5° Capitulo

Olhando aquela coisa em cima da mesa eu não sabia se era mais queijo do que macarrão, os dois seres me olhavam com uma expectativa grande, eu olhava para o garfo e para eles, tomando coragem para colocar na boca aquilo que eu quase tinha certeza que estava ruim e, uma surpresa me toma por dentro literalmente falando, era mais gostoso que aparentava. –Nossa!

—Viu...?! Nos dois não sabemos arrumar o prato, mas quando se trata do sabor ai já é outro assunto, chamamos de super-macarrão! –Augusto diz entusiasmado, parece até uma criança, Gabriel balança a cabeça várias vezes concordando com a pai enquanto come grandes quantidades assim como eu.

—Está muito gostoso, só tem que melhorar na decoração e diminuir a quantidade de queijo. –Digo analisando os sabores tentando achar os ingredientes que ele colocou, como por exemplo o coentro, cebolinha, cebolas e alho, molho de tomate e noz-moscada, sem falar na carne moída, e o queijo...

—É uma coisa que eu e Gabriel fizemos a uns meses atrás.. eu não sei cozinhar, estamos dependentes da minha mãe para comer, então estou assistindo aulas de culinária pela internet para me virar.. Mas até agora eu queimava a comida e deixava tudo salgado.. –Ele diz meio envergonhado coçando a cabeça, eles estão dependentes da mãe dele? Onde está a esposa?

—Olha.. eu estou com um tempo livre à noite, posso te dar umas aulas sobre o básico na cozinha, mas só se você quiser é claro,  o que acha? –Gabriel é pequeno demais pra ficar comendo comida não nutritiva e, eu realmente não tenho o que fazer quando chegar em casa.

—Mas isso não vai atrapalhar você? –Ele se ajeita na cadeira, não parece desinteressado, mas também não parece confortável com a proposta.

—Eu estou me divorciando, acabei perdendo minha casa e alguns amigos no processo, eu estou com a agenda vazia por não sei quanto tempo, meu advogado me aconselhou-me a distrair a mente com alguma atividade, como eu  sou uma pessoa preguiçosa por vida... Atividade física está fora de cogitação... Então você é uma boa opção. –Digo tudo em um sopro só, fazendo ele e o filho me olharem como se eu fosse um alienígena, ai eu me dei conta que falei demais. –Ai meu pai! Desculpa... pareci uma doida!

Coloco as mãos na boca com  os olhos arregalados para situação em que estávamos, eles começam a rir da minha cara e, eu acabo por rir também. –Oh querida eu sei que fase é essa... Mas então está fechado.. vai me dar aulas.

 O final da tarde foi agradável, nós rimos e assistimos um filme na Netflix, jogamos damas e, fiz um bolo para Gabriel já ensinando a Augusto que é possível fazer uma massa no liquidificador se tiver preguiça de bater tudo na mão, fiquei constrangida ao olhar para o relógio de sua parede e perceber que já eram seis horas da noite, quando voltei para o meu apartamento me dei conta de como sozinha eu estava, a casa escura em total silencio, acho que nunca estive só.. irmãos, marido, amigos, sempre acompanhada de alguém, meu copo de café ainda está no centro de mesa, acendi as luzes da sala e comecei a limpar a casa e os outros cômodos da casa, lavei os pratos que era apenas o meu copo sujo de café.

Depois de limpar tudo como uma pessoa com T.O.C, eu me sentei na varanda olhando as luzes da cidade, aquele apartamento pequeno nunca foi tão grande como agora, a solidão é cruel, mas também uma companheira fiel.. mais fiel que meu marido, a comparação me faz rir e chorar ao mesmo tempo, não são nem dez horas e quero e deitar e ver o tempo passar.

Já na cama olho minhas notificações do celular e havia várias mensagens dos meus irmãos e da minhas amigas do grupo da panelinha Rua das Margaridas o meu bairro antigo, hoje eu estaria no meio das mulheres fazendo vinagrete e feijoada, enquanto os rapazes assavam uma carne e  depois faríamos chacota  do resultado do jogo de futebol, mas eu nem me lembrei disso, havia muitas ligações perdidas, de Marcos, da Andreia e também de Joana, gargalhar como uma lunática foi o único meio de não dizer desaforos a ela pelo celular... É, cansei de gente. 

Eu abri meus olhos e estava tudo claro, mas não tão claro como o amanhecer das sete da manhã de uma segunda-feira, eu tateei minha mão pela cama tentando achar o celular em meio as cobertas e travesseiros e, quando o achei que liguei a tela ele despertou me alertando que eram seis da manhã e eu tinha que ir para a padaria, jogando minha tristeza para o fundo da minha alma, eu escovei os dentes enquanto tomava banho pra economizar tempo, vesti qualquer coisa dentro do armário e peguei as minhas chaves e, corri para o estacionamento.

