Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 19
Capítulo 18




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— Ele está morto.

O oficial de Illéa, Alastor Moody, calou-se quando a criada terminou de empurrar a cadeira de rodas de Jane para dentro da sala.

Não era permanente, mas depois da cirurgia que teve que fazer para tirar a bala da sua espinha, os médicos acharam melhor que ela ficasse um tempo de repouso para evitar sequelas. A cicatriz do tiro não ia sumir das suas costas e ela estava tomando remédios para diminuir a dor todas as vezes em que tentava ficar de pé na fisioterapia, mas estava progredindo. Pelo menos estava viva.

Euphemia olhou para trás. Estava de pé, atrás da mesa do escritório. Tinha uma mão apoiada em um relatório militar com o símbolo de Illéa, que estava em cima da mesa, e a outra pendia ao seu lado. Ela deu um de seus raros sorrisos, indo até ela e trazendo-a para mais perto da mesa do escritório. Levantou o olhar, ao perceber que os oficiais tinham parado de falar, puxando finalmente uma cadeira para sentar-se e ficar na mesma altura da filha.

— Continuem — ordenou.

Um grupo de illeanos estava escondido perto do castelo desde a noite em que ocorreu a tentativa de assassinato de Jane. Tinha sido uma ordem expressa da rainha Doralice. Ninguém tinha conhecimento disso, nem mesmo a rainha Euphemia. Estavam esperando pelo momento propício para renderem Tom Riddle e seus comparsas e libertarem a rainha de seu domínio.

Tom Riddle estava morto e os que estavam com ele naquele dia tinham sido presos. Não era tudo, mas já era um começo. Seria difícil para os Todesser seguir em frente sem um líder, era isso o que eles esperavam.

— Não faz sentido como Tom possa ter descoberto sobre o paradeiro de Jane — comentou Euphemia — Ele disse sobre o convite de Illéa e o telefonema, mas somente isso não seria suficiente, a não ser que já soubesse.

— Temos motivos suficientes para acreditar que altas castas de Illéa estão envolvidas com os Death Eaters e... bem, altas castas participaram da Seleção — Moody respondeu — Ainda estamos investigando.

A Seleção.

Poderia ter sido Snape, Malfoy, Carrow... Poderia ter sido qualquer uma.

Ela talvez nunca soubesse quem estava envolvida. Naquele momento, ela não estava pensando nas prováveis culpadas da tentativa do seu assassinato, ela só conseguia pensar em Sirena.

Em Reyna, Artemisa, Fabiane, Stelle, Edelweiss, Fran, Edge, Benny.

Todas as amigas que fez durante aquele tempo.

— Eu gostaria de retornar para Illéa — ela disse à sua mãe, assim que se viram sozinhas novamente.

— Não pode — Euphemia respondeu no mesmo instante, virando a página de um relatório.

— Por quê?

— Bom, em primeiro lugar, você está em recuperação. Não vai viajar de cadeira de rodas e nem depois que se livrar dela, o que vai demorar. Em segundo, o nosso país precisa de suas soberanas neste momento, já passou muito tempo afastada.

Ela não olhou em sua direção em nenhum momento, enquanto dizia aquilo.

Só faltava um "E, terceiro, eu sou sua mãe e estou mandando que fique" para completar a linha de raciocínio.

Jane empurrou as rodas da cadeira com um pouco de dificuldade, saindo da sala, magoada. Seguiu sem dificuldades até o seu quarto, já que o escritório estava no mesmo andar.

Não deveria estar tão magoada com a sua mãe, supunha, já que ela não estava errada nas suas razões, mas mesmo assim estava. Hopkirk com certeza retornou a Illéa junto com a maior parte dos soldados de Illéa, ou talvez antes disso. Como McKinnon reagiria ao saber que ela não retornou? Como Liam reagiria?

Ele certamente já sabia. Talvez não fizesse tanta diferença assim, já que eles não se falavam havia tempos, as coisas não melhoraram quando ele descobriu que ela era princesa da Nova Germânia. Ou rainha. Aquele conceito ainda era estranho para ela.

Deixou muitas coisas para trás. Amigas, Liam, a Seleção, os seus pertences... Pôs a mão no seu camafeu, agradecida por não ter deixado isso para trás, mas em compensação lembrou-se de que tinha deixado a carta. Não apenas tinha deixado em Illéa, como tinha deixado escondida em uma gaveta do seu antigo quarto de selecionada.

Na época, era doloroso demais só pensar na ideia de abri-la e ler o que dizia, mas agora ela se arrependia de não ter lido as últimas palavras de seu pai. Gostaria de saber o que dizia, provavelmente nem sua mãe sabia, já que o envelope estava lacrado.

