Follow Your Soul escrita por Nez


Capítulo 10
Capítulo 8




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8º Capítulo

 

1ª parte
A aula de História acabou. Não gostava muito daquilo - bem, na verdade achava aquilo uma seca.
Mas o pior ainda estava para vir. A próxima aula era a de Área de Projecto. Não me apetecia encarar o Sérgio, a Mariana. “Ai Deus ajuda-me!” – murmurei.
-“Disseste alguma coisa?” – perguntou-me a Ana.
-“Não não. Queres ir ao bar comer alguma coisa?” – perguntei meio distraída.
-“Eu não tenho fome, mas posso ir contigo.” – disse-me ela. Cada vez ficava mais branca.
-“Ana não queres ir á enfermaria? Estás tão pálida.”
-“Não amiga, mas podemos sentar-nos? Dói-me a barriga.” – pediu ela.
-
“Claro. Vamos sentar-nos ali nos bancos no jardim. Anda.” – praticamente levei-a de arrasto.
Ela deitou a cabeça no meu colo e , por instantes, pareceu-me que tinha adormecido. Não a incomodei. Continuei a fazer-lhe festinhas na cabeça. Estava quase a adormecer ali ao sol quando deu o toque para a 2ª hora. Não queria nada ir.
-“Aninha anda. Vamos para a aula.” – acordei-a.
-“Ai Inês dói-me o corpo todo.” – queixou-se ela. A sua voz quase não se ouviu.
-“Acho melhor ires para a enfermaria Ana. Vamos!”.
-“Não Inês. Não vou .Não quero faltar á aula e não te vou deixar sozinha com o Sérgio.”
-“Ana estás mais para lá do que para cá. Não te preocupes comigo, mas sim contigo ‘ tá bem? Agora vamos”.
Levei-a á enfermaria. Lá ligaram logo para os pais , e mãe dela veio buscá-la. Ía levá-la ao hospital. Despedi-me e fui a correr para a sala A2.
-“Posso professora?” – perguntei abrindo a porta. Claro que a aula já tinha começado.
-“Sabe que está atrasada? Onde está a sua colega?” – perguntou ela, reparando que vinha sozinha.
-“A Ana não estava a sentir-se muito bem. Foi para o hospital. “ – esclareci-a.
-“Muito bem. Espero que melhore. Entre lá e junte-se ao seu grupo.” – entrei a custo. Lá estava o Sérgio á minha espera. As muletas estavam penduradas na cadeira.
-“Olá!”- disse-lhe a medo -“Estás bem?” – perguntei-lhe.
-“Estou óptimo, é pena a minha perna não poder dizer o mesmo. Mas o que te interessa isso?” – perguntou-me ele frio que nem gelo.
-“Eu só queria saber como estavas. Sei que te lesionaste no jogo”.
-“Uau as boas noticias correm rápido!” – disse ele ironicamente com um sorriso cínico.
-“Vais ter que ficar muito tempo com as muletas? Dói muito?” – mostrei-me preocupada.
-“Não tens nada a ver com isso. Não te interessa!” – estava literalmente furioso. A sua expressão que eu conhecia como simpática passou agora para arrogante.
-“Porque estás a falar comigo dessa maneira Sérgio?”
-“Eu estou a falar como sempre falei Inês. Agora deixa-te de cenas e vamos mas é trabalhar ok?”- Ele é mesmo estúpido. Que raiva!
-“Ok.” – baixei o olhar. Tudo me caiu aos pés. A Mariana não me falava bem, agora o Sérgio também não, ai… como precisava da Ana. Comecei a sentir lágrimas a virem-me aos olhos. Nem pensar que ele me ía ver a chorar.
Discretamente limpei os olhos. Reparei que ele olhou para mim. Os seus olhos pareciam agora mais meigos do que quando me falou tão friamente há bocado. Mas isso não durou muito. Depressa voltou ao estado anterior. Desprezando-me.
           Estes 90 minutos de aula foram ainda piores que uma aula de História. Já não sabia como estar naquela sala – a postura rígida que ele assumiu deixava-me nervosa, sem saber o que fazer. De vez em quando reparava nas expressões de sofrimento dele. A perna devia estar lhe a causa imensa dor. Mas ele aguentava e continuávamos a trabalhar.
-“Inês, acho que devíamos ir hoje á biblioteca para encontrar mais umas coisas para o trabalho. Pode ser?” – perguntou-me ele quando deu o toque da saída.
-“Achas que é mesmo necessário? A Ana nem sequer está cá…” – perguntei-lhe meio embaraçada. Acho que tinha medo de ficar sozinha com ele. Outra dose como esta da aula e passava-me.
-“Se não achasse não sugeria, não achas? Mas porquê? Tens problemas em fazermos o trabalho juntos, somos do mesmo grupo sabes? Mesmo que alguém não queira!” – fantástico. Outro que usa indirectas comigo. Estaria a referir-se a mim? Ou era ele que não queria estar no mesmo grupo que eu? Enfim…
-“Por mim tudo bem. A que horas nos encontramos?” – perguntei secamente. Tinha de ser para ele como ele estava a ser para mim, ou não?!
-“Eu vou lá ter por volta das 14h00. Encontramo-nos lá ok?” – perguntou, mas sem esperar a minha resposta. Foi ter com o João. Deve-lhe ter falado algo, porque o João virou a cabeça para o sítio onde eu me encontrava.