O dia estava sendo cheio e estressante, Eric não estava dando conta de lidar com a organização  do estoque e em atender os clientes, como também ajudar o Pedro o padeiro, éramos três pessoas em uma pequena padaria no centro, somos mais uma confeitaria do que padaria, mas a venda dos pães e café entre outras coisas ajudava a entrar dinheiro rápido no caixa, tínhamos uma encomenda enorme de bolo e doces finos para um casamento, acho que vou ter que contratar outra pessoa só pra ficar atendendo enquanto Pedro e Eric me ajudam na confecção dos pães bolos e afins...

Chegando em casa cheia de sacolas e cheirando a pão, farinha e, suor dou de cara com uma figura sentada na porta da minha casa, ela estava com fones de ouvido e botas de couro fosco, maquiagem pesada e mexia no celular. –Melissa?

Ela olha para mim como um ar de surpresa e me oferece um sorriso. –Sua vaquinha! Se separa e, nem mesmo avisa a sua melhor amiga!

Três fatos sobre Melissa Sousa, o primeiro é que ela se recusa a usar saias, vestidos ou sutiã, qualquer coisa que seja uma coisa imposta pela sociedade machista patriarcal... palavras dela. A segunda é que ela é contra o casamento, se casamento fosse bom, “você não precisaria de testemunhas e assinar um contrato em frente a um juiz” novamente.. palavras dela. E a terceira é que...Ela  é a pessoa mais amiga e leal do mundo, eu confessava tudo para ela, nos conhecemos a uns dez ou onze anos, Mel e Gustavo tinham uma relação interessante, ele discutia com ela sobre futebol, política negócios como se fossem amigos, mas sempre se alfinetavam quando tinha uma oportunidade.

Olhando para a minha amiga eu chorei, chorei mais do que com a minha irmã e, mais do que com a minha mãe. –Ei, ei, ei docinho... calma, a Mel está aqui para você querida, vamos abra a porta para você poder chorar com uma garrafa de Jack Daniel’s. –Ela me abraça apertado, depois limpa eu rosto com a manga do casaco, eu rio do seu jeito e como sempre quer me ver encher a cara.

—Mel eu não bebo, mas aceito encher a cara de sorvete e o resto de um bolo de chocolate que sobrou lá da padaria. –Ela torce o rosto e depois ri.

Eu abro a porta de casa e, nós entramos e vamos direto para a cozinha, pego o medidor de água da cafeteira colocando em baixo da torneira da pia, depois ligo a cafeteira e noto Melissa me olhando com uma certa preocupação. –Não me olhe assim, eu queria ter ligado para você e contar o que aconteceu,  mas foi tudo tão rápido que até agora eu não entendo nada, além disso você estava fora do país Melissa, o que você poderia fazer? Falando nisso chegou quando?

—Uma miséria que não poderia ter me ligado! Sou sua melhor amiga quenga, imagina minha surpresa ao chegar de viajem ontem e, querer fazer uma surpresa pra minha melhor amiga no churrasco com a galera a noite e, chegar lá e dar de cara com a Joana se fazendo de coitada para os nossos “amigos” dizendo que você não dá uma chance dela se explicar... que ela não era uma destruidora de lares... Puta! –Ela dá um murro na bancada da cozinha, coloca as mãos na cabeça e bagunça os cabelos. –Ainda veio com aquela cara de sonsa me dizer que não queria perder minha amizade... eu não estava entendendo nada, até que Marcos me chamou para um canto e me contou tudo e, se não fosse por ele, ela precisaria de uma Rinoplastia... e a merda se ela está gravida de um bastardo!

—Melissa! Calma, eu ... –Ela me interrompe batendo mais uma vez a mão na bancada, o que me assusta, seus olhos estão vermelhos como os meus.

—Calma uma porra! Rodei a baiana naquele churrasco e disse umas verdades para ela na frente daquele povo sonso que come os reggae dela diz, falei mesmo que ela é uma piriguete de quinta, que engravidou de proposito, que sempre te invejou e, sempre quis o que é seu, que você não tinha obrigação de ouvir nada que ela tenha a dizer. –Ela disse tudo de uma vez respirando rapidamente, eu pego um copo com água e dou a ela.

Após alguns minutos se recuperando, ela sorri e enxuga os olhos. –Desculpa Mel, eu sei que você queria me dar apoio, que provavelmente me incentivaria a atear fogo nas coisas de Gustavo, ou no próprio Gustavo, mas é o que eu disse... foi rápido demais, quarta-feira de manhã eu era uma mulher casada, a noite eu era corna a dois anos e meu marido ia ter um filho e, não era comigo... eu passei por muito, em pouco tempo e sozinha ... estava envergonhada e confusa. –Respiro profundamente olhando para ela, queria que me entendesse. –Obrigada por me defender, mas não vou dar munição para ela se fazer ainda mais de coitada, não vou dar assunto para essa gente, eu só devo alguma explicação aos meus amigos e, mais ninguém.

Ela se senta na pia e, começa a rir e eu rio também. –Sabe o que foi engraçado? Quando ela disse que não queria perder minha amizade eu disse “desde quanto sou amiga de quenga?” ela morreu de vergonha, todo mundo rio, tirando a Michele e a Rafaela que são amigas dela, acho que ninguém acreditou muito naquele showzinho dela...

