KATHERINE

Chegando perto da casa, Katherine viu Pamela sair da moradia com as mãos no rosto e ajoelhar no chão. A princesa voltou a correr até ficar ao lado da mulher.

—Thomas… —Katherine tocou seu ombro.

Pamela a olhou desiludida e começou a chorar compulsivamente.

A princesa se apressou a entrar na casa e subiu o mais rápido possível para o segundo andar. Quando chegou no quarto do garoto, William estava sentado com um tipo de moeda na mão, que ele passava entre os dedos.

—Meu pai o levou —ele olhou para Katherine e depois para a moeda.

—Como sabe? —a princesa se aproximou.

—É o brasão dos Thatch —ele o estendeu para Katherine. —Ele sempre deixa isso para suas vítimas.

—Thomas está bem, Will —ela sentou ao lado dele.

—Por enquanto —o Thatch colocou a mão no rosto. —Preciso trazê-lo de volta. —o pirata suspirou e se levantou. —Fique aqui com Pamela.

—Eu vou com você —a princesa também se levantou.

—Kate…

—Eu preciso ir com você.

—Katherine, eu não…—William olhou para cima, claramente se esforçando para as lágrimas não saírem e não demonstrar desespero —Eu não posso te perder também. Já vou estar vulnerável demais…

—Você não vai me perder —a princesa segurou seu rosto. —E não vai perder Thomas. Eu vou com você. —ela disse com convicção.

William a olhou e não queria aceitar, mas não conseguiu dizer não para a menina, e concordou com a cabeça.

—Qual o plano? —Katherine o olhou.

—Vem —William saiu do quarto e desceu as escadas, onde Wayne estava chorando encostado na parede. —A culpa não é sua —o pirata foi até o canto, onde estava o baú com os tesouros que trouxe para Pamela. —Não é hora para lamentar e sim agir —ele colocou várias moedas e utensílios de valor em uma bolsa. —Vá e arrume um navio e tripulação. Garanta que a embarcação seja bem equipada com canhões.

Wayne limpou as lágrimas e pegou a bolsa, saindo da casa. William e Katherine o seguiram até o anão montar no cavalo e ir adentrando a floresta.

—Vou trazê-lo de volta —o Thatch encostou a mão no ombro de Pamela, que ainda estava ajoelhada chorando.

—Robert não vai entregá-lo, você sabe disso —a mulher olhava fixamente para o chão.

—Tirarei a força.

—Traga ele pra mim, Will —Pamela se levantou e abraçou o pirata.

—É uma promessa —ele correspondeu o abraço e beijou a testa da mulher antes de começar a andar para voltar pro seu navio.

(…)

A caminhada até o porto foi silenciosa. Katherine seguia William o olhando, e o rapaz estava claramente abalado, com um olhar distante e vazio. A princesa percebeu que além da preocupação de um pai, a maldição sobre a fraqueza dos piratas estava fazendo efeito.

—Ele vai ficar bem —Katherine deu um sorriso fraco pra Wiliam.

—Eu espero —ele respondeu sem a olhar, como se pensasse em algo.

—Vai sim —a princesa afirmou. —Lembra que o mar tá do meu lado?

—Bom argumento —William deu um sorriso fraco e sem intensidade. —Mas o mar também sempre esteve ao lado dos Thatch. Ainda mais do líder deles.

—Como seu pai descobriu que iríamos estar aqui? —a menina perguntou.

—Alguém me traiu e eu sei quem foi.

Os dois ficaram em silêncio. Na cabeça da princesa a preocupação com seu reino e sua família começaram a voltar. Ela precisava fazer algo.

(...)

WILLIAM

Depois de mais dez minutos de caminhada, os dois chegaram no porto. Os homens de William já estavam na espera do capitão, alguns sentados e outros em pé observando o pirata andar mais depressa em uma direção.

William passou direto pelos seus homens, até encontrar com James que estava escorado em uma árvore.

Sem dizer uma palavra, o pirata socou o rosto de seu irmão, que caiu no chão.

—LEVANTA! —William gritou e chutou a barriga de James.

—Pra que tanta raiva, irmãozinho —James sorriu irônico olhando para cima com a boca ensanguentada.

Katherine nunca viu William com tanto ódio, suas veias estavam expostas e seu olhar era assustador. Todos observavam a situação, sem intervir. O ódio que o Thatch sentia era descomunal e ele não se importava com suas ações que eram motivadas pela raiva.

William pegou James pela gola de sua camisa e o colocou contra a árvore.

—Por que fez isso!? —William gritou e socou outra vez o irmão, mas sem o deixar cair. —Por que me traiu!?

—Porque eu não vou deixar você destruir nossa família por causa de uma buceta da realeza! —James gritou de volta, e a resposta fez com que William sentisse mais raiva e o socasse cada vez mais.

Jonathan se aproximou de Katherine que estava com as mãos na boca olhando a cena. James estava deitado no chão e William por cima, ainda o agredindo.

—Você é meu próprio irmão! Ele é o seu sobrinho, seu filho da puta!

—Will —Katherine disse se aproximando, mas Jonathan segurou sua mão.

—Não interfere, Kate  —ele disse, mas Katherine se soltou e caminhou devagar até o capitão do Vingança.

—Will —ela se agachou ao lado do pirata, que já estava com as mãos ensanguentadas e o irmão quase desmaiando. —Will, estamos perdendo tempo...

