7ºCapítulo

Entrei no Messenger, mas ela estava offline. Devia ter ido dar uma volta ou assim. Deixei-lhe uma mensagem de qualquer maneira, ela via quando chegasse.

      “Querida Rita, desculpa ainda não ter falado contigo. Desde que vim para Tavira parece que o tempo voa. Tenho tantas coisas para te contar e para te perguntar também.
Bem as coisas boas que tenho para te contar são que já fiz amigos, e tenho uma melhor amiga. Ela chama-se Ana , e é super fixe, ainda hoje fomos ao cinema ver o filme” Melodia do Adeus”, fartei-me de chorar mana. Faltavas lá tu para chorares comigo. Que saudades que tenho tuas maninha. Há tanto tempo que não te chamava assim.
      Mas também nem tudo é fácil aqui em Tavira. Ao que parece o maior garanhão da escola está interessado em mim, o que me está a causar problemas com a minha prima Mariana – ela já namorou com ele. Eu não quero nada com ele mana, mas o coitado partiu a perna no jogo de futebol e bem… a Ana disse-me que ele me procurou nessa altura, mas eu não estava lá. Sinto-me tão mal por isso, mas ele também é impossível. Devias estar aqui para veres como não estou a exagerar. Tenho tantas saudades tuas.
      Como estão as coisas aí por Lisboa? Como está a minha mãe? Tens falado com ela? Que novidades tens para mim?
Bem… vou ver TV , estou a sentir-me ridícula a escrever aqui para o nada. Lol. Beijinhos mana. ADORO-TE MUITO!”

Desliguei o computador e fui até á sala ver televisão. As minhas primas ainda não tinham chegado. Odiava estar sozinha, ficava rodeada de tantos pensamentos. Lembrava-me de como a minha família foi e como estávamos agora, lembrava-me dos meus amigos de Lisboa, lembrava-me do Sérgio. Será que ele estaria bem?

-“Olá prima!” – saudou-me a Carolina. Dei um salto no sofá. Estava tão distraída que nem me apercebi que tinham chegado.
-“Desculpa. Assustámos-te? Foi sem querer.” – desculpou-se a Carolina um pouco embaraçada.
-“Não faz mal. Estava a ficar aborrecida de estar aqui sozinha.” – disse-lhe eu acalmando-a com um sorriso.
-“Estás com medo de ficar sozinha é?” – provocou-me a Mariana.
-“Ai Mariana o que se passa contigo? Porque és assim para mim ultimamente?” – perguntei. Finalmente confrontei-a.
-“Eu? Eu estou a mesma de sempre prima. E tu?” – que arrogante. Porque estava ela assim comigo?
-“Eu? Como assim eu? Desde o primeiro dia de aulas que falas mal comigo. Não percebo. Fiz-te algum mal?” – perguntei-lhe elevando a minha. Calma Inês. Não quero ficar com os olhos cheios de lágrimas.
-“FIZESTE!” – gritou-me ela .
-“Por amor de Deus. Já chega! “ – pediu a Carolina. Mas eu tinha de saber.
-“Fiz? O quê? DIZ-ME!”
-“CHEGAS AQUI E PENSAS QUE É TUDO TEU. MUDAS-TE PARA A MINHA CASA, PARA A MINHA ESCOLA, E COMO SE NÃO BASTASSE … AGARRASTE O SÉRGIO!”
-“O QUÊ? Tinha de ser sobre o Sérgio. Mariana ,eu não quero nada com ele! Toda a gente vê isso.” – disse-lhe. Desta vez decidi baixar o tom de voz.
-“Isso é o que tu dizes. Espera até ele falar contigo da maneira que ele fala que te faz sentir especial! Espera até olhares bem nos olhos dele e te perderes no profundo azul! Espera até que ele te beije para tu saberes o que é o paraíso. Espera… “ – e começou a chorar. A minha prima estava a chorar e a culpa era toda minha. Já sentia as lágrimas a escorrerem pela minha cara.
-“Mariana…” – não passou de um sussurro.
-Não… dispenso que tenhas pena de mim. Assim que ele perceber que não o mereces ele virá ter comigo , e tudo vai voltar a ser como era…Tudo!” – disse ela em soluços.

Olhei para a Carolina .Ela abanava a cabeça com as lágrimas no olhos. Foi ter com a irmã e abraçou-a. A Mariana ainda resistiu ao abraço da irmã, mas depois agarrou-se a ela a chorar.
           Não aguentei estar presente naquela sala. Não foi para isto que vim para Tavira. Não foi para ver mais sofrimento que vim para Tavira, não foi! Dirigi-me para o meu quarto e tranquei a porta. Deixei as lágrimas caírem. Como é que um dia que começou por ser tão perfeito acabou de uma maneira tão má. Só me apetecia ficar aqui no quarto para sempre, ao menos assim sei que não magoaria ninguém.

* * *

O fim-de-semana passou-se. A minha prima Mariana continuava igual comigo, mas agora eu já sabia as suas razões. Não a censurava. Não devia ser fácil a pessoa que amamos não nos retribuir.
Era segunda-feira de manhã , estava na cozinha a tomar o pequeno-almoço como fazia sempre. Desta vez não iria esperar pelas minhas primas. Preferia ir sozinha ao encarar a Mariana. Assim meti a tigela na máquina e fui escovar os meus dentes, para ir para a escola.

A Ana já estava á minha espera no portão com o Daniel.
-“Olá pombinhos, bom dia! Tudo bem?”- tentei dar o meu melhor sorriso. Talvez a Ana não notasse. Ela estava estranha. Estava mais pálida que o normal.

-“Bom dia! Aqui a tua amiga não parece estar muito bem , mas ela não quer ir para casa.” – disse-me o Daniel encolhendo os ombros.  – “Teimosa!”
-“Que tens Ana? ‘Tás doente? Não estás com boa cara, estás tão pálida.”- Estava realmente preocupada com a minha melhor amiga. Ela não parecia nada bem.

-“ Só estou um pouco mal disposta. O Daniel é que está a exagerar!” – disse-me ela sorrindo.

Deu o toque de entrada.
-“Até logo mor. Se te sentires mal já sabes! “ – disse-lhe o Daniel, dando-lhe um beijo e acariciando-a no cabelo. O amor deles era tão lindo. Ao menos que alguém esteja feliz.

-“Não te preocupes com ela Daniel, eu cuido dela.” – disse agarrando-a pelo braço. Pelo aspecto dela parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
-“Até logo meninas!” – e foi para o pavilhão E.
-“Ei Inês… o Sérgio está ali. Não queres ir falar com ele?” – disse-me ela , apontado para o local onde ele se encontrava.
-“Ana baixa-me esse dedo! Não , já não quero falar com ele, depois do que aconteceu sábado lá em casa. Nem pensar!” – ela olhava para mim, como que a pedir mais pormenores.
-“Quando cheguei a casa no sábado, depois do cinema, …” – e fui lhe contando tudo pelo caminho até ao pavilhão B onde íamos ter aula de História.