Era constrangedor e absolutamente aterrorizante depender assim de outra pessoa. Preso no escuro, a sanidade por um fio, ele simplesmente não conseguia se afastar de Mauro. Este o segurava firme contra o peito, repetindo baixinho que Cássio ficaria bem, podia chorar sem problema, eles dariam um jeito.

Levou muito tempo pra parar o choro e mais ainda pra juntar coragem, mas acalmou-se e sentou. Do fundo do seu coração, Cássio desistiu. Daquele jeito torto que agia morreriam os dois, então só restava uma coisa a fazer. — Mau, sei que eu não deveria te pedir isso...

— Nem sonha em me dizer pra ir embora de novo. Eu não vou.

— Vem comigo. — Estendeu a mão, ereto mais uma vez. — Vamos endireitar esse mundo fodido juntos.

Não podia avaliar a expressão, e esperou com a mão estendida. A mão que agora apertava a sua era tudo que precisava. Com Mauro ao seu lado, não teria medo do mundo. Pelo contrário, estava na hora do mundo ter medo deles.

Mauro ficou olhando atordoado, tentando lembrar como fazer frases completas depois do que ouviu. Vendo o sorriso esperançoso do amigo que sacudia sua mão pra cima e pra baixo, como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

— Ok, qual é a pegadinha?

— Desisto, cara. Já te falei milhões de vezes que eu sou um sociopata, que você não deveria estar aqui, vou acabar te destruindo. Já me disse não sei quantas vezes que eu sou um carente idiota, que deveria me afastar se quisesse seu bem. Que não faço ideia do que tô fazendo. Você seria feliz com a Ramona, também sei disso.

“Mas preciso do meu amigo. E você. Nunca. Foi. Embora. Lobo burro. Nada do que eu tentei adiantou. Então não vou mais te afastar, e paro de mentir pra mim. Quero você aqui. Lutar com você do lado. Pelo tempo que você quiser ficar.”

Silêncio.

— Tá lembrado que não tenho o poder de ler mentes, não é?

— Tô pensando se é muito cedo pra te pedir em casamento.

— Vai te foder, Mau. — respondeu, rindo aliviado. — E sozinho. A única pessoa que queria te pegar era a Ramona e você deu um fora nela. No que depender de mim, você vai continuar subindo pelas paredes.  

— Tá brincando? Já tenho uma casa lá em cima. — Riu baixinho. — Vamos achar comida e começar a matar logo. Temos um mundo inteiro pra limpar.