Qual seria a escolha de Liam agora sem ela? Não que fizesse alguma diferença com ela lá. Talvez Reyna ou Sirena, ela não se importaria. Só era triste demais um casamento por compatibilidade e não por amor. Talvez ele casasse com Queensley ou com Chavelle com conveniência, essas opções ainda não eram ruins.

Gintare era legal, mas não parecia estar interessada em se casar com Liam, e ele também não parecia interessado nela. Nunca os viu indo juntos a um encontro ou conversando a sós, e mesmo assim ela permaneceu até o fim. Amora também era legal e parecia gostar dele, talvez pudessem se dar melhor. Era estranho para ela pensar nas duas selecionadas, mas era melhor do que considerar que ele pudesse escolher Lucy, Amethyst ou Severina.

A última era a pior de todas e, ao mesmo tempo, a mais provável.

Ela era amiga dele, ele era amigo dela. Ela era de uma casta muito baixa, o que ajudaria a acalmar os ânimos da população, apesar de ser péssima em lidar com as pessoas. Talvez isso acabasse não importando tanto.

Eles tiveram tantas brigas, mas tão bons momentos antes disso.

Como o primeiro e único beijo que trocaram durante a Seleção. As coisas tinham acontecido tão rápido que era inacreditável pensar que só tinham se beijado uma única vez.

O primeiro encontro que tiveram, quando ele a levou para ver as fotos naquela passagem secreta do castelo, perto da biblioteca. Também parecia ter sido o último. As primeiras coisas que fizeram pareciam ser as únicas. Ela sabia que coisas boas acabavam rápido, mas definitivamente não estava preparada para ter acabado tão rápido quanto acabou. Nem sequer tinha começado direito.

Quando ele a levou para o Jornal Oficial de Illéa, depois que ela passou dias ausente da Seleção. Aquilo tinha significado tanto para ela, parecia besta naquele momento.

Fechou as portas duplas de seu quarto, notando que estava tempo demais parada ali e então empurrou a sua cadeira de rodas para perto da escrivaninha. Passava tempo demais lá. Era onde estudava, lia e escrevia cartas. Fazia tempos que não estudava diplomacia, sua mãe com certeza a perturbaria por isso mais tarde.

Era difícil voltar àquela rotina, aquele ambiente.

Nada voltaria ao normal.

Como Sirena e Reyna reagiram quando souberam que ela não retornaria? Certamente elas sabiam. Ou teriam inventado uma desculpa para a sua eliminação da competição? Severina certamente amaria aquilo. Elas sabiam? Que ela era uma princesa? Ou tinham mentido sobre isso junto com a sua eliminação? Não fazia mais diferença se soubessem.

Sabia que outros países tinham acesso aos materiais da Seleção, embora tivesse sido editado por causa de sua participação, mas não sentiu vontade de procurar saber. Que bem aquilo lhe faria? Já estava se torturando o suficiente sem motivos.

Esperava que estivessem todos bem. Não teve oportunidade de se despedir de ninguém, todos esperavam que ela retornasse. Tinha tanta coisa pendente, não conversava com Hope e Pomona desde a morte de Myrtle. Como elas estariam? Tão mal quanto ela esteve? Ou não eram tão íntimas? Talvez estivessem apenas um pouco abaladas, mas não o suficiente para se depreciar.

Provavelmente tinham retornado para as cozinhas, assim que ela foi levada aos cuidados de outras criadas, no terceiro andar. Não se incomodou em perguntar, na época. Tinha sido um pouco egoísta de sua parte.

Nunca teve muitas chances de ser egoísta.

Esperava não ter prejudicado a McKinnon.

Teria sido melhor se tivesse retornado com sua mãe? Se Tom Riddle continuasse usurpando os seus postos na monarquia germânica? Como teria sido? Elas ficariam escondidas no castelo ou seguiriam suas vidas como illeanas comuns, sem nenhuma antecedência real?

Eram apenas suposições estúpidas.

Não podia se dar ao luxo de pensar nas possibilidades.

Ela não suportaria se encontrasse uma resposta que a agradasse, uma resposta que nunca poderia acontecer.

Era mais fácil ter a sua vida inteira planejada sem tantos desvios, mas o mínimo sopro de liberdade que teve já a deixava tonta. Ela não voltaria a ser quem era antes de tudo aquilo, não sabia ainda se era algo bom ou ruim.

A sua mesa do escritório estava sem cadeira, já que a cadeira de rodas fazia esse trabalho em tempo integral agora. Posicionou-a em frente à mesa e abriu uma gaveta baixa com facilidade, pegando alguns papéis de carta. Precisava escrever para Sirena e Reyna, explicando o que aconteceu. Talvez devesse escrever por separado, não sabia como as coisas estavam na Seleção agora, se elas ainda permaneciam lá.

