Meu maior tesouro. escrita por Myu94


Capítulo 4
4°Capítulo.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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4° Capitulo

 

4° Capitulo.

 

Eles me deixaram após eu me recuperar do choque de saber que minha família já sabe, o grande problema é que eu sinto que se contasse a eles sobre o possível divórcio, tudo iria se tornar real, nossas famílias são amigas á anos, minha mãe criou a mim e aos meus irmãos sozinha desde que eu tinha oito anos, meu progenitor  deixou quatro crianças e uma jovem mulher sem experiência e, sem uma profissão sozinhos sem qualquer ajuda ou explicação, ele simplesmente se foi e ela não teve tempo de se lamentar ou chorar o que a tornou forte, minha mãe sabe o que é tomar as rédeas da própria vida e vencer, ela nos criou para sermos firmes e nunca depender dos outros.

 Me casar cedo e, não terminar a faculdade de gastronomia para que Gustavo pudesse terminar a pós-graduação dele em Administração foi como uma ofensa a criação que ela nos deu, o que causou um desconforto entre ela e D. Conceição e o Sr. Humberto os meus sogros, ela nunca olhou com bons olhos como eu tentava compensar o fato de não poder ter filhos, para ela isso foi apenas uma fatalidade da vida.. não um pecado que eu deveria ficar pagando penitencia até os últimos dias da minha vida.  

 Eu pego o telefone fixo que está preso na base em cima do criado-mudo ao lado do sofá, disco o número da minha mãe e ouço chamar, sinto meu coração acelerar, eu sei que  ela vai me fazer chorar, até mesmo seu silencio me faria chorar. –Alô? –Sua voz sai suave e firme e, como eu pensei as lagrimas já beiram os olhos.

—Mãe?... –A minha voz sai tremida, gostaria de não parecer patética para ela, mas eu já vi que não vai ser assim.

—Milena... achei que iria demorar bem mais do que isso para me ligar, sei que gosta de se recolher e lamber as feridas antes de me contar o que te magoa, então pelo visto a pancada foi mais dura do que eu imaginei, como você está minha querida? –Sua voz é doce, um tom que nos raramente conhecemos.

—Sinto que me partiram ao  meio, mãe ele engravidou aquela mulher, foram dois anos .. dois anos dormindo juntos pelas minhas costas e, ele só me contou por que a Joana engravidou e eu nem duvido que ela fez isso de propósito... está doendo tanto que as vezes parece que  falta o ar..  –Apoio minha cabeça sobre os meus joelhos e, eles ficam molhados devido as lágrimas.

—Amor... Eu sei o que você está sentindo, de verdade eu sei, mas a única coisa que eu posso te dizer é que vai passar, o tempo cura todas as feridas filha.. Você é forte, a pessoa mais forte que eu conheço, as vezes eu penso que fui muito dura com seus irmão e com você, que eu poderia ter sido mais doce ou carinhosa e talvez você não tivesse saído tão cedo de casa. –Ela respira longamente, eu sei que ela teve que ser menos afetuosa com a gente, mas do seu modo ela foi carinhosa, lembro quando trazia livros e CDs de suas viagens para comprar roupas para revender, ou quando nos ensinava a lição de casa tarde da noite quando voltava da escola onde estava terminando seus estudos. –Querida, mamãe ama você, eu sinto muito que tenha que passar isso, mas “tudo vai ficar bem..”

Essas quatro palavras era tudo o que eu queria ouvir,  chorando de soluçar eu queria seu abraçado e colo, nós passamos mais um tempo falando sobre como eu descobri, como eles se envolveram, como ela estava rondando minha casa e os meus amigos. –Meu amor, sei que seu trabalho é ai, mas se quiser vir morar aqui perto de casa eu adoraria, e aquela mulher não teria a coragem de vir aqui.

—Mãe eu não quero sair daqui, não vou parar minha vida por que ele me traiu, a padaria finalmente está me dando lucro, eu tenho até clientes fixos que eu já chamo pelo nome, Camaçari é um lugar maravilhoso, mas não posso voltar.. –Eu respiro sofridamente por causa do nó na minha garganta, limpo minhas lágrimas com a palma da mão. –Queria ... mas não dá.