O Thatch olhou para a princesa e seu olhar de ódio foi se esvaindo. Ele limpou as mãos sujas de sangue em sua camisa a manchado, respirou lentamente por alguns instantes e se levantou.

—Prendam-no .

Logo os homens do pirata começaram a se movimentar.

—Sinto muito você ter visto isso —o Thatch suspirou.

—Eu te entendo, e faria o mesmo —Katherine segurou a sua mão, não se importando com o sangue nela, e de certa forma, fazendo o coração do pirata se aquecer.

Jonathan observou a cena com desconfiança, já que a última vez que ele viu os dois juntos, a irmã estava com raiva do rapaz.

—Capitão —Wayne chegava com certeza de 30 homens o segundo. —Essa é a sua nova tripulação e seu novo navio. —ele apontou para o oeste, onde estava uma embarcação enorme, mas não tão grande quanto o Vingança.

—Estamos indo enfrentar Robert Thatch. —William se virou para os homens. —E preciso de piratas leais a mim, por mais que ele seja o líder de vocês.

Os homens se olharam em silêncio e o capitão analisou o grupo.

—Quem for covarde e não for leal a mim, pode se retirar.

Cerca de sete homens saíram e os outros permaneceram parados.

—Ótimo. —o pirata começou a andar para o seu navio. —Levantar âncoras, preparar as velas.

Katherine esperou o Maxine se aproximar antes de embarcar e o velho senhor sorriu fracamente para a menina.

—Agradeço a sua coragem. Não irei abandonar meu povo e minha família —a princesa segurou a mão do homem.

—Contamos com a senhorita, Vossa Graça —ele fez uma reverencia e subiu pelas escadas de corda.

(…)

O clima do navio estava pesado e William conversava com alguns de seus homens. Katherine estava sentada na escada com Wayne, tentando o reconfortar.

—Não é culpa sua, até Will lhe disse isso —a princesa acariciava suas costas.

—E-Eu deveria ter sido mais cuidadoso —Wayne dizia entre soluços.

—Quem iria imaginar que James avisou Robert que William não queria me entregar… —Katherine pensou um pouco e olhou para o anão. —Como ele fez isso?

—A-As noites ele lançava garrafas com mensagens e o pai deles nos seguiu —ele respondeu.

—Ei —Jonathan se aproximou e sentou-se ao lado dela. —Que situação, né.

—Nem me fale. —a princesa escorou sua cabeça no ombro do irmão. —Espero que Thomas esteja seguro.

—Robert não vai fazer mal ao garoto. Precisa dele pra barganha.

—Esse é o problema —Katherine olhou para William que estava com mapas sobre a mesa e discutia alguma rota com seu grupo. —Ele tá lidando com duas fraquezas, temo que faça alguma bobagem.

—Temo que eu faça alguma bobagem —Jonathan a olhou. —Não vou deixá-lo te entregar para Robert.

—Não será necessário… Eu tenho um plano —a princesa colocou as mãos no rosto pensando em sua família. —Espero que funcione.

Os homens que estavam com William se afastaram e o capitão foi para o meio do navio e suspirou, olhando para as escadas que davam ao nível inferior.

Depois de alguns minutos, dois de seus homens traziam James acorrentado até o irmão. Era impressionante que apenas havia vestígios de sangue no rosto e camisa do mais novo Thatch, seus ferimentos já haviam se cicatrizado.

William trocou poucas palavras com o irmão rispidamente e fez um sinal com a cabeça para que o levassem até o timão. Pois apenas ele iria saber onde Robert estaria. O capitão foi até a mesa novamente e ficou olhando para o seu outro navio que seguia o Vingança, enquanto bebia uma garrafa de rum.

—No que está pensando? —ele escutou a voz de Katherine ao se aproximar.

—Preciso de outro capitão. Se eu for lutar contra meu pai, preciso de alguém dando ordens lá.

—Bem, eu poderia ser capitã —a princesa deu um sorriso contido, que finalmente conseguiu tirar toda a expressão séria e tensa do Thatch.

—Sabe comandar um navio? —ele a olhou com um sorriso fraco.

—Pode se comparar a administração de um reino? 

—Não mesmo.

—Então não faço a mínima ideia —ela respondeu o abraçando. Ele suspirou e beijou a sua testa, era estranho sentir conforto com o toque da menina em uma situação tão difícil.

—Eu posso comandar o navio —Jonathan se aproximou.

O casal olhou para o mais velho Lecerf, que observava os mapas da mesa.

—E por que eu confiaria em você, Page? —William franziu as sobrancelhas.

—Porque a vida da minha irmã e de Thomas são importantes para mim —ele olhou para o capitão.

—Desde quando a vida do meu filho significa algo para você? —o pirata revirou os olhos, se afastando enquanto dava outro gole na bebida, como se essa ideia fosse a coisa mais estúpida que poderia ter ouvido. —Você só quer me enganar igual fez na última vez.

—Eu nunca te traí, Will —Jonathan olhou para o céu suspirando, fazendo o Thatch parar e olhar para trás. —Eu não queria ter feito um motim contra você.

—Muito tarde para se arrepender —William disse secamente e voltou a andar.

—Seu pai me obrigou —Jonathan elevou a voz, fazendo-o parar novamente. —Ele me chantageou, William.