Tinha uma suspeita de que Liam só as deixou por sua causa, embora fosse um pouco narcisista esse pensamento. Ele era outra pessoa para quem precisava escrever, apesar de não saber que palavras certas usar.

Resolveu começar mais fácil, pegando a caneta tinteiro de outra gaveta.

 

Sirena,

Eu não sei se ainda está no palácio ou se já te remanejaram para um novo lar. Se for a segunda opção, eu espero que não precise nunca mais esbarrar com sua família, a não ser que queira. Espero que seja feliz, você merece isso. Se for a primeira, bem, eu não sei o que dizer. Se Liam te escolhesse, seria bom, já que eu conheço do seu caráter e sei do que é capaz, mas ao mesmo tempo sei que não é o que quer.

Eu só gostaria que pudéssemos ter nos conhecido melhor, sem tantas mentiras de minha parte, que pudéssemos ter conversado sobre trivialidades, em vez de nos preocupar em sermos eliminadas ou não da Seleção, uma competição da qual, na realidade, nunca quisemos ser parte. Uma competição que, para ser sincera, não deveria nem ter ocorrido.

Se estiver muito magoada por causa de tudo o que aconteceu, eu entenderia. Eu não sei como reagiria se fosse comigo, provavelmente também me magoaria, mas acredito também que você me entende. Entende como é viver com tantas regras e mentiras. Eu me senti verdadeiramente livre pela primeira vez na minha vida, e agora eu estou de volta. É difícil abrir mão de tudo o que conquistei nos últimos meses, incluindo a sua amizade.

Espero que McKinnon não tenha se encrencado. Acredita que eu não sei o primeiro nome dele? Ele nos ajudou muito. Você, que sempre foi mais próxima dela e o convenceu a me trazer para cá, poderia agradeceria a ele? Poderia pedir desculpas por quaisquer problemas que eu possa ter causado?

Eu estou bem, eu juro. Bem, o máximo possível.

Como já percebeu, não consegui retornar, mas não fui sequestrada nem nada. Tom Riddle está morto, Illéa enviou reforços. Parece que Reyna estava certa, no final das contas, mas não sei se direi isso a ela. Levei um tiro na coluna, mas vou ficar bem daqui a alguns meses. Não sei se retornarei a Illéa. Apesar de sermos aliados, acho que as monarquias não se visitam com tanta frequência quanto deveriam.

Se você ainda está no castelo, poderia fazer mais uma coisa por mim? Eu não te pediria se não fosse muito importante. No meu antigo quarto, antes de me levarem para o terceiro andar, eu deixei uma carta escondida em uma das gavetas. Inclusive, a mesma gaveta que eu deixei a foto que tirei de Liam escondida (parecem ser anos desde que isso aconteceu).

Se encontrá-la, por favor, me envie. Qualquer coisa, pergunte a Hope, ela sabe qual gaveta é. Eu proibi qualquer um de ir mexê-la.

Eu espero que esteja bem, já estou com saudades das suas maluquices.

Abraços,

Jane.

 

Deixou o papel de carta de lado, esperando a tinta secar e pegou outro.

 

Reyna,

Como você está? Como sua mãe está? Espero que estejam todos bem.

Eu entendo que esteja irritada comigo, mas você entende que não podia deixar minha mãe em perigo, certo? Eu espero que sim.

Decidi escrever cartas separadas para você e para Sirena. Não sei se ainda estão no castelo ou se Liam já acabou com a Seleção. Às vezes fico pensando como seria se você fosse escolhida. Eu sei que ser esposa do segundo filho não é muita coisa, mas eu acho que já é algo. Ainda mais se colocassem em andamento a ideia de plebiscito de Sirena. Ela é mesmo afrontosa, não acha?

Eu vou sentir falta disso. Também vou sentir falta da sua sensatez, embora Sirena e eu sempre ignoramos os seus conselhos. Mesmo assim, você nunca deixou de nos apoiar.

Mesmo que não seja escolhida, lembre-se que você será da Casta Três. Você poderá fazer muitas coisas que nunca pôde fazer antes. Se você quiser abrir um hospital público ou uma escola pública, já que quer ser professora, eu sei que você vai conseguir, ninguém nunca vai conseguir te parar.

Não desista dos seus sonhos, me prometa isso.

Se a Sirena se esquecer, eu pedi a ela para pegar uma coisa para mim no meu antigo quarto. Escondi dentro de uma gaveta uma carta que não tive a oportunidade de recuperar antes de vir. Se ainda estiver no castelo, poderia me enviá-la? É muito importante para mim.

Eu sinceramente não sei mais o que dizer. Nunca fui muito boa em cartas que não envolvessem protocolos e ordens militares, sinto muito por isso. Espero que não seja a última vez que nos falamos, a nossa amizade não foi uma mentira para mim.

Abraços,

Jane.

 

Quase amassou a última carta.

