Os Véus do Tempo escrita por le Monsieur Fraser


Capítulo 1
Capítulo I - Pousada do Quiririm


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura pessoas, espero que gostem do primeiro capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764231/chapter/1



           Pessoas desaparecem o tempo todo. Pergunte a qualquer policial. Melhor ainda, pergunte a um jornalista. Os desaparecimentos fazem parte do dia a dia deles.

Adolescentes fogem de casa. Crianças desagarram-se dos pais e nunca mais são vistas. Donas de casa chegam ao limite da paciência, pegam o dinheiro das compras e um táxi até a estação de trem. Banqueiros internacionais mudam de nome e desaparecem na fumaça de seus charutos importados. Muitos dos desaparecidos serão encontrados, por fim, vivos ou mortos.

Afinal, os desaparecimentos têm explicação.

Quase sempre.

 

(DIANA GABALDON, A Viajante do Tempo)

— • —

P A R T E  1

Eldorado, 2015

1

P O U S A D A   DO   Q U I R I R I M

A pousada do Quiririm era um lugar rústico e muito agradável, principalmente quando se trata de tirar férias. Era igual as muitas outras que eu já estive. Com “muitas” eu quero dizer apenas duas. Estava ansioso por estar ali, seriam as minhas primeiras férias sozinho, que ganhei de presente de aniversário pelos meus dezoito anos. Os outros jovens devem pensar ser algo mágico quando se atinge essa meta, tão almejada, diga-se de passagem, mas eu garanto pra vocês que tudo se resume a pagar boleto. Bem, nem sempre.

Peguei meu casaco sobre a cadeira perto do banheiro da suíte em que eu estava, junto de minha mochila, fazia um pouco frio. Saí pelo corredor de acesso a esquerda e desci a grande escada que dava acesso à área das refeições. A Dona Ribeiro me parou pouco antes de eu alcançar a porta de vidro que dava acesso ao jardim. Era uma senhora muito simpática de olhos castanhos e fios negros como a noite. Tinha mais energia e estava sempre mais disposta do que eu, ou qualquer um em um sábado de manhã.

— O que eu disse sobre descer as escadas correndo, Henrique? Menino apressado!

— Nada. Mesmo assim desculpe. — esbocei um riso torto e pude sentir minhas bochechas queimarem. Odiava receber puxões de orelha.

— Nada? Devo estar ficando velha. Venha, vamos. Eu fiz um cafezinho para você. Já dizia a minha avó que panela seca não para em pé! — ela fez uma pausa, um pouco confusa. — Saco! Saco vazio não para em pé!

Eu ri, a acompanhando até a mesa do café que estava simplesmente divino. A mesa repleta de pães, bolos e doces caseiros dos mais variados. Se eu tinha uma certeza daquela viagem, é de que iria voltar mais gordo do que nunca. Quem me dera fosse ser apenas isso.

As mesas logo se encheram com os outros hóspedes e a Dona Ribeiro estava ao centro do salão, contando histórias sobre sua infância como indígena e a criação da Reserva Indígena de Takuari e seus costumes. A Reserva havia sido fundada a apenas dois anos atrás na cidade de Eldorado, mas indígenas ocupam a região desde o descobrimento do Brasil.

Escapuli pelo canto, saindo em silêncio para fora e pegando um caminho até o centro da cidade de Eldorado. Era uma cidade pequena e turística. Um grande rio cortava a cidade quase que ao meio e a praça da matriz era o principal ponto da cidade. Me sentei em um dos bancos da praça, junto de um bom livro. Fazia frio, mas era suportável. Um dos hospedes da Pousada parou com o carro à minha frente, acenando para que eu me aproximasse.

— Henrique, oi!

— Oi seu Jorge, estão indo passear? — Olhei carro adentro e lá estavam Jorge no banco do motorista, a Dona Eliza no passageiro e a filha deles de dezessete, Sara, no banco de trás.

— Sim, vamos até a Cachoeira do Meu Deus, você quer vir junto?

— Eu posso? — uma parte de mim implorava para que dissessem não, mas àquela altura não teria sentido algum, se já me convidaram.

