Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 11
Hora do corpo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763997/chapter/11

Telma procurou esquecer a irritação. As decisões importantes exigem calma, e ela sabia que tia Vitória esperava o posicionamento dela, quem bem entendia daquele assunto. Tomou a palavra e foi dizendo:

— Primeiro de tudo, é preciso entender como foi que ela escapou da vigilância. Tapar esse furo, para não acontecer de novo!

— Eu faço direitinho como sempre foi! - Respondeu a tia - Controlo os horários e procuro sempre saber onde ela está. Mas o problema é que nem eu, nem você podemos ficar aqui o dia inteiro de olho nela! Eu trabalho, você tem faculdade e estágio, aí ela está dando um jeito de dar umas fugidinhas!

— Bom, a pessoa que está quase sempre aqui é o Vitinho...

— Vou chamar ele. Vitinhooo vem aqui!

O garoto chegou vindo do quarto onde jogava videogame, ar de enfado de que espera chateação.

— Vitinho, me diz, você esses dias viu a sua prima saindo de casa, ou alguém vindo ver ela quando eu não estou?

— Ah, de vez em quando ela some, sim, eu já vi ela entrando de repente pela porta vindo da rua. E tem um cara de cabelo esquisito que vem aqui, ela fica conversando com ele na rua.

— É aquele Zenildo! Ah, Vitinho, por que foi que você não me contou isso antes? O que foi que nós conversamos? Eu não disse que você tinha que ficar de olho na sua prima quando eu não estivesse?

— Mas nem sempre dá, eu fico no quarto e ela está em outra parte, e às vezes some...

— Você já está com 11 anos, quase um rapaz, já pode ajudar a sua mãe! Agora eu quero que você bote o olho na Carla, para valer, e qualquer coisa me diga!

— Tá...

Telma não teve grande esperança de que o serviço de Vitinho ia melhorar, a julgar pela cara dele. Tia Vitória deu um suspiro, e retomou a palestra com Telma.

— Vamos ver se não se repete, mas o que está feito, foi feito. Agora é preciso decidir qual vai ser a disciplina para a Carla!

— Bom, tia, da outra vez a senhora conversou e botou de castigo, e não adiantou, então eu acho que agora é hora do corpo entender o que a mente não captou!

Tia Vitória assentiu. Telma achava mesmo que já estava na hora de Carla levar uma boa surra. A tia destrancou a porta do quarto e trouxe Carla para a sala. Telma notou que ela ainda tinha o mesmo sorriso enigmático do ônibus.

— Minha filha, você sabe que a sua mãe deixou você aqui sob a minha responsabilidade, e me deu autorização para disciplinar você, e o que aconteceu? Você faltou de novo com a minha confiança.

— Ah, tia eu só queria namorar, não pode?

— Pode. Mas sem mentir. Se mentiu, é porque está escondendo alguma coisa. Da outra vez, eu deixei você de castigo. Você fez de novo. E agora, o que você acha que eu devo fazer?

— Ah, tia, a senhora é quem decide...

— E decido mesmo. Quando a cabeça não entende, o corpo paga. Agora você vai para o seu quarto, e tira toda a roupa! Me espera lá.

Caprichando no ar de pouco caso, Carla retornou ao quarto, e deixou a porta encostada. Telma quase riu. Estava se lembrando dela própria, que também fazia assim, fingindo pouco caso.

— Vou deixar um tempo para pensar.

Telma sabia que as tias da família eram sábias, e aquele tempo para pensar era essencial para que Carla baixasse a guarda. Aproveitou para estudar algumas matérias enquanto tia Vitória repassava no computador as mensagens do trabalho e do quarto vinham os sons indistintos do videogame de Vitinho. A tia veio chama-la, já trazendo o cinto nas mãos. Quando entraram no quarto encontraram Carla já despida e sentada na cama, olhando para a parede. Não tinha mais o sorriso misterioso, mas ainda mantinha a expressão imperturbável.

— Bem minha filha, está pronta, ou quer pensar mais?

O tom de voz da tia era bem cordato. Carla assentiu com a cabeça.

— Então deita de comprido na cama, e vira de bruços.

Telma notou como Carla apertou os olhos e segurou com força a beirada da cama, e lembrou de si própria na casa de tia Justina. As primeiras cintadas caíram sobre as nádegas da adolescente fazendo barulho, mas sem produzir nenhum efeito. Carla estava disposta a resistir. Tia Vitória continuou batendo no mesmo ritmo, mantendo no rosto a mesma expressão serena de dever cumprido. Telma viu como Carla começou a se remexer, e sem poder mais aguentar, levou as mãos ao traseiro.

— Não, não, minha filha! Bota as mãos para a frente!

A tia conduziu os pulsos de Carla de volta à beirada da cama, e continuou a bater com a mesma paciência de antes. Telma viu as gotas de suor brotando na nuca e na testa de Carla, ela mordia os lábios com toda a força, as nádegas sacudiam a cada cintada e ela se contorcia de um lado para o outro, tamborilando os pés. Por fim as lágrimas explodiram em seus olhos, e ela começou a pedir desculpas. Pronto, a couraça estava quebrada! Tia Vitória batia agora mais devagar, e Telma voltou no tempo até a casa de tia Justina, recordando-se de como a surra quebrava os diques e libertava o arrependimento aprisionado dentro dela, ao mesmo tempo em que todos os pensamentos ruins saíam junto com as lágrimas, o suor e os rogos.

— Agora vamos deixar ela pensar mais um pouco, depois eu entro para ter outra conversa! - disse tia Vitória.

Voltaram para a sala e deixaram Carla chorando com a cabeça enfiada no travesseiro. Os sons do videogame continuavam vindo do quarto de Vitinho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Telma na Luta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.