Por que tinha sido mais fácil escrever para Sirena do que para Reyna?

Talvez ela só estivesse acostumada a dizer as coisas para as duas ao mesmo tempo, mas não podia escrever uma única carta e, no fim das contas, só uma delas receber. Talvez fosse cedo demais para que a Seleção terminasse, mas ela tinha ido embora. Isso era o suficiente para que Liam não tivesse que postergar mais, se já sabia quem escolher.

A carta de Sirena já estava com a tinta seca, então a pôs dentro de um envelope e deixou a carta de Reyna em seu lugar, secando. Era hora de escrever a última carta, a mais difícil.

 

Liam,

Eu não sei se ainda tenho o direito de chamá-lo assim. Considerei em chamá-lo de "Alteza", mas também não parece certo. Sinceramente, não sei mais o que é adequado quando se trata de você. Eu nunca ousaria dizer essas coisas se estivéssemos frente a frente, apesar de ter desleixado de meus modos e postura durante o período que passei como Janeth Mirren. Acho que agora é hora de "voltar" a ser Jane Potter.

Isso soou errado. Na verdade, essa carta inteira está soando errada.

Na realidade, não tenho como voltar a ser uma pessoa que eu nunca deixei de ser. Quando conversávamos sobre história e sobre os acontecimentos de Illéa, ou quando você me escutava tocar piano, era eu. Em todos aqueles momentos, era eu. Janeth Mirren foi apenas um nome que me possibilitou conhecer pessoas maravilhosas de um jeito que nunca poderia ter feito de outra forma, e também me possibilitou a evoluir como ser humano. É o que eu acredito.

Sendo diplomática, Illéa se provou um reino muito acolhedor, apesar dos problemas causados pelas castas e pelos rebeldes. Sinto muito pelo último, creio que a culpa foi minha. Agora que Tom Riddle está morto, espero que não tenha maiores problemas com os Todesser, vocês os chamam de Death Eaters.

Serão momentos que eu vou levar comigo para sempre. Eu nunca vou me esquecer e espero que você também não, por mais egoísta que isso possa soar.

Me faça um favor? Esqueça a diplomacia. Não me convide para o seu casamento, eu não serei capaz de suportar. Minha mãe não vai se importar, ninguém irá realmente. Pode ser muita pretensão minha oferecer-lhe um conselho, mas eu o farei, é algo que aprendi durante o meu tempo em Illéa.

Não deixe que as opiniões dos outros digam como você deve agir. Eu sei que é difícil e quase impossível para nós da realeza, mas você pode se dar esse direito, deve ser a parte boa de ter um irmão mais velho.

Eu ainda faço minhas as palavras que disse ao Jornal Oficial de Illéa certa vez, mas adaptando um pouco. Seja quem for a escolhida no final dessa jornada, ela tem muita sorte. Passar o resto de seus dias ao seu lado é muita sorte e espero que ela saiba da sorte que tem, que ela saiba valorizar isso.

Danke für alles (Obrigada por tudo),

Jane.

 

Escutou batidas na porta do quarto. Enfiou a carta de Reyna em outro envelope e deixou a de Liam para secar. Mais tarde as enviaria para o correio.

— Entre — disse, pondo os dois envelopes dentro da gaveta.

Era a sua mãe.

Não era exatamente a primeira pessoa que ela queria ver naquele momento.

— Precisamos ir — disse Euphemia, deixando a porta aberta para que a empregada entrasse e empurrasse a cadeira de rodas de Jane para fora.

Era a primeira aparição pública que fariam.

Não era por meio da televisão, como os illeanos faziam.

Apesar de serem considerados mais frios, os germanos tinham mais contato com a realeza do que muitos outros povos.

Não precisaria falar, o que era um alívio, mas sabia que chegaria um momento em que não poderia deixar esse cargo para a sua mãe. Por agora, ela apenas aproveitava não precisar discursar. Era a primeira aparição desde a morte de seu pai.

Ela tinha herdado de seu escritório, o que parecia errado.

Toda a sua vida tinha virado de cabeça para baixo, mas ela precisava fingir que estava tudo perfeito.

O fardo do sangue real.

♛♛♛

Sua mãe não costumava ajudá-la a se arrumar, isso era missão das criadas, mas considerando que Jane dispensou as últimas quatro criadas, ela foi obrigada a ajudá-la a contragosto.

— Qual era o problema com Batsheda? — Euphemia perguntou, puxando os cadarços do vestido.

Jane preferia os vestidos sem cadarços que usava em Illéa, mas lá ela era apenas uma selecionada. Tinham um jantar em família naquela noite, então precisava estar apresentável, o que, aparentemente, significava vestido com cadarço.

— Eu não a achei muito confiável — ela respondeu — Os criados passam tempo demais conosco, precisamos gostar deles.

