Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 6
Investigação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763997/chapter/6

Telma retocou a maquiagem, pôs os óculos e olhou-se mais uma vez no espelho para ver se a peruca estava bem colocada. Não achou nenhuma falha em seu disfarce, mas perguntou-se mais uma vez se estaria agindo certo ou se tudo não passava de uma grande viagem de sua cabeça. Fosse como fosse, queria estar em paz com sua consciência, pensou. Não estava a fim de ficar só sentada atrás de uma mesa preenchendo fichas, estava lidando com pessoas e dramas humanos, e no fundo era isso o que ela queria. Júlio já havia chegado e a esperava na porta, bem sério.

— Mãozinha dada, lembra que nós somos namorados!

Conseguiu rir, mas estava bem nervosa. O ar compenetrado de Júlio a tranquilizava. Colega de estágio, ele era o único ali aventureiro, que nem ela, e concordara em lhe fazer companhia em sua missão. Precisava, porque o bairro era perigoso. Só de caminhar por ali já fazia o coração de Telma bater mais rápido, mas ela procurou concentrar-se: estava fazendo o papel de uma pessoa que supostamente estava acostumada a circular por aquele ambiente. Chegou ao endereço que tinha anotado no papel: era uma casa de frente para a rua uma porta, das janelas, crianças brincando na soleira.

— Oi! Por favor, a Salete está?

— Vou chamar. Tiaaa! Tem uma moça aí querendo falar com você!

Diante da mulher com rolinhos nos cabelos que apareceu à porta, Telma caprichou em seu papel.

— Boa tarde! Você não me conhece, eu sou a Sílvia, amiga da Marilda. Nós fomos colegas de escola e eu estou procurando por ela, e me disseram que você conhece ela. Você sabe onde eu posso encontra-la?

— A Marilda? Ela mora bem ali, ó! Mas hoje ela não está porque foi ver a mãe em Rio Claro.

— Ah, que pena! - Respondeu Telma, fingindo desapontamento - Não precisa deixar recado não, outro dia eu venho! Mas agora... faz tempo que eu não vejo ela, e eu estou preocupada com umas coisas que eu ouvi falar! Vocês duas são amigas, né? Eu queria saber... ela anda mesmo se metendo em coisa errada?

 - Ah, ela andou, sim, mas já parou! Eu dei tanto conselho a ela, nossa! Mas foi depois que o Tavinho nasceu que ela ficou mais responsável, para cuidar do garoto.

— Ah, que bom saber disso! Quando eu encontrar com ela, a gente vai conversar muito! Olha, muito obrigado, hein!

Respirando fundo, agora que passara o nervoso, Telma desceu a rua acompanhada por Júlio, escutando o baile funk que rolava ali do lado.

— Agora, boquinha fechada, hein!

— Com certeza! Gostei da nossa investigação! - Respondeu Júlio - Ei, o que você está olhando?

— Ah, nada não, vamos embora que já ficamos tempo demais aqui!

Telma estava olhando o baile funk, e tinha certeza, havia visto Carla ali. Ainda estava vestida com o jeans e camiseta que tia Vitória havia liberado para ela ir na festa da colega, mas de algum jeito viera parar ali, e agora dançava rebolando o traseiro até tocar no chão no meio daqueles rapazes mal encarados. Mas agora tinha que chegar rápido no escritório e fazer o relatório.

— Isso mesmo, a mãe não está mais usando drogas atualmente, eu soube de fonte segura - Informou Telma à supervisora, que olhou desconfiada.

— Que fontes são essas?

— Eu conheço gente lá no lugar onde ela mora!

— Muito bem. Vou colocar em meu relatório.

Sentindo-se triunfante, Telma piscou para Júlio lá na outra mesa. O caso era de uma criança cujo pai queria tomar a guarda, afirmando que a mãe seria usuária de drogas. Desde o início Telma não fora coma cara do sujeito, e tinha a impressão de que ele estava mentindo. Mas agora tinha outro caso a tratar, esse em sua própria casa.

— Isso mesmo, ela disse que ia para a festa da colega e lá acobertaram, já estava tudo combinado, as duas foram para o baile funk!

Tia Vitoria cruzou os braços e meneou a cabeça, buscando paciência.

— Ah, mas foi só soltar um pouco essa menina, e ela já mentiu para mim! Mas deixa estar que até segunda ordem não sai de casa!

— Mas não conta que fui eu que descobri, hein!

— Não, não! Você é minha espiã! Mas ai, eu tenho que dar um jeito nessa menina, já pensou se ela volta pior do que chegou?

— Deixa comigo, tia, eu vou ajudar a senhora!

Telma sentia uma grande responsabilidade em relação a Carla, por já haver passado pela mesma experiência na casa de tia Justina. Sabia o que tinha que ser feito. Primeiro, uma boa batida no guarda-roupa de Carla, onde fez uma boa limpa.

— Vai ficar só roupinha de briga por enquanto...

No dia seguinte, uma boa conversa com Vitinho.

— É você quem fica mais tempo com a Carla aqui em casa, e você tem que abrir o olho! A Carla não está aqui de férias, não! Ela tem uma porção de obrigação. Se ela quiser ligar algum aparelho, tem que pedir! E você deixa só se ela já tiver terminado de fazer o que tem que fazer. E ela não pode ir para a rua, não! Se ela for, você fala para a sua mãe.

Vitinho escutava, enfastiado. Telma teve a impressão de que não podia contar muito com ele, mas haveria de convencê-lo.

— A lista de coisas que ela tem que fazer está lá na geladeira!

Como castigo pela escapada ao baile funk, tia Vitoria tinha aumentado as obrigações de Carla e cortado os passeios dela. Antes de sair para a faculdade, Telma deu uma boa conferida. Tudo estava na normalidade, restava saber se continuaria assim em sua ausência...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Telma na Luta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.