se não tem interesse nela, sugiro que pare de aceitar suas investidas. – o Lorde disse, para deleite de Charlotte.

Elisabeta respirou fundo, finalmente olhando para Darcy, que parecia apavorado com a ideia. A verdade é que, em sua opinião, Darcy não fazia nada para dissuadir Susana. Era sempre cordial demais, sem nunca conseguir impor limites.

— Eu concordo com papai. E aposto que Elisabeta também, não é Elisa? – Charlotte sorriu.

— Não me sinto capaz de opinar a respeito deste assunto. – Elisabeta deu de ombros.

— Tolero Susana por nossos negócios. – Darcy respirou pesadamente. – Mas concordo que ela tem passado dos limites. Talvez seja mesmo hora de conversar com Julieta.

O assunto rapidamente migrou para o dia de Elisabeta e Darcy no jornal, e pouco tempo depois estavam todos rumo à seus aposentos.

##

Elisabeta não ficou realmente surpresa ao ouvir a batida leve em sua porta, pouco tempo depois. Darcy entrou em silêncio, com a testa franzida, e sentou-se ao pé da cama de Elisabeta.

— Você concorda? – perguntou, preocupado.

— Com o que? – fingiu indiferença.

— Que eu não sei lidar com Susana... – Darcy soltou o ar.

— Você não sabe lidar com Susana. – Elisabeta bufou, voltando seu olhar ao livro em suas mãos.

— Eu não sei o que mais eu poderia fazer. – ele disse, sincero.

— Darcy, quando eu cheguei em casa Susana estava praticamente em seu colo, segurando seu braço como se fosse sua esposa. – Elisabeta não tirou os olhos do livro.

— Que exagero, Elisabeta.

— Não é um exagero.

— Olhe para mim. – ele pediu, e sem obter resposta, retirou o livro da mão dela abruptamente. – Por favor.

— O que você quer que eu diga? – ela riu. – Desde que você veio para o Brasil sua amiga Susana faz quarenta refeições ao dia nesta casa.

— Ela é a sócia de Julieta, temos negócios juntos... – tentou explicar.

— Negócios que vocês nunca discutem, pelo visto. Pelo menos não durante as refeições. – revirou os olhos.

— Esse ciúme mal combina com você. – Darcy respondeu, contrariado.

— Não é ciúme, Darcy. Você pediu a minha opinião, eu estou dando minha opinião. – ela cruzou os braços.

— E o que você sugere?

— Eu não sei. – bufou. – A forma como você lida com suas amigas é problema seu.

Darcy levantou-se, irritado. Estava incomodado com ela desde a redação, e agora Elisabeta o tratava com ironias.

— Talvez eu devesse agir da mesma forma como age com seus amigos, me jogando nos braços delas. – alfinetou.

— O que? – Elisabeta arqueou a sobrancelha.

— Não foi o que fez com Olegário hoje mais cedo? – cruzou os braços.

— E o que Olegário tem a ver com isso, Darcy?

— Nada, Elisabeta. Mas coisas como essas vão continuar acontecendo. – Darcy respirou fundo. – Enquanto não resolvermos essa situação.

— Não há nada para resolver. – Elisabeta levantou-se, ansiosa de repente.

— Você tem certeza? – perguntou, frustrado.

Mas Elisabeta não soube o que responder. Estavam ali novamente, diante de uma conversa importante, uma conversa que poderia mudar o futuro deles. Seu coração batia rápido, o ar faltava em seus pulmões, a ansiedade tomava conta. E por isso ficou em silêncio.

E ao ver o silêncio dela, sua recusa em abordar o que precisavam, Darcy respirou fundo novamente, saindo do quarto. A verdade é que Elisabeta não queria conversar sobre eles. Não queria mudar aquele acordo silencioso, não queria falar sobre seus sentimentos. E cada vez mais a dúvida se enraizava em sua alma. Talvez ela não quisesse falar sobre sentimentos simplesmente por não sentir nada por ele.

##

Elisabeta passara uma noite difícil. Continuava pensando em Darcy, e estava cada vez mais insegura com aquela situação em que viviam. A verdade é que não sabia se poderia confiar nele. Não podia ter certeza de que as desconfianças dele não voltariam para assombrar qualquer relacionamento que pudessem ter.

E ainda existia todo o resto. O medo de que Archiebald interpretasse aquilo como uma traição, que uma moça como ela nunca fosse de fato aceita entre os Williamson. E a verdade é que passara os últimos anos sendo julgada por sua relação com Archiebald. Era comum ouvir comentários maliciosos.

