Deduções e células cinzentas escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 2
Um mistério, dois detetives


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!

E UM CORAL DE ANJOS CANTA "ALELUIA"! Finalmente consegui trazer a vocês o segundo capítulo, onde entram em cena nossos grandes detetives da literatura! Eu confesso que tive muito trabalho para escrevê-lo, porque percebi que não é fácil lidar com dois gênios da investigação. Por isso, procurei ler mais algumas histórias de ambos para ter uma base melhor, ao mesmo tempo em que escrevi e reescrevi por duas vezes o começo do capítulo. Cheguei a pensar em fazer os dois serem rivais, mas percebi que não iria condizer com o que eles são. Mas, enfim, depois desses percalços, cá estamos nós!

Também gostaria de dizer mais uma vez que, com relação aos personagens criados por Agatha Christie, como Poirot, Hastings e Japp, tomei algumas liberdades de adaptá-los ao mesmo contexto, pois, como disse anteriormente, os dois universos se situam em épocas diferentes. Enquanto os personagens de Arthur Conan Doyle são da Era Vitoriana (final do séc. XIX), os de Agatha Christie são do período entre as duas grandes guerras mundiais (início do séc. XX) e os adaptei ao contexto da série Sherlock, da BBC.

Bom, sem mais delongas... Boa leitura a todos!



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Sherlock, acompanhado por John, adentrou o quarto do hotel, que ainda permanecia intocado. Greg Lestrade permitiu sua entrada para que verificassem o cenário e o cadáver que jazia deitado na grande cama da suíte.

A beleza do corpo da bela atriz Lola Mason não interessava ao “detetive consultor”. Este estava mais interessado nos pormenores daquele local, à procura de pistas. Checou a cama, o frigobar, os móveis, os objetos, até mesmo os objetos pessoais, como os cosméticos e maquiagens. Checou até mesmo as unhas da atriz morta, e sua boca. Chamou John para examinar de forma mais precisa, por sua formação como médico. Já ia dando como terminada sua inspeção, quando se deparou com algo embaixo da cama.

Sem a menor cerimônia, ele se abaixou e pegou o que havia visto.

Um frasco de medicamento, o qual mostrou a John:

― Isto é um medicamento para dormir, estou certo?

― Está. – John afirmou. – O clonazepam é um medicamento bastante usado para isso.

― Esse frasco é novo, mas está vazio. O rótulo está amassado, o que significa que alguém fez bastante pressão para que seu conteúdo saísse logo.

― Isso significa que a morte pode ter sido por uma overdose acidental? – Lestrade indagou.

― Fora de cogitação. – Sherlock foi direto. – O bico dosador está no lugar e o esmalte das unhas está intacto. Não foi ela quem esvaziou o frasco.

― Então podemos dizer que a hipótese de suicídio também pode ser afastada. – concluiu outra voz, com sotaque afrancesado.

Sherlock, John e Lestrade olharam para a porta, de onde viera aquela conclusão. Avistaram três homens: um com cerca de quarenta e oito a cinquenta anos, estatura mediana, levemente calvo, envergava um sobretudo cinza, calças cáqui e sapatos bem lustrados. O segundo era mais jovem, entre quarenta e dois e quarenta e cinco anos, não mais do que isso. Cabelos castanhos bem cortados, vestia-se mais informalmente. Calças jeans, camisa branca, blazer bege e sapatênis compunham seu visual. O terceiro era mais baixo, teria aproximadamente sessenta anos, se vestia com certa elegância. Camisa branca, calça social e paletó pretos e sapatos impecavelmente lustrados. Seus olhos verdes percorriam o ambiente, enquanto procurava ajeitar algum fio fora do lugar de seu bigode, cultivado com muito esmero.

― Nossos superiores pedem para que resolvamos esse caso o quanto antes, Lestrade. – disse o homem de sobretudo. – E acreditam que duas cabeças pensam melhor do que uma. A repercussão da morte de Lola Mason está sendo bem grande.

― Isso me parece precipitado, Japp.

― Acredito que não. Veja que Monsieur Poirot completou o raciocínio de Holmes.

― Cada um tem uma forma diferente de agir e pensar. – suspirou resignado. – Mas, enfim, vamos ver.

John e Sherlock olharam intrigados para os dois inspetores. Era sério mesmo que colocariam dois detetives particulares em uma mesma investigação? Evidentemente, o “detetive-consultor” não achou nada interessante a ideia que a Scotland Yard parecia ter, a julgar pelo diálogo que havia ouvido.

― Quer dizer que a Scotland Yard pensa que eu não dou conta de ajuda-los? – Sherlock encarou Lestrade. – Pois eu penso diferente. Duas cabeças não pensam melhor do que uma... Uma acaba atrapalhando a outra, Glenn.

― É Greg.

― Bem, se o baixinho pode dar conta disso, é melhor eu não atrapalhar, não é mesmo?