—Está vendo que mulher forte você é querida?! Eu te ofereci meu colo, amparo, um lugar para fugir do mundo, mas você recusou para poder se reerguer amor... Valente.. é isso que te ensinei a ser, nunca duvide que pode superar qualquer dor querida.. o tempo se encarregará do resto, agora eu tenho que terminar umas costuras para o bazar da igreja, venha semana que vem ver as roupas que eu fiz pra vender querida..  e aproveita para ver o seus irmãos, eles estavam querendo ir ai tirar satisfação com o Gustavo, mas eu já tirei essa ideia da cabeça deles. –Ela usa um tom de humor ao falar dos meus dois irmãos mais velhos, dois homens incríveis.

—Diga aqueles dois cabeças de vento que estarei ai no próximo sábado, quero ver o que está fazendo, eu preciso de novos ares e, não me lembro a última vez que fiz alguma coisa sozinha, boa noite mãe, eu te amo.

—Também te amo querida, fique com Deus.. –Ela desliga e, eu novamente me deparo com a casa vazia só para mim.

Olho para o relógio da parede em forma de gato Felix e, ele marca apenas 6:30 da noite, o que eu estaria fazendo a uma horas dessas? Um café? Ou descongelando uma carne para o almoço comunitário que oferecemos aos amigos? Ou quem sabe beijando meu marido ...

Esses pensamentos fazem me sentir deprimida, eu ando pelo apartamento e vou até a sacada onde posso ver a rua, a luzes dos postes de energia já estão acesas, os carros com seus faróis estão passando pela pista, é silencioso e não é ao mesmo tempo, no lugar a onde eu morava era um condomínio com casas de classe média baixa, sempre existia barulho de crianças e pessoas conversando, mas não existia som de carros em alta velocidade, era calmo e silencioso as vezes, mas nunca me pareceu tão sufocante como o silêncio de só se ouvir os carros ao longe ou passos no corredor do prédio, pela primeira vez na vida sei o que é solidão.

Horas caçando o que fazer dentro de casa me rederam pratos lavados, roupas organizadas no armário, cobertores dobrados,  moveis fora do lugar, Marcos fez a gentileza de abastecer a geladeira com o básico, já que não existia nada dentro dela desde que ele se mudou para a casa da sua atual namorada, olhando ao redor tudo está sutilmente diferente, olhando novamente para o relógio eu percebo que já chega perto da meia noite e eu não senti fome, sinto apenas o peso do dia e das conversas sobre os ombros, as roupas estão grudadas no corpo e o cabelo colado no  couro cabeludo, não me lembro a última vez que eu o lavei, estão grandes como Gustavo gostava, vou ao banheiro e vejo a banheira e eu sinto que eu mereço um longo banho nela e, uma pizza cheia de queijo, com carne de sertão.

Coloco a banheira para encher, a água sai morna da torneira eu a deixo cair e saio para pegar o telefone e pedir uma pizza de tamanho médio em uma pizzaria que funciona até as 1:00 da manhã que fica no Rio Vermelho, quando eu retorno ao banheiro a banheira está quase cheio, tiro minha roupa e deixo a água me envolver ela chega a transbordar, perto da banheira tem uma pequena estante com sais e sabonete líquido, todos muito cheirosos por sinal, aposto que quem comprou foi a Juliana, ela que curte essas coisas e Marcos não saberia onde comprar e teria vergonha também.

Eu uso sabão de capim limão e sinto meus músculos relaxarem pela primeira vez nessa semana infernal, tento manter a minha mão longe da água, meu cabelo é definitivamente um problema agora que eu parei para pensar, com a mão machucada como eu vou lavar e desembaraçar? Cachos exigem muito cuidados que no momento eu não tenho paciência nem mesmo disposição para isso, se Gustavo estivesse aqui ele poderia me ajudar com isso, ele nunca reclamou de me ajudar quanto a isso, eu me lembro que quando começamos a namorar eu cortei a minha mão com um cutelo, um corte profundo entre eu dedo indicador e o polegar, passei algumas semanas com a mão enfaixada e meu cabelo parecia um ninho de rato, quase cortei bem curtinho, mas Gustavo se propôs a lavar e desembaraçar meu cabelo a cada dois dias, mesmo estudando e trabalhando como loucos, foi uma das coisas que me fez me apaixonar por ele, mas cá estou eu, divagando sobre como ele era... relembrando o passado com saudade e tentando mais uma vez onde foi que eu errei, o quando foi que me tornei tão cega que não percebi que ele estava me traindo com alguém próximo a nós.

