Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 5
Primeiro caso




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O coração de Telma batia mais forte: enfim o supervisor a havia encarregado do primeiro trabalho fora do escritório. Esperou na salinha ao lado da secretaria do colégio público, escutando o burburinho dos alunos que passavam no corredor. A porta se abriu e a professora chegou acompanhada do garoto de camisa em desalinho, ar moleque meio inescrutável.

— Essa é a Telma do Conselho Tutelar, ela quer falar com você! Vou deixar vocês dois aí sozinhos um instante, tá?

O garoto sentou-se na cadeira escolar, sem olhar para ela. Telma abriu um sorriso.

— Oi Cauã, tudo bem contigo?

Telma achou meio ridículo seu próprio tom afetado. Procurou desanuviar o clima dizendo algumas abobrinhas, mas o garoto continuava desatento. Resolveu ir direto ao ponto.

— Cauã me conta, você gosta da sua mãe?

— Não.

O tom saiu indiferente. Telma forçou um sorriso, e prosseguiu:

— Mas por que você não gosta dela?

— É porque ela prefere ficar com as amigas dela.

— Ah Cauã, mas todo o mundo gosta de ter amigos, não é?

— Mas as amigas dela é tudo gente ruim. E a mamãe de vez em quando chega em casa e me xinga, vem com aquele olho esquisito...

Telma perguntou-se que substâncias a mãe dele teria usado para ficar com o tal olho esquisito. Nervosamente fez anotações no celular, e prosseguiu:

— Agora me conta, como é que foi a última vez que você esteve com o seu pai?

— Meu pai tá preso.

Telma não tinha aquela informação em seus registros, e teve certeza de que o garoto estava inventando mentiras. Melhor não insistir, ela parecia não estar com vontade de falar do pai.

— E da sua avó, essa que você está morando agora, você gosta dela?

— Gosto, mas ela é chata.

— Por que ela é chata?

— Porque ela fica me prendendo em casa.

— E me conta, por que você faltou a aula semana passada?

— Tava na rua.

— Fazendo o que na rua?

— Tinha brigado com a minha avó.

— Você não tem medo de ficar na rua?

— Tenho sim, aí eu voltei.

Telma fez mais anotações, sentindo um nó na garganta. Procurou disfarçar, e mudou a conversa para tons mais amenos.

— Agora me diz, o que você quer ser quando crescer?

— Quero sê bandido.

O garoto parecia estar mesmo a fim de provoca-la. Telma fingiu não ligar, e perguntou:

— Me diz, o que você acha da sua tia Lindalva, aquela que quer ficar com você?

— Eu quero ir com ela só se ela me deixar ir pra a rua e não me bater.

— Muito bem, Cauã, fica direitinho aí, depois a gente conversa mais!

No escritório, Telma fazia um balanço do dia enquanto seus olhos iam das anotações no celular ao formulário no computador, cheio de perguntas. Agressivo? Não agressivo? Parecia não agressivo, mas ele era provocante às vezes, isso era o que ela queria dizer. Pai presente? Pai ausente? Ausente, pronto. Mãe presente? Mãe ausente? Em termos, mas quando estava presente, às vezes seria preferível não estar. Telma queria escrever logo um texto, mas o formulário só lhe permitia escolher entre uma das opções.

— Ai, mas eu queria mesmo era ter uma conversa com a mãe dele, com a avó dele...

— Não pode! - Respondeu Renata, na outra mesa - Você só pode ter contato com quem da família você for autorizada. Senão o supervisor te dá uma advertência!

À noite, passeando com Ronaldo, Telma queria espairecer das emoções do dia. Contava tudo para ele, mas Ronaldo parecia meio desligado.

— Desculpa amor, é que eu estou meio cansado, tive que visitar um cliente longe, lá em Serra Verde...

E no entanto, outro dia era ele que reclamava que ela andava muito cansada. Deixa para lá, Telma pensou, vida de universitário é assim mesmo. Já tivera dias menos ocupados na juventude, mas não soubera aproveita-los e fizera muita besteira, então o melhor mesmo era ter os dias preenchidos com deveres e responsabilidades, mesmo que ficasse cansada. Mas que estava se sentindo útil, isso ela estava. Só não tinha certeza se estava sendo muito competente, queria fazer bem mais.

Foram dançar um pouco, mas Telma não tirava da cabeça s cenas do dia.


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