Mal podia imaginar o que ouviria se, de fato, tivesse um relacionamento com Darcy. E embora não se preocupasse de verdade com o que diziam sobre ela, sabia que ele se importaria. E o que temia era que tudo isso fosse de encontro com o que Darcy pensava, que apenas alimentasse tudo que uma vez ele a acusara de buscar.

Mas não teve mais tempo para pensar em nada, pois ao descer as escadas foi absorvida por uma comoção dos três Williamson. No centro deles uma moça de cabelos ruivos, muito arrumada, com os lábios pintados em um batom vermelho. E foi segundos antes da escada terminar que ela jogou-se nos braços de Darcy, que riu alto ao envolve-la.

Elisabeta observou a cena, a confusão se instalando. Seu coração batia rápido, mas antes que pudesse fugir dali, fingir que não vira nada, os olhos de Charlotte encontraram os dela, e o sorriso se abriu ainda mais no rosto da mais nova dos Williamson.

— Elisa! Que bom que acordou!

— Minha querida! – Lorde Williamson abriu os braços. – Venha conhecer Ludmila.

Darcy separou-se da moça, Ludmila, e os olhos curiosos da mulher se voltaram para Elisabeta.

— Lud, esta é Elisa. – Charlotte fez as apresentações. – Elisa, esta é Ludmila, uma velha amiga da família. Lud passará algum tempo aqui em casa.

— Elisabeta, a famosa Elisabeta. – Ludmila abriu um grande sorriso. – Se é amiga dos Williamson, é também minha amiga. Venha cá me dar um abraço.

E Elisabeta não pode fazer nada além de abraçar aquela desconhecida, que parecia ter tanta história com aquelas pessoas a quem chamava de família. Mas apesar da simpatia da moça, que fez questão de contar à todos durante o café da manhã sobre todas as suas atividades, existia um incomodo em Elisabeta.

Sabia que tinha a ver com Darcy, e com a forma como seus olhos brilhavam ao encarar a mulher. Como seu sorriso era fácil, as brincadeiras saiam de seus lábios. Como se tocavam com intimidade, e compartilhavam histórias. Foi vendo Darcy com Ludmila que Elisabeta finalmente entendeu que não haveria motivos para se preocupar com Susana.

Mas era como se, de repente, ela não existisse mais para ele. Um sentimento quase infantil se apossou dela, de maneira incontrolável. E Elisabeta esperou que o sentimento sumisse durante o dia, que ao retornar para casa tudo aquilo não abalasse sua estrutura, não a tornasse tão insegura.

Porém, Darcy nunca chegou à redação. E quando voltou para casa depois do trabalho, encontrou Charlotte, Ludmila e Darcy em meio a lembranças do passado, risos altos e cumplicidade. Experimentou novamente aquela sensação de não pertencer de fato àquela família, de sobrar naquele momento.

Talvez motivada por isso, talvez motivada pela insegurança. Talvez motivada por sua incapacidade de acreditar que poderiam dar certo, por seu medo de que Darcy se voltasse contra ela em algum momento. Talvez esperando que ele argumentasse contra, que a pedisse para repensar. Por muitas dúvidas, e nenhuma certeza, Elisabeta viu-se batendo na porta de Darcy naquela noite.

E as palavras vieram rápidas, meio impensadas, mas quando saíram de seus lábios foram certeiras.

— Eu vim conversar com você porque eu acho que isso... – ela suspirou. – O que estamos fazendo, nós precisamos parar.

Darcy respirou fundo ao ouvir aquelas palavras. Mas não era algo que não houvesse pensado durante o dia. Se Elisabeta não tinha sentimentos por ele, se não vislumbrava um futuro, se não o queria tanto quanto ela o queria, talvez fosse mesmo melhor terminar tudo. E agora, apesar de doer em seu coração, precisava respeitar sua decisão.

— Acho que você tem razão. – foi o que ele disse, de forma pesada.

E foi certeiro no coração dela. A forma como ele aceitava tão facilmente, como não pensara duas vezes. Era o fim. O fim de uma história que talvez nunca começara para ele. Mas foi o suficiente para Elisabeta virar as costas sem mais palavras.

Nenhum dos dois ouviu as lágrimas que caíram, nenhum dos dois soube o desespero que o outro sentiu. Porque naquele jogo de beijos e desejo, de noites roubadas, as palavras sempre ficaram em segundo plano. E naquele silêncio as dúvidas se perpetuaram. Não havia nada que pudesse desmentir seus receios. Na ausência de declarações, o medo de ausência de sentimentos cresceu.

E quando encostaram a cabeça no travesseiro naquela noite, sentindo uma cama grande demais, o que doía neles não era apenas o fim. Era a sensação de que fora uma história unilateral, de que não passaram de passatempo, desejo escondido. A comprovação do medo mais enraizado. Do medo de não terem sido amados.


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