Sou despertada dos meus devaneios pela campainha da porta, acredito que seja a pizza, saindo da banheira apago algumas velas aromatizantes que acendi e visto um roupão macio verde mosco que fica no banheiro para as visitas, ainda com o cabelo molhado e pés descalço abro a porta incomodada com as batidas insistentes e, me deparo com o Gustavo, ele tem nas mãos uma garrafa de Ice, olhos vermelhos e cheirando a álcool como um posto de gasolina, ele me analisa de forma questionadora e solta uma risada amarga, se debruça sobre a porta.

 –Nossa, não tem nem mesmo algumas horas que está longe de mim e já está se vingando pela traição... –Sua fala é pesada e atrapalhada, mas não deixei de compreender o que ele quis dizer.

—Eu vou fingir que você não disso o que eu acho que disse, mas como você passou pela portaria? Veio dirigindo por acaso? –O questiono ainda olhando o seu estado, roupas amassadas, olhos vermelhos, na sua mão estava a chave do carro, esse irresponsável veio de casa até aqui com a cara cheia de cachaça, como manda-lo para casa assim? Como dizer para sair e ficar o resto da noite imaginando se ele chegou vivo em casa? –Entra eu vou lhe dar algo para curar essa ressaca.

—Eu não vou atrapalhar nada? Será que o Marcos não vai ficar com raiva de eu vir aqui empatar a “grande oportunidade” que eu dei? –Suas palavras mais uma vez me ofendem tão profundamente, que eu não contenho minha mão e eu acerto seu lado esquerdo do rosto.

—Como ousa me comparar com você cretino? O que você pensa que eu sou?  Marcos não está aqui já fazem horas e não estava apenas ele aqui, ok? Andreia também estava, mas isso não lhe diz respeito, não mais ... a minha vontade é te mandar para casa, mas eu sinto pena das pessoas desavisadas andando na rua com o perigo de serem atingidas por um motorista bêbado, entra eu ... –Somos interrompidos pelo entregador de Pizza que parou bem ao lado de nós, acho que ele já estava esperando a um tempo, mas só nos interrompeu agora.

—É.. Desculpa interromper a conversa de vocês, mas eu não tenho tempo e... –Ele estende a caixa de pizza e sorri sem graça. –Cartão ou dinheiro?  

—Desculpa rapaz... é a dinheiro mesmo. –Estendo as notas de vinte e a de cinco reais, ele pegas as pega e  espera um pouco olhando para Gustavo que permanece com a cabeça debruçada no batente da porta.

—A senhora quer .. Ajuda ? Ou quer que eu leve ele lá para portaria.. –O rapaz tem aquele olhar preocupado.

—Ele é meu marido e, não me faria mal nem que ele quisesse, já que nem se mantem em pé, muito obrigada por se preocupar. –Ele hesita um pouco e segui o caminho dos elevadores. –E você .. entra eu vou fazer um café para ver se passa essa sua bebedeira.

—Me perdoe Milena, eu .. eu não queria dizer aquilo... é que desde que você saiu de casa eu não parava de pensar que alguém poderia estar contigo, eu senti um vazio tão grande quando e deparei com a casa sem aquele cheiro que fica quando cozinha algo, ou... ou quando colocava o som alto pra limpar a casa.. –Ele gesticula as mãos e a garrafa balança o restante do liquido dentro da garrafa, ele cambaleia no meio da sala e se senta no chão. –Amor.. por favor esquece isso e volta para casa comigo, eu ... eu peço a guarda da criança a Juana e criamos ele juntos, eu juro pela minha mãe nunca mais vou ver ela ... eu ..

—Chega Gustavo! Eu não quero mais ouvir a sua voz! –Apanho a garrafa de sua mão, e jogo na parede que se espatifa no chão, ele se assusta e se cala. –Eu quero que vá para o banheiro e tome um banho, quando voltar pode comer alguma coisa e beber um café, vai dormir ai no sofá... pela manhã vai para casa e não quero mais te ver... Anda! Vai tomar um banho miséria!

A sobriedade chega até ele ao ouvir meus gritos. –Você nunca falou assim comigo.. eu.. eu entendo que tenha.. exagerado e, peço perdão por isso.. onde fica o banheiro? Ele está constrangido e isso e deixa meio feliz, aponto a direção para que ele ache a porta certa, eu arrumo meu cabelo em um coque alto e me sento no sofá ainda processando o que aconteceu aqui.