Finalmente só faltava uma aula para ir para casa. Teria de almoçar rápido e ir para a biblioteca ter com o Sérgio para adiantarmos o trabalho.
Almoçei com as minhas duas primas. A Carolina ainda ía para a escola da parte da tarde. Acabei de comer mais rápido que o habitual.
-“Vais a algum lado Inês?”- perguntou-me Carolina , meio admirada.
-“Oh vou para a biblioteca adiantar o trabalho de Área de Projecto.” – explique-lhe encolhendo os ombros e levantando o meu prato e copo da mesa.
-“Que grupo?! Deve ser mais um trabalho de pares. Ou a Ana já recuperou?” – perguntou-me a Mariana sendo irónica.

-“Ai Mariana ,não me quero chatear contigo. Portanto nem te vou responder. “ Dirigi-me ao wc e lavei os dentes, aproveitando para refrescar o meu rosto. Sentia a minha cara a arder – esta a odiar o dia de hoje.

Ansiei por Segunda-feira, mas parece que nem na escola as coisas eram melhores. Só me apeteceu chorar. Inês, Inês o que se passa contigo? Agora viraste uma choramingas ou quê? Sou mais forte que isto. Tudo vai mudar. Eu sinto! – pensei para mim, mentalizando-me que seria só uma fase, as coisas iriam sim ficar melhores - o meu 6º sentido não falha! Ri-me sozinha e sem vontade. O meu pai costumava dizer que eu tinha um sexto sentido, às vezes adivinhava coisas inesperadas.
Peguei nas minhas coisas.
-“Até logo!” – gritei. Esperei que tivessem ouvido.

Quando cheguei á biblioteca o Sérgio já estava no computador. Estava agarrado á perna que estava engessada, devia estar a doer-lhe.
-“Olá! Chegaste cedo…” – disse-lhe eu tentando ser simpática.
-“Ah…Olá. Yah, não tinha fome para almoçar, por isso vim logo para aqui.” – disse-me ele meio atrapalhado fechando a janela onde estava a pesquisar.
-“Não almoçaste? Sérgio mas são 14:15m da tarde! Não comes nada desde manhã? - fiquei parva a olhar para ele de boca aberta.
-“Não não almocei Inês. Porquê? ‘tás armada em minha mãe ou quê? NÃO PRECISO DE NADA DISSO.EU SEI CUIDAR DE MIM! - levantou-se da cadeira  de repente , o que o fez balançar e quase cair por causa da perna. Nesse momento ficou extremamente irritado, elevando a voz para mim. Por instante tive medo. Nunca o tinha visto assim tão alterado.
Fiquei a olhar para ele , calada. Não sabia o que dizer, e talvez não o devesse fazer, talvez o irritasse mais. Ele também ficou estático a olhar para mim, até que os olhos começaram a brilhar e se sentou na cadeira derrotado.

