Os segredos de Eva escrita por calivillas
Caroline saiu da banheira e pegou uma toalha, tentou se enxugar o melhor que pode, estava tremendo de frio e nervoso, não sabia o que pensar, não queria acredita nas histórias de Murilo, não queria acreditar que era fruto de uma mulher como aquela. Vestiu-se, o biquíni molhado a incomodava sob as roupas secas, ao abrir a porta e encarar a tarde fria, começou a tremer ainda mais, andou rápido, se abraçando, querendo alcançar o abrigo do seu quarto.
— Senhorita, está tudo bem? — Rita interrompeu o seu caminho, quando estava quase chegando ao seu objetivo.
— Sim — respondeu, sem muita convicção.
— Mas, está tremendo.
— Só estou com um pouco de frio, vou trocar de roupa.
— Mandaram avisar que o almoço já está servido.
— Obrigada — Caroline disse, se afastando, rapidamente.
Não tinha jeito, teria que enfrentar aquela gente outra vez. Tentar encontrar a verdadeira Eva, que parecia cada vez distante e obscura. Assim, trocou de roupa, respirou fundo e abriu a porta para retornar a casa.
O almoço foi servido no mesmo lugar do que o dia anterior, já estavam todos lá, exceto Tom. Entre aqueles rostos, qual estaria falando a verdade?
Podia assistir, pelas janelas, a chuva ainda caindo forte, lá fora, dando uma coloração cinzenta ao mundo a sua volta.
— Garota! — Ouviu alguém falar, Caroline olhou ao redor, procurando, avistou Amélia acenando com a mão para que se aproximar. Um tanto hesitante, chegou perto daquela mulher, sua avó oculta. — Traga um chá gelado com bastante gelo e folhas de hortelã para mim — ordenou.
Por alguns segundos, Caroline ficou ali parada, a olhando, mas a mulher parecia não estar prestando atenção nela, por isso se voltou e foi até a mesa onde estavam as bebidas, despejou o conteúdo da jarra em um longo copo, colocou gelo e as folhas de hortelã. Retornou para junto a Amélia, sentada confortavelmente, com seu corpo roliço se espalhado sobre a grande poltrona de vime, entregou o copo a ela, que tomou um grande gole, sem agradecer.
— Então, você é a garota de Gustav — disse de um jeito presunçoso, sem olhar diretamente para ela.
— Não, senhora. Eu trabalho para o doutor Lutz — Caroline a corrigiu, de um modo segura.
— Dá no mesmo — a mulher balançou a mão livre, com desprezo. — Você é jovem e até bonitinha, deveria aproveitar a oportunidade, pois a beleza não dura para sempre. Veja a minha filha, o que ela conseguiu, pois sabia jogar o jogo, aproveitou seus dotes para chegar onde chegou, antes de ficar velha.
— Eva nunca será uma velha, porque ela morreu — disse, entredentes.
Amélia a fitou, com um certo ar de espanto, e falou com um tom de amargor:
— Até nisso, Eva foi esperta, pois morreu jovem, assim preservará para sempre a sua imagem no auge da beleza. Nunca a verão como uma velha carcomida e decrepita
Nesse momento, os olhos da garota se voltaram para Tom, que entrava com a cabeça erguida e a expressão séria.
— O menino de ouro chegou. Espero que não crie nenhuma encrenca, agora — Amélia disse, desviando o olhar de Tom.
— Por que o chamam de menino de ouro?
— Foi Eva que inventou esse apelido, quando o conheceu, ele era uma arquiteto recém-formado, com bons projetos, o pai dele tem um escritório de arquitetura medíocre. Minha filha se interessou pelo rapaz, lhe deu a oportunidade de fazer essa casa, o promoveu o chamado assim, começou a chover trabalhos, quem não queria ter sua casa construída pelo mesmo arquiteto de Eva Montserrat-Ortega.
— Mas, ele é bom.
— Tem muita gente boa e desconhecida por aí, mas quando surge uma oportunidade, deve se agarrar com unhas e dentes, e Tom fez isso.