***

Após passar ligar a máquina de café e deixar ela fazer seu trabalho eu coloco uma roupa de dormir, coloco no sofá e um travesseiro e alguns cobertores que achei no armário, Gustavo sai do banheiro com o cabelo molhado e com uma postura mais sóbria e, também triste. –Eu estou com vergonha, então pegue leve com a bronca, desculpa arruinar sua noite, mas...

—Não tenho nada a dizer, é adulto vacinado e com dois diplomas de ensino superior e, não sou sua mãe para dar lições de moral, então tome o café e coma a pizza, coloquei um cobertor e um travesseiro pra você...amanhã eu tenho muito o que fazer, então... boa noite pra você.. –Pego um prato coloco três pedaços de pizza e vou saindo com a intenção de ir para o quarto me trancar, mas sua voz impede meus movimentos.

—Mila eu estou arrependido, acho que nunca vou me perdoar por perder você, obrigado por e deixar dormir aqui mesmo estando com raiva de mim... boa noite. –Eu não me viro para ver seu rosto, pelas suas palavras eu sei  que deve estar com cara de cachorro que caiu da mudança, mas eu sinto mais dó de mim.

Eu sussurro um “boa noite” para ele também seguindo em direção ao quarto, pego o meu celular e começo a olhar minhas mensagens, meus e-mails, responder os meus irmãos no bate-papo, distraída assim eu acabei com os três pedaços de pizza, volta e meia eu olhava para a porta do quarto imaginando se ele viria bater na minha porta, uma parte de mim desejava que ele fizesse isso, mas a outra parte se questionava o que faríamos no dia seguinte quando a magoa me despertasse pela manhã?!

Afastando esses pensamentos eu relaxo na cama e apago.

A luz forte da manhã me traz das terras dos sonhos, me trazendo para o inferno de vida, onde eu não tinha mais casa, marido, filhos e, só me restava a solidão de um apartamento emprestado.

 Pego o meu celular para ver as hora e, tomo um susto ao ver que eram onze da manhã, quase meio dia, viro-me de barriga para cima para olhar o teto, sinto que estou esquecendo de alguma coisa.... então o dito-cujo me vem à mente como um tiro. “ Deixei o Gustavo dormir aqui..” me levanto em um solavanco abrindo a porta em um ato só, mas não tinha ninguém em casa, vou em direção ao banheiro e nada... ninguém, respiro longamente tentando me entender, o que eu faria se o visse ali? Nada vem à mente, mas na minha ida a geladeira me deparo com um bilhete preso nela.

Bom dia querida.. fiz café e, tomei a liberdade de tomar uns dos comprimidos no armário do banheiro, foi a última vez que lhe fiz passar por esse incomodo, tenha um bom dia.

Ps: Eu limpei a parede e os cacos de vidro do chão, mas não sei se catei todos então não ande sem os chinelos..

Olho para a parede que joguei a garrafa de bebida e só tem mesmo a lembrança, respiro fundo, jogo o papel no lixo da cozinha e vou até o banheiro jogar uma água no rosto, olho no espelho e vejo trapo de gente que eu estou.

Quando eu estou sentada no sofá tomando meu café e comendo um pão que achei no armário, ouço o som da minha porta, será que Gustavo esqueceu alguma coisa? Vou até ela e quando eu atendo dou de cara com olhos bonitos me fitando com uma certa esperança. –Oi! Lembra de mim  o Gabriel?

Ele tem uma cara engraçada de questionamento, eu sorrio para ele. –Sim, o jovem que me atropelou, como está?

Ele enruga o nariz, achando engraçado o fato de dizer que ele me atropelou. –Moça eu não sou carro para atropelar não ... oxi! –Ele coloca a mão na cintura e levanta os ombros.

—Ah! É verdade, mas o que te traz a essa hora aqui, você está sozinho? Cadê seu pai? –Ele sorri olhando para a porta atrás dele que está entre aberta, depois volta a olhar para mim.

—O papai disse “filho chama a moça bonita que mora ai na frente para comer com a gente..” ele fala imitando a voz do pai o que me faz rir, a porta se abri rápido e logo mãos grande tampam a boca do menino, olho para Augusto que está com o pescoço até as orelhas em vermelhos.

Ele pigarreia atraindo minha atenção. –É.. então, eu e Gabriel gostaríamos de saber se gostaria de comer uma gororoba que preparamos como um pedido de desculpas.. -Ele  sorri sem graça pela situação.

Olhando minha situação miserável, acho que socializar com a vizinhança é prudente.

 


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Notas finais do capítulo

Então meninas, gostaram?



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