The Baby Sitter escrita por Mrs Ridgeway


Capítulo 17
16. Os espelhos




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Todo o castelo estava envolto em névoa. Desde quando Rose se apagara da sua frente, Scorpius avançava os corredores, em disparada, a procura de algo que nem ele mesmo sabia.

O primeiro instinto do garoto fora subir em direção a torre da Grifinória. Lá em cima tudo estava muito mais embaçado. Era quase impossível de se enxergar qualquer coisa. O garoto diminuiu o ritmo e praguejou ao vento, amaldiçoando a sua própria escolha de ir até ali. Agora seria muito mais difícil descer pela névoa.

Scorpius deu meia volta e recuou, seguindo novamente para o lugar de onde viera. Porém, alguns segundos depois uma voz suave chamou o seu nome.

— Malfoy?

Scorpius viu Dominique tropeçar, confusa, e ergueu os braços para segura-la. A garota apertou o loiro para não cair.

— Oh, Malfoy! – exclamou, agora podendo enxergar o seu rosto com o mínimo de clareza. – O que está acontecendo?!

— A segunda prova começou. – ele respondeu.

— O Louis sumiu da minha frente!

— A Rose também. Acho que temos que encontra-los.

— As pessoas estão desaparecendo do nada?! – a ruiva indagou, irritada, e ele confirmou. – Que merda de prova é essa?!

Dominique agora andava de um lado ao outro, abanando a mão no ar sem sucesso, como forma de dispersar a nevoa densa que continuava a se formar cada vez mais no espaço.

Scorpius sorriu. As garotas Weasleys eram todas bem geniosas.

— Por Merlin! – ela continuou. – Maldita hora que eu aceitei participar dessa disputa!

— Eles ainda estão no castelo. – o loiro comentou.

— Como você pode ter tanta certeza assim?

— É proibido aparatar em Hogwarts.

— Mas eles sumiram!

— Eu sei, mas foi de alguma outra forma.

— Que forma?!

— Eu sei lá! – ele agitou os ombros. – Estou tão perdido quanto você!

Ainda mais irritada, Dominique disparou a falar em tom de revolta, contudo Scorpius já não a escutava mais. A musica voltou a ecoar lenta, em sua cabeça. O som era o mesmo, suave e melodioso.

 O garoto ficou alerta no mesmo instante. Ele já aprendera que a sinfonia era um sinal. Sempre.

— Ei... – ergueu a mão para Dominique, silenciando-a.

Era sua impressão ou a névoa estava diminuindo? Scorpius deu alguns passos para frente, em direção ao fim do corredor. Dentro do seu peito algo ainda dizia que aquela era a direção certa.

— O que é isso? – a corvina indagou, atrás dele.

O loiro se virou outra vez. Por entre a neblina, Dominique o encarou.

— Acho que é o seu nome aqui. – disse ela.

Scorpius se aproximou do lugar onde a ruiva indicara. Um ponto específico da parede ainda se movimentava.  O loiro regressou os passos e chegou mais perto do local. Os adornos de pedra que sempre estiveram ali realmente haviam se curvado, formando o seu nome.

— Tem algo aí dentro?

— Acho que sim.

— Se tem o seu nome então é para você. – Dominique parou ao seu lado. – Abra.

Scorpius não precisava abrir para saber o que provavelmente estava ali dentro.

— É a chave... – ele sussurrou, incrédulo.

O loiro conseguia imaginá-la com clareza.

— O que você está esperando, pegue-a! – a garota exclamou.

Scorpius esticou o braço em direção a parede, mas recuou logo em seguida.

— Não.

— Não?

— Não. – repetiu, e se lembrou das palavras de Rose na última prova. – Não iria ser tão fácil assim...

A melodia da flauta em sua cabeça tocava cada vez mais alto. O loiro sentiu os olhos pesarem e suas pernas afrouxarem. Agora não, murmurou para si mesmo. E ainda que com dificuldades, ele se manteve firme. Não iria desmaiar ali.

Malfoy se afastou da parede e virou-se de frente a garota. Ela franziu a testa.

