Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 10
Trocas de favores




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Não, ela não podia, não tinha como, era impossível. Não poderia ter se apaixonado tão rapidamente por aquele homem inalcançável. O viúvo da sua mãe biológica. Seu padrasto. A cabeça girava como um peão, ao descer pelo caminho que a levava de volta para casa. Precisava se afastar, não queria ficar próximo a ele e alimentar ainda mais essa fantasia insana.

Antes de chegar na casa, já ouvia os gritos enlouquecidos e, ao entrar na sala principal, parou, surpreendida com aquela cena de pantomima que desenrolava ali, pois, o advogado estava cercado e, em vão, tentava apaziguar os ânimos do grupo dos hóspedes mais velho, que gritavam e reclamavam, todos ao mesmo tempo. Em um canto alheio a todo aquele tumulto, sentado em uma confortável poltrona, Haikai escutava música pelos seus fones de ouvido e li.

— O que está acontecendo aqui? — Caroline perguntou a Murilo, que assistia toda cena a certa distância, com os braços cruzados e um ar divertido.

— Já que não haverá a cerimônia de despedida, hoje, por causa da chuva. Eles querem que o advogado abra o testamento de qualquer maneira, mas ele está recusando, argumentando que seria contra os desejos de Eva. Ele não vai ceder, antes que a cerimônia seja realizada amanhã de manhã.

— E o que vai acontecer?

— Todos nós passaremos mais uma agradável noite aqui, nessa ilha.

— Basta! — Gustav grita acima de todos com o rosto vermelho, os outros se calam assustados, então, ele tirou um lenço do bolso e limpou o suor da testa. — Eu já disse que estou cumprindo as especificações da falecida Eva, sendo assim, o testamento só será aberto, após a cerimônia de despedida, que ocorrerá quando a chuva parar, não há outra opção.

Os outros o olharam ainda incrédulos, sabendo que foram derrotados, que Gustav jamais recuaria na sua determinação.

— Se é assim, podemos jogar uma partida de cartas, que tal bridge — Célia disse, em tom normal, dando de ombros.

— Eu prefiro pôquer — Arthur rebateu, então o grupo saiu, conversando animadamente, como se nada houvesse ocorrido.

Atônita, Caroline os observou desaparecerem através da porta.

— Você não joga, não é, Caroline? — Murilo se voltou para ela, com um sorrisinho maroto.

— Não, não sei jogar esses jogos.

— Então, vamos nos livrar desses velhos e fazer algo interessante — ele lhe deu um sorriso maroto

— Como o quê?

— Você trouxe biquíni?

— Sim, mas...

— Coloque e nos nós encontraremos no anexo, digamos, em 10 minutos.

Surpresa, Caroline o observou sair por uma porta lateral, mas o que ela teria que fazer o resto do dia, então, por que não? Apesar de ainda estar chovendo muito e entrar em uma piscina poderia ser perigoso, com todos aqueles relâmpagos.

Ela voltou para o seu quarto, colocou o biquíni e um outro vestido, para que ninguém percebesse, quando saiu do quarto, Murilo a esperava no corredor.

— O que vamos fazer?

— Surpresa! Apenas, me siga!

Ele a guiou por um caminho que ela não conhecia, para uma construção perto da piscina, abriu uma porta e foram envolvidos por uma nuvem de ar quente, no ambiente com as paredes forradas de bambu e plantas, uma ampla janela de vidro dava para a vegetação natural lá fora, e, no alto de um tablado, estava a grande tina de madeira, de onde vinha o som da água borbulhante e o vapor d’água.

— O que é isso?

— Um ofurô. Você nunca usou um?

Ela riu, balançando a cabeça.

— Não.

— Então, tire a roupa e vamos entrar.

— Nós podemos?

— Claro que podemos, ninguém está prestando atenção — Ele deu ombros.

Apesar de receosa, estava bastante curiosa, tirou o vestido com cuidado, colocou em um dos cabides na parede, subiu os degraus de madeira e entrou, lentamente, na água.

— Está quente! — exclamou, enquanto sentava-se em um dos banquinhos, sentindo as bolhas da hidromassagem fazerem cócegas.

Murilo fez o mesmo e sentou-se no banco, na frente dela.

— Isso que é vida! — ele falou, jogando a cabeça para trás, relaxando, com os braços apoiados na borda, bastante à vontade. 

— Eu nunca imaginei uma vida assim, ter algo parecido na própria casa.

— Eva adorava, conheceu quando foi fazer aquele filme no Japão, falava que fazia bem para as dores nas costas dela, então instalou uma aqui.

— Desde que cheguei nesse lugar, tento entender quem realmente era Eva, mas, cada pessoa me descreve uma Eva diferente.

— Por que você quer entender Eva? Você não é nenhuma repórter ou está pesquisando para um livro ou algo parecido? — Murilo ficou alarmado.

Caroline sacudiu a cabeça, sorrindo.

— Não, só estou curiosa a respeito dela.

— Então, vou lhe dizer uma coisa: Eva era única e várias, ela podia ser o que queriam que ela fosse. Uma verdadeira camaleoa.

— Como assim?

— Ela era uma mulher determinada e oportunista para uns, e romântica e sensível para outros.

— Como Tom.

— Sim, para o menino de ouro. Ela queria tê-lo, como tinha essa ilha ou seus carros ou suas joias — Murilo disse, com um sorriso cínico.

— Eu não acredito nisso! Ela o amava! — Caroline rebateu, com veemência.

— Claro que ela o amou, por um certo tempo, até começar se cansar de toda essa monotonia.

— Não é verdade! Eu não acredito nisso!

— Acredite no que quiser, só posso lhe dizer que eu e ela passávamos muito tempo nessa banheira, após eu fazer uma boa massagem nela e, entre outras coisas, conversávamos, era como um tipo de terapia, muitas vezes, com uma garrafa de vinho ou champanhe nas mãos — ele deu um sorrisinho malicioso.

O coração da garota se acelerou.

— Vocês eram amantes? — Chocada, Caroline perguntou com um fio de voz.

— Amantes, não, por assim dizer. Eu trabalhava para ela, então...

— Eva não podia ser tão sórdida!

— Ela não era sórdida, só sabia o que tinha que fazer, foi ensinada para isso pela mãe — Murilo falou de modo casual.

— Como?

— Simples, Eva me confessou que que Amélia a colocou na cama de cada pessoa que poderia levá-la ao sucesso, para conseguir um bom papel, aparecer no lugar certo na hora certa. De certo, que deve ter rolado até chantagem, quando Eva era de menor ou com homens casados.

O queixo de Caroline literalmente caiu, ficou encarando Murilo, sem palavras, não querendo acreditar naquela possibilidade.

— Não fique tão chocada, querida. Amélia só queria largar aquela vida miserável que tinha, por isso, usou a filha bonita para conseguir o seu objetivo. E olhe só onde elas chegaram! — Ele abriu os braços, mostrando o lugar.

— Isso é horrível — Caroline murmurou.

— Depende do tamanho da sua ambição, o que realmente deseja. E você, Caroline, o que quer? — Ele lhe deu um sorriso sedutor, mas ela não estava disposta a isso.

— Você está mentindo, falando tudo isso para me impressionar. Querendo se dar bem comigo — ela falou quase com certeza, olhando nos olhos dele.

— Pense o que quiser, mas, o que falei era verdade. Mas, quando me dar bem, seria mais uma troca de favores.

— Está muito quente aqui, preciso sair — Caroline se sentia zonza, não queria acreditar no que estava acontecendo.

— Faça o que quiser — Murilo disse, desdenhoso, enquanto a garota saía. — Tem toalhas secas naquele armário, bem ali do lado — apontou e jogando a cabeça para trás, relaxando.


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