Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 3
Carla




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— Nada na vida acontece por acaso, o que não faz sentido para nós, faz sentido para Deus! O que a gente fez de errado na vida, transforma-se em ensinamento para os outros, para que não façam de errado igual a nós! O que a gente sofreu, pode ser bálsamo para os outros, se nós soubermos aproveitar e passar a eles as lições que Deus nos manda!

Sentada no banco, Telma escutava as palavras de dona Graça. Ela era a pregadora de quem Telma mais gostava nas palestras da reunião de jovens na igreja, e fora ela a responsável pela indicação ao estágio que estava fazendo agora. Sentia aquela mensagem direcionada especialmente para ela. Sim, ela havia dado muita cabeçada no passado, mas agora aquilo era experiência que ela ia usar para evitar que outras pessoas se metessem nos mesmos caminhos errados! Não comentou com ninguém aquela resolução, mas no íntimo sentia a força da decisão. Outros pregadores tomaram a palavra e falaram outras coisas que Telma achou abobrinhas, estava agora pensando nos casos que tomara conhecimento no conselho, e no que poderia fazer para ajudar aquelas pessoas. Findo o encontro, viu de repente a prima Rosane andando por ali. Rosane era a filha mais velha de tia Vitoria, cujo quarto ela ocupava agora. Morava em outra cidade, e Telma sabia que ela estava vindo para uma visita, mas foi uma surpresa encontra-la na igreja.

— Oi prima, sumida!

— Oi, Telma! Quanto tempo! Quer dizer que você criou juízo, é? Quero ver HAHA

Dali a pouco estavam em casa, colocando a conversa em dia com umas amigas que tinham vindo rever Rosane. Telma contava suas peripécias do tempo que passou com tia Justina, e todas riam. Rosane comentou:

— Mas está precisando de alguém para ajudar a cuidar aqui da casa! Vamos ver se mais alguém por aí faz besteira, para vir para cá, que nem você na tia Justina!

Telma concordou. A casa era a grande e estava um tanto vazia, dos filhos de tia Vitória só morava ainda Vitinho, o mais novo, de 11 anos. Ela procurava ajudar onde podia, fazendo uma coisa ou outra, mas com faculdade e estágio não tinha muito tempo. Riu e respondeu, otimista.

— Ah, do jeito que o pessoal anda fazendo besteira não vai demorar para aparecer, não! Tem a Keila, que fugiu com o namorado e foi para a tia Valquíria...

— É mesmo! - Respondeu Rosane - Parece uma epidemia, nunca teve tanta menina mandada morar em outra casa!

— Sabe o que eu acho? - Disse uma das amigas, que Telma não conhecia - O problema é o funk! Essas meninas novinhas se metem a ir em baile funk, e tem contato com tudo o que não presta!

Telma ficou meio encabulada, recordando o seu passado de funkeira. Sorriu condescendente e respondeu:

— É muita má companhia!

— Mas já tem uma em vista! - Disse Rosane - A Carla. Lembra dela?

Telma não via aquela prima havia já um tempo. Sabia que agora ela estava com 15 anos, e tinha ouvido falar que andava dando trabalho à família, que morava em uma cidade próxima.

— Está ficando muito piriguete. Mas a mamãe já está com a tia Salete, e vai ver se traz ela até domingo.

À noite, depois do cinema com Ronaldo foram dançar, mas Telma sentia-se com pouca disposição. Ronaldo comentou:

— A gente tem saído pouco...

— É que faculdade e estágio ao mesmo tempo cansa muito! - Respondeu Telma, desculpando-se.

— Oi, vocês por aqui?

Era Soninha, uma colega da faculdade com quem Telma não ia muito com a cara. Achava-a esnobe, e sobretudo vinha tendo a impressão de que ela arrastava uma asa para Ronaldo. Procurou notar bem a expressão nos olhos de Ronaldo, para ver se identificava ali algum interesse, mas nunca chegava a uma conclusão. Procurou afastar aqueles pensamentos. Estava cansada.

Na manhã de domingo, o carro de tia Vitoria parou na garagem. Dele saíram a tia e uma adolescente empunhando uma mala.

— Oi, lembra da Carla? Ela vai ficar uns tempos morando aqui!

Telma cumprimentou a prima, procurando reconhecer nela a menininha que vira da última vez. Agora estava uma adolescente de ombros e quadris largos, cheia de corpo, os cabelos negros descendo pelas costas. Telma sabia exatamente o papel que Carla teria ali, o mesmo que ela tivera na casa de tia Justina. Olhou bem nos olhos dela, e percebeu ali uma expressão dissimulada de quem vê na mudança para uma cidade maior uma oportunidade para aprontar mais. Tia Vitoria levou-a para o quartinho que dava para o quintal onde ela ficaria, e ao sair tendo em mãos a mala dela, cruzou com Telma no corredor.

— Depois eu te conto o que essa menina aprontou. Vou precisar da sua ajuda para botar ela na linha, hein!

Tela assentiu prontamente. Sabia exatamente como lidar com ela, por já ter passado por posição idêntica.

 


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