— O quê?! – Dominique parecia não entender. – A chave está na sua frente! – bradou. – Pegue-a, Malfoy! Pegue-a e tudo isso que você está sentindo cessará! – o incentivou.

— Não! – o loiro disse outra vez.

Malfoy tinha os punhos estavam serrados e gotas de suor caiam pela sua têmpora. Ele estava nervoso, mas agora sabia o porquê.

— Isso não é a chave. – falou, convicto. – E você não é a Dominique Weasley.

A ruiva o encarou de volta, de maneira desafiadora.

— Hum... – ela sussurrou. – Não sou...? – perguntou logo após.

— Não é.

A criatura que se dizia ser Dominique gargalhou e deu alguns passos para trás. Ela ergueu as mãos e Scorpius fez o mesmo com a varinha, na defensiva. A mulher, porém, não o retaliou. Ela apenas passou os dedos pelo ar e por sua própria fronte, e o feitiço para confundir fora desfeito no mesmo instante.

A névoa desaparecera por completo aos olhos de Malfoy, assim como a imagem de Dominique Weasley, que dera lugar para o corpo de uma mulher esguia, de longos cabelos negros e ondulados, e olhos azuis hipnotizantes. Seu vestido prateado balançava esvoaçante, ainda que não houvesse vento o suficiente para movê-lo do lugar.

A criatura ela linda. Talvez fisicamente a mulher mais bonita que o garoto já tivera visto. Envaidecida pela reação de Scorpius, a jovem sorriu outra vez, mostrando todos os seus dentes assustadoramente brancos.

Scorpius lembrou de todas as histórias do mundo bruxo contadas pelo seu avô e teve certeza das suas convicções. Aquela mulher era uma Veela, e as Veelas eram lindas, porém mortais. Exatamente como a figura parada a sua frente demonstrava ser.

A Veela ergueu a voz.

 

Ela é a chave e ela está aqui.

Só basta saber o que pedir que o castelo o concederá.

Mas saiba como agir,

e saiba o que escolher.

Pois, se o passo for dado em falso,

E a escolha fora do compasso,

para sempre o reflexo os tomará.

 

Um enigma.

“... Só basta pedir e o castelo o concederá...”

Ele já sabia onde ir.

— Vá, Scorpius Malfoy. – a Veela ordenou. – E tenha boa sorte.

Scorpius acenou com a cabeça e correu em direção ao fim do corredor. Metros à frente, quando o garoto olhou para trás, já estava sozinho outra vez.

 

 

...

 

 

Malfoy estava parado em frente a sala precisa. Faltava-lhe coragem para entrar no lugar. Depois do enigma da Veela, as coisas lhe pareceram extremamente simples. O loiro desejou encontrar Rose, então os contornos das portas se formaram e a mesma se abriu, em seguida.  Ele só precisava adentrar.

Assim o garoto fez. Mas Scorpius não reconhecia aquela configuração. A sala estava escura, abafada, e diversos espelhos pendiam e brotavam do chão, espalhados paralelamente entre si. O ambiente era desfocado e confuso.

O loiro deu mais alguns passos para frente e o seu reflexo apareceu em diversos ângulos. Scorpius reparou que algo além da sua própria imagem se mexeu do seu lado esquerdo.

Malfoy virou-se rapidamente.

— Rose? – chamou.

Por outro reflexo, o loiro viu uma montanha de cabelos vermelhos correr mais ao fundo.

— Rose!

Scorpius avançou na direção da ruiva, mas sua atenção fora captada em outra região. Havia outra Rose acenando afoita para ele pelo espelho, no sentido oposto.

— Rose! – ele exclamou mais uma vez, indo na direção da imagem.

— Scorpius!

Uma resposta. Mas não fora a Rose a sua frente que respondera.

— Não é você. – ele disse.

O loiro girou 180º e correr na direção que pretendia antes.

— Scorpius! – outro chamado.

Malfoy parou de correr. Não sabia para onde realmente ir. Elas estavam o confundindo. Sombras passavam de um lado para o outro a todo o momento, alterando os reflexos, tornando-os difusos.

Apenas uma é a verdadeira, o garoto pensou. Mas qual delas?

— Rose! – gritou novamente.