— Aurora era tagarela demais, Septima era calada demais e agora Batsheda não era confiável — pôde sentir a reprovação na voz de sua mãe — O que exatamente está procurando nas suas criadas? Você não parecia se importar em como elas eram antigamente.

Jane não respondeu. Sabia que estava procurando por empregadas como Hope, Pomona e Myrtle. Era algo que não encontraria na Nova Germânia, provavelmente em nenhum outro lugar. Elas a tratavam como alguém normal, e não como a futura rainha de uma nação.

— Só lembre-se de que criadas são apenas isso: criadas — Euphemia afastou-se dela, depois de ter terminado de ajeitar as dobras do vestido — Elas estão aqui para nos servir. Então tente ser menos seletiva ou ficaremos sem opções.

Por que ela precisava de criadas mesmo?

Sentou-se na cadeira de rodas com dificuldade. Odiava se sentir tão dependente de outras pessoas. Sabia que sua mãe queria que houvesse outra maneira que ela pudesse entrar na Sala de Jantar, algo que não envolvesse a cadeira. Ela também queria poder andar com as próprias pernas sem tanta dor.

Precisava se convencer todos os dias de que era apenas temporário.

Afinal de contas, ela ainda tinha sensibilidade nas pernas.

Os jantares na Nova Germânia sempre lhe pareceram interessantes, uma forma de sair da monotonia, mas agora pareciam tão vazios sem a presença de tantas almas jovens.

Em Illéa, as mesas ficavam cheias. Se perguntava se Liam também sentiria falta de tantas pessoas, ou se ele agradeceria por poder ter o máximo de sua privacidade restabelecida.

Jane tinha um primo por parte de mãe, Charlus Potter, que era casado e tinha um filho homem. Talvez o seu primo de terceiro grau fosse o descendente direto do trono, caso algo tivesse lhe acontecido ou caso ela tivesse decidido ficar em Illéa. Não, ela nunca faria essa escolha. Não poderia.

Além da parte restante mais próxima da família, elas também estavam jantando com os novos conselheiros escolhidos por sua mãe. Precisaram demitir quase todos os anteriores, já que muitos apoiaram o golpe de Tom Riddle. Era uma reestruturação perturbadora para um novo governo.

Não só sentia falta das companhias da Seleção, mas também da informalidade. Ela podia ver a sua mãe repreendendo-a silenciosamente por sua postura à mesa. Isso a lembrava de quando conheceu Sirena, no avião em direção ao palácio de Angeles. A sua maior rebeldia naquela época foi descalçar os sapatos, encurvar a coluna e pôr os pés para cima da poltrona.

Patética.

O seu estado "debilitado" a dava uma desculpa para não precisar permanecer por muito tempo na presença dos novos conselheiros. Então, assim que o jantar terminou, sua mãe conduziu as conversas, enquanto Jane se escapulia para o seu quarto.

Passava a maior parte do tempo que podia dormindo. Era uma boa forma de ignorar o vazio que sentia. Ela sempre tinha se sentido assim, como se houvesse algo de muito errado com a sua vida, ou isso começou depois da sua fuga de Illéa?

♛♛♛

Acordou pior do que quando foi dormir.

A dor nas suas costas não era nada comparada a dor que sentia no coração.

Por um momento, perguntou-se se estava prestes a sofrer um ataque cardíaco, mas então lembrou-se de seu sonho. Queria acordar e estar de novo em seu quarto em Illéa, mas estava em sua casa, na Nova Germânia.

Tinha sido um sonho tão real que ela quase tinha acreditado. Esses eram os piores sonhos. Por muitas noites, sonhou com o seu pai e teve pesadelos com Tom Riddle. Lembrava-se da sensação. Ela acordava gritando e com calafrios. Isso tinha parado, mas agora tinha outro fantasma a assombrá-la. O fantasma de como teria sido a sua vida em Illéa.

Se ela se negava a pensar nas possibilidades acordada, o seu subconsciente a torturava durante a noite.

E a confissão que sua mãe tinha lhe feito havia poucos dias não tinha ajudado em nada na sua situação de conformidade com a sua nova antiga realidade.

— Você não está bem.

— Se a senhora estivesse em uma cadeira de rodas, também não estaria se sentindo muito animada.

Foi uma desculpa fraca, ela sabia, mas não queria mesmo desabafar. Talvez se fosse com Reyna ou Sirena, mas não era. Sua mãe não estava lá com ela, ela não sabia como as coisas tinham sido.

— Então, como foi? — Euphemia puxou assunto — Doralice me disse que Liam nem desconfiou.

— Quem desconfiaria, não é? — Jane retrucou.

— Ele é um bom rapaz.

Ela não respondeu.

Como sua mãe poderia saber como Liam era se não o via fazia tempo?

