A garota que eu costumava ser escrita por Elise Caroline Gouveia


Capítulo 2
Ignoto


Notas iniciais do capítulo

UFC Fanfics, rodada 2.
Tema: Borbulhante.



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Ignoto

(O mesmo que: ‘desconhecido’, ‘incógnito’, ’ignorado’.)

 

— Quem é você? — Eliza questionou, com muita dificuldade. Seu corpo sentia-se pesado, como se ela não tivesse mais domínio sobre seus próprios membros. Sua cabeça latejava. Tudo doía demais, mas nada sequer chegou perto do olhar que o homem a sua frente lhe deu.

Era tão malditamente angustiado que ela se esqueceu por um momento a dor física que estava experimentando.

Mesmo em seu estado de confusão mental, Eliza sabia que havia ferido o grande homem apenas com uma singela pergunta, embora não conseguisse entender por que motivo. Ele a tocava como se a conhecesse, sua mão acariciava seu rosto no momento em que ela abriu os olhos; o carinho no gesto era algo que ela não gostaria de esquecer.

Tentou forçar suas lembranças, puxar qualquer fio de memória no qual pudesse se ancorar. Mas era tudo um grande e absoluto vazio.

O homem a encarou fixamente, a perda era perceptível nas lágrimas que lentamente encheram seus olhos. Ele deixou de tocar Eliza, cambaleando dois passos para trás. Sua mão subiu para esfregar o local no peito onde ficava o coração, parecia que ele tentava aplacar a dor que sentia ali.  

Eliza desviou o olhar sentido-se desconfortável. Não conseguia firmar uma linha de raciocínio completo para determinar onde estava e como tinha ido parar lá. A quantidade de fios ligados a ela foi o que lhe chamou atenção para o fato de que estava num hospital; um muito caro, a julgar pelo quarto.

Ela virou para encarar o homem novamente. Ele continuava parado, perdido, como se ela tivesse acabado de tirar o chão de debaixo dos seus pés.  

Mordeu o lábio para se parar de confronta-lo uma terceira vez. Sentia que algo estava errado com ele. Quanto mais se olhavam, mais ele parecia quebrado. Eliza queria, instintivamente, consola-lo, e isso a assustou. Não conhecia o rosto dele, não sabia seu nome ou o que fazia para viver; mas um milhão de sentimentos se agitavam em pequenas bolhas dentro dela quando olhava para ele. Queria estender a mão e pedir para que a tocasse novamente, queria o sentimento de carinho de volta. Queria que falasse com ela. Qualquer coisa.

Se preparou para perguntar novamente. Respirou fundo, o que fez todo o seu corpo doer. Gaguejou a primeira palavra, mas foi interrompida pelo barulho da porta abrindo.

O homem que entrou tinha um rosto familiar. Finalmente, Eliza pensou.

Ela sorriu o quanto pôde.

— Phill! — Exclamou com tanto entusiasmo quanto seu corpo dolorido a permitiu. Conhecia o garoto que entrou e sabia que ele não lhe negaria nada.

Phillip riu, uma pequena risadinha borbulhante. Foi tão familiar que Eliza quis chorar de alívio. Durou bem pouco. Ao invés de ir para ela, Phillip foi para o misterioso estranho na sala e lhe deu um tapinha no ombro, aparentemente não notando o quão desligado ele parecia.

— Eu te disse, cara! — Phillip exclamou entusiasmado. E então, finalmente, foi para Eliza e passou a mão suavemente sobre o cabelo dela. — Hei, garota, você nos assustou!

Ela olhou para o sorriso ainda estático no rosto dele e de volta para o homem estranho. Então não se conteve mais um segundo, jorrou todas as perguntas que queria saber desde que abriu os olhos.

— O que aconteceu comigo? Quem é ele? Onde é que eu estou?

O semblante de Phillip caiu lentamente, passando de felicidade para confusão.

— Você não sabe quem é ele? — perguntou chocado.

Eliza balançou a cabeça negativamente, ficando instantaneamente nauseada.

Phillip respondeu com um xingamento bem selecionado, o que alarmou Eliza. Phillip nunca xingava perto dela, nunca. Ele olhou fixamente para ela, parecendo descrente, e então para o outro homem.

O estranho endureceu a postura sob o escrutínio de Phillip, seus pulsos apertaram. Ele olhou para ela mais uma vez; piscou, derramando uma lágrima solitária; então se virou e saiu bruscamente.

A porta bateu.

Phillip xingou novamente.

— Merda.


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