— Claro, entra aí.

Jorge destravou a porta e me sentei com a mochila no colo, perto de Sara. Ela tinha olhos engraçados e gentis, e cabelo loiro. Era bonita, mas como diriam meus poucos amigos: “é muita areia pro seu caminhãozinho, cara”. A verdade, ouso dizer. Às vezes queria não ter nascido tão tímido, ou pelo menos um pouco mais bonito. De qualquer forma, eu estava disposto a deixar isso de lado e me divertir um pouco, pra variar.

Ficamos andando em círculos por quase duas horas nas estradas de terra que cercam a cidade, completamente perdidos. Para minha sorte Sara foi simpática e veio puxando assunto o caminho todo, me fazendo corar diversas vezes. Eles eram de São Paulo, capital e já estavam em Eldorado a quase duas semanas tirando férias em família, ao contrário de mim que estava sozinho e havia chegado a apenas dois dias.

Finalmente chegamos. Ainda tivemos que caminhar alguns minutos mata adentro, mas no fim valeu a pena. E se tem algo que eu posso dizer sobre essa cachoeira, é que ela faz jus ao nome. Não é tão grandiosa como muitas outras por esse país afora, mas era linda a sua maneira.

Passamos toda a tarde na cachoeira. Foi bom poder conhecer eles melhor, ainda mais pra mim que sempre fui tão na minha. No jantar fui convidado a sentar na mesa deles. Tivemos uma bela feijoada como prato principal naquela noite. Sai para o jardim, após comer, para respirar o ar frio da noite após aquela deliciosa, mas pesada, feijoada. Sara apareceu em seguida, logo atrás de mim. Conversamos um pouco sobre o nosso dia juntos e trocamos nossos números de celular. Eles iriam partir pela manhã, uma pena. Dona Eliza nos chamou para entrar e comer sobremesa, mas resolvi ficar mais um pouco e me sentei no banco do quiosque próximo à casa.

Estava distraído mexendo no celular, quando ouvi um barulho na mata que cercava o local. Desviei meu olhar um momento e o ar sumiu de meus pulmões ao ver aquela imagem que saia da mata no lado oposto aonde eu estava. Um homem alto com um cocar e um arco nas mãos. Paralisei. Eu sabia que havia uma reserva indígena ali perto, mas não imaginei que eles ainda saiam a noite para caçar com arco e flecha, ainda mais tão perto da cidade. Ouvi a porta dos fundos se abrir, era Dona Ribeiro. Desviei meu olhar mais uma vez para me certificar de que era ela e quando voltei, o índio havia desaparecido. Respirei novamente, dessa vez aliviado e um pouco assustado.

— Está tudo bem Henrique? — Dona Ribeiro perguntou, notando a minha expressão e respiração pesada.

— Você viu também? — perguntei, com os olhos fixos onde havia visto o índio pela última vez.

— O que? — ela logo perguntou, virando-se para ver o que eu olhava.

— O índio. Com o Cocar, o arco e flecha, e o...

— Índio com arco e flecha? — ela me interrompeu — Acha que estamos no Descobrimento do Brasil, doido? Os Guaranis também não saem muito da Reserva, só quando precisam.

— Mas eu... — parei por um minuto, olhando de novo para a mata onde o índio havia aparecido — ...vou me deitar, acho que a feijoada não me fez bem.

— Se ficar com gases, abra a janela viu. — ela disse, entrando pra dentro novamente enquanto ria, provavelmente da minha cara.

Subi as escadas até o meu quarto. Nem vesti o pijama ou escovei os dentes e já fui logo deitar na cama. Estava cansado e intrigado demais para isso. O que era aquele índio afinal de contas? Seria um efeito da feijoada? Cansaço? Maluquice? Eu não sei. Ao menos não sabia na época.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Este primeiro capítulo foi bem curto, desculpem por isso! É só para apresentar a ideia inicial, prometo sempre fazer mais daqui para frente.

E aí? O que acharam?
Por favor, comentem, é muito importante para mim e como eu disse no começo, vocês ajudaram a escrever essa história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Véus do Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.