— Se nada tivesse acontecido, se seu pai não tivesse sido... — Euphemia respirou fundo, aquele ainda era um assunto delicado para elas — Você já me perguntou uma vez quem tínhamos em mente para se casar com você...

— E você não quis responder — Jane replicou — De quê isso vai me ajudar agora?

Ela não continuou o assunto, mas o que ela pretendia dizer já estava claro.

Liam era o seu pretendente.

Por que a vida precisava ser tão injusta?

Escutou batidas na porta. Talvez fosse a nova criada, que seria rapidamente dispensada.

— Zwischen — disse em voz alta.

Precisava voltar a se acostumar ao seu idioma natal.

— Ihre Durchlaucht, a sua correspondência — um empregado, do qual Jane não tinha ideia do nome, disse, ao abrir a porta.

Ela virou-se na cama, erguendo-se até ficar sentada.

Fez sinal com a mão para que ele se aproximasse e entregasse as cartas em sua mão, sendo rapidamente obedecida.

— Pode ir — respondeu, já descolando o lacre do envelope.

Não prestou atenção em sua reverência, começando a ler o conteúdo.

 

Jane,

Deixe de ser estúpida.

Nem eu nem Reyna estamos com raiva de você. Tudo bem, pode ser que tenhamos ficado chateadas contigo quando soubemos, mas foi porque soubemos de sua realeza por causa de Liam e não por você. Já passou, nós te ajudamos a fugir de Illéa, não ajudamos? Então pronto.

Sim, nós ainda estamos no castelo. Não sei se você sabe, mas quando o príncipe decide quem será sua noiva, todas as ex-selecionadas retornam ao palácio. Nesse caso, eu não sei se todas, considerando as mãos bobas de Murissa, entre outras situações, mas a maioria.

Tudo bem, você não quer saber sobre isso. Me desculpe.

O nome do "McKinnon" é Marlon. Quando eu descobri, o perturbei por uma semana inteira. É um nome muito estranho, não acha? Não que eu já não tenha visto piores. Deixe dessa história de desculpas! Marlon fez um favor a nós e ele não se encrencou, até porque Liam e ele são amigos. Vai me dizer agora que não sabia disso? Acho que isso explica muitas coisas.

Eu sinto muito por decepcioná-la, eu procurei em todas as gavetas do seu quarto e em vários outros lugares improváveis, mas não encontrei a carta. Eu sei que era importante para você e sinto muito por isso. Se você quiser, eu posso falar com Liam para ver se algum criado pegou sem permissão ou se ela foi parar no lixo do castelo. Eu não sei como as coisas funcionam...

Espero que esteja brincando com a história de não voltar a Illéa. Se você não retornar, eu vou atrás de você na Nova Germânia e puxo seus cabelos até aqui. Se bem que seus guardas particulares me impediriam.

Bom, é isso. Não tenho uma vida tão interessante quanto a sua, rainha da Germânia, mas vou responder qualquer carta que me enviar. Se precisar de algum conselho, estou aqui para isso, apesar de que você provavelmente pediria a Reyna e não a mim.

Beijos,

Sirena

PS: Eu notei que a sua carta para mim foi bem maior do que a carta para a Reyna. Aqui chamamos isso de "friendship goals".

 

A letra dela era tão rabiscada. Era realmente algo que combinava com a Black. Estava se sentindo muito melhor depois de ler a resposta, apesar de que a ideia de que a carta de seu pai tinha se perdido a magoava.

Deixou a carta de lado e abriu o lacre do envelope de Reyna.

 

Jane,

Eu estou. Minha mãe está bem também, apesar de ainda estar triste pelo que aconteceu com Myrtle, assim como você. No geral, todos estão bem, na medida do possível.

Eu não estou irritada contigo, não por causa do lance de realeza, mas por você ter fugido de Illéa do jeito que fez. Tantas coisas poderiam ter dado errado! Um tiro nas costas foi quase uma sorte e você não estar paraplégica então! Suponho que não tenha ficado, já que disse que ficará bem em alguns meses. Sabe as possibilidades disso acontecer?

Inclusive, obrigada por contar a Sirena tudo o que aconteceu e esquecer desses detalhes comigo. Ainda bem que ainda estamos em Angeles e pudemos conversar sobre o que nos contou.

Eu não serei escolhida e nem quero isso, não sei se algum dia já deixei isso claro, mas achei que já estivesse. Sinceramente, agora eu olho para trás e não entendo o que me motivou a fazer isso. Pelo menos poderei ajudar meus pais, terei um emprego melhor. Gostei da ideia da escola pública, eu não tinha considerado isso quando fiz a proposta do programa social, droga.

Sim, Sirena é mesmo afrontosa.

Eu também sentirei sua falta, mas isso não é um adeus. É um "até logo". Deixe de ser tão dramática.