― Sherlock – John atalhou. – Não acha que está exagerando?

― Não. Tem gente demais aqui, e isso me atrapalha.

― Monsieur Holmes – Poirot se aproximou de forma diplomática. – Não quero, em momento algum, atrapalhar as investigações. Também penso que não é necessário que nós dois atuemos na mesma ocorrência, mas, por outro lado, não podemos brigar por causa disso.

Hastings, que até então se mantinha em silêncio, se pronunciou:

― Não acham que os inspetores podem estar certos sobre duas cabeças pensarem melhor e mais rápido?

Os dois homens ponderaram por uns breves momentos, assim como John:

― É, pode fazer sentido...

Sherlock coçou o queixo e começou a pesar os prós e os contras. Poirot estava certo. Não precisavam concorrer, mas poderiam unir métodos diferentes para uma mesma investigação e conseguir as respostas em tempo recorde. Os métodos de ambos eram diferentes, mas poderiam se complementar entre si.

O belga era mais cerebral. Tinha um conhecimento prévio a seu respeito e deduzira mais algumas coisas. E certamente ele também deduzira algumas coisas, além de sua fama graças ao blog de John.

Por que não?

*

Em um dos apartamentos da Farraway Street, 14 estava havendo uma pequena reunião. Poirot e Sherlock estavam sentados cada um em uma poltrona, frente a frente. Apesar disso, os olhos cinzentos do mais jovem não encaravam diretamente os olhos verdes do mais velho. Enquanto ambos se abstraíam com as conjecturas iniciais do caso em que trabalhariam juntos, John quase respirava aliviado por essa reunião não ocorrer na Baker Street, 221 B.

O que mais chamava a atenção dele era o quanto um ambiente poderia revelar sobre seu morador. As paredes eram claras, com papel de parede em uma delas, mais especificamente na parede onde ficava a lareira. Os quadros eram dispostos em uma fileira milimetricamente planejada e os livros, nas estantes, eram organizados por ordem alfabética e de tamanho. Todos os demais objetos de decoração eram dispostos metodicamente, assim como as almofadas no sofá de dois lugares, onde o médico estava sentado ao lado de Arthur.

Era engraçado como ambos tinham tanto em comum. Ambos serviram o Exército britânico no Oriente Médio e retornaram para funções civis. E os dois lidavam com as personalidades excêntricas de seus amigos, que possuíam cérebros privilegiados no tocante à elucidação de crimes misteriosos.

E, agora, os caminhos se cruzavam em um caso em comum, o “Caso Lola Mason”, como a imprensa passava a chamar em suas reportagens. Esse era o nome mais neutro, mas claro que o caso ganharia outros nomes mais chamativos.

Bien, mon ami...— Poirot focou sua visão no homem à sua frente. – O que acha das investigações até agora?

― Com tão poucas pistas – Sherlock encarou o belga. – É difícil deduzir qualquer coisa sem se precipitar.

― A única certeza que podemos ter é de que foi um assassinato. Mesmo que um suicídio fosse totalmente premeditado, não seria feita uma carta como a que foi encontrada.

― Precisamos de mais pistas.

― E precisamos conversar com os possíveis suspeitos.

― Muito demorado. – Holmes fechou os olhos, enquanto juntava novamente as mãos de forma pensativa.

― Mas necessário. Não podemos agir apenas como cães farejadores, atrás de pistas. Mon ami, você sabe tão bem quanto eu que precisamos colocar nossas pequeninas células cinzentas para trabalhar. E, graças a Hastings, que é apreciador do mundo das celebridades, temos uma lista de suspeitos...

― ... Que, obviamente, não tem nenhum funcionário do hotel em que Lola Mason estava.

― Eles estão fora de qualquer suspeita, mas por enquanto.

― Pretende interrogar um por um os prováveis suspeitos?

Oui— Poirot assentiu. – Nós precisamos ir além das pistas. Além disso, parece que todos tinham algum motivo para matá-la.

― Tenho quase certeza de que foi aquele ex-namorado dela. – Arthur afirmou. – Saiu recentemente da cadeia, é bem provável que ele queria vingança por ela o ter denunciado à polícia.

― Teoria inicial interessante, mas muito óbvia, mon ami. – o belga sorriu, já habituado ao jeito de seu amigo se expressar e dirigindo seu olhar a John. – Gostaria de saber qual a opinião de M. le docteur... O que conjectura a princípio?

― Bem, eu... – Watson coçou o queixo. – Talvez o senhor e Sherlock já tenham pensado nessa possibilidade, mas acredito que seja alguém mais próximo, que saiba que ela usava aquele medicamento.

― Na verdade, John, eu já pensei até agora em duas ou três possibilidades. – Holmes sorriu ao dizer ao amigo. – E também levei em conta o que você disse. Mas precisamos descobrir mais... Ainda há peças que não se encaixam, e o jogo só começou.


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