 

2ª parte
-“Desculpa Inês!” – disse ele num sussurro, cabisbaixo.
-“Não faz mal. Eu percebo que não deva ser fácil para ti estares assim.” – falei calmamente com ele. Mas continuava de pé. Não fosse ele alterar-se outra vez.
-“Vamos começar a trabalhar?” – perguntou-me ele com um sorriso. Agora sim , aquele sorriso já era melhor sinal.
-“Hmm… Só se vieres comigo àquele café ali na rua. Podes vir comigo sff?” – tinha de o convencer a comer alguma coisa. Estar sem nada no estômago não lhe fazia nada bem.
-“Mas não acabaste de almoçar?” – perguntou-me ele , arregalando os olhos de tão surpreso.
-“Bem… estava a pensar que podíamos comer alguma coisa antes de começarmos a trabalhar. Ainda desmaias aqui …” – ri-me para tentar aliviar o clima.
-“Eu desmaiar?!Nem de longe miúda, eu sou rijo!” – pronto, já era o Sérgio que eu conhecia. Já se estava a armar em bom. Fiquei a olhar para ele com uma sobrancelha erguida.
“OK ok. ‘Bora lá ao café. Eu não me gabo mais!” – e começou a rir-se. É mesmo parvo.

Consegui convencê-lo a comer uma baguete e um sumo natural de laranja. Quanto a mim pedi um sumo de maracujá. O silêncio imperava na mesa do café. Nenhum de nós parecia tomar o primeiro passo para quebrar este silêncio.
-“Inês posso fazer-te uma pergunta?”
-“Aaahhh… depende.” – respondi um pouco surpresa. Dei um grande trago no meu sumo de maracujá.
-“Não é nada de mal. É só para falarmos.” – disse-me ele sorrindo . Bem, o pior parece que já tinha passado portanto não iria acontecer nada de mal.
-“Pergunta!”
-“Casas comigo?” – disse-me ele muito sério. Congelei.
-“O…o quê?” – perguntei meia engasgada.
Ele desatou-se a rir e com a palma da mão tocou no meu rosto.
-“Estava a brincar tola. Achas que te ia perguntar isso” – disse-me ele continuando a rir, a sua mão não largou o meu rosto até que ele fez um carinho e pousou a mão.
Que raio foi isto? – pensava para mim. O meu estômago estava revoltado, como se borboletas lá estivessem dentro. Não consegui perceber que aconteceu. Tentei recompor-me.
-“Agora a falar a sério. Porque vieste para Tavira?” – perguntou-me ele, dando de seguida uma grande trinca na baguete. Estava cheio de fome. Que estupidez não ter almoçado.
-“Bem…Não sei se queres ouvir. Não é propriamente uma história engraçada nem nada que se pareça. Vais achar super aborrecido.”- respondi baixando a cabeça . Porque é que ele me perguntava isto? Oh Deus…
-“Se não te importares de contar… eu gostava muito de saber.” – olhou para mim e sorriu.
-“Não sei como hei-de começar. Basicamente não estava a aguentar continuar a viver lá em casa.” – ele olhava para mim , como quem pedia mais informação. Estava a sentir-me sufocada ao lembrar-me de tais memórias que há muito guardava para mim.
-“Se não te sentires bem ao falar disso, tudo bem. Eu percebo isso.” – devia estar com uma cara…
-“Não, a sério. Acho que só me faz bem deitar estas coisas cá para fora.” – disse , girando o meu copo vezes e vezes sem fim. Até que uma mão acalmou as minhas mãos inquietas.
-“De certeza?”