—Não me interessa muito quem acredita nela, cedo ou tarde todo mundo vai esquecer essa situação e vai estar todo mundo lá na festa de um ano do filho deles, as pessoas se adaptam a tudo... E, o Gustavo estava lá.. –Pergunto meio sem jeito, por que eu sei que ela vai brigar comigo.

—Pronto.. sabia que ia me perguntar isso, mas não, ele não estava lá, Marcos me disse que passou lá, mas estava tudo trancado, ligou para ele, mas ele não atendeu.

—Aposto que ele está na casa da mãe, eu... –Batidas na porta cortam meu raciocínio.

—Está esperando alguém? –Melissa me pergunta me acompanhando até a porta.

—Não..  –Abrindo a porta dou de cara com dois pares de olhos brilhando com aventais presos ao corpo, um deles tem um bigode pintando como um Chef francês.

—Olá Mi, viemos ter nossas aulas! –Ambos grita juntos, a empolgação acaba assim que veem Melissa rindo dos dois.

—Oh.. oi meninos, nossa que empolgação! Mel esses são meus vizinhos, Augusto e o filho dele Gabriel, vou ensinar eles a cozinhar o básico.. –Digo rindo da vergonha deles.

—Iaé meninos! Entrem, eu sou a melhor amiga dessa pessoa ai, ela já tentou me ensinar a cozinhar, mas eu queimei até a água. –Disse ela olhando Augusto de cima a baixo, ela não tem o menor pudor. –E você .. tem talento pra fazer gostoso?

Três reações diferentes para as palavras ali concebidas, eu engasguei com a minha própria saliva, Melissa se acabou de tanto rir  e, Augusto estava um pimentão de tão vermelho, Gabriel como uma criança não entendia nada e acompanhava Melissa nas risadas espalhafatosas, limpei minha garganta atraindo a atenção deles. –É.. Então, vamos cozinhar um frango assado com purê de batas com ervas, vou aproveitar os ingredientes que peguei da padaria!

Bato duas palminhas seguidas de empolgação, já faz um tempo que não ensino alguém a cozinhar, essa é uma das poucas vezes que eu me sinto verdadeiramente empolgada em ensinar alguém a se alimentar com qualidade. –Não acha meio avançado para mim? Eu.. eu nunca cozinhei um frango antes.

Ele se acanha um pouco envergonhado por entrar pouco em uma cozinha, mas é normal, existem pessoas que nunca se permitem aprender a cozinhar por acharem que não tem capacidade de preparar um prato gostoso e acolhedor, mesmo sendo um simples prato de arroz e feijão. –Claro que pode! Mas antes vamos fazer duas coisas que não pode faltar na casa onde tem uma criança ... Arroz com feijão!

—Ahh isso ai não rola, tenho um medo fora do normal de panela de pressão! Tá louca mulher? Sinto que a panela vai explodir toda a vez que ela começa a chiar cada vez mais forte!!! –Ele anda pela sala gesticulando de forma enérgica explicando os seus temores o que me fez rir como uma lunática lembrando do meu irmão mais novo, quando ensinei a ele a fazer o próprio feijão quando foi morar sozinho.

—Miga sua loca! O cara nem está engatinhando e tu já está  querendo que ele corra? Saiba que eu ainda queimo o arroz tá, vá com calma com o bichinho que ele está assustado com essas ideias na sua cabeça. –Melissa se escora nele alisando seu peito com uma voz manhosa tirando onda com a cara do pobre rapaz. 

—Ok, ok... crianças vamos tocar fogo nessa cozinha! –Bato palmas me animando pela primeira vez essa semana.

***

Depois de todos lavarem as mãos e os legumes e outras coisas para receita, organizamos tudo por etapas. –Vamos ao básico meus queridos, primeiro colocamos o feijão de molho na água morna, assim ele amolece um pouco e libera um pouco das enzimas que causam flatulências, depois colocamos a água na panela de pressão até a metade já que o feijão incha, vamos colocar uma linguiça defumada cortada em rodelas largas junto com duas folhas de louros para dar um gosto a mais no feijão.

Vou falando enquanto vou cortando os ingredientes e enchendo a panela ao mesmo tempo, descartando a água em que estava os grãos de feijão, eu os coloco na panela de pressão junto com a linguiça e as folhas de louro e, logo depois tampando a mesma.

—Bom, depois de colocar no fogo você deixa por dez a quinze minutos, agora vamos colocar a o arroz para cozinhar, eu gosto de arroz com sal e um dente de alho e uma cebola cortadas miudamente, mas como vocês estão aprendendo o básico vou colocar o arroz parborizado, aquele que fica soltinho, na água fervente coloque apenas meio copo de requeijão como medida do arroz, já que são apenas vocês dois em casa e arroz só é bom durante dois dias, pelo menos para mim...

—É Mila, e as outras coisas quando vamos fazer? To com fominha.. –Gabriel diz enquanto ele belisca o pedaço de bolo que estava em cima da mesa, sinto uma dózinha daqueles lindos olhos pidões ...

Continua..

Olá meninas! espero que tenham gostado, deixem seus comentários e eu vou responde-los com muito prazer!

oxox