— Scorpius!

Não adiantaria gritar. Elas iriam confundi-los de qualquer modo. A verdadeira Rose estava ali em algum lugar, porém eles estavam presos, os dois. Confinados dentro de um labirinto de espelhos.

A beira do desespero, o garoto observou ao seu redor novamente. Então algo óbvio despertou em sua cabeça. Aquele lugar era realmente um labirinto.

Malfoy deu um tapa na própria cabeça.

— Deixe de ser um trasgo! – praguejou antes de avançar rapidamente por um dos corredores espelhados.

Em um labirinto, o prêmio sempre ficava no centro. Rose deveria estar lá.

 

 

...

 

 

As falsas Roses não facilitaram o caminho. Quando perceberam que Scorpius já sabia para onde ir, a retaliação não tardou a vir junto. O garoto fora atacado e confundido durante todo o percurso. Porém, mesmo com o corpo coberto de arranhões e do corte relativamente profundo no seu supercílio – por causa de um espelho que fora explodido na sua frente – Scorpius conseguira chegar até o centro.

E a Rose estava lá. Mas não estava sozinha.

O centro do labirinto era um grande círculo de espelhos. Haviam duas Rose Weasley, cada uma em uma extremidade, uma de frente para a outra. Ambas tinham um dos pés amarrado por uma corda aparentemente encantada. Entre as ruivas uma grande cratera escura dividia o espaço.

Malfoy deu um passo a diante.

— Scorpius! – ambas o chamaram quando ele se revelou no centro.

O loiro respirou fundo. Quem organizou aquela competição só poderia estar de brincadeira.

— Scorpius, sou eu! – a da extremidade esquerda gritou, em plenos pulmões.

— Não acredite nela! – a outra retaliou.

— Ela que está mentindo! – a de antes replicou.

Malfoy engoliu a seco e sentiu a cabeça pesar um pouco mais que antes. Ele já estava se segurando para não desmaiar há tempo demais. E não havia nada na aparência que pudesse diferencia-las. Nenhum mínimo vestígio.

“...pois, se o passo for dado em falso, e a escolha fora do compasso, para sempre o reflexo os tomará.”

Ele deu mais alguns passos para frente, chegando à beira da cratera.

— Rose, eu sei que provavelmente deve haver algum feitiço te impedindo de se diferenciar. – falou, de olhos fechados. – Mas eu só preciso de algo que me prove que você é você... – pediu. – Por favor...

Houve uma comoção de gritos logo em seguida. Malfoy abriu os olhos para observa-las, numa última tentativa.

— Scorpius, sou eu. – disse a ruiva da direita.

O seu olhar era de alguém completamente desesperado.

— Não! – a da esquerda gritou, por cima. – Eu sou a Rose verdadeira!

— Ela quer enganar você!

— Você que quer, sua cópia dos infernos!

A Rose da esquerda tentou avançar na outra ruiva, mas sem muito sucesso.

— Scorpius... – gemeu a ruiva da direita. – Por favor...

— Não! – a da esquerda se debatia. – Não dê ouvidos a ela!

— Nós estávamos juntos naquele corredor!

Ao se lembrar do momento de mais cedo, o garoto sentiu o coração bater mais forte. Contrariando sua racionalidade, ele se aproximou da Rose da direita.

— Aquilo foi real? – o loiro perguntou.

— É claro que foi...  – ela respondeu, visivelmente aflita.

As covinhas das suas bochechas sardentas ficaram mais aparentes, como Malfoy sabia que sempre ficavam quando a ruiva movia os músculos do rosto nervosa, ou quando ela sorria.

A Rose tentou dar um passo para frente, o máximo que ela podia.

— Sou eu... – falou. – Eu. Rose.

Ela estendeu a mão para Scorpius. O loiro segurou de volta.

— Rose... – sussurrou.

Ele inclinou a cabeça e avançou para beija-la. No início os lábios da ruiva permaneceram rijos, mas junto com a insistência de Malfoy viera a entrega da garota. Ela subiu as mãos pelos ombros de Scorpius e descansou os dedos na sua nuca, próximo a raiz dos seus cabelos.