-“Sim, de certeza”- inspirei e expirei –“ Bem, desde que o meu pai morreu, a minha mãe ficou diferente comigo. Já não era a mesma pessoa comigo. Dizia-me constantemente que eu lhe lembrava demasiado o meu pai, o que me deixava triste porque sei que isso a magoava. Não havia um dia que ela não chorasse e muitas eram as discussões entre nós. Estava a ficar … - a minha visão começou a ficar turva, apercebi-me de que os meus olhos estavam a encher-se de lágrimas.
-“E por isso decidiste vir viver com as tuas primas? Para tentares apaziguar a situação né?” – ele estava mesmo a prestar atenção ao que eu dizia.
-“Sim, isso mesmo. Pensei que vir para Tavira fosse melhorar tudo mas pelos vistos nada muda assim tão facilmente.” – não consegui. Uma lágrima escapou, fugindo pelo meu rosto abaixo. Apressei-me a limpar.
-“Como assim? Não estou a perceber… Não te sentes bem aqui em Tavira?” – perguntou-me ele. Tinha parado de comer só para me ouvir.
-“As coisas com a minha prima Mariana não andam fáceis. Desde o primeiro dia de aulas que ela mudou completamente comigo. Já discutimos e tudo. Foi horrível. Eu adoro a minha prima , mas não percebia o porquê de ela estar assim.” – não conseguia conter as lágrimas. Sentia uma dor tão grande no peito.
Ele tentou levantar-se para me alcançar mas a perna ainda estremeceu um pouco. Mesmo assim, ele veio ter comigo e , abriu os braços instintivamente para me abraçar. Nem pensei duas vezes e enterrei a minha cara no seu peito, deixando as lágrimas caírem. Ele afagava-me o cabelo e agarrava-me num abraço bem apertado. Deixei-me ficar no calor do seu corpo, no abraço que agora me amparava. Nesse momento não pensei em nada, não queria mais nada senão estar ali.
Há tanto tempo que tinha este turbilhão de emoções guardadas dentro de mim, aprisionadas no meu íntimo mais profundo.
Ele acariciou-me o rosto, enxugando delicadamente as minhas lágrimas.
-“Não chores linda. Não queria que ficasses assim. Desculpa ter-te feito essa pergunta.” – sussurrava-me ele olhando para mim.
-“Oh Sérgio a culpa não é tua.” – e agarrei a mão dele que estava no meu rosto. Fechei os olhos para me tentar acalmar.
Quando os abri, a primeira coisa que vi foram os seus olhos azuis a olharem para mim, meigos como nunca os tinha visto. Ele era lindo, acho que nunca tinha prestado muita atenção. Os olhos azuis dele pareciam água , a água mais límpida, mais pura que já vi. Perdi-me nos olhos dele, aproximando-me cada vez mais. Sentia que algo me puxava para ele., o meu coração batia descontroladamente -ainda bem que ele não o conseguia ouvir.
Foi-se aproximando lentamente, deixando apenas uma distância de 10cm a separar-nos. Conseguia sentir o hálito fresco dele no meu rosto. Ele aproximou-se mais e eu não lhe fugi. Nessa altura não queria saber de nada. Fechei os olhos. Senti os lábios dele, tocarem suavemente o meu lábio inferior. Estava a tremer por todos os lados e o meu coração estava descontrolado. O que estava eu a fazer? Ele agarrou-me, puxando-me mais de encontro ao seu corpo -não conseguia resistir a este impulso de estar bem junto dele. Estávamos tão próximos ,quando, de repente, oiço alguém aclarar a garganta .
-“Interrompo?” – perguntou.

 


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Notas finais do capítulo

O capitulo estava dividido em duas partes mas decidi postar as duas...
Espero q gostem



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