— Aí está você, Caroline! Onde esteve por toda manhã — Gustav perguntou, ao se aproximar delas.
— Em nenhum lugar em especial — a garota respondeu, dando de ombros.
— Não seja ciumento, Gustav. Deixe a garota se divertir um pouco, ao invés de ficar entediada ao lado de um velho — Amélia se intrometeu.
Gustav a encarou de um jeito frio.
— Caroline está aqui a trabalho — rebateu, secamente.
— Sei, sei — Amélia respondeu, descrente.
No entanto, Caroline não prestava mais atenção, acompanhando sutilmente, Tom com o olhar, viu quando ele se serviu no bufê.
— Com licença, estou com fome.
— Você come muito, menina. Poderia perder uns cinco quilos — Amélia disse, de um modo ácido. Irada, Caroline pensou que a matrona poderia perder uns 30 quilos, mas não falou nada, só foi em direção ao bufê, serviu-se.
— Posso me sentar aqui — pediu, parada ao lado da mesa de Tom.
— Sim, por favor. É bom ter um rosto amigo por perto — ele respondeu, sem emoção na voz.
— Eles não são assim tão ruins — Caroline falou, olhando os outros convidados.
— Sim, eles são — Tom cortou, ferozmente, um pedaço de carne e pôs na boca.
— De certa maneira, eles deviam amar Eva, pois, afinal, estão aqui.
— Eles querem saber qual é a parte que lhes cabe da fortuna de Eva.
— E você? Sei que você amou muito Eva, mas continuou a amando durante todo esse tempo? — Caroline se atreveu a perguntar, mesmo com medo da sua reação. Por alguns segundos, ele a encarou, abismado, com a pergunta.
— Sim, eu ainda a amava, não como no começo, na época que éramos encantados um pelo outro, mas, com tempo, mudamos. Tudo muda. Por que quer tanto saber tanto sobre Eva?
— Sou curiosa. Meus pais e minha melhor amiga são fascinados por ela. Quando soube que vinha até aqui, assisti alguns filmes, nenhum era uma obra de arte, porém, Eva parecia ser uma boa atriz.
— Ela era. Por isso, se sentia frustrada, havia me confessado que queria atuar em produções ditas sérias, mas, antes disso, conheceu Ortega e se casaram. Ele exigiu que ela deixasse o trabalho de atriz, não queria ver a senhora Ortega beijando outros homens, em uma tela de cinema.
— E ela, simplesmente, desistiu, se gostava tanto de atuar?
— Ela amou Ortega, o respeitava. Posso estar errado, mas via nele a figura do pai que nunca conheceu. Acho que por isso se aproximava tanto de homens mais velhos, como Arthur e Gustav.
— Então, Eva nunca soube quem era o seu pai?
— Nunca. Amélia foi mãe solteira, jamais falou para filha quem era o pai dela, o que deixava Eva frustrada. Ela desejava uma família de verdade. Deve ter sido isso a razão de adotar Haikai, quando foi casada com Tanaka. Por um tempo, ela teve uma família, até o casamento terminar.
Ao ouvir isso, Caroline se perdeu nos seus pensamentos, imaginado como teria sido conhecer a sua mãe. Qual Eva ela seria diante da filha?
— Posso me sentar com vocês? — Gustav pediu.
Eles assentiram com a cabeça, apesar do visível incomodo de Tom, diante do homem mais velho. Os dois ficaram em silêncio, não querendo mais continuar aquela conversa.
— Espero que até amanhã, o tempo melhore para podermos realizar a nossa cerimônia — Gustav falou, como se não percebesse o silêncio repentino.
— Assim espero. Com licença, eu terminei — Tom diz, já se levantando.
— Esse rapaz é muito temperamental, por isso, o casamento deles não ia bem — Gustav comenta de modo casual.
— O que quer dizer com isso? — Caroline o encarou de modo firme.
— Quer dizer que Eva tinha planos de se separar de Tom, muito em breve.
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