Eles prolongaram o beijo pelo máximo de tempo que fora possível. Mas, devagar, Malfoy se afastou. Ele trazia um meio sorriso no canto da boca quando trouxe as mãos da ruiva até os seus lábios e depositou um beijo fraternal em cada dorso.

A Rose sorriu de volta.

— Eu sabia que você iria me encontrar.

Scorpius assentiu com a cabeça. Ele se afastou mais alguns passos, e encarou a Rose da esquerda, que parara de gritar e os observava com ódio latente nos olhos azuis.

— É, eu também. – o loiro concordou. – Adeus... – disse para a Rose que acabara de beijar. – Estupefaça!

O movimento da varinha fora rápido. Menos de dois segundos depois a ruiva a sua frente fora parar no chão, metros a diante e completamente apagada.

Scorpius se direcionou para a outra Rose, também com a com a varinha apontada.

— Relaxo!

As cordas que prendiam o tornozelo da garota se soltaram. A Rose verdadeira ergueu as sobrancelhas, ainda impactada com o que acontecera a pouco. Mas, ainda assim, não o agradeceu.

— De nada? – o loiro a provocou, de braços cruzados.

A garota sorriu, sarcástica, antes de se aproximar de Malfoy. Ambos ficaram frente a frente.

— Vamos lá.

Rose segurou Scorpius pelos braços e se jogou em direção ao fundo da cratera.

 

 

...

 

 

Fazia muito frio. A noite já havia chegado, soturna e silenciosa, trazendo cada vez mais os traços do inverno. Contrariando a escuridão do lado de fora, dentro da gruta uma chave dourada brilhava reluzente, pendurada em uma coluna de cipós. Rose foi até ela e a pegou, com as duas mãos.

Já em posse da chave, a garota saiu da gruta. Scorpius a esperava do lado de fora.

— É por ali. – ele disse, indicando a direção com o queixo.

A ruiva assentiu. Juntos, os dois andaram calmamente pela floresta, Scorpius com uma das mãos no bolso que não fora destroçado e Rose segurando a chave e a varinha – que fora misteriosamente devolvida ao seu uniforme – junto ao peito. O loiro também trazia a varinha a mostra na mão livre, embora tivesse certeza que o perigo maior já tinha passado.

Após cerca de vinte minutos de caminhada silenciosa, a dupla avistou fumaça no céu escuro. A silhueta da cabana de Hagrid fora ficando cada vez mais perceptível. Eles haviam chegado ao limiar da Floresta Proibida.

Malfoy atravessou algumas raízes maiores com certa dificuldade e ajudou Rose a subir o aclive logo em seguida. A beirada da entrada da floresta, uma fila comprida de pedestais flutuantes jazia, iluminada.

Rose estendeu a chave para Scorpius, mas ele balançou a cabeça em negação.

— Sua vez. – disse o garoto.

A ruiva sorriu de canto e, devagar, a menina percorreu alguns pedestais. Não precisou andar muito. Rose se esticou na ponta dos pés e colocou a chave na ranhura destinada a ela. Um brilho mais forte cintilou, indicando que a aquela prova tinha chegado ao fim.

Mais acima, da cabana de Hagrid, o gigante bateu vigorosas palmas, apoiado na janela. A dupla de competidores sorriu. E quando Rose retornou para o lugar de antes, Scorpius estendeu a mão para ela novamente. A garota fitou os seus olhos cinzentos por alguns segundos, antes de aceitar o toque do loiro de uma vez por todas.

Malfoy enlaçou os seus dedos nos dela, de maneira firme. Juntos, e de mãos dadas, os dois retornaram para o castelo.


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Notas finais do capítulo

Lá se foi mais uma provaaa!

E aí? O que acharam?!
Me contem aqui nos comentários! Eles são muito importantes para a evolução da história! (e podem ajudar a postagens mais rápidas ;] )

Para quem não conhece ainda, eu tenho uma página onde posto os links das histórias, alguns spoilers de vez em quando, umas novidades também... Dá uma chegadinha lá!
==> https://www.facebook.com/Mrs-Ridgeway-1018726461593381/

Beijos!