Eu prometo não desistir, mas somente se você fizer a mesma promessa para si mesma. Não desista dos seus sonhos, corra atrás deles. Você é uma rainha, tem mais chances de conseguir o que quer do que qualquer outra pessoa, sabe que isso é verdade.

Não, a Sirena não esqueceu. Eu fui com ela para procurar, mas não encontramos nada. Até minha mãe e Pomona nos ajudaram. Aposto que ela fez parecer que ela revirou o quarto inteiro sozinha, né? Ha! Até parece!

Nesses próximos dias provavelmente será difícil de nos comunicarmos, já que o fim da Seleção é sempre agitado. Tenho que arrumar as minhas malas e isso porque nós chegamos praticamente outro dia! Eu não sei como que "Janeth Mirren" se virava viajando tanto, você tem alguma ideia?

Agora que já tenho seu endereço, enviarei uma carta assim que chegar em casa, para que assim você também possa saber para onde enviá-la. Duvido que Liam vá redirecionar as suas cartas para nós, por mais prestativo que ela possa ser, é abusar demais da hospitalidade.

Sua amiga,

Reyna

PS: Sirena te contou sobre ela e o guarda?

 

Ela e o guarda?

Jane começou a rir, assim que entendeu o que Reyna quis dizer.

É claro que a amizade entre McKinnon e Sirena não era uma simples amizade. Parando para pensar, eles realmente combinavam um com o outro. Deixou os envelopes de lado, prometendo a si mesma que responderia mais tarde.

Talvez devesse esperar, como Reyna indicou, já que elas estariam se mudando do castelo em breve. Talvez já tivessem se mudado, com a demora da chegada das cartas.

Quase não lhe deram detalhes sobre o fim da Seleção e ela considerava melhor assim. De que a ajudaria saber quem foi a escolhida?

Liam já tinha seguido em frente. Talvez não tivesse lido a sua carta, ou não considerou necessário enviar uma resposta. De qualquer forma, ela nunca poderia dizer que não se despediu dele.

Forçou-se a se levantar, sentindo o já conhecido choque atravessar as suas pernas até a base da coluna. Estava cansada de ficar sentada, então caminharia até não poder mais aguentar a dor.

Pegou os envelopes e caminhou com dificuldade até a antessala, que era anexada ao seu quarto. Com certeza valorizaria mais os movimentos das suas pernas dali para a frente.

Alguns papéis tinham sido deixados ali por sua mãe. Eram informações sobre como ela estava decidindo que seria a sua coroação, já que Jane se negava a participar das escolhas. Mesmo assim, Euphemia ainda tentava, deixando aqueles papéis e relatórios, caso ela se interessasse subitamente pelo assunto.

Não fazia o menor sentido uma garota de 16 anos governar um país.

E não demoraria para que os conselheiros e parentes começassem a querer opinar sobre tudo e, principalmente, forçar que ela se casasse para dar continuidade a linhagem Potter.

Estava pensando nisso quando abriram a porta do quarto sem bater.

Era muita audácia! Ela ainda estava de camisola.

Virou para trás, as mãos apoiadas na mesa para sustentar o peso do seu corpo defeituoso, a boca aberta para protestar, quando reparou no símbolo de Illéa no uniforme.

Sentiu o ar escapar de seus pulmões sem permissão e permaneceu daquela forma: a expressão indignada e a boca aberta, até o seu cérebro raciocinar o que estava acontecendo.

— Liam? — ela perguntou.

Não, não era possível.

Certamente estava com problemas de visão.

Mas a figura ruiva com uniforme de Illéa se aproximou de onde ela estava e não era possível para ela confundir aqueles traços com os de qualquer outra pessoa, nem mesmo com os de Petuel, o irmão mais velho dos Evans.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, sem saber o que dizer.

— Tenho algo para entregá-la — Liam respondeu.

E então ele estendeu um envelope para ela.

Assim que reconheceu o que era, estendeu a mão tremulante para pegar, a pele da sua mão roçando com a da dele.

Precisava se sentar.

Puxou uma cadeira para perto de si e sentou-se, encarando o envelope envelhecido, a caligrafia de seu pai no verso.

— Mas como? — ela perguntou, ainda abismada — Eu não contei para você sobre a carta.

Era algum outro tipo de sonho realista?

— Visitei o seu antigo quarto — Liam respondeu, parecendo envergonhado por essa confissão — Você deixou várias coisas para trás, pensei que talvez... na pressa...

Ele estava certo.

— Você tem bons instintos — Jane respondeu, ainda sem conseguir abrir o envelope.

— Eu posso sair, se quiser... — Liam fez menção de sair, mas ela esticou a mão, alcançando o seu braço.

— Não, por favor. Fique.

Não podia perdê-lo de vista, mesmo se fosse apenas um sonho.

Ele assentiu, parecendo entender, e puxou uma cadeira para si também.

Eles não precisavam de formalidades.

Jane apoiou o cotovelo na mesa, ainda encarando o envelope. Liam não a apressou, talvez soubesse que ela precisava de seu próprio tempo. Esteve tão preocupada com a ideia de ler a carta que seu pai tinha deixado para ela que, agora que a tinha em mãos, estava temerosa.

Rasgou o lacre lentamente e puxou o papel de carta para fora do envelope.

 

Niedlich Jane,

Eu tenho um passatempo muito curioso e um pouco melancólico, se pararmos para pensar. Eu escrevo cartas para você, minha filha, e a sua mãe. O tempo inteiro. São coisas às vezes triviais, coisas das quais poderíamos tratar na mesa de jantar, ou algum acontecimento que eu gostaria de compartilhar, mas sinto-me melhor escrevendo do que dizendo em voz alta. Talvez devesse ser um passatempo que eu compartilhasse, mas isso significaria também compartilhar meus receios e motivações para tal passatempo.

Ser rei não é fácil. Eu sabia que enfrentaria muitas dificuldades quando me casei com sua mãe, mas mesmo assim o amor foi mais forte do que todos os medos que eu pudesse ter. Sei que algum dia você se sentirá assim também, e só nesse dia poderá entender o que estou dizendo. O amor que sinto por vocês é tão grande que eu temo não poder estar para protegê-las algum dia.

Eu não sei se é o fardo de um rei ou o fardo de um pai e marido, talvez seja ambos. Por esse motivo, eu escrevo cartas para que, se algum dia eu partir, vocês possam ter algo de mim além de lembranças.

Hoje eu estava pensando em seu aniversário de 17 anos que se aproxima, mesmo que ainda restem alguns meses de distância. Você está cada vez mais madura e vai chegar um momento em que terá de assumir o trono, eu espero estar aí para ver isso acontecer e poder espantar todos os seus medos, bobos ou não, sobre o futuro. Caso eu não esteja, quero que saiba que ter medo é natural e necessário. Quem não teme a nada é imprudente e, portanto, não serve para ser rei. O segredo é saber direcionar e controlar o seu medo.

Não é algo que eu possa ensinar, é algo que você precisa aprender sozinha, mas sei que conseguirá. Você é forte, a Nova Germânia não poderia ter uma melhor herdeira ao trono.

Não importa as decisões que tomar, eu sempre irei apoiá-la, mesmo que não esteja ao seu lado.

Ich liebe dich,

Dein Vater.

 

É claro que ele não poderia saber que aquela seria a última carta que escreveria e, mesmo assim, ele conseguia adivinhar quais eram os seus temores e dilemas, meses antes de tudo acontecer.

Niedlich. Ele nunca mais a chamaria assim.

Passou os dedos pelos olhos, limpando as lágrimas que deixou escapar durante a leitura.

— Você não deveria estar aqui — dirigiu-se a Liam.

Ele pareceu surpreso.

— Você me pediu para ficar — respondeu.

— Não é isso o que eu quis dizer — Jane retrucou — A sua Seleção, Liam. Você deveria estar com a sua selecionada agora e não aqui. Essa carta é muito importante para mim, eu sei que estava querendo me fazer um favor e agradeço, mas não é...

Ele moveu-se, colando os seus lábios para fazê-la calar a boca.

Aquilo apenas deixou-a mais confusa.

Por que ele estava beijando-a?

Olhou-o em silêncio, quando ele se afastou, esperando por uma resposta para a sua pergunta.

— É o que estou fazendo — Liam respondeu — Estou com a minha selecionada.

Ele tinha escolhido-a?

— Mas... — disse Jane, sem palavras — E Illéa? E as outras?

— Sinceramente, eu não fiquei para saber como Illéa reagiu quando eu disse quem tinha escolhido. Mesmo que não muito bem, eu não me importo. Como você disse na carta, eu sou o segundo filho, tenho algumas liberdades que Petuel não.

Agora que parava para pensar na carta que escreveu, ela tinha dito muitas coisas que se encaixavam naquele final.

Não pôde evitar sorrir quando entendeu o que estava acontecendo.

— Bom, McGonagall pode não ter nos adiantado muita coisa sobre os procedimentos da Seleção, mas creio que quando há uma escolha, a Vossa Alteza precisa fazer um pedido, não é? — ela perguntou, deixando a carta em cima da mesa.

Liam também sorriu.

— Que memória ruim a minha — ele brincou.

Mas levou a sua indireta a sério, levantando-se da cadeira para ajoelhar-se no chão, pegando as suas mãos.

— Jane Potter, princesa da Nova Germânia, aceita se casar comigo?

— É claro que sim, Liam Evans, príncipe de Illéa.


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