Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 12
Telma conhece




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Sentada na cadeira giratória ao lado, Telma acompanhava com atenção a conversa da supervisora com a mãe de Carol.

— Então a senhora diz que a Carol não está mais acatando você, e acredita que ela vai fugir de novo. Isso não sabemos. Se a senhora houvesse nos procurado antes, poderíamos fazer um trabalho de avaliação e reorientação do seu relacionamento com ela, mas agora que o caldo já está entornado, e principalmente depois dela ter se metido com gente perigosa, a solução que se impõe é ela ir morar um tempo com um parente O essencial é afastar ela daquele meio.

A mulher assentiu. Telma não tinha muita simpatia por ela, mas agora parecia que finalmente estava ficando mais cordata.

— É, eu cheguei à conclusão de que não estou mais podendo. Mas eu já falei com a Mariângela, uma prima minha de Santa Clara, e ela aceitou receber a Carol.

— Muito bem! Esse mudança de ares tem funcionado a contento em casos como o seu, nós temos histórias aqui dentro. Mas é preciso chamar a atenção da senhora: não é uma simples mudança de casa, não! É uma mudança de vida. A sua filha precisa ter uma disciplina que afaste ela da vida antiga e desperte valores familiares nela. Mas se preocupa não, que eu tenho uma auxiliar aqui, a Telma, que entende muito desse processo, e eu já designei ela para acompanhar seu caso. A Telma conhece!

Telma procurou ficar séria, sem parecer presunçosa pela deferência da supervisora. Ela com certeza conhecia tudo daquele processo, até por experiências própria.

— A Telma agora vai ter uma conversa com a Carol, e depois eu vou mandar ela conversar com a Mariângela!

A mãe se despediu, e em seguida a supervisora fez Carol entrar na sala, e saiu deixando as duas sozinhas. Telma olhou bem para a adolescente, que não devolveu o olhar. Não parecia desafiante como das outras vezes. Telma procurou um tom de voz gentil, e perguntou:

— Bem, Carol, você sempre me dizia que ia sair de casa e morar com alguém. Você fez o que disse que ia fazer. Agora eu quero que você me diga: o que achou da experiência?

A menina sacudiu a cabeça, e respondeu ríspida:

— Não foi o que eu estava pensando, não. Eles são muito legais até a hora que a gente topa, mas quando a gente está na casa deles, eles mudam. Ficam querendo usar a gente. Mas sabe o que é? Problema é o lugar, cheio de mau caráter...

— Mas eu pensei que você sabia que o lugar era assim...

A menina baixou os olhos, sem responder.

— Então, pelo visto, o rapaz não gostava de você.

— É...

— Então talvez ele fosse tão mau caráter quanto os outros, né? Tudo do mesmo meio!

— É... fiz merda.

— Ah, agora está reconhecendo! Eu também já fiz merda, todo o mundo faz merda de vez em quando, mas você ainda está começando a vida, e pode mudar para melhor! Agora eu quero saber: o que você acha de mudar para a casa dessa sua tia Mariângela?

A menina sacudiu a cabeça, mantendo os olhos baixos. Telma insistiu:

— Você conhece bem ela?

— Mais ou menos... tem os meus primos, eu ia lá quando era criança, mas tem muito tempo que eu não vou lá. Mas agora não tem jeito, não dá mesmo para ficar aqui, o Quinzão me ameaçou porque eu não fiz o que ele mandou, disse que se me encontrar vai me matar, ele é lá do morro!

— Ah, está vendo onde se meteu, não é, moça? Agora precisa mesmo uma mudança de ares. Você não dizia que não aguentava mais a sua mãe, que ela era implicante? Então vai mudar de casa! Já te explicaram como vai ser?

— Já.

— Vai te fazer muito bem! Você vai ter deveres lá, e vai ficar sob a guarda da sua tia, isso se chama disciplina. Não é o mesmo que um castigo. Você está precisando de disciplina, moça! Mas no fim você vai achar bom, vai conhecer gente nova, e botar ordem na sua vida. E eu vou te acompanhar nisso tudo, vou lá na casa da sua tia ver como é que vocês estão, e qualquer coisa pode entrar em contato comigo. Eu estou aqui para ajudar, para isso é que serve o conselho. Confia em mim?

— Confio.

— Então toca aqui.

Telma teve a impressão de que conseguira quebrar o gelo. Ao sair, sentia-se cansada e satisfeita, feliz pelo sucesso, mas contemplando o quanto ainda tinha pela frente. Em casa o ambiente estava bem tranquilo, tudo nos conformes, e aquilo lhe transmitia uma sensação de paz. Sentiu vontade de ir até a igreja reencontrar o pessoal, caía bem uma conversa com dona Graça, que sempre tinha bons conselhos a dar.

— Oi Telma, tudo legal? Anda sem tempo de aparecer, né? Faculdade e estágio não é mole. Mas esse domingo vai ter atividade, pode vir!

— Ih, esse domingo não vai dar, eu tenho uma missão em outra cidade, coisa do meu estágio!

— Isso aí, o dever em primeiro lugar. O Ronaldo também faz tempo que não aparece, ele deve estar bem ocupado, né?

— Está, sim.

Foi conversar com dona Graça, que estava saindo de uma palestra para jovens. Ela estava sorrindo e afável como sempre.

— Eu soube que você está mostrando jeito em falar com gente jovem, menina! Gostando de ver!

— As notícias correm. Estou ajudando o próximo!

Mas no íntimo, Telma bem desejava que um certo próximo estivesse mesmo próximo. Olhou o celular e pensou: mando mensagem? Não mando? Mas depois de algum tempo chegou uma mensagem.

Ronaldo: vamos sair hoje a noite?

Saíram. Mas uma vez mais, Telma adiou a conversa que estava para ter.


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