Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 12
A invasora




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— Eu não acredito nisso! Eles se amavam! — Caroline protestou, com veemência, diante do sorriso cínico do advogado.

— Você é uma romântica, Caroline. Pode até ser que Eva tivesse amado Tom, algum dia, mas, esse sentimento não duraria para sempre, pois, ela era uma mulher que queria muito mais do que um rapaz inexperiente e romântico poderia dar.

— Ainda não posso crer em algo assim tão vil — a garota encarava o homem, inconformada, pois aquele amor era o que ela acreditava demonstrar a melhor parte de Eva. Agora, não restava nenhuma esperança de um dia poder, pelo menos, ter algum bom sentimento por aquela mulher.

— Você é uma garota sonhadora, não conhece o nosso mundo, não convive com os lobos como nós, sabemos o que fazer para sobreviver. No entanto, uma pena que esteja sendo apresentada a tudo isso, sem nenhuma defesa ou aviso prévio, minha doce criança.

— Eu perdi a fome. Com licença, senhor Lutz.

— Fique à vontade, querida. Só não se torture por essas pequenas intempéries da vida, não vale a pena.

Caroline não falou mais nada, apenas se afastou, entrou casa a dentro, procurando algum lugar reservado para ficar sozinha, assim, subiu as escadas, passou por um corredor com várias portas, que deveriam ser dos outros quartos.

Quase esbarrou em Rita, quando ela saía por uma das portas, carregando toalhas limpas nas mãos, as duas se assustaram com o encontro inesperado.

— Senhorita, o que está fazendo aqui, em cima? — Rita perguntou, de olhos arregalados e colocando a mão no peito, como para segurar o coração.

— Só andando por aí, conhecendo a casa — segredou. — Estou curiosa, Rita, qual é o quarto da senhora Montserrat?

A outra moça a olhou, desconfiada.

— Eu acho que a senhorita Melissa não aprovaria se eu falasse.

— Ela não precisa saber, só me indique e vá embora, eu assumirei qualquer risco que houver. Quero dar só uma espiadinha, saber como Eva vivia.

Rita estava insegura, não sabia o que fazer, pois gostava de Caroline, ela era simples, uma pessoa comum e simpática, bem diferente dos outros tão arrogantes, mas, podia estar pondo em risco o seu emprego, caso Melissa descobrisse que a ajudou a entrar no quarto da patroa.

— Eu não deveria, senhorita.

— Por favor, Rita! Ninguém saberá que foi você, é só uma olhadinha.

— A porta à direita, no final do corredor. Mas, por favor, não demore.

— Serei rápida, só quero conhecer.

Rita se afastou, apressada, dando uma última olhada para trás, antes de descer a escada, ao mesmo tempo, que Caroline testava a maçaneta que cedeu e ela entrou. No primeiro momento, ela demorou a se acostumar com a pouca luz, o lugar cheirava bem, a perfume francês, aos poucos seus olhos foram se adaptando, então ela pode distinguir o belo e luxuoso ambiente, com a grande cama com forração clara, a parede espelhada, os móveis brancos refinados, o lustre de cristal, o lindo tapete oriental em cores suaves sobre o felpudo e alvo carpete, a penteadeira com várias lâmpadas, tal qual um camarim, e inúmeros produtos de beleza. Caroline circulava pelo lugar, observando tudo, imaginando sua mãe ali, usufruindo de todo aquele conforto e requinte.

Como seria viver assim, ter tudo o que quisesse, quando quisesse? Era praticamente impossível para a garota conceber uma vida desse jeito, diante das dificuldades da sua própria.

Pegou um batom Chanel abriu e admirou a cor. Linda! Não resistiu e passou nos seus lábios sentindo o seu toque macio e acetinado, se admirou no espelho.

— O que está fazendo aqui? — A voz autoritária a fez saltar de susto.

Com o coração em disparada, ela se virou e deu de cara com Melissa, empertigada, com o queixo erguido, expressão dura, a fitando com desaprovação. Por um breve instante, ficou sem palavras.

— Desculpe, só estava curiosa, eu queria conhecer o quarto da senhora Montserrat — balbuciou.

— Isso é intolerável! Você não devia estar aqui. Já não basta toda essa curiosidade mórbida do lado de fora, ainda temos que enfrentá-la dentro de nosso próprio lar, sendo invadido por uma mocinha impertinente, que não conhece o seu lugar.

— Eu conheço bem o meu lugar, senhorita. Sei que cometi um erro, mas...

— Por que não podem deixar a pobre Eva em paz? Era só isso que ela almejava, um pouco de paz e sossego, no seu refúgio. Agora, essa invasão!

— Eu já vou. 

 No entanto, antes que ela se mexesse, outra pessoa entrou no quarto, parou espantado, diante das duas mulheres frente a frente.

— O que está acontecendo aqui? — Tom perguntou, com os olhos dançando de uma para outra.

— Perdoe a intromissão, senhor Miller, mas encontrei uma invasora no seu quarto — Melissa informou, olhando de forma acusadora para Caroline, que encarou o chão, envergonhada.

— O que houve, Caroline? — Tom falou, de um jeito apaziguador.

— Eu só queria conhecer o quarto de Eva. Estava curiosa. — Caroline deu de ombros.

— Devíamos falar com o chefe dela — Melissa declarou de um modo duro.

— Não seja tão inflexível, Melissa. Não foi nada demais.

— Mas, senhor Miller... — ela rebateu.

— Pode deixar, que eu cuido disso, não se preocupe. Obrigado, Melissa.

— Sim, senhor — Inconformada, a mulher saiu pisando duro.

Os dois ficaram em silêncio até se verem sozinhos.

— Não se preocupe. Melissa era uma espécie de cão de guarda de Eve, tentando protegê-la o tempo todo. Ela só estava fazendo o que está acostumada a fazer.

— Ela não gosta de mim, acha que não mereço estar aqui — Caroline revelou.

— Nem de mim. Ela não me julgava à altura de Eve. Mas, por que você está aqui?

— Eu já disse: sou curiosa. Queria conhecer como seria o quarto de uma grande estrela.

— Podemos fazer uma excursão por ele, já que é o meu quarto também. Pelo menos, era até Eve morrer. Depois, não consegui mais dormir aqui. É muito difícil, entrar aqui e ver todo esse lugar, afinal, esse era o quarto dela, tudo aqui remete a sua presença, o seu jeito de ser, dá até para sentir o seu perfume, nada aqui sou eu. Talvez, só isso...

Ele deu alguns passos à frente e abriu as cortinas, a luz invadiu o ambiente, deixando ver lá fora a imensidão do mar bravio, a chuva havia diminuído de intensidade, tornando-se só um leve chuvisco. Caroline segurou o ar no peito, diante daquela visão e se aproximou da janela.

— Isso é incrível!

— Quando pensei nesse quarto, imaginei, exatamente, isso. Nós dois deitados naquela cama, como se flutuássemos acima do mar — ele disse, com um ar sonhador, olhando fixamente para o horizonte, com as mãos nos bolsos.

Caroline encarou o perfil dele, o nariz reto, o queixo forte, os olhos tão azuis, os cabelos castanhos escuros. O menino de ouro. Será que ele tinha ideia que Eva pretendia se separar? Provavelmente, não. Se é que aquela história fosse mesmo verdade, mas não podia acreditar em nada que fosse dito, naquela casa.

Tom percebeu que estava sendo observado e se virou para ela, com um sorriso complacente e um olhar quente, que tocou seu coração, ela prendeu a respiração.

— Acho melhor sairmos daqui — ela disse.

— Sim, acho melhor